21 março, 2007

 

21 de Março


Dia da poesia



http://www.portugal-linha.pt/literatura/npoesia.html
http://poetrycafe.weblog.com.pt/
http://users.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/

http://www.ruadapoesia.com/

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Dia Mundial da Poesia

Portugueses lêem mais

07h15: No Dia Mundial da Poesia, que hoje se assinala, o poeta
Tolentino de Mendonça diz que “a poesia não é um reduto
para estudiosos. É antes um mapa para as viagens mais
humanas”.
De acordo com este poeta e padre o número de leitores de
poesia em Portugal está a aumentar. “Ao nível do que se vê
no próprio mercado editorial português, há um interesse muito
grande pela publicação de poesia, o que significa que o
número de leitores também tem crescido. Hoje, é muito
importante voltar a ouvir os poetas, porque a espessura e a
densidade da palavra poética continuam a problematizar, a
interrogar, a dar-nos um real mais complexo do que as simplificações
portáteis e formatadas que os discursos habituais
nos dão”, explica.
Para Tolentino Mendonça, não há como fugir à poesia. Tanto,
que há sempre um momento em que vamos procurá-la. “Há
uma dimensão da poesia que é uma espécie de pele do nosso
real. Hoje, parece que é possível criar-se um cidadão sem o
conhecimento e o contacto com a poesia, mas há sempre um
momento em que a necessidade do poético assalta a nossa
vida”, considera o padre Tolentino Mendonça, que está a
trabalhar num livro de inéditos a sair até ao final do ano.

RRP1, 21-3-2007
 
Ministros dizem poemas no CCB

ISABEL LUCAS

Os poemas ainda não foram escolhidos, mas a presença está confirmada. Os ministros da Cultura e da Educação vão estar no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, ao lado de poetas, actores e anónimos para celebrar o Dia Mundial da Poesia que se assinala hoje. José António Pinto Ribeiro e Maria de Lurdes Rodrigues não terão tratamento distinto entre todos os que se deslocarem amanhã para ouvir e dizer poesia.

Os dois elementos dos Executivo socialista que confirmaram presença na festa que o CCB preparou, irão dizer poemas escolhidos pelos próprios e podem não ser os únicos governantes a participar num programa "Poesia sem Limite" que os organizadores querem que seja aberto a toda a gente. Augusto Santos Silva, o ministro para os Assuntos Parlamentares, e o próprio primeiro-ministro José Sócrates podem juntar-se aos que se deslocarem a Belém entre o meio-dia e as oito e meia da noite de amanhã.

A iniciativa, a mais ambiciosa entre as que assinalam a data, foi organizada em parceria com o Plano Nacional de Leitura e tem entre os convidados alguns dos poetas mais vendidos em Portugal. Casos de Vasco Graça Moura, Manuel Alegre ou Ana Hatherly (autora da imagem ao lado) que tem na sala Mário Cesariny uma exposição de poesia visual que ficará patente até ao dia 20 de Abril.

Em várias salas e no foyer do CCB irão escutar-se poemas de Herberto Helder, Natália Correia, Al Berto, Sophia de Mello Breyner ditos por Diogo Dória, Suzana Menezes, Beatriz Batarda e Pedro Lamares. A ler os seus próprios poemas estarão Ana Hatherly, Ana Luisa Amaral, Fernando Luís Sampaio, Gastão Cruz, Nuno Júdice, Manuel Alegre, Manuel António Pina, Pedro Tamen, Vasco Graça Moura e Walter Hugo Mãe.

Sem valores que indiquem quanto vende a poesia em Portugal, alguns dos poetas presentes amanhã no CCB estão entre os mais procurados por um público que não é influenciado por esta data para ler poesia, como declarou ao DN Pedro Miguel de Almeida, coordenador das lojas Bertrand. "Os livros de poesia vão-se vendendo quase sempre ao mesmo ritmo ao longo do ano e as encomendas das livrarias fazem-se em função disso", afirmou, acrescentando que este ano houve uma excepção. " Aumentámos as encomendas para a nossa loja do CCB, devido ao programa que a instituição dedica à poesia." Foram encomendados 150 volumes de 30 autores. Pode parecer pouco, mas a poesia não se vende como a ficção. Na Bertrand do Chiado, a loja da cadeia que vende maior volume de poesia, se se escoarem 20 exemplares de um obra num mês "é bom". Comparativamente, um romance sem marketing, vende 30 a 50 exemplares, no mesmo espaço de tempo e o último livro de Miguel Sousa Tavares vendeu, só naquela loja, 300 exemplares em três dias. Muito mais do que Fernando Pessoa ou Sophia de Mello Bryener, os poetas mais vendidos.

DN, 21-3-2008
 
"O poeta é de certo modo um empresário da alma"

MARCOS CRUZ

Valter Hugo Mãe, POETA

Como celebrar o Dia Mundial da Poesia?

Se a TV e os jornais divulgassem poesia de novos e bons autores portugueses, que dizem coisas diferentes...

Portugal é mesmo um país de poetas?

Sim, por vários motivos. A história e a mitologia portuguesas são de tal forma líricas - um rei que se esbate no nevoeiro; um poeta que tem de nadar, cego de um olho, para salvar a obra; uma revolução feita com cravos... - que só podíamos ter a cabeça apta para a poesia.

O que é a poesia?

Talvez uma necessidade de chegar ao mais insondável. Se a linguagem segundo a qual Deus criou o mundo foi a matemática, talvez a poesia seja a linguagem segundo a qual o mundo possa ser explicado.

Porquê?

Porque pode englobar as ciências todas e de um modo natural incorporar nesse saber mais concreto as ideias mais voláteis.

Explicar não é antipoético?

Não, a poesia serve exactamente para explicar aquilo a que a ciência não chega. É um espaço espiritual onde tudo pode caber. Não há actividade humana tão permissiva e, a um tempo, tão concreta e abstracta...

E, por essa ordem de ideias, é ao mesmo tempo uma religião...

Com a poesia já não precisamos de religião. Deus po- de ter inventado o mundo com a matemática, mas a poesia inventa Deus.

Não estaremos a falar de arte?

Sim, a poesia como a arte das artes. Digo da minha arte de criação o que qualquer criador pode dizer em relação ao que faz. Egon Schiele [pintor austríaco, 1890- -1918] dizia: "A arte não é moderna nem contemporânea; a arte que o for é eterna." Essa é a razão pela qual toda a arte é inesgotável e os artistas serão sempre insatisfeitos.

Como os empresários em relação ao dinheiro...

Nunca tinha pensado nisso assim, mas de certo modo somos empresários da alma. Mas se vendemos alguma coisa é algo que não pode ser agarrado egoisticamente. Um poema é volátil, de partilha fácil. A matéria da arte é inesgotável; outros recursos, não, e o planeta está mesmo em risco de acabar.

E a poesia sobreviveria?

Ela não nos transcende, pode é fazer o homem transcender-se, e a prova é o poeta nunca ter inteira consciência daquilo que escreve.

O universo não é poesia?

O universo há-de ser sempre composto por uma beleza profunda, mas em termos imediatos a poesia é uma oficina do homem. Agora, acredito que as coisas se possam tornar belas por simpatia, porque se harmonizam. Estive recentemente nos Açores e em certos sítios parece que tudo conspira para uma enorme beleza. Uma consciência cósmica? A poesia permite acreditar nisso.

DN, 21-3-2008
 
Um ministro a ler poesia em público

PAULA LOBO

Parecia uma espécie de Festa da Música, mas com poemas e poetas em vez de árias e orquestras. Pelas salas, pelos corredores, pelos cantos, havia palavras e palmas, rostos conhecidos nos ecrãs, caras anónimas que aguardavam ansiosas a sua vez de ocupar o estrado para dizer uns versos ao microfone. Quando o ministro da Cultura chegou ontem ao CCB, pelas 17.30, já a sala que se enchera para ouvir Manuel Alegre deixava escoar o público rumo a outras propostas. Foi assim, por cinco minutos, que José António Pinto Ribeiro acabou de pé, como um qualquer cidadão, no espaço "Diga lá um Poema". E até disse dois: um de Sophia de Mello Breyner, outro de Pessoa.

Que tal o balanço desta primeira festa? "Muito bom", respondeu ao DN o ministro, "contentíssimo" com as comemorações do Dia Mundial da Poesia em formato festival familiar. Uma iniciativa para continuar? Dependerá do CCB, retorquiu Pinto Ribeiro olhando a sorrir para Mega Ferreira, certo de que "farão tudo o que puderem com os meios que tiverem".

Para o presidente do CCB - que em substituição do poeta Manuel António Pina também fez o gosto à voz e foi à sala grande ler Alexandre O'Neill -, esta parceria com o Plano Nacional de Leitura foi uma aposta ganha, ao fim de dois meses a "trabalhar completamente no escuro, sem ter noção de que uma coisa assim atrairia esta quantidade de público".

Horas antes de receber os ministros da Cultura e da Educação (afinal, Maria de Lurdes Rodrigues, constipada, não integrou o rol de diseurs como chegou a ser anunciado), Mega Ferreira explicava ao DN que, como não se pagava bilhete, as contas eram difíceis. Mas depois do almoço já estariam no CCB "à volta de 700 ou 800 pessoas". E o número aumentou a meio da tarde, apesar da chuva e apesar da cidade esvaziada de gente em fim-de-semana de Páscoa.

Com um custo total que "ronda os 60 mil euros", segundo Mega, esta festa da poesia serviu também para "testar uma série de coisas". E algumas das quais, está visto, não funcionam. "Por exemplo, ter ali os ateliers, perto da sala onde estão os poetas e actores a ler, será algo a corrigir. Gera muito barulho", admitiu.

De facto, no grupo de salas onde se instalaram os ateliers infanto-juvenis para "Fazer Poesia", a agitação era grande. Colava-se "poesia às fatias", moldavam-se ovelhas com plasticina, fósforos e massinhas de letras, experimentava-se a sensação de escrever versos numa máquina Olivetti com o espanto de quem tem nos dedos um pedaço do passado remoto.

Mas não eram só miúdos os que sujavam as mãos com tinta. Dois ou três corredores à frente, na exposição "Escrita Pluriversa", pais e avós, muitos deles sozinhos, não resistiam ao apelo de replicar os poemas visuais de Ana Hatherly. De descobrir nas formas pré-impressas das folhas que lhes davam outros modos de se expressarem. A Inês, de nove anos, até fez um "mapa de memória e imaginação" entre a sua casa e a escola.

"A reacção das pessoas tem sido entusiasmante", admitiu ao DN a poeta e artista plástica Ana Hatherly, louvando este "estímulo cultural para um público variado" e o modo como a equipa do CCB concebeu um programa de "dimensão lúdica e resposta imediata à criação".

Isabel Alçada, escritora e comissária do Plano Nacional de Leitura, também estava satisfeita com a participação de "pessoas de todas as idades e com uma grande multiplicidade de interesses". Gostou da componente plástica, do videowall, dos espaços para comprar e trocar livros. "Estou convencida de que a festa vai reforçar o interesse pela leitura", disse ao DN, adiantando que "a intenção é que se possa voltar a fazer" em 2009.

Esta festa foi assim. Teve versos escritos nas paredes e vozes como as de Diogo Dória, Beatriz Batarda, Pedro Tamen, Nuno Júdice ou Manuel Alegre, que apresentou ali o seu último poema, A Origem do Fado.

DN, 23-3-2008
 
"Quis falar do que nos transfigura"

ANA MARQUES GASTÃO

Entrevista com Ana Luisa Amaral, poeta

A fronteira entre vida e escrita é uma questão que se coloca em Entre dois rios e outras noites, o seu último livro. Tudo é possível na escrita poética?

Não, porque ela partilha o espaço da vida. Afinal, a uni-las está a linguagem. A poesia é, para mim, o espaço por excelência do exercício da possibilidade. Há sempre vida e corpo por detrás de qualquer texto, único e irrepetível, como qualquer vida.

Há nestes poemas um diálogo entre poesia e pensar, não no sentido diarístico, embora surjam nele o apontamento, a variação, ou comentário. Sem confessionalidade, tenta o que a vida não permite?

É possível encenar no poema o que não pode ser realizado na vida. Por isso a "angústia de dizer sem me contar". As infinitas combinatórias das palavras, que formam o corpo do poema, são como uma impressão digital. Talvez se possa falar mesmo de uma espécie de "impressão textual". Mas essa vida é em diferido, surgindo muitas vezes encriptada.

Nessa medida, a poesia é um saber que se refere a um outro lugar, que não é o verdadeiro mundo, nem a sua verdade?

Mas que não deixa de manter algum contacto com este mundo, embora o tente transfigurar. A poesia é um saber que sobra sempre - ou falta sempre, mesmo que por excesso. Sendo o espaço da possibilidade, não pode nunca ser o espaço da totalidade, porque é humana. "Se fosse tudo só êxtase súbito", então, não haveria poesia, só êxtase.

Em Imagens visitou os clássicos, dos lugares às mulheres. A Génese do Amor dava protagonismo às musas, homenageando a tradição lírica. Pensa sobre quê esta sua nova recolha de poemas, esboçada entre a história e a escrita, o desejo e a sua impossibilidade?

Quis abandonar as "sequências" de Imagens ou de A Arte de Ser Tigre. Por isso, este livro não tem o mesmo tipo de unidade, nem poderia nunca tê-lo. A Génese do Amor também era composto por diálogos, abria com um poema que instituía o tom dialógico, e fechava esse círculo com um poema monológico.

Um regresso às origens?

Quis voltar a uma estrutura semelhante à de alguns livros anteriores, que têm secções, mas cuja organização é conduzida por uma coerência interna como no caso de Minha Senhora de Quê ou de Às Vezes o Paraíso.

As palavras "outras", "muitas", "entre", quase" surgem com muita frequência, na sua obra poética, talvez porque o desejo seja inalcançável e tenha múltiplos caminhos. Entre o espaço e o tempo, entre dois rios. Acha que estamos sempre entre?

Na apresentação do livro, Rosa Maria Martelo falou da figura da relação, dizendo que é um livro que pensa a dualidade e que procura, nesse espaço intermédio, tudo quanto serve para a aproximar. E eu concordo. Existe sempre o desejo de ultrapassar esse estar-entre.

Acrescentaria à figura da relação (corpo/coração; coração/pensamento, etc...), a de dualidade, divisão. Ficamos também, neste livro, perante o eco, o reflexo, o "conflito" brando com o Outro que não se alcança e se deseja?

Sim, mas não antagonismo. Falo no sentido de estar perante e estar-entre, no desejo de ficar entre. Este livro fecha com um poema longo em que falo da imaginação, da poesia, dos seus limites, da sua dimensão de pura possibilidade. Do sofrimento e da alegria. Desejei falar destas coisas, do que nos transfigura, do que nos une, e nos desune, enquanto humanos. Do mundo.

Há, aliás, uma recorrência do tema da imagem, do espelho na sua obra. Narciso a afundar-se no lago de que fala Plotino?

Não, porque não se perde nunca de vista o outro olhar, mesmo que esse surja de dentro do poema.

Estamos também entre a razão e a imaginação, o sonho (a utopia, também da perfeição), a memória, a história e os seus desacertos. Nessa medida, é uma obra mais interventiva. Deste lado do tempo ou Imagens de guerra exemplificam-no de algum modo?

Sim. Há poemas que têm uma dimensão ética (ou política). Na luta entre Jacob e o anjo, entre o humano e o divino, o divino surge humanizado e o humano ganha contornos de divino. É por isso que Jacob pode dizer: "Olhei a sua face, / e não morri: // não Deus, / mas meu irmão".

DN, 25-4-2008
 
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