11 setembro, 2006

 

Porque a memória é curta


9/11 Tribute (Anastacia - "How Come The World Won't Stop?")




- as duas torrres foram destruídas em 102 minutos;
- a queda da última teve uma magnitude de 2,3 na escala de Ritcher;

- no dia 12 foram encontrados nos escombros 18 sobreviventes ( 12 bombeiros, 3 polícias e 3 civis );

- 115 as nacionalidades dos falecidos, entre os quais 3 portugueses;
- hoje ainda há 24 pessoas desaparecidas;
- foram recuperados 289 corpos intactos;
- 1700 restos mortais não foram resgatados;
- 2973 vítimas mortais;
- e ainda 19 terrorristas.

http://www.correiodamanha.pt/noticia.asp?id=257439&idselect=9&idCanal=9&p=200

http://911digitalarchive.org/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ataques_de_11_de_Setembro_de_2001

Comments:
Paquistanês confessa autoria do 11 de Setembro "de A a Z"

Helena Tecedeiro

"Sou responsável pela operação do 11 de Setembro, de A a Z", admitiu Khalid Sheikh Mohammed em Guantánamo. Segundo um relatório ontem divulgado pelo Pentágono, o homem suspeito de ser o cérebro dos atentados de 2001 em Nova Iorque e Washington confessou a um painel de responsáveis militares ser "um inimigo da América". Durante uma audiência na base dos Estados Unidos em Cuba, onde está detido desde Setembro, Mohammed garantiu não ser um terrorista, apenas um homem empenhado na luta contra a "opressão americana no Médio Oriente".

Aos interrogadores, Mohammed garantiu: "Uma guerra faz sempre vítimas". Após a leitura do testemunho, este paquistanês nascido no Koweit admitiu num mau inglês sentir "pena" das cerca de três mil pessoas que morreram nos atentados de 2001: "Não gosto de matar crianças." A credibilidade da sua confissão foi, porém, posta em causa por vários analistas.

Além do 11 de Setembro, o ex-número três da Al-Qaeda assumiu a responsabilidade pelo financiamento e organização de 30 outras operações. Da lista, constam a explosão na cave do World Trade Center em 1993 e os atentados de Bali, em Outubro do mesmo ano (página 13). Mohammed, de 41 anos, afirmou ainda ter planeado assassinar os ex-presidentes Jimmy Carter e Bill Clinton, além de uma segunda grande vaga de atentados nos Estados Unidos.

Capturado no Paquistão em Março de 2003, Mohammed foi mantido nas prisões secretas da CIA até Setembro. Transferido para Guantánamo com outros 13 alegados membros da Al-Qaeda, o paquistanês começou agora a ser ouvido no âmbito de um julgamento em tribunal militar. Este deverá determinar o estatuto dos detidos em Guantánamo. Considerados combatentes inimigos, esses presos não estão abrangidos pela Convenção de Genebra. Detidos sem acusação e por tempo indefinido, as denúncias de torturas têm-se multiplicado.

Na sua confissão, obtida no sábado segundo o Washington Post, Mohammed alude a maus tratos. Inquirido pelo presidente do tribunal sobre a "alegada forma como afirma ter sido tratado" antes de chegar a Guantánamo, o suspeito responde "...pessoas da CIA. Sim. No início, quando me transferiram..." O resto da frase foi cortado da transcrição. A Casa Branca optou por manter o silêncio sobre este caso, afirmando que qualquer comentário poderia influenciar a decisão da justiça.

A confissão de Mohammed foi recebida com um misto de choque e cepticismo. Para o director da Human Rights Watch, a legalidade tanto do testemunho como da audição é questionável. Citado pelo britânico The Guardian, Kenneth Roth afirmou que as palavras do paquistanês podem ter sido obtidas sob tortura. O correspondente no Médio Oriente da rádio alemã Deutsche Welle vai mais longe. Peter Philipp diz que, com esta confissão, os EUA esperam calar as críticas a Guantánamo.

DN, 16-3-2007, pág. 12
 
EUA VIVEM EM ALERTA CONSTANTE DESDE 2001

MANUEL RICARDO FERREIRA, Nova Iorque

O que mudou no dia-a-dia da América
Não há quem não se lembre do que estava a fazer no momento em que soube dos atentados de 11 de Setembro de 2001. Ou antes, do desastre que tinha acontecido com um avião que chocara contra uma das Torres Gémeas do World Trade Center. Menos se recordam já de como era a vida imediatamente antes disso.

Nessa manhã de 11 de Setembro, em Nova Iorque, era o primeiro dia de aulas e havia primárias para a eleição do mayor que iria substituir Rudy Giuliani. A grande preocupação nacional prendia-se com o desacelerar da economia, que durava há mais de um ano e ameaçava tornar-se em recessão.

No plano internacional, a Europa criticava o Presidente Bush pela sua política unilateral de construção de um sistema de defesa antimísseis contra a proliferação de armas de destruição maciça, enquanto concertavam um esforço conjunto para a pacificação e estabilização dos Balcãs. Havia grande preocupação com o que se passava na Libéria e na Serra Leoa, onde se falava de genocídios que ameaçavam estender-se a outros países africanos.

Havia também preocupação com a extensão do radicalismo islâmico, mas que parecia contido nos EUA desde o atentado de Novembro de 1993 contra o World Trade Center. Uma percepção errada, como se percebeu a partir das 08.46 dessa manhã.

Seis anos depois, os Estados Unidos continuam a viver um clima que se pode considerar de ansiedade por segurança, cada vez investindo mais nela e todos os dias descobrindo buracos no aparelho e que não existe uma segurança absoluta.

Se os check-ins há seis anos se faziam nos passeios dos aeroportos e o mote era acelerar o processo e facilitar a vida aos passageiros, hoje pelo menos duas horas de antecedência são uma necessidade absoluta para os procedimentos de segurança - raios X, descalçar de sapatos, detecção de metais, proibição de levar líquidos e cremes, limitação da bagagem de mão - e os atrasos nos voos nunca foram tão grandes.

A procura de segurança infiltrou--se em todos os estratos da vida do dia--a-dia. A exigência de documentos de identificação, num país que despreza a noção da existência de um bilhete de identidade, tornou-se num constante quebra-cabeças: para renovar a carta de condução é necessário construir um puzzle de pontos com vários documentos, para se entrar num edifício público ou qualquer operação burocrática são muitas vezes necessárias duas identificações com fotografias, e nem todas são aceites.

De atentados contra embaixadas e barcos no estrangeiro e lançamento de mísseis de cruzeiro contra campos abandonados nas montanhas do Afeganistão, passou-se a duas guerras de ocupação, no Afeganistão e no Iraque. Quando começaram, tudo parecia fácil; hoje, já causaram mais de 4100 mortes entre os soldados americanos e são o factor que mais divide a opinião pública, não só nos EUA como em todo o mundo.

A popularidade do Presidente George W. Bush acompanhou de perto as curvas de apoio às guerras. Era máxima quando do lançamento da invasão do Afeganistão, bastante alta em 2003 quando a entrada das tropas no Iraque, mas depois foi-se degradando à medida que os resultados no terreno começaram a ser cada vez mais sombrios, até atingir mínimos não vistos há décadas.

O mesmo aconteceu com o Congresso, que nunca foi tão desacreditado como é hoje, com uma taxa de aprovação de apenas 18% entre os americanos.

O 11 de Setembro será o acontecimento que marcará os dois mandatos de George W. Bush como Presidente. Do discurso com megafone nos escombros fumegantes há seis anos, hoje passará a uma cerimónia simples em Washington e a momentos de recolhimento na Casa Branca.

Como tudo na vida, também à grande tragédia americana dos últimos tempos chegou a altura de sair de palco. Outros intérpretes e acontecimentos se avizinham.

DN, 11-9-2007
 
Shanksville: um outro 11 de Setembro

Seis anos depois do dia que desabou muitas certezas, o alheamento tornou-se a principal
ameaça à memória dessa manhã de Setembro. Muitos americanos não se aperceberam
da chegada de mais um aniversário que, como já se viu, Bin Laden não esquece.
Muitos deles terão sido forçados a guardar os seus minutos de silêncio para as
tragédias americanas que não cessam, do Afeganistão ao Iraque passando pelo Katrina.
Mas nos arredores de Shanksville, um povoado de 250 almas no meio da Pensilvânia, é
a Natureza que lembra ao Homem o terror que ali se chorou. “A chuva e a neve continuam
a trazer coisas à superfície. Mesmo cinco, seis anos depois, há pedaços do avião
e outros destroços que fazem o seu caminho para sair daquele local. É espantoso
como até fisicamente, isto nunca desaparece”, revela o pedopsiquiatria Glenn
Kashurba. Ele acompanhou as famílias das vítimas do voo 93 ao local nos dias após a
tragédia. É lá que regressa todos os anos. Das experiências vividas como voluntário
fez dois livros a partir de testemunhos registados junto de dezenas de pessoas relacionadas
com o 11 de Setembro.
Em 2011 deverá ser inaugurado o Memorial definitivo do voo 93. Substituirá o pequeno
largo montado a 500 metros do local do impacto e que serve provisoriamente para
receber cinco a seis mil turistas por semana. É lá que todos os dias, um grupo de
moradores na zona veste camisolas encarnadas para assumir a pele de “Embaixadores
do Voo 93”. Compete-lhes explicar o essencial da história.
Por vezes – na verdade quase diariamente - aparece por lá Rick Flick, um bombeiro
que fez parte das primeiras equipas de socorro e que presta voluntariado na Fundação
9/11, de apoio a bombeiros e polícias. “Conheço os sentimentos de muitos dos
bombeiros que estiveram aqui no dia 11 de Setembro. Sendo um deles, ainda carrego
sentimentos de alguma reserva sobre os acontecimentos desse dia. E isso mudou a
minha vida de uma forma permanente. Um bombeiro com 18 anos de serviço aprende
a lidar com estas coisas à nossa maneira. Provavelmente a minha ajuda à Fundação
11 de Setembro é a minha forma de lidar com isso.”
É impossível chegar ao local onde o avião caiu. O acesso continua reservado a famílias
e pessoal autorizado pelo FBI. Cada vez que há uma cerimónia, outro bombeiro local,
Roger Brant, volta a passar por momentos difíceis. “Nos bombeiros vemos muita coisa,
mas quando vamos a uma cerimónia com os familiares naquele local, colocamos
rostos naqueles nomes… é duro. Aquilo demora a curar.” Os bombeiros não esquecem
aquela manhã onde apenas encontraram um buraco numa clareira da floresta. Rick
Flick fala num “buraco de uns dois metros e meio, algumas árvores a arder, foi tudo o
que vimos”. O hoje voluntário da «9/11 American Foundation» diz que “os destroços
não eram maiores do que uma lata de refrigerante, o avião desintegrou-se literalmente”.
Para a maioria da comunidade, o terrorismo era uma realidade distante. “Até ao dia
11 de Setembro, não sabia nada sobre isso”, diz Roger. “Nunca liguei muito a coisas
como a Al Qaeda, mas agora sento-me frente ao televisor e digo: “Uau – afinal há
muita coisa a acontecer pelo mundo!”. Os locais confessam agora uma maior vigilância
face a movimentações estranhas. E sublinham a união que a tragédia acabou por
fomentar entre a vizinhança.
Apesar disso, alguns não querem saber desta área onde já há sinais de um certo turismo
de catástrofe. “Vivemos todos nesta zona entre Shanksville e Somerset. Há duas
realidades aqui – as pessoas que decidiram envolver-se e as outras não querem saber
de nada.”,diz a voluntária Sue Strow, que se tornou «embaixadora» após uma sessão
na igreja local. Estão talvez fartos dos media que de quando em vez surgem com perguntas
sobre aviões que oficialmente nunca existiram. Uma minoria recusa que o terror
lhes estrague a paz nos verdes campos de Shanksville.

RRP1, 11-9-2007
 
A ameaça continua

Seis anos depois dos piores atentados terroristas em
solo norte-americano, a Al-Qaeda volta a ameaçar atacar os
EUA através de um vídeo de Bin Laden. A indicação é avançada
pela CNN.
A cadeia de televisão norte-americana diz que esse vídeo se
destina - sobretudo - a relembrar um dos piratas do ar envolvidos
nos atentados, mas, oficialmente, ainda ninguém confirmou
que a gravação é autêntica.
A análise de um especialista
O mundo está mais seguro depois do 11 de Setembro? Foi
esta a questão que a Renascença colocou a Ângelo Correia.
Para este comentador de assuntos internacionais, a resposta
é clara, embora haja evoluções pela positiva e pela negativa.
“Está numa situação ligeiramente pior, por um lado, e
melhor por outro. Melhor por uma razão: já se percebeu qual
é o tipo de ameaça e os países ocidentais estão mais organizados
para ela. Também os países árabes, que sofrem também
com o terrorismo, também estão ligeiramente mais preparados
do que estavam antigamente. O negativo, pelo qual
considero que estamos pior, é que alastrou a mancha do terrorismo
a outros grupos e outras pessoas, com outras localizações,
diferentes das de 2001 e nesse sentido é mais amplo
e mais extensivo”, disse.
Assim, a luta contra o terrorismo não se está a revelar tão
eficaz como os Estados Unidos querem fazer crer e isso é –
diz Ângelo Correia – culpa dos próprios norte-americanos.

RRP1, 11-9-2007
 
OS DO MAS VOLTAM A ATACAR

Ferreira Fernandes

Ontem foi dia 11 de Setembro. Mas para alguns foi 11 de Setembro mas. Como se não fosse possível dizer, perante a enormidade do facto, o facto. Sem mas nem meio mas. Ontem foi 11 de Setembro. Ponto. Foi dia de recordar que um lugar de todo o mundo - sim, um lugar de todo o mundo, mesmo, não uma metáfora, lugar de americanos nados, uns, e, outros, nascidos da vontade de reconstruir a vida num país que acolhe (releia-se a lista das nacionalidades dos mortos) -, esse lugar, foi atacado pela parte mais estúpida do mundo. Quando isso aconteceu fez-se uma quase unanimidade hipócrita: somos todos nova-iorquinos. Depois, com o tempo, alguns começaram a pôr os corninhos de fora e deixando cair: "Os americanos estavam a pedi-las..." Ontem, outra vez, voltaram os adversativos. Ainda bem, define os três campos. Os que estão com os que estavam nas Torres Gémeas, os que atacaram as Torres Gémeas e os que não contam. Diziam estes, ontem: "11 de Setembro mas..."

DN, 12-9-2007
 
Bush passa 11 de Setembro na Casa Branca

MANUEL RICARDO FERREIRA Nova Iorque

Familiares de vítimas ilegais exigem justiça
Eram 8.46 em Nova Iorque (mais cinco horas em Lisboa) quando o toque dos sinos assinalou ontem o momento exacto em que seis anos antes o voo 11 da American Airlines embateu contra a torre norte do World Trade Center. Outros toques lembraram o choque do segundo avião na torre sul e a queda dos dois edifícios, que levou à morte de 2750 pessoas.

Num campo perto de Shanksville, na Pensilvânia, foram também os sinos que assinalaram o momento em que os passageiros do avião que se destinava a arrasar o edifício do Congresso (ou a Casa Branca, até hoje ninguém sabe ao certo) decidiram despenhá-lo e frustrar os desígnios do comando da Al-Qaeda que desviara o aparelho. A queda provocou a morte dos 33 passageiros, sete tripulantes e dos quatro piratas do ar.

Também no Pentágono foi assinalado o atentado com o quarto avião que fez 189 mortos, 125 dos quais funcionários do Departamento de Defesa. Ao contrário do que aconteceu em 2006, quando se deslocou ao Ground Zero, o local onde se encontravam as torres em Nova Iorque, este ano, o Presidente George Bush preferiu ficar recolhido na Casa Branca, onde, ao lado do vice-presidente, Dick Cheney, e das respectivas mulheres, respeitou um minuto de silêncio.

Os atentados de há seis anos, que fizeram 2974 mortos, continuam profundamente presentes na memória dos americanos. Mas todos concordam, mesmo as famílias das vítimas, que há que seguir em frente. E ninguém mais que o mayor de Nova Iorque, Michael Bloomberg, promove esse rumo. Diz ele: "Nunca acreditei que fazer sempre a mesma coisa é a melhor forma de se conseguir seja o que for. Temos que mudar para o mantermos relevante".

Por isso, se as famílias este ano desceram a rampa para o Ground Zero e colocaram flores lembrando as sua s vítimas, as cerimónias oficiais foram deslocadas para o Parque Zuccotti. Bloomberg defendeu que o Ground Zero é hoje um estaleiro de construção e, portanto, não é um local absolutamente seguro para o público.

Mas entre essas famílias, que levavam fotografias dos seus familiares e tiveram um estremecimento de emoção quando os seus nomes foram lidos, 19 pessoas mantiveram-se silenciosas e calaram a sua emoção. Eram as viúvas e orfãos dos 11 imigrantes ilegais que comprovadamente morreram nos atentados contra o World Trade Center. Embora esses familiares tenham sido monetariamente indemnizados, continuam ilegais, sempre com medo de serem inesperadamente apanhados pelas autoridades federais.

Há três anos que está no Congresso uma proposta que resolveria o seu problema de lagalização, mas os legisladores americanos tiveram até agora mais que fazer do que se preocupar com esse "pormenor". Para uma das familiares: "os únicos ilegais que não temem ser deportados são os que morreram".

DN, 12-9-2007
 
Experiências traumáticas alteram zonas do cérebro

Imagens do cérebro de 18 pessoas que estavam a menos de três quilómetros do World Trade Center, em Nova Iorque, na manhã dos atentados do 11 de Setembro, mostram que elas apresentam todas uma alteração semelhante nas zonas cerebrais que processam as emoções

11 de Setembro teve esse impacto em quem estava perto das torres

São adultos saudáveis, com vidas normais e têm em comum o facto de terem estado a menos de três quilómetros do World Trade Center quando este foi alvo dos ataques terroristas de 11 de Setembro. Mas há outra coisa que 18 destes indivíduos comungam também, segundo um estudo da universidade de Cornell. As imagens dos seus cérebros mostram que eles têm menos matéria cinzenta nos centros-chave das emoções, quando comparadas com pessoas que estavam a mais de 300 quilómetros de distância das torres nesse dia.

"Estes resultados sugerem que as más experiências podem ter efeitos a longo prazo no cérebro, mesmo em pessoas saudáveis", disse Barbara Gazel, que liderou estudo.

Este trabalho, que é um dos primeiros a avaliar os efeitos de traumas no cérebro de pessoas saudáveis, foi publicado na revista NeuroImage, e seguiu-se a um outro dos mesmos autores, que descobriu que as pessoas que viviam perto das torres gémeas na altura dos atentados são mais reactivas a determinados estímulos, como imagens de rostos amedrontados.

Em conjunto, estes dois trabalhos fornecem um novo olhar sobre os cérebros de pessoas saudáveis que experienciam situações traumáticas fortes.

As experiências traumáticas, sabe-se há mais de três décadas, podem causar vulnerabilidades importantes na saúde mental e uma percentagem de pessoas expostas a tais situações desenvolve mesmo a doença do stress pós-traumático (PTSD, na sigla inglesa). As pessoas que sofrem de PTSD apresentam um quadro de sintomas característico, com reacções desajustadas aos estímulos emocionais, agressividade, depressão, problemas de sono ou até alucinações.

A diferença nestas pessoas que apresentam menos matéria cinzenta (composta por tecido celular e vasos capilares) nas regiões cerebrais onde são processadas as emoções, é que elas não apresentam alterações na sua saúde mental.

De acordo com a coordenadora da investigação, citada pela Science Daily, "estas alterações biológicas, que também se observam em pessoas que sofreram ou presenciaram outras situações traumáticas, como crimes violentos, ou a morte de alguém próximo de forma brutal, poderão ser uma resposta fisiológica do cérebro que permita às pessoas viver em ambientes caracterizados por alguma incerteza ou insegurança em situações de incerteza".

Os investigadores compararam imagens do cérebro obtidas por ressonância magnética de 18 indivíduos que estiveram no raio de três quilómetros dos acontecimentos em 11 de Setembro de 2001, com as de outras 18 pessoas que viviam a mais de 300 quilómetros na altura. E foi assim que observaram a perda de matéria cinzenta nos primeiros.

Esta perda, sublinham ainda os investigadores, "é muito idêntica à que acontece durante o processo de envelhecimento, o que levanta também a questão do papel que o trauma desempenha no envelhecimento cerebral".

DN, 6-6-2008
 
Khalid Sheikh Mohammed: O jihadista que reivindica o 11-S

PATRÍCIA VIEGAS

Terrorismo. Assumido cérebro dos atentados do 11 de Setembro e de outras dezenas de acções terroristas, Khalid Sheikh Mohammed quer ser mártir, fazendo todo o possível para que o tribunal militar de excepção o condene à pena capital. Toda a vida viveu como um jihadista e a morte seria a recompensa que sempre quis.

"Eu fui responsável pela operação do 11 de Setembro de A a Z". A tão aguardada confissão foi feita por Khalid Sheikh Mohammed, em Março de 2007, em Guantánamo, numa audiência à porta fechada que depois foi divulgada aos media pelo Pentágono. Além dos atentados terroristas que mataram quase três mil pessoas há sete anos, reivindicou ainda, segundo a transcrição da audiência, acções como o ataque contra o World Trade Center, em 1993, a operação Bojinka, a morte do jornalista Daniel Pearl ou a operação bomba nos sapatos, realizada em 2003, por Richard Reid. Estas confissões suscitam, no entanto, dúvidas aos serviços secretos ocidentais, pois muitos consideram impossível um só homem estar na origem de tantas acções e pensam que ele quer apenas tentar proteger outros terroristas e continuar, atrás das grades, a obra da sua vida. Mohammed, de 43 anos, viveu sempre como jihadista e assim quer morrer, caso seja condenado à pena capital pelo tribunal militar de excepção a que foi presente quinta-feira.

Natural do Koweit, de uma família paquistanesa do Baluchistão, Mohammed integrou a Irmandande Muçulmana aos 16 anos e, algum tempo depois, foi estudar para os EUA. Formou-se em engenharia mecânica numa universidade da Carolina do Norte, em 1986, mas decidiu ir dar o seu contributo na jihad anti-soviética que decorria no Afeganistão. Ali conheceu Abdul Rasul Sayyaf, um próximo de Massoud, que seria o seu mentor, refere o relatório da comissão americana que analisou o 11 de Setembro de 2001. Após a derrota afegã dos soviéticos, partiu então para o Qatar, onde trabalhou como engenheiro do Ministério da Electricidade e da Água até ao ano de 1996. A partir deste emirado enviou dólares para Nova Iorque, para apoiar o atentado ao World Trade Center, que fez seis mortos e mais de mil feridos e foi planeado pelo seu sobrinho Ramzi Yussef. Os dois encontraram-se, depois, nas Filipinas, para montar a operação Bojinka. Esta consistia em fazer explodir uma dúzia de aviões comerciais sobre o Pacífico e só foi descoberta por causa de um incêndio que levou à descoberta de um dos seus computadores.

O encontro com Ussama ben Laden, determinante, deu--se em 1996, em Tora Bora. Na altura, segundo testemunhos, Mohammed propôs ao número um da Al-Qaeda um ataque contra o World Trade Center para terminar aquilo que o seu sobrinho havia começado. Três anos mais tarde integrou, totalmente, a rede de Ben Laden, mas manteve sempre alguma autonomia, pois escondia a sua relação com o campo anti-talibã de Sayyaf. Apesar de ter idealizado os ataques, mais uma vez com aviões, o financiamento veio do líder da Al-Qaeda, bem como a escolha do suicida que iria liderar a missão terrorista, ou seja, Mohamed Atta. Após os ataques, que deixaram o mundo em estado de choque, Khalid Sheik Mohammed admitiu, em 2002, o seu envolvimento numa entrevista que deu à televisão Al-Jazeera. A 1 de Março do ano seguinte era preso, em Rawalpindi, pelas forças paquistanesas. As suas imagens de recém-acordado, com cabelo desgrenhado, correram mundo. Algum tempo depois desapareceu do Paquistão e foi levado para uma das prisões secretas da CIA. Voltou a dar sinal de vida já em Guantánamo, para onde foi transferido, no final de 2006.

Foi então que confessou tudo, até que fora ele quem decapitara Daniel Pearl, em 2002: "Eu decapitei com a minha abençoada mão direita a cabeça do judeu americano. Quem tiver dúvidas e queira confirmar basta ver as imagens que estão na Internet". A verdade é que nas imagens não se vê a cara da pessoa que segura a cabeça do jornalista. Além de Mohammed ter tendência para exagerar a realidade, como diz a Comissão do 11 de Setembro, pesa o facto de ele ter sido submetido a técnicas de interrogatório consideradas como tortura, sendo a mais conhecida e controversa simulação de afogamento. Os advogados de defesa pretendiam, por isso, que as provas apresentadas fossem anuladas por serem ilegais. Mas Mohammed indicou, na quinta-feira, que pretende assegurar a sua própria defesa, para conseguir morrer como mártir.

DN, 7-6-2008
 
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