23 fevereiro, 2007

 

Há vinte anos...


...a morte saiu à rua.

Ainda que não se goste.

Porque ficou no ouvido e continua no coração de muita gente:

http://news.google.pt/news?q=zeca+afonso&hl=pt-PT&sa=X&oi=news&ct=title
http://pt.wikipedia.org/wiki/Zeca_Afonso
http://www.azeitao.net/zeca/index.html
http://www.aja.pt/
http://www.myspace.com/joseafonso

Uma das suas Trovas antigas:

O que mais me prende à vida
Não é amor de ninguém.
É que a morte de esquecida
Deixa o mal e leva o bem.

http://visaoonline.clix.pt/default.asp?CpContentId=332894

Comments:
Um músico genial mas que não passa na rádio

Maria João Caetano

O músico David Fonseca diz que não está à vontade para falar sobre José Afonso. "Aprecio-o muito mas sinceramente não sinto que tenha sido uma influência e não conheço assim tão bem a obra." Nuno Gonçalves, dos The Gift, repete esta argumentação: "Respeito-o imenso e sei da importância que ele teve mas talvez me tenha estimulado mais por ser uma pessoa inconformada do que em termos musicais." O rapper Sam the Kid samplou "uma vez os passos do Grândola, como toda a gente" e até ouve bastante música portuguesa mas prefere temas mais orquestrados do que acústicos. Todos o conhecem e respeitam mas qual o legado que José Afonso deixou, de facto, aos mais jovens músicos portugueses?

José Afonso morreu em Setúbal faz hoje 20 anos e, hoje, a sua música vai ouvir-se na rádio, haverá depoimentos na televisão, alguns encontros pelo país, anunciam-se discos de homenagem. Só hoje. "E se não fossem as efemérides talvez nunca o ouvíssemos", arrisca o crítico musical João Gobern. "José Afonso tornou-se igualmente incómodo antes e depois do 25 de Abril. É impossível pôr em causa a sua qualidade musical, por isso houve quem preferisse atacá-lo pelo lado político." Mais próximo das utopias do que "das grandes tramóias políticas", José Afonso tornou-se inconveniente, diz. "Mesmo reconhecendo o seu valor, sabendo que ele tinha um sentido harmónico extraordinário e uma voz excelente."

"O Zeca foi injustiçado em vida e continua a ser muito injustiçado depois de morrer, deveria ser muito mais ouvido e mais lembrado do que é", confirma Janita Salomé, amigo de José Afonso e um dos poucos que faz questão de manter a memória do seu mestre em discos e espectáculos. "Ele era uma pessoa politicamente empenhada mas, além disso, há a obra poética que é excelente e há o legado musical que é incontornável. Parece-me que o estigma político é muito forte, como se houvesse uma incompatibilidade entre o empenhamento político e a qualidade musical." Talvez seja preciso passar mais tempo, conclui. "A próxima geração estará distante politicamente e poderá, por isso, ter um olhar menos preconceituoso sobre a obra."

Músico popular e universal

Exceptuando os músicos da sua geração, como Sérgio Godinho, José Mário Branco ou Vitorino, são poucos aqueles em que se reconhece essa herança de que todos falam mas que poucos usam. A culpa é da comunicação social e dos "padrões estéticos anglo-americanos que são impostos", diz Janita Salomé. Ou, como explica Quim Barreiros, "os músicos de agora não fazem música popular porque não podem, não são capazes. São melhores músicos mas não têm as referências do folclore, como nós tínhamos." Poucos se lembram, mas Quim Barreiros chegou a colaborar com José Afonso, no álbum Com as minhas tamanquinhas, de 1976. "O telefone tocou às duas da manhã. Era o Zeca Afonso, que estava com problemas em duas músicas baseadas em folclore e precisava da minha ajuda. Disse-me: pegue na sua gaita e venha cá." Naquela altura, José Afonso e Quim Barreiros gravavam na mesma etiqueta, a Orfeu, e utilizavam os mesmos estúdios. "Às vezes íamos juntos a umas tasquinhas ali perto", recorda o acordeonista. Isto apesar das discordâncias políticas.

José Afonso era um músico ecléctico, ao mesmo tempo culto e popular. Camané recorda a dificuldade que encontrou quando uma vez tentou interpretar um tema seu: "As músicas dele não eram fáceis de cantar e ele conseguiu pôr o povo a cantá- -las." E acrescenta: "Ele é talvez um dos melhores músicos portugueses de todos os tempos. Está muito para além da música de intervenção, era um compositor acima da média e um cantor extraordinário. Eu era miúdo quando foi o 25 de Abril e para a minha geração o José Afonso é incontornável, estava sempre na rádio."

Se o fadista aprendeu muito ouvindo Zeca Afonso, Manuel Rocha, da Brigada Vítor Jara, ainda se lembra dos 216 escudos que pagou por Coro dos Tribunais, o primeiro disco que comprou. "Em Coimbra, o Zeca anunciou novas músicas, trilhou caminhos. Ao mesmo tempo, foi um dos primeiros que trabalhou a música tradicional, com cuidado e bom gosto, e que lhe juntou todas as influências, que eram suas e nossas, de África. A sua música, fundada na cultura portuguesa, era universal", conclui. "Ele criou uma nova forma de ser músico e isso influenciou todos os músicos de hoje, mesmo que não se note na música que fazem." Além disso, diz, esperançoso, "o êxito é fácil mas os músicos importantes são aqueles que resistem ao seu tempo. E se há uma coisa boa na modernidade é que tudo fica registado, preservado. À espera do seu momento. Bach só foi descoberto muito mais tarde, não foi?".

DN, 23-2-2007, pág. 34,35
 
Zeca disperso pelo país

Sérgio Almeida

Os consensos nunca foram o ponto forte de Zeca Afonso, mas, 20 anos cumpridos sobre a sua morte, o reconhecimento sobre a importância da obra que legou aproxima-se precisamente daquele grau pleno de aceitação que o autor de "Filhos da madrugada" sempre considerou pernicioso, devido ao risco de inebriar os autores e afastá-los do que realmente importa.

Hoje, artistas representativos de várias gerações, mas também um público numeroso que ainda se revê nos temas que ajudaram a acentuar as fragilidades de um regime putrefacto, continua a ver na obra de Zeca um artista comprometido com a realidade de um tempo que ainda é o nosso.

"As suas canções permanecem frescas e esse é um mérito que ninguém lhe pode retirar", defende Carlos Tê, o compositor e letrista que enfatiza o interesse ainda suscitado pelos seus discos com a "contínua redescoberta" das novas gerações. "Ver o seu trabalho interpretado por outros é a melhor homenagem que se lhe pode fazer e aquilo a que ele, certamente, mais gostaria de assistir", adianta.

Sam the Kid é um dos novos autores do meio musical português para quem a obra do cantautor não soa estranha, embora reconheça que "há metáforas escondidas em que eu não percebo tudo". "É uma música excelente", afirmou o 'rapper', que já usou excertos de 'Grândola, vila morena' num dos seus temas", à agência Lusa.

O interesse pelo material que produziu durante mais de três décadas resiste à óbvia datação histórica de parte do seu trabalho. E se é certo que mais nenhuma releitura da sua música atingiu a visibilidade de "Os filhos da madrugada" - álbum de homenagem em 1994, que reuniu contributos de uma dezena e meia de artistas -, todos os anos surgem novos sinais de fascínio. Um dos mais recentes exemplos é o espectáculo que Cristina Branco apresenta no Jardim de Inverno do Teatro São Luiz, em Lisboa, conferindo novas texturas às suas canções mais emblemáticas.

Se, como compositor, o seu talento é amplamente reconhecido, também como intérprete Zeca Afonso reúne incondicionais. É o caso de produtor e músico Mário Barreiros, fã de "uma voz que primava pela simplicidade".

Unidos pela devoção, os apreciadores de Zeca convergem também no reconhecimento da escassa divulgação que a sua música merece hoje nas rádios e televisões. Uma pecha que só não é mais grave porque, como sublinha Janita Salomé, "todas as pessoas sabem cantarolar canções do Zeca, tal como acontece com alguns fados".

"Espírito de andarilho"

O quase unanimismo que rodeia a obra do cantor e compositor nascido em Aveiro - cidade que praticamente ignora a efeméride hoje assinalada - encontra um indicador exemplar no número de localidades que aderiram à data.

Do vasto programa previsto para hoje, o mais ambicioso pertence ao Centro Cultural de Vila Flor, em Guimarães. Hoje e amanhã, há workshops, debates, encenações musicais e sobretudo aquela que promete ser a mais ampla mostra bibliográfica, com discos, livros, brochuras, vídeos, revistas, catálogos e fotografias.

Director da Associação José Afonso (AJA), Paulo Esperança não concorda que a descentralização de eventos possa ofuscar a visibilidade do ambicioso plano de iniciativas a desenvolver ao longo do ano "Pelo contrário. Esta dispersão vai plenamente ao encontro do espírito de andarilho que caracterizou o Zeca, sempre interessado em levar a sua música a novos locais".

A associação, sediada em Setúbal, pretende fazer da efeméride o pretexto ideal para levar as músicas do cantor a um público numeroso, "não só as pessoas que desde sempre conviveram com elas mas também as novas gerações".

Depois de Felgueiras, Guimarães e Porto, a AJA quer levar a outras localidades do país, até final do ano, iniciativas capazes de contribuir para que mais pessoas conheçam a sua obra.

"Não estamos dependentes de subsídios. Tentamos potenciar as actividades que desenvolvemos, apresentando-as às autarquias eventualmente interessadas", diz Paulo Esperança.

"Venham mais cinco" (1973)

Gravado em Paris, inclui algumas das canções que escreveu durante a sua prisão em Caxias.

"Coro dos Tribunais" (1974)

Disco composto e gravado poucos meses após o 25 de Abril. Conta com "O que faz falta" e outras pérolas .

"Ao vivo no Coliseu"

(1983)

Registo em formato duplo que compila o histórico concerto. Ao longo de 17 canções faz-se uma retrospectiva da sua obra. Termina com uma arrepiante "Grândola" cantada pelo público.

"Cantigas do Maio" (1971)

É frequentemente referido como "o melhor disco de sempre da música portuguesa". Gravado no Outono de 1971 em Herouville, França, conta com arranjos e direcção musical de José Mário Branco. É nesta obra sublime que surgem as canções eternas como "Senhor Arcanjo", "Cantar Alentejano" (dedicado a Catarina Eufémia) ou "Coro da Primavera".

Mais importante ainda "Cantigas do Maio" é o disco de "Grândola Vila Morena".

JN, 23-2-2007
 
Homenagens por todo o país no dia dos 20 anos da morte do "poeta de Abril"

O cantor José Afonso vai ser hoje alvo de diversas homenagens, entre as quais uma realizada pela Sociedade Portuguesa de Autores (SPA), no dia em que se assinalam 20 anos sobre a sua morte.

A iniciativa da SPA vai juntar o presidente e o vice- presidente da Sociedade, Manuel Freire e José Jorge Letria, respectivamente, e ainda dos músicos José Niza, Francisco Fanhais e Luiz Goes.

A homenagem termina com o cantor Samuel a interpretar músicas do poeta e compositor José Afonso.

"Tributo a José Afonso" é o nome de outra homenagem que vai decorrer no Mercado da Ribeira, também em Lisboa, com a presença dos Cantadores de Rusga, Jorge Jordan, Mingo Rangel, Rogério Charraz e ainda do actor Jorge Castro, que vai fazer a leitura de alguns poemas.

Em Odivelas, a Câmara Municipal e a Assembleia Municipal bem como a Associação José Afonso organizaram um colóquio onde se vai falar sobre o papel do autor na cultura e na sociedade portuguesa.

Os cantores Vitorino, Janita Salomé e José Carvalho participam num concerto de homenagem a José Afonso no Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz.

Também em Guimarães, os 20 anos sobre a morte do compositor vão ser assinalados com uma exposição "O que faz falta" e uma teatralização da vida e obra do músico.

No Café Central da Guarda será feita a homenagem: "As palavras e a música do poeta de Abril".

No rol das iniciativas consta ainda uma romagem à campa de José Afonso, em Setúbal.

Quinta-feira, os partidos políticos com assento no Parlamento lembraram o músico Zeca Afonso e aprovaram por unanimidade um voto, que considera que o Parlamento não seria "a casa da democracia" sem o contributo do seu som.

No final da leitura do voto pela mesa do Parlamento, os deputados aplaudiram o autor da canção "Grândola, Vila Morena", que foi na madrugada de 25 de Abril de 1974 a senha do Movimento das Forças Armadas (MFA) para o derrube do regime ditatorial.

O cantor José Afonso, o autor de "Grândola, Vila Morena", senha da revolução de 25 de Abril de 1974, que esteve na base da queda da ditadura, morreu no dia 23 de Fevereiro de 1987 com 57 anos.

Nascido em Aveiro, a 02 de Agosto de 1929, José Afonso cresceu entre Angola, Moçambique, Belmonte e Coimbra, onde frequentou o Liceu D. João III e a Faculdade de Letras e onde se iniciou também na balada, com o mestre da guitarra Flávio Rodrigues.

Em 1983, foi-lhe diagnosticada a esclerose múltipla, de que viria a falecer, e foi nesse ano que José Afonso realizou os últimos espectáculos ao vivo, nos Coliseus de Lisboa e Porto, sendo então editados "José Afonso Ao Vivo no Coliseu" e "Como Se Fora Seu Filho".

Público, 23-2-2007
 
Zeca Afonso no 'ai-pode'

Jacinto Lucas Pires
Escritor
jacintolucaspires@gmail.com

Vivemos no tempo em que os números falam e, desta vez, o que eles dizem é que o disco José Afonso chegou ao número um da tabela nacional de vendas.

É sabido que os "números um", como a tradição, já não são o que eram - ainda assim, não deixa de ser uma boa surpresa que o álbum mais vendido em Portugal seja uma antologia do autor de Grândola Vila Morena.

Nasci em 1974 e talvez por isso esteja mais à vontade para dizer o óbvio sobre a obra de Zeca Afonso: é indispensável retornar uma e outra vez a esta música e a esta voz.

A música e a voz de Canção de Embalar, Cantigas do Maio, A Morte Saiu à Rua, Senhor Arcanjo. Retornar sempre ou, no caso das novas gerações e dos mais-que- -distraídos, escutar pela primeira vez, pela primeira vez arriscar o espanto destas palavras-melodias tão solitárias e tão populares, tão modernas e tão tradicionais, tão revolucionárias e tão de todos.

Neste canto acha-se a qualidade do que é para lá do tempo sem ser pesadão de "intemporal".

O silêncio, a certeza, a ousadia simples e despida destas composições/interpretações.

É difícil dizer ao certo o que é. Um mistério não matemático, que reage à análise. Uma coisa no centro que segura a emoção, e prende-a, prende-a até ao ponto óptimo. Uma voz que, sempre que acontece, "caem os anjos no alguidar".

Ao contrário do que parece ser a opinião dominante sobre o "legado do Zeca", não vejo vantagem em separar o "génio musical" do "cantor militante". Antes o oposto, talvez. Nesta época de tantos "jogos criativos" sem espessura nem pensamento, a seriedade do seu caminho - num contexto completamente diferente, já se sabe - deve servir como excelente aviso.

São canções tão portuguesas, que ouvi--las é como nos ouvirmos ao espelho. Canções em que a "poética" do todo (palavra, música, voz) se organiza com tal justeza e generosidade que cada termo - mesmo os que, fora dali, surgiriam como tristemente "datados" - traz consigo uma hipótese de reinvenção.

Com Zeca Afonso no "ai-pode", vê-se melhor a cidade, garanto. Os outros, a diferença, o lado de lá deste mundo.

DN, 9-3-2007, pág. 56
 
Reinventar José Afonso

TIAGO PEREIRA

No ano em que se assinala o 20.º aniversário da morte de José Afonso, o nome e a obra de uma das figuras fundamentais da música portuguesa fizeram-se referência para homenagens e tributos registados em disco. Dois novos lançamentos, de Cristina Branco (a 5 de Novembro) e Jacinta juntam-se a cinco outros discos de versões já editados desde Janeiro.

Apesar de partirem de premissas aparentemente distantes (das raízes populares ao jazz, passando pela tradição brasileira) cada um dos discos aborda vontades comuns, revelando um consenso em volta da herança de José Afonso, através de escolhas aparentemente inevitáveis (como Canção de Embalar, Que Amor não me Engana ou Cantigas do Maio) e na assumida vontade em recriar sem desvirtuar.

Em Convexo, Jacinta relê José Afonso através do seu jazz cool. Apenas ao piano e bateria, adaptando os temas como standards. Aqui, Jacinta aplica a palavra standard a cada um dos temas escolhidos, procurando fugir da arquitectura original, assimilando mesmo referências de um jazz de traços africanos.

Com Abril, Cristina Branco revelará, no início do próximo mês, a marca José Afonso no seu percurso, entre a música tradicional portuguesa e o fado. Revisto no feminino, não só pelo timbre da voz mas também pelo sentido das palavras que se cantam. Com evidente preocupação no apuro instrumental, Cristina Branco é acompanhada por Ricardo Dias, Bernardo Moreira, Alexandre Frazão e Mário Delgado.

Já no início do ano, os Couple Coffee apresentaram Co'as Tamanquinhas do Zeca, num inventivo revisitar de José Afonso, com evidente tempero brasileiro.

Também deste 2007 dedicado a José Afonso fazem parte os tributos A Terra do Zeca (assinado pelo projecto Terra d'Água, do milanês Davide Zaccaria) e Com Zeca no Coração (pela Banda Futrica). Ambos com vozes convidadas. O primeiro com Dulce Pontes, Filipa Pais, Lúcia Moniz, Maria Anadon e Uxia. O segundo com Isabel Silvestre e Helena Lavouras, entre outros nomes. Também em 2007, o projecto Erva de Cheiro apresentou o disco Que Viva o Zeca, em edição de autor. Os Frei Fado d'El Rei recordaram José Afonso com o álbum Senhor Poeta.

DN, 19-10-2007
 
'Songbook' de José Afonso à espera de autorização

TIAGO PEREIRA

O primeiro songbook com a transcrição das canções de José Afonso (a integral da obra gravada pelo músico) está finalizado, mas aguarda autorização da família para ser publicado há mais de três anos.

O livro, da autoria de José Mário Branco, João Loio, Guilhermino Monteiro e Octávio Fonseca, foi recusado por Zélia Afonso, viúva e detentora de 51% dos direitos sobre a obra de José Afonso, em Outubro de 2003, mas permanece nos planos da Campo das Letras, editora livreira associada ao projecto. José Mário Branco revelou ao DN que "o livro, planeado em conjunto com Jorge Araújo, da Campo das Letras, esteve para ser publicado a 25 de Abril de 2004", edição nunca concretizada depois de Zélia Afonso ter comunicado a sua recusa ao colectivo responsável pela transcrição dos temas e à Sociedade Portuguesa de Autores. Quanto aos motivos para a recusa da publicação, José Mário Branco deixa as explicações para Zélia Afonso, que o DN tentou contactar sem sucesso até ao fecho desta edição.

O songbook de José Afonso é o primeiro de uma iniciativa que procura "recuperar a memória de música popular portuguesa", diz-nos José Mário Branco. As obras de Adriano Correia de Oliveira, Carlos Paredes, Fausto e Sérgio Godinho fazem parte do mesmo projecto editorial. No entanto, José Mário Branco (que prepara também o seu próprio songbook) adianta que "nenhuma edição faz sentido sem o livro com as canções do Zeca. Ele tem que ser a nossa prioridade. Por isso, a preparação de todos esses títulos está, neste momento, em stand by".

O músico e co-autor do songbook justifica a publicação do livro com a "necessidade de esclarecer uma nova geração sobre o legado de um nome fundamental". Ao mesmo tempo, recorda discos de tributo e homenagem que vão surgindo no mercado - nomeadamente os que em 2007 assinalaram os 20 anos da morte de José Afonso - lembrando que são frequentes os erros: "Uma coisa é reinterpretar um tema. Outra é tentar recriá-lo e não o fazer de acordo com o método do seu autor. São falhas que acontecem naturalmente quando não há nenhum meio para que a informação seja transmitida da forma mais correcta."

José Mário Branco questiona também a actual legislação sobre "o direito de autor póstumo", recordando "o direito de uma comunidade sobre uma obra essencial ao seu crescimento cultural".

DN, 9-1-2008
 
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