10 dezembro, 2006

 

O azar de alguns


leva, de certeza, à má sorte de muitos mais

Hoje falava-se do azar de um grupo de amigos que tinham uma sociedade de apostas no euromilhões e que tendo festejado alegremente a saída de cerca de 1.000.000 de euros a cada um verificaram espantados que afinal tinham apenas contribuído para mais um jackpot !
Com efeito a sua chave de sempre foi finalmente premiada e era a única totalista.
Mas vieram a verificar que o que havia sido registado não foi a chave de sempre mas uma outra gerada aleatòriamente pelo sistema no montante habitual menos 30 € que alguém não teria entregado a tempo !
Acredito que o bónus para o vendedor seria bem maior se tivesse procedido como habitualmente e aguardasse pelo pagamento atrasado dos referidos "30 dinheiros"...
Aquela comunidade de certeza que não terá mais paz porquanto se discutirá até à eternidade a autoria da culpa de tanto azar...

Vem tudo isto a propósito de alguns estudos de probabilidades que constantemente são contraditados por razões imponderáveis como aquela acima referida.
Com efeito, séries de jackpots só deviam ocorrer de 200 em 200 anos ou, dito de outro modo, de 10.000 em 10.000 jogos. E afinal aconteceu três vezes em três anos !
E esta semana é mais uma a juntar à série sem premiados.

Mas não acredite ter chegado a sua vez já que também se prova que quanto maior o jackpot e porque mais e maiores apostas menores as probabilidades de ser o ganhador.

Maia alguns dados para que não restem dúvidas:

- 73.000.000 é o número aproximado de chaves possíveis;
- 146.000.000 € é quanto custa ter a certeza de ganhar todos os prémios, apostando em todas as combinações possíveis... Não esquecer, contudo, que além de poder haver outros acertadores os valores em jogo são geralmente muito mais pequenos;
- o primeiro, segundo e terceiro prémios, só ocorrem uma vez em cada dois milhões de apostas !


Portaria n.º 93/2009. D.R. n.º 19, Série I de 2009-01-28

Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social

Altera e republica o Regulamento do EUROMILHÕES, aprovado pela Portaria n.º 1267/2004, de 1 de Outubro

Comments:
"Séries de 'jackpots' deviam ocorrer de 200 em 200 anos



Manuel Esteves e Sérgio Aníbal

Entre 1 de Setembro e 17 de Novembro registou- -se em Portugal e mais oito países europeus um fenómeno raro, muito raro mesmo. Durante este período realizaram-se 12 sorteios do jogo Euromilhões sem que fosse atribuído o invejado primeiro prémio. Esta sequência culminou na distribuição do primeiro prémio pelos 23 apostadores que acertaram na segunda chave mais ambicionada. Mas mais estranho ainda é que esta não foi a primeira vez que ocorreu um fenómeno deste género. Com efeito, em menos de três anos já houve pelo menos três acontecimentos que, em teoria, deveriam suceder apenas de 200 em 200 anos.

Mas afinal de contas qual era a probabilidade de ocorrer uma sequência de 12 jackpots (prémios não distribuídos acumulados), onde o número de apostas foi crescendo de forma vertiginosa? 0,01%. Ou seja, é um fenómeno que sucede uma em cada dez mil vezes, o que significa que seria preciso esperar quase 200 anos para que se voltasse a verificar.

Os cálculos foram feitos por Dinis Pestana, professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, a pedido do DN e partem dos dados que estão disponibilizados ao público. O Departamento de Jogos da Santa Casa da Misericórdia revela no seu sítio de Internet o número de apostas feitas em cada sorteio, pelo que é possível calcular para cada semana a probabilidade de ninguém acertar no primeiro prémio, bem como a probabilidade de ninguém acertar no primeiro prémio durante as várias sessões, até à décima segunda, realizada a 17 de Novembro.

Assim, no sorteio realizado a 1 de Setembro, a probabilidade de ocorrer aquele primeiro jackpot era de 66,5%. No segundo sorteio, a probabilidade de um novo jackpot seria ligeiramente mais baixa, de 65,5%, e continuaria a cair até aos 26,1% no 12.º sorteio. Mas então de onde vêm os 0,01%? Essa é a probabilidade de o primeiro prémio não sair a ninguém ao longo dos 12 sorteios. As possibilidade de isso acontecer, de forma continuada, começa a ser francamente baixa a partir do sexto jackpot contínuo, de 5,6%, descendo para 0,4% no nono e finalmente 0,01% no 12.º.

Mas, pergunta o leitor mais atento: sabendo que o número de apostas realizadas ultrapassou o número de combinações possíveis (cerca de 73 milhões), a probabilidade de o primeiro prémio não sair não deveria ser zero? Sim, se todos as apostas fossem distintas. Na realidade há muitas combinações que se repetem e muitas outras de que ninguém se lembra. Por isso, lembra Dinis Pestana, tem de se excluir o número de apostas repetidas, que por serem iguais a outras não aumentam a probabilidade de acertar.

O professor da Faculdade de Ciências avança ainda uma outra explicação possível que diz respeito às máquinas que escolhem uma chave "à sorte". "Os programas para geração dos números aleatórios podem ter limitações na sua capacidade de gerarem sequên- cias distintas", afirma. Assim, se nas semanas em que há mais apostas as pessoas recorrem mais à geração de apostas feitas pela máquina do serviço que fornece o jogo, é possível que isso aumente substancialmente a repetibilidade", fazendo subir a probabilidade de não haver vencedor.

Organizadores com sorte

A conclusão mais evidente que se pode retirar destes dados é que a sorte do Euromilhões está quase toda com os organizadores. É que por cada sequência rara, raríssima mesmo, de jackpots, o número de apostas dispara. No primeiro sorteio da sequên- cia de jackpots registaram-se 32 milhões de apostas. No sétimo sorteio eram já 62 milhões e no 12.º sorteio disparou para 132 milhões. Dado que os beneficiários deste jogo social (em Portugal são a Santa Casa da Misericórdia e a Segurança Social, mas em Inglaterra, onde o jogo foi criado, há uma entidade privada que recolhe alguns lucros) recebem parte das receitas, isto significa que os resulta-dos dos organizadores sobem na proporção do volume de apostas, que por sua vez, cresce com o número de jackpots."

DN, 8-12-2006, pág 18 e 19

http://dn.sapo.pt/2006/12/08/sociedade/series_jackpots_deviam_ocorrer_200_2.html
 
O referido grupo de belgas está a enlouquecer e quer receber o que teria ganho se tivesse jogado na chave de sempre !
Ironia maior é que, afinal, foi um dos 30 elementos que decidiu por chave aleatória dada a falta de 30 euros de alguém...do grupo.

Revendo a história no DN de 11, pág. 20, verifica-se que não há limites para a desfaçatez das referidas pessoas.

Sobra, talvez, um bom exemplo do mau exemplo da solidariedade entre amigos...
 
Organizadores põem termo a séries demasiado longas de jackpots

Manuel Esteves e Sérgio Aníbal

As entidades europeias organizadoras do jogo Euromilhões decidiram acabar com as longas séries de jackpots deste jogo. Os ministros do Trabalho e da Saúde, que tutelam a Santa Casa de Misericórdia de Lisboa, assinaram uma portaria conjunta, publicada ontem, em que, na prática, decretam o fim das séries consideradas demasiado longas de sorteios sem que seja atribuído o primeiro prémio deste jogo que tanta fama granjeou na Europa e, em particular, em Portugal.

A portaria, que entra em vigor a 3 de Fevereiro, além de reduzir de 12 para 11 o número máximo de sorteios consecutivos sem atribuição de 1.º prémio, introduz a possibilidade de, a qualquer momento, os organizadores interromperem uma série de jackpots, realizando um concurso especial em que se distribui o primeiro prémio (possivelmente reforçado com o fundo de reserva) aos prémios imediatamente a seguir.

"No 11.º concurso consecutivo sem que tenha sido atribuído o 1.º prémio, o montante total acumulado durante os 11 concursos acresce ao montante do 2.º prémio ou, caso este não seja atribuído, ao montante do prémio de categoria imediatamente inferior", determina a portaria. E mais, este mecanismo pode ser aplicado "em qualquer concurso anterior ao 11.º concurso consecutivo sem que tenha sido atribuído o primeiro prémio". Basta que o departamento de jogos da Santa Casa torne pública esta intenção, "previamente ao início da aceitação das apostas para esse concurso".

Na senda do que foi acordado a nível europeu, o Governo justifica as alterações por se ter "constatado que o jackpot acumulado pode atingir montantes mais elevados relativamente ao que socialmente se considera razoável". No preâmbulo do diploma, o Governo argumenta que a distribuição do primeiro prémio pelos restantes em qualquer sorteio "favorece os premiados de categorias inferiores em que haja pelo menos um premiado e que até aqui apenas era aplicada após 12 concursos consecutivos".

Alterações têm fins comerciais

Curiosamente, a portaria portuguesa é omissa, no seu preâmbulo, quanto aos efeitos comerciais destas novas alterações ao mais famoso jogo social em Portugal. O mesmo já não acontece na vizinha Espanha, onde as autoridades assu- miram claramente os fins comerciais desta medida.

Numa resolução de 21 de Dezembro, o director-geral das Loterías y Apuestas del Estado decreta as mesma alterações em Espanha, mas vai mais longe nas justificações: referindo-se também ao valor socialmente desajustado dos prémios acumulados, a resolução justifica esta nova nova regra - que interrompe períodos longos de jackpots a qualquer momento desde que publicitado antecipadamente - "com o fim de obter um melhor aproveitamento comercial do jogo". A existência de prémios suplementares distribuídos pelos vencedores de segunda linha poderá constituir uma atracção comercial.

Estes prémios suplementares deverão ser reforçados com verbas do designado fundo de reserva, que os organizadores do jogo decidiram igualmente reduzir. A portaria reduz de 16% para 6% a parcela de receitas destinadas ao fundo, que são orientadas para o valor do primeiro prémio, que passa a receber 32% das receitas (e não 22%). Isto porque se constatou que o fundo, que pretende proteger o valor mínimo dos prémios face a eventuais quebras no volume de apostas, estava a ser menos utilizado do que o necessário, acumulando verbas demasiado elevadas, em detrimento dos prémios atribuídos aos apostadores.

DN, 4-1-2007, pág.19

http://dn.sapo.pt/2007/01/04/sociedade/organizadores_poem_termo_a_series_de.html
 
OS VELHOS E O EUROMILHÕES

Maria José Nogueira Pinto
jurista

Quem se lembra do motivo que levou a Misericórdia de Lisboa a lançar o Euromilhões, em Outubro de 2004?

O motivo foi o envelhecimento em geral, e o de Lisboa em particular. O motivo foram os velhos. Porque o envelhecimento é um conceito demográfico, abstracto, mas os velhos, esses, são pessoas.

Nestas eleições à Câmara de Lisboa este tema será abundantemente falado. Porque 25% da sua população é constituída por pessoas com mais de 65 anos, porque 35 mil estão isoladas, porque a velhice é mais dura nas grandes malhas urbanas, porque a maioria dos activos foram expelidos para a periferia.

O que era, então, preciso fazer? O difícil equilíbrio entre o acaso e a intenção. Possível, como se viu. Primeiro, encontrar uma fonte de financiamento alternativa. Tratar dos velhos é muito caro. A dignidade custa muito dinheiro. Mas é um imperativo ético num país que se reclama de civilizado. E é aqui que surge o Euromilhões. Que a Misericórdia agarrou numa corrida não fácil conseguindo que este importante jogo de âmbito europeu, que inicialmente só incluía Inglaterra, França e Espanha (que preparavam o seu lançamento desde 2000) nos aceitasse.

Foi um trabalho árduo para o Departamento de Jogos da Santa Casa. Um enorme desafio para os seus dirigentes e trabalhadores. Num tempo recorde (iniciaram-se as negociações em 2002) e correndo riscos, conscientemente assumidos, estávamos na rua em Outubro de 2004. Em 2005, para grande pasmo das nossas congéneres, Portugal liderou as vendas com lucros de 373,2 milhões de euros.

Segundo, construir uma política pública para o envelhecimento, de médio e longo prazo através de uma estratégia global e integrada, uma rede de serviços que, no seu conjunto, sem hiatos nem segmentações, desse resposta a um crescendo de necessidades tendo em vista o agravamento das dependências: desde o mais simples local de convívio, aos lares, passando por conceitos habitacionais como as residências assistidas, até um apoio domiciliário qualificado, chegando aos cuidados continuados, cuidados a grandes dependentes e cuidados paliativos.

Se é certo que muitos destes serviços já existiam, pelo pioneirismo das Misericórdias e pela acção generosa de tantas IPSS, era preciso repensá-los e requalificá-los. Em rigor, não se podia falar de uma verdadeira política de envelhecimento nem de uma rede que, de modo integrado, a operacionalizasse. A falta de modelo tornava a intervenção casuística e a falta de articulação gerava enormes ineficiências.

Por isso, o mais relevante e auspicioso foi o facto de, pela primeira vez, se adoptar uma nova lógica de financiamento, estabelecendo o princípio da concentração de todas as receitas de um jogo social - o Euromilhões - num único programa social, em vez de, como era regra, o pulverizar por inúmeros beneficiários com objectivos díspares.

Esta concentração, aliada a uma estratégia global e integrada de resposta aos problemas do envelhecimento, permitiria de forma sustentada uma progressiva cobertura do País, aproximando os idosos portugueses dos níveis de serviços - em qualidade e em acesso - registados nos outros países da União Europeia.

Hélas! Não foi assim. O Governo socialista decidiu alterar esta regra, regressando ao modelo anterior, distribuindo pataca aqui, pataca ali, sem qualquer estratégia subjacente, a saúde dissociada da Segurança Social, cada um para seu lado, todos fazendo o mesmo, aparentemente sem racionalidade, sem sinergias, sem programas, sem metas, sem prazos, sem avaliação.

O Euromilhões continuará a fazer muito dinheiro, uma slot machine subvertida na sua intenção inicial. Em 2006, mais 475,6 milhões de Euros de lucros.

Desconfio que ajudou a disfarçar o "buraco" da Segurança Social, a dar algum oxigénio ao Ministério da Saúde, a alegrar algumas iniciativas mediáticas e pontuais.

Mas, assim, não resolverá, nem a médio nem a longo prazo, o gravíssimo problema dos idosos e das suas famílias em Portugal. É pena!

DN, 7-6-2007
 
1, 3, 12, 15 e 50 lideram Euromilhões

Os números que mais vezes saíram no Euromilhões, desde o seu lançamento em Portugal, em Outubro de 2004, foram o 01, 03, 12, 15 e 50. Segundo estatísticas publicadas pela Santa casa da Misericórdia de Lisboa, e divulgadas pela Lusa, o número 50 foi o que saiu mais vezes (29) seguido do 01 (28), o 03 (27), o 12 (25) e o 15 (24 vezes).

No que diz respeito às duas estrelas, quer formam com os cinco números a chave completa do Euromilhões, as que saíram mais vezes nos sorteios foram a 01 e a 06. Este último saiu 50 vezes, enquanto aquele outro foi sorteado por 48 vezes.

Do lado inverso, constata-se que o número "maldito" é o 46, que saiu apenas sete vezes. É acompanhado nos últimos lugares da tabela pelo 20, 22 e 28, que saíram 12 vezes cada.

No que diz respeito às estrelas, a que menos vezes saiu é a número 04, que foi sorteada 30 vezes.

Hoje à noite será sorteado o Jackpot de 130 milhões de euros, comemorativo do 3º aniversário do jogo em Portugal.

Com o regulamento extraordinário em vigor, os 130 milhões têm que ser atribuídos. "Caso não seja atribuído o 1º prémio, o valor deste acresce ao montante do 2º ou, caso este também não seja atribuído, ao montante do prémio da categoria imediatamente inferior em que exista, pelo menos, uma aposta premiada neste concurso", pode ler-se no regulamento.

O Euromilhões foi lançado em Fevereiro de 2004 em Espanha, França e Inglaterra, juntando-se em Outubro do mesmo ano Portugal, Irlanda, Áustria, Bélgica, Suíça e Luxemburgo. No último sorteio, só em Portugal foram registadas mais de 8,5 milhões de apostas.

O Euromilhões é um jogo da família dos Lotos, com sorteio semanal válido para todos os países, que se realiza em França e com um 1º prémio previsto na ordem dos 10 milhões de euros, sempre que não há Jackpots.

É composto por 12 categorias, cujos valores unitários são iguais para todos os países. Segundo a Santa Casa, "o Euromilhões tem um sistema de jogo inovador com duas grelhas: uma com 50 números, onde são marcadas 5 cruzes, e uma outra com 9 estrelas, onde são marcadas 2 cruzes".

DN, 28-9-2007
 
O ciclo vicioso que leva a apostar no Euromilhões

Há duas formas de olhar para o facto de os portugueses serem quem mais aposta no Euromilhões. Uma social e uma outra económica.

Na perspectiva social, apontam-se os baixos rendimentos das famílias e a subida do custo de vida como as principais razões que levam Portugal a ter o recorde de investimento per capita (1,66 euros por semana) neste jogo: perante a pobreza, subsiste o sonho de equilibrar as finanças num rasgo de sorte.

Na perspectiva económica, a culpa é imputada à atitude da maioria dos portugueses perante o trabalho, que nos coloca na cauda dos rankings de produtividade europeus: opta-se pela solução mais fácil achando sempre que uma entidade superior, regra geral o Estado - neste caso é mesmo a Santa Casa da Misericórdia -, resolverá os problemas.

No fundo, trata-se de um ciclo vicioso que Portugal não consegue quebrar. A falta de investimento dos portugueses no emprego e na formação causa pobreza. Os baixos ordenados e as más condições de trabalho levam a este desinvestimento.

Mas como a sorte, já se sabe, dá igualmente muito trabalho e também não chega para todos, a aposta certa é mesmo no emprego. Da parte do Governo e dos cidadãos.

DN, 8-10-2007
 
Novo jogo do Euromilhões exclusivo para Portugal

RUTE ARAÚJO*

Três anos depois de ser lançado, as estatísticas do Euromilhões mostram que Portugal pode reclamar para si a sorte grande, com o maior número de primeiros prémios arrecadados neste jogo europeu. Mesmo assim, os portugueses já tiveram mais apostados em ganhar e, durante este ano, gastaram menos dinheiro a tentar acertar na combinação certa de números. Para não deixar os euros por mãos alheias, a Santa Casa tem já preparado um novo incentivo para os apostadores: um jogo, associado ao Euromilhões, só para Portugal, que será lançado para o ano.

A ideia é associar o conceito do Joker - que hoje integra o Totoloto - ao jogo europeu. O boletim passará a ter uma nova chave de apostas, que funcionarão apenas para o mercado português. Desta forma, pretende-se "captar novos apostadores" e "distribuir mais prémios", explicou fonte da instituição à Lusa.

Mas as novidades não se ficam por aqui. A Santa Casa quer melhorar também os sistemas informáticos e as "plataformas de suporte" para permitir novas apostas aos jogadores. Hoje já é possível apostar no site da instituição. De acordo com informações dadas pela Santa Casa à Lusa, o objectivo é também melhorar os níveis de segurança destas apostas, com software mais recente.

Quando há três anos o jogo foi lançado, poucos previam que o Euromilhões pudesse fazer tantos portugueses milionários. Mesmo assim, o País lançou-se numa corrida às apostas que lhe valem o primeiro lugar em valores gastos per capita - 1,66 euros em média por semana. Só para os apostadores nacionais foram distribuídos 61 milhões de prémios no total de 1,3 mil milhões de euros. E, quando em Fevereiro de 2006, o maior jackpot de sempre (183 milhões) levou os europeus a sonhar com cifrões, apenas três apostadores conseguiram realizar o sonho. Entre eles, um português.

O primeiro prémio já saiu a vinte cidadãos e só a França pode medir forças neste jogo de sorte, com 18 totalistas. Apenas este ano, as contas já totalizam oito portugueses com o primeiro prémio. As estatísticas dizem que a sorte está a Norte, com o Porto a conseguir sete combinações certas, no valor total de 128,5 milhões de euros. Mas foi para Odivelas que seguiu o valor mais alto alguma vez atribuído - 61,191 milhões.

Lançado em Fevereiro de 2004 em Espanha, França e Inglaterra, o Euromilhões passou a contar com Portugal, Irlanda, Áustria, Bélgica, Suíça e Luxemburgo a partir de Outubro do mesmo ano. Na história do jogo, há números que insistem em integrar a combinação certa. Se as estatísticas contam para a sorte, as apostas não podem esquecer os números mais vezes saíram - 50, 1 e 3. Cada um mais de vinte vezes. As estrelas mais frequentes foram a 6, a 1 e a 3.

*com Lusa

DN, 8-10-2007
 
EM DEFESA DO JOGO

Pedro Lomba
jurista
pedro.lomba@eui.eu]

Eu era um adolescente, ou nem isso. Costumava passar as férias no campo militar de Santa Margarida em pleno Ribatejo. Era um tempo em que as famílias dos militares se juntavam, numa espécie de rotina burguesa e inconsciente do mundo à sua volta. Um tempo que desapareceu com o declínio do Exército e quando o ténue crescimento das últimas décadas refez as afinidades sociais em torno de quem tem e não tem dinheiro. Nas noites de Verão em Santa Margarida, como não havia computadores nem Internet e o isolamento era considerável, o que podíamos fazer era jogar. Aprendi todos os jogos de cartas, do bridge a essa antiguidade que suponho que já ninguém joga: o carapô. Aprendi a gostar de bingo, injustamente considerado um jogo de colectividades e febra assada. Aprendi o mundo de diferença que há entre ganhar e perder o que quer que seja. E adorava o poker: mais do que um jogo, o poker envolvia um ritual psicológico, um maquiavelismo lúdico e narcisista a que era difícil resistir. O poker é talvez o único jogo social que é tão interessante para quem joga como para quem assiste. Percebo perfeitamente porque é que vicia.

Estas memórias de infância marcaram a minha relação com o jogo. Hoje já não jogo, mas continuo a achar fascinantes muitos aspectos do jogo, sobretudo essa atitude de reverência do jogador perante a sorte. Não me apanham, por isso, com comentários de alarme e repugnância. Quando se lembra que os portugueses são o maior apostador europeu do Euromilhões (soube-se esta semana que vamos ter um novo jogo do Euromilhões só para nós), há sempre quem fique escandalizado. Como é possível que sejamos tão primários, ao ponto de acreditarmos mais na sorte do que no trabalho e na disciplina? Como é possível gastarmos o dinheiro que gastamos, com absoluta irracionalidade, numa coisa tão aleatória como uma lotaria? E depois vem aquele argumento muito liberal, muito coerente mas também muito insatisfatório: com que direito é que o Estado se serve de lotarias para arrecadar receitas, promovendo o vício e desviando os cidadãos de uma vida de esforço? Ainda por cima é a Santa Casa que gere tudo, o que significa que o Estado tem um monopólio e, no fim de contas, a Santa Casa não devia ser santa?

Tudo, repito, muito certo. Conheço os argumentos. E, no entanto, o meu conselho é: deixem estar o jogo. Batemos recordes de apostas no Euromilhões? E depois? O jogo devia ser livre. Todos os que leram a novela de Dostoievski O Jogador sabem que o jogador é uma personagem metafísica. A personagem principal vicia-se no casino para se aproximar da mulher que ama. O jogo é a sua esperança, a sua via para uma vida diferente. Ganha e perde. E nunca deixa de tentar a sua sorte até que ela finalmente o receba.

DN, 11-10-2007
 
17 mil viciados no jogo

SARA GAMITO *

A doença faz parte das salas de jogo
Detentora de algumas das mais importantes salas de jogo portuguesas, a empresa Estoril Sol estima que a percentagem de jogadores patológicos no País ronde os 0,2% da população. Um cálculo feito por extrapolação, suportado em estudos realizados no Reino Unido, e que, considerando o universo aproximado de 8,5 milhões de portugueses maiores de idade, revela que o problema afecta cerca de 17 mil pessoas.

Na maior parte dos casos, o vício vive-se em segredo. Mas basta visitar um casino nas tarde de um dia de semana para sermos surpreendidos com a atmosfera pesada que aí se respira. Velhos e jovens debruçam-se sobre os mais variados jogos, gastando o que têm e o que não têm. Não impera o lazer ou a descontracção, mas o característico desespero do jogo compulsivo.

Um problema que ganha contornos preocupantes quando há estudos internacionais que demonstram que um quinto destes jogadores tenta o suicido e três quartos sofrem de depressão. A doença do jogo condena as relações interpessoais, arruina a economia familiar, conduz invariavelmente ao endividamento e empurra muitas vezes para comportamentos ilícitos. Por acréscimo, o vício do jogo faz-se acompanhar, na maioria das vezes, de outras dependências e compulsões.

Todos os que jogam sem conseguir parar padecem dos mesmos males. No entanto, os psiquiatras distinguem dois tipos de jogadores doentes. Os activos e os passivos ou, como define o psiquiatra António de Albuquerque, os impulsivos e os compulsivos.

No primeiro caso, o jogador sente com frequência um impulso irresistível para apostar. "Um impulso que se liberta sem crítica interna do sujeito. Um impulso que gera prazer, não gera culpabilidade e está ligado a outros impulsos igualmente nocivos, como a bebida, as drogas, as compras e a condução a alta velocidade", explica o psiquiatra. E são sobretudo os homens que se deixam guiar pela excitação do jogo. Para António de Albuquerque "são indivíduos com um distúrbio de personalidade, com ausência de consciência das consequências de condutas negativas, sem noções de culpa ou de moral. Este jogador procura o risco, vive à beira de um precipício".

Por consequência, o drama mais penoso é o vivido pelos jogadores compulsivos. São muitas vezes mulheres, que jogam sós e anonimamente nas slot machines, procurando uma fuga à realidade, uma sensação tranquila. António de Albuquerque afiança que este tipo de jogadores "tem consciência de que o seu impulso é negativo. Existe uma dinâmica de luta interna, entre o desejo e a culpa. São racionalizações secundárias que legitimam o ir jogar, como pensar que podem ganhar ou não perder muito".

Outra peculiaridade da maioria dos jogadores patológicos é pensarem que têm, ou que conseguem ter, uma relação privilegiada com a sorte. "Normalmente a pessoa solitária exibe um conjunto de tiques supersticiosos que ritualizam o jogo", continua o psiquiatra, recordando uma experiência que ele próprio viveu num casino de Las Vegas: "um amigo tocou na máquina de uma senhora e ela começou a insultar-nos porque sentia que anuláramos o que ela tinha feito". Bater na mesa quando as cartas estão a ser distribuídas, regras próprias para apostar, máquinas predilectas, rituais para a inserção de moedas ou para accionar alavancas, constam entre as superstições mais comuns para evocar a sorte.

Seja pela busca de risco ou para esquecer preocupações quotidianas, os jogadores patológicos tendem a seguir o mesmo caminho rumo à sua própria deterioração. O primeiro risco, o primeiro grande azar, é ganhar. Além do dinheiro, ganhar confere a ilusão de estatuto e poder. Muitos não atribuem as primeiras vitórias à sorte, mas às próprias capacidades e estratégias. Vencer proporciona uma melhoria na auto-estima e cultiva a fantasia de enriquecer, o que leva muitos a passarem mais tempo a jogar em solidão, isolados da família e dos amigos.

Mas a sorte não dura sempre e quem joga não demora a perder. O jogador tenta então recuperar o dinheiro perdido, apostando com mais frequência e com somas cada vez maiores. É por esta altura que surgem as mentiras para encobrir os danos dos que estão mais próximo. Consequentemente, as finanças e as relações pessoais sofrem um revés. Absentismo e mau desempenho no trabalho muitas vezes conduzem ao desemprego.

Dentro de um círculo vicioso, o desespero ameaça o jogador. Segundo um estudo norte-americano, realizado pelos investigadores Tami Argo e Donald Black, 17% a 24% tenta o suicídio. Muitos envolvem-se em actividades ilegais, sobretudo desfalques e falsificação de cheques.

Por insistência de familiares alguns procuram ajuda médica. Argo e Black calculam que 76% dos jogadores patológicos sofre de depressão. No entanto, são os próprios médicos a admitir que os tratamentos têm muito pouco êxito. Nos Estados Unidos, os grupos de jogadores anónimos parecem oferecer vantagens, mas em Portugal não existe qualquer organização com esse propósito.

*Com João Pedro Oliveira
 
Milionário minhoto ainda no anonimato

PAULO JULIÃO, Viana do castelo

Euromilhões. Café de Vila Verde registou vencedor

Este é já o terceiro primeiro prémio que Gonçalves Rego regista

Quem ontem entrava no Café Recreio, no centro de Vila Verde, não suspeitava que há poucos dias alguém saiu dali com um boletim do Euromilhões que agora vale 59 milhões de euros, tendo em conta a calma vivida no interior. "Só amanhã [hoje], é que vou pôr aí uma faixa, mas nada de especial", confidenciou ao DN o proprietário, Gonçalves Rego.

O apostador, agora milionário e que ali registou o boletim premiado, permanece anónimo e ainda desconhecido do proprietário do estabelecimento. "No sábado de manhã, entrou-me aqui um indivíduo que me quis cumprimentar, agradeceu-me e disse-me apenas que dentro de dias ia passar por aqui. Tenho quase a certeza de que foi ele o premiado", afirma Gonçalves Rego, de 74 anos, há mais de quatro décadas à frente da centenária casa Recreio, que no mesmo espaço, na avenida central de Vila Verde, reúne o serviço de café, restaurante e quiosque.

Para além do Euromilhões deste fim-de-semana, no registo do estabelecimento conta-se ainda o primeiro prémio do Loto 2, em 2002, que valeu ao apostador cerca de 100 mil euros. Mais recentemente, das mãos de Gonçalves Rego, saiu ainda o prémio maior do Totoloto, no valor de meio milhão de euros. "Mas isso eram outros tempos, agora só dá Euromilhões. Na sexta-feira, como havia um prémio maior, a fila para registar os boletins chegava à rua", explica, acrescentando que só no Totoloto sentiu, nos últimos anos, uma quebra de 80%.

Quanto ao prémio milionário, o proprietário recorda a chamada que recebeu no sábado. "Ligaram-me da Santa Casa da Misericórdia a dizer que tinha atribuído o primeiro prémio do Euromilhões. Só tive pena que o prémio não viesse para mim", brincou. O apostador anónimo de Vila Verde vai repartir com um outro, europeu, o prémio de 59 674 853 euros. Segundo dados do Departamento de Jogos da Santa Casa da Misericórdia, treze apostadores europeus, mas nenhum português, foram contemplados com o segundo prémio, recebendo cada um, 500 324,58 euros. O terceiro prémio, no valor de 108 576,00 euros foi atribuído a 17 apostadores, dois dos quais portugueses. Ficaram, também, em Portugal 29 dos 221 quartos prémios, no valor de 5965,71 euros.

DN, 8-9-2008
 
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