22 março, 2007

 

21 de Março


Dia mundial da árvore


http://www.dgrf.min-agricultura.pt/v4/dgf/ficheiros/20030323170810DSVPF-P.pdf




http://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_Mundial_da_%C3%81rvore

Como classificar:

Lei - o Decreto-Lei 28 468 de 15/02/1938 classifica as árvores como "interesse público";
Entidade - cabe à DGRF apreciar os espécimenes a classificar e verificar o seu estado de conservação;
Critérios - o porte, a idade e a raridade são alguns dos factores a ter em conta;
Pedido - qualquer cidadão pode solicitar a classificação. Basta dirigir-se à DGRF e indicar a árvore e a sua localização.

Comments:
Ter árvores seculares classificadas no quintal é privilégio de alguns

Marina Almeida

A memória mais forte que Maria Teresa Valdez guarda do enorme dragoeiro que tem no quintal de sua casa é a do corte de duas pernadas. A seiva desta árvore é vermelha-escura e "quando os dois senhores a serraram parecia que a estavam a matar. Escorria sangue".

O dragoeiro não só sobreviveu como, há sete anos, foi classificado como árvore de interesse público a pedido dos proprietários. O espécimen impressionou o engenheiro da Direcção-Geral de Recursos Florestais (DGRF) que foi à Quinta do Jardim, em Laveiras, Paço de Arcos. "Eu dizia-lhe que o meu era maior que o do jardim botânico e ele não queria acreditar. Quando cá chegou rendeu-se", diz Maria Teresa Valdez. Estima-se que esta "árvore-monumento" tenha cerca de 400 anos. Terá inclusive visto o enorme palacete da quinta ir abaixo, sacudido pelo terramoto de 1755, mas resistiu.

Quando desce as escadas das traseiras Vasco Valdez sente que vai ao encontro "de uma força da natureza". A árvore "não exige grandes cuidados, é quase um cacto", conta o marido de Teresa Valdez. De seis em seis meses, o dragoeiro recebe a visita dos técnicos da DGRF a ver "se está tudo bem".

Esta é uma das árvores classificadas como interesse público pela DGRF que se encontram em propriedade privada. Tal como as que se encontram em jardins ou na via pública, beneficiam de uma zona de protecção de 50 metros de raio a contar da base e qualquer corte tem de ser feito com autorização da DGRF.

Foi este "raio de protecção" que inspirou outra Maria Teresa Valdez (prima "afastada" da nossa primeira interlocutora, segundo a própria). Tem no jardim da Quinta Nova da Conceição, em São Domingos de Benfica, Lisboa, uma bela-sombra e uma araucária, ambas "mais que centenárias" e ambas na listagem da DGRF. Pediu a classificação, em 1996, quando soube que a Câmara Municipal de Lisboa tinha intenção de lhe cortar o terreno em dois com uma estrada. O expediente da proprietária da única casa de turismo de habitação existente em Lisboa valeu-lhe sossego e a preservação de uma árvore que faz parte da família.

"A bela-sombra foi a casinha de bonecas de todas as gerações", conta. A árvore forma um interior oco, que guardou segredos infantis. Inclusive os de Maria Teresa, hoje com 63 anos, que se lembra de entrar pelas janelas no palacete do século XVIII trepando pelos seus troncos. Hoje acredita que todos os pássaros das redondezas se encontram ali de manhã "para combinar o dia" num chilrear que já chegou a "incomodar" alguns turistas perante a incredulidade da proprietária.

Já a araucária, o outro "monstrinho" do seu quintal, é tão alta que custa a vislumbrar o topo. Mas é lá que se desenvolvem umas possantes pinhas (a proprietária forma uma bola de futebol com as mãos) de quatro em quatro anos. "Felizmente fazem tanto barulho e demoram tanto a cair que podemos fugir. Era uma cabeça partida na certa..."

DN, 21-3-2007, pág. 32
 
FLORESTA: CUIDAR EM VEZ DE ARBORIZAR

RITA CARVALHO

Arborizar, arborizar, arborizar. Durante décadas foi este o mote para a floresta, fomentado pelos organismos do Estado, forçado pelas necessidades sociais e alimentado pelo mito de que plantar uma árvore era sinónimo de serviço à humanidade. Em 2003, o País acordou para uma dura realidade. O fogo entrou pelas cidades, matou 20 pessoas, devastou centenas de milhares de hectares. Com a tragédia, o enfoque foi redireccionado: mais do que plantar, é importante gerir e cuidar.

A forma como o homem tem interagido com a floresta reproduz as transformações da própria sociedade. Em tempos, o espaço florestal era comum, ocupado, e servia as necessidades da população, que lhe atribuía um sentimento de pertença. Nas últimas décadas, o cenário mudou. Mas o enfoque só foi reajustado quando os portugueses perceberam que o abandono rural e o desordenamento florestal, aliados a outros problemas, estavam a transformar a floresta num barril de pólvora. Uma área florestal mal gerida não é um bem comum. Pelo contrário, pode tornar-se uma forte ameaça.

"Nas últimas décadas arborizou-se mas o homem foi-se embora das zonas rurais e das florestas, votando-as ao abandono. E ardeu tudo", explicou ao DN José Miguel Cardoso Pereira. O professor do Instituto Superior de Agronomia lamenta que só assim tenhamos compreendido o que parecia óbvio e já tinha sido motivo de alerta por parte de técnicos mais visionários.

"Ainda subsiste a visão anacrónica de que plantar uma árvore é beneficiar o território. O que é até um preconceito de superioridade moral perante a floresta", diz Cardoso Pereira.

O território tem potencial de produção florestal e o País, que desde sempre tirou partido da floresta, hoje continua a fazê-lo. Mas os incêndios dos últimos cinco anos demonstraram que não estamos a conseguir aguentar um terço do território com área florestal. Nele mandam milhares de proprietários, com aspirações e motivações muito diferenciadas, e capazes de impedir uma gestão harmoniosa.

"Só em 2003 é que reconhecemos a dimensão do problema", afirma João Pinho, da Direcção-geral dos Recursos Florestais. Aí, prossegue, "o foco deixou de ser a expansão da área florestal e passou a ser a sua gestão adequada, de modo a protegê-la". A estratégia para a floresta, aprovada no ano passado, privilegia as espécies mais resistentes ao fogo, dá indicações para uma gestão ordenada e sustentável, e tenta, através de instrumentos financeiros, direccionar as opções dos privados para uma lógica de fileira e competitividade. Isto porque a floresta tem várias funções: dá madeira mas também sombra, pinhão, resina, biomassa e retém carbono. Contudo, ainda é cedo para observar mudanças que derivem desta viragem de paradigma.

Inventário florestal

Em dez anos, a dimensão global da floresta não se modificou muito. Mas um olhar comparativo entre o inventário de 1995 e o de 2005 mostra que a distribuição das espécies se alterou. A mancha de pinhal regrediu e as de eucalipto e sobreiro aumentaram. O eucaliptal expandiu-se à custa da ocupação do pinhal e das zonas agrícolas. Como cresce rápido, traz um rápido retorno do investimento. O pinheiro bravo regrediu à custa do fogo, cujos períodos de retorno se tornam incompatíveis com a sua regeneração natural .

DN, 21-3-2008
 
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