24 março, 2007

 

Alterações climáticas


Preocupação de todos?




Amanhã, para assinalar os 50 anos do Tratado de Roma, poderá ser aquele um dos temas centrais em termos das preocupações da UE.

Será que haverá desenvolvimentos práticos sobre a matéria ou não se passará dos discursos politicamente correctos?

Ou os diversos fenómenos de cataclismo naturais mas induzidos pelo homem como secas e enundações fora de época não são ainda avisos suficientes ?

http://visao.clix.pt/default.asp?CpContentId=333112

http://www.quercus.pt/scid/webquercus/defaultArticleViewOne.asp?articleID=1998&categoryID=567
http://www.quercus.pt/scid/webquercus/defaultArticleViewOne.asp?articleID=2392&categoryID=567

http://europa.eu/scadplus/leg/pt/s15012.htm

http://unfccc.int/2860.php

Comments:
Este foi o Inverno mais quente de sempre no hemisfério norte

Rita Carvalho

O hemisfério norte do planeta está a viver o Inverno mais quente desde que há registos, ou seja, 1880. Os dados divulgados ontem pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos vêm juntar-se a outros relatórios que testemunham, de forma inequívoca, o aquecimento global do planeta nas últimas décadas. Facto que, associado aos cenários catastróficos que daí podem advir - secas, incêndios e ondas de calor -, não traz boas notícias.

A conclusão até pode ser vista com agrado por algumas pessoas, como as que vivem fustigadas por grandes nevões e baixas temperaturas nas zonas a norte. Mas a verdade é que estes dados são mais uma prova de que o clima já está diferente.

O relatório revela que a temperatura em terra e no mar registada entre Dezembro de 2006 e Fevereiro de 2007 foi 0,72 graus Celsius acima da média. Os investigadores referem ainda que as temperaturas globais aumentaram, no século passado, 0,06 graus por década. Contudo, desde 1976, esse aumento foi três vezes maior, atingindo principalmente as latitudes altas do hemisfério norte. O segundo recorde na lista dos Invernos mais quentes foi em 2004, tendo os restantes dez registos mais quentes sido detectados a partir do ano de 1995.

A agência norte-americana atribui parte das causas deste fenómeno ao El Nino, um aquecimento sazonal de parte do oceano Pacífico. Jay Lawrimore, do organismo americano, referiu à Reuters que para este aquecimento contribuíram também as tendências de longo prazo da subida das temperaturas.

Curiosamente, Lawrimore afirmou: "Não dizemos que este Inverno é uma prova da influência dos gases com efeito de estufa", recusando colá-lo às alterações climáticas. Os peritos referem, contudo, que com estes dados se podem compreender cada vez melhor as suas causas naturais e humanas.

Um episódio assim não é suficiente para dizer que o clima está a mudar, considera Fátima Espírito Santo, do Instituto de Meteorologia. A climatologista afirmou ao DN que estes episódios podem ainda ser compreendidos à luz da variabilidade climática. "Mas não podem ser atribuídos às alterações climáticas e à responsabilidade humana." Contudo, acrescenta, se considerarmos que os últimos dez Invernos mais quentes ocorreram desde 1995, as variações são mais consistentes. "Mas têm de persistir mais tempo para podermos tirar conclusões."

Cenários para o futuro

A tendência de aquecimento do planeta foi reiterada há um mês pelos peritos que compõem o Painel Intergovernamental das Nações Unidas para as Alterações Climáticas. Em Paris, os cientistas apresentaram cenários para 2100 que apontam uma subida que pode atingir 4,6 graus Celsius. Foi ainda considerado altamente provável (90% de certeza) a responsabilidade humana.

DN, 17-3-2007, pág. 27
 
Ambiente

Terra em perigo

Um quinto dos ecossistemas pode desaparecer dentro
de um século, se nada se fizer para travar a emissão de gases
com efeito de estufa. Esta é a conclusão essencial de um
estudo sobre o aquecimento global, levado a cabo por cientistas
norte-americanos, e que foi publicado na revista Proceedings
of the National Academy of Sciences.
O impacto mais grave das alterações climáticas será sentido
ao nível das selvas tropicais que, se conseguirem escapar
para já à destruição, é muito possível que não sobrevivam ao
aquecimento global. Quanto às calotes polares e aos climas
de alta montanha também deverão desaparecer.
Estas são previsões preocupantes, mas classificadas como
realistas, pelo professor Filipe Duarte Santos, especialista em
alterações climáticas.
“Se se mantiver o ritmo actual das emissões com gases com
efeito de estufa para a atmosfera, se prosseguir a desflorestação
e não for possível chegar a um acordo até 2012 para a
redução global das emissões poluentes, esse número pareceme
plausível e realista. Os ecossistemas costeiros e das montanhas,
nas regiões polares, a biodiversidade irá diminuir”,
garante este professor da Faculdade de Ciências de Lisboa,
coordenador do livro “Alterações Climáticas em Portugal até
2100”.
O estudo agora divulgado toma por base os modelos de aquecimento
global aprovados no ultimo mês, em Paris, numa
reunião de especialistas sobre alterações climáticas.

DN, 27-3-2007
 
Alterações climáticas vão agravar a fome e as doenças em África

Filomena Naves

Secas prolongadas, ondas de calor mortais, expansão das doenças tropicais, como a malária e o dengue, a zonas do mundo onde elas já só existiam na memória... a antevisão não fica por aqui e assemelha-se a um rol de pragas bíblicas, mas é muito mais do que isso. Trata-se da previsão dos cientistas sobre os impactos das alterações climáticas para os próximos anos, e para as várias regiões do planeta. África, regiões do Árctico e zonas mais pobres serão as mais afectadas.

As previsões, que incluem um aumento da ordem das centenas de milhões de pessoas com escassez alimentar, e muitas mais sem acesso a água potável, constam do novo relatório que o painel intergovernamental para as alterações climáticas (IPCC) - o grupo de especialista da ONU que estuda o problema - divulga na próxima semana.

Esta é a segunda parte do relatório deste ano do IPCC sobre as alterações climáticas - a primeira parte foi divulgada em Paris, no início de Fevereiro, confirmando a gravidade o que está a acontecer ao clima do planeta - e diz respeito aos impactos por região e por temática, listando as principais vulnerabilidades detectadas pelos especialistas.

O documento, a cuja versão preliminar a AFP teve acesso, vai ser discutido numa reunião do IPCC, em Bruxelas, a partir de segunda-feira, e será divulgado a 6 de Abril.

De acordo com o relatório, as regiões mais vulneráveis do planeta face à mudança climática são o Árctico, onde o degelo está em aceleração, o continente africano, onde a escassez de água potável e os problemas de saúde que já ali existem serão agravados, e ainda as zonas costeiras, que ficarão em risco e serão em parte apagadas do mapa, com a subida do nível dos oceanos nas próximas décadas. Em relação a este último ponto, os cálculos mais pessimistas apontam para a possibilidade de isso gerar milhões de refugiados nos próximos anos.

DN, 31-3-2007, pág. 28
 
Cheias vão ser mais graves em Portugal

Elsa Costa e Silva

A gravidade das cheias em Portugal vai piorar entre 20 a 40% nos próximos anos, devido às alterações climáticas. E também as secas serão particularmente mais severas. Este é o cenário previsto pelo Centro Comum de Investigação, o braço científico da União Europeia, que está a desenvolver modelos de previsão de secas e de transbordo dos rios principais de Europa.

O projecto de investigação surge da constatação de que "os eventos extremos", como cheias e secas, vão aumentar em todo o lado, como explica o investigador principal Ad de Roo, devido às alterações climáticas, excepto no sudeste da Suécia, na Finlândia e Rússia, onde a expectativa é a da diminuição de cheias. Mas, de uma maneira geral, adianta o investigador, "os prejuízos e o número de cheias vão aumentar e é precisa estar preparados".

Por isso, o CCI começou, na sequência das grandes cheias no Danúbio de 2002, um projecto de investigação que visa aumentar o período de previsão para três a dez dias. "O normal é termos alertas de 24 horas e nós estamos a tentar ir mais além", adianta Ad de Roo. Espanha, França, Itália, Alemanha e República Checa são países que integram o Sistema Europeu de Alerta de Cheias. Inglaterra e Suíça já manifestaram vontade de participar, mas o modelo precisa de ser afinado para ter em conta essas bacias hidrográficas, de menor dimensão.

O investigador responsável pelo projecto adianta que, até ao momento, o modelo tem um taxa de sucesso de 80%. "Emitimos, em 2005/06, 20 alertas de grandes cheias. E 17 ocorreram mesmo", afirmou. O objectivo é melhorar cada vez mais as previsões - para que as autoridades possam actuar na minimização dos danos e protecção da população - porque "temos de reduzir os falsos alertas, de forma a manter a confiança da população". Os alertas não são divulgados em canal aberto ou para o público em geral, mas apenas destinados às instituições que, nos países parceiros, são responsáveis pela protecção civil local. O modelo de previsão usa os valores históricos de caudais, o nível de descargas dos rios, informações respeitantes a solos e dados meteorológicos.

O sistema de alerta para secas está em fase de elaboração, mas vai ao encontro de um documento que a Comissão Europeia deverá lançar em Setembro para chamar a atenção sobre o problema dramático que é a falta de água e as secas na Europa, assim como o impacto social.

DN, 2-4-2007
 
Alterações climáticas

Clima coloca
numerosas espécies em risco

Cerca de um quarto da fauna e da flora do mundo
estarão ameaçadas de extinção durante este século, caso a
temperatura média do planeta aumente dois ou três graus
em relação a 1990, advertem especialistas.
"É altamente provável que as alterações climáticas se traduzam
na extinção de numerosas espécies e na redução da
diversidade dos ecossistemas", refere um esboço do relatório
que será apresentado sexta-feira por peritos reunidos
em Bruxelas.
Os corais e ursos polares são algumas das espécies em
extinção durante este século devido ao aumento da temperatura
média. No encontro do Painel Intergovernamental
para as Alterações Climáticas (IPCC) estão reunidos 285
delegados de 124 países e mais de 50 cientistas, além de
dezenas de observadores de ONG’s.
Em Fevereiro, o relatório do IPCC previa uma subida da
temperatura média entre 1,8 a quatro graus até 2100.
O documento, a ser elaborado na reunião de Bruxelas, prevê
que 20% a 30% das espécies no mundo corram risco de
extinção se a temperatura média subir entre dois a três
graus.
Numa fase inicial, o aumento da temperatura e das emissões
de dióxido de carbono (CO2) pode ter efeitos positivos
no crescimento das plantas nas regiões temperadas.
No entanto, à medida que o calor aumenta o fenómeno
inverte-se e a vegetação começa definhar.

RRP1, 4-4-2007
 
Alterações climáticas já estão aí e os mais pobres é que pagam a factura

Filomena Naves

Os sinais avolumaram-se nos últimos anos e hoje não é possível fugir à realidade: as alterações climáticas estão a acontecer, já não são cenário futuro. Atacar o problema agora é responsabilidade dos políticos.

Esta é a principal mensagem da segunda parte do relatório deste ano do IPCC, o grupo de peritos da ONU para as alterações climáticas, que prevê ainda o agravamento dos impactos regionais do aquecimento global nas próximas décadas. Talvez por isso, a divulgação do documento, prevista para ontem às 9.00, em Bruxelas, esteve quase para não acontecer. Foi com várias horas de atraso, e alterações de última hora impostas, nomeadamente, pelos EUA, que o relatório viu a luz do dia, ao fim da manhã de ontem.

Quanto ao seu conteúdo, que faz previsões região a região (ver caixas), mais parece um rol de pragas bíblicas, às quais não faltam sequer as invasões de insectos tropicais em zonas do planeta onde eles nunca se viram antes - ou já não se viam há muito. Com o aumento previsto da temperatura média da Terra entre 1,5 e 2 graus Celsius até 2080, os desastres climáticos vão suceder-se, garantem os cientistas do IPCC.

Ondas de calor mais intensas e mortais na Europa, degelo acelerado no Árctico, aumento de doenças causadas por parasitas e mais pobreza em África, escassez de água em toda a bacia mediterrânica, perdas agrícolas da ordem dos 50% no continente americano, mais furacões na América do Norte, inundações nos grandes deltas da Ásia, com milhões de refugiados a cada nova subida das águas, perda de 30% de toda a biodiversidade... a lista de tragédias parece infindável. Tal como ia sucedendo à negociação para o consenso sobre este conteúdo.

Rússia, EUA, China e Arábia Saudita foram os países que mais contribuíram para retardar a finalização do documento, por se oporem a parte do seu conteúdo. A China opunha-se, nomeadamente, a um parágrafo onde dizia haver "um risco muito elevado" de alterações de muitos sistemas naturais devido à mudança do clima.

Os EUA, por seu turno, pediram e obtiveram a eliminação de um parágrafo segundo o qual a América do Norte "poderá ser confrontada com graves prejuízos económicos e perturbações substanciais no seu sistema sócio-económico e cultural", disse um observador da reunião. Percalços que, segundo a AFP, levaram um dos conferencistas a observar: "É a primeira vez que a ciência é posta assim em causa pelos políticos".

Com ou sem pressões políticas, o aquecimento global está aí. E, segundo o IPCC, serão os mais pobres, nos países em desenvolvimento mas também nos países ricos, quem vai pagar o grosso dessa factura.

DN, 7-4-2007, pág. 25
 
Alterações Climáticas

Desflorestação pode... ajudar?

15h03: A desflorestação pode ser uma ajuda no combate ao
sobreaquecimento global em certas zonas do Planeta,
segundo um estudo divulgado nos Estados Unidos.
Os dados mostram que, em certas latitudes mais frias,
como na Sibéria, norte da Europa e Canadá, as árvores acabam
por ser prejudiciais, ao absorver as radiações solares.
Os cientistas do Laboratório Nacional Lawrence Livermore
simularam em computador os efeitos de uma vasta desflorestação
na Terra e estudaram os efeitos negativos e positivos
de coberturas florestais a diferentes latitudes. E concluíram
que a desflorestação controlada da floresta boreal
e a sua substituição por pastos e arbustos pode contribuir
para inverter o aquecimento global, indica o estudo.
A floresta boreal é uma mistura de resinosas e betuláceas,
árvores que resistem a condições climáticas muito difíceis e
que se encontram em zonas frias e com muita água.
Nesta floresta, as árvores absorvem o calor, o que anula ou
ultrapassa os efeitos da absorção do dióxido de carbono
sobre as temperaturas, ajudando as zonas a manterem-se
frias.
Pelo contrário, a desflorestação da floresta tropical
(considerada como o “climatizador da Terra”) pode ter
efeitos negativos para o aquecimento global.
“Uma estratégia de reflorestação para lutar contra o aquecimento
da Terra deve ter em conta não apenas que as
árvores absorvem dióxido de carbono mas também a latitude
em que se encontram e a quantidade de água que
retêm”, defendeu uma das responsáveis pelo estudo.

RRP1, 10-4-2007
 
Efeito de estufa no planeta Terra ocorreu há 183 milhões de anos

Joaquim Almeida

Há cerca de 183 milhões de anos a Terra sofreu uma série de transformações drásticas, entre as quais uma importante ruptura biológica. Nesse período - Toarciano (Jurássico inferior) -, elevadas concentrações do dióxido de carbono foram libertadas para a atmosfera, tendo causado a amplificação do efeito de estufa e uma extinção em massa de grupos de invertebrados marinhos.

Esta é uma das principais conclusões de uma investigação desenvolvida por cientistas da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), da Universidade de Oxford (Reino Unido) e da Petrobras (Brasil), e que teve como base de estudo o Jurássico de Peniche.

Ao JN, o investigador Vítor Duarte, da FCTUC, que participou na investigação, explicou que o estudo vem "demonstrar que na história da Terra já tivemos concentrações maiores de dióxido de carbono (CO ) do que as actuais".

"Isso ficou demonstrado através de restos de vegetais fósseis em ambiente marinho", encontrados nas rochas das arribas de Peniche, o que leva a concluir que "a atmosfera foi também afectada, para além dos ambientes marinhos", adiantou o investigador.

De acordo com Luís Vítor Duarte são, aliás, "conhecidos intervalos na história da Terra que deixaram resquícios na vida do planeta, nomeadamente através de extinção marinha à escala global". Agora, com este estudo, "demonstra-se que a atmosfera sofreu uma mudança há 183 milhões anos", referiu.

Os dados geoquímicos agora obtidos e analisados, apontam, "de forma inequívoca, para uma fase de grande aumento da concentração de dióxido de carbono na atmosfera e clara amplificação do efeito de estufa", revela o investigador da FCTUC.

Acrescentou que, "nos tempos actuais, em que as taxas de incremento (antrópico) do dióxido de carbono na atmosfera atingem valores muito preocupantes, as evidências agora publicadas sobre o Jurássico de Peniche, constituem mais um argumento para a compreensão global da imensa história da Terra", considera o investigador da FCTUC.

As principais conclusões deste estudo assentam no facto de que as rochas sedimentares aflorantes na península de Peniche, datadas do Toarciano (Jurássico inferior), mostram evidências, únicas no planeta, quanto a uma marcante mudança ocorrida na face da Terra, ao nível dos sistemas atmosfera-oceano-biosfera.

Assim, a partir do estudo de isótopos estáveis de carbono em rochas daquela idade, em Peniche, foi possível provar uma perturbação do ciclo do carbono, ocorrida à escala global.

Trabalho realizado nos últimos dois anos

O trabalho científico, realizado durante os últimos dois anos, e desenvolvido por cientistas da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra , da Universidade de Oxford (Reino Unido) e da Petrobras (Brasil), foi agora publicado na revista "Earth and Planetary Science Letters", uma das revistas internacionais de referência no domínio das Geociências.

Interesse internacional

Intitulado "Carbon-isotope record of the Early Jurassic (Toarcian) Oceanic Anoxic Event from fossil wood and marine carbonate (Lusitanian Basin, Portugal)", o estudo despertou um enorme interesse na comunidade científica internacional porque mostra que o problema do Aquecimento Global, afinal, já tem milhões de anos.

Investigação dispendiosa

A investigação, levada a cabo nas rochas da península de Peniche, envolveu elevados custos financeiros. A propósito, refira-se que, só em análises químicas, o estudo custou cerca de 40 mil euros.

JN, 11-4-2007
 
Deflorestação pode ser positiva para o clima

Ao contrário do que se poderia pensar, o abate de árvores em algumas zonas do Mundo pode ter um impacto benéfico no combate ao sobreaquecimento global, defende um estudo norte-americano do Laboratório Nacional Lawrence Livermore.

A deflorestação leva à libertação de dióxido de carbono - principal gás com efeito estufa -, que aumenta o aquecimento global; nas partes mais frias da Terra, como a Sibéria ou o Canadá, as árvores acabam por ser prejudiciais, ao absorverem as radiações solares. O abate controlado e consequente substituição pos pastos e arbustos pode contribuir para inverter o aquecimento global.

Opinião diferente é defendida por Dennis Meadows, cientista norte-americano autor do livro "Os limites do crescimento", que acredita já ser tarde demais para evitar as alterações climatéricas que se prevêem para os próximos 50 anos.

O "colapso total do planeta", como refere, é reflexo do contínuo período de consumo e desenvolimento sem limites. "Esta crise sem precedentes levará o planeta à implantação de uma nova ordem social e uma nova maneira de viver", afirmou.

O especialista assegura que a solução passaria por actos tão simples quanto produzir alimentos com menos água, ou evitar o uso excessivo de veículos motorizados. Ontem, foi também conhecido o resultado das investigações de um grupo de trabalho das Nações Unidas sobre o clima, que concluiu que as diferenças entre o Norte e o Sul da Europa vão aumentar. O Norte vai ter mais chuva e produção agrária, ao passo que a Sul a população vai enfrentar uma temperatura mais seca, mais ondas de calor e incêndios.

O grupo, coordenado pelo espanhol José Manuel Moreno, relembrou a onda de calor de 2003, que causou 35 mil mortes no Verão desse ano. Uma onda de calor "sem precedentes" que não teria acontecido em "condições normais", assegura. NN

JN, 11-4-2007
 
Aquecimento Global

Impacto devastador nos
países pobres

Thomas Schelling, Nobel da Economia, considera
que as alterações climáticas terão um impacto "devastador"
nos países mais pobres do planeta e será menos evidente
nos países mais ricos.
Em Madrid, o Prémio Nobel de Economia em 2005 disse que
é necessário desenvolver "um grande esforço" para investigação
e desenvolvimento de forma a "reduzir de forma
drástica as emissões de dióxido de carbono".
Falando na inauguração do Fórum de Estratégias Globais
para o Clima, o economista norte-americano afirmou que o
esforço tem de ser desenvolvido em conjunto pelos sectores
público e privado.
O economista advoga mais esforços para consolidar a "geoengenharia"
que permitirá, no futuro, criar um "guarda-sol"
que, na estratosfera, possa ajudar a reduzir a entrada da
radiação solar na terra.
Schelling considera que este objectivo já esteve mais longe
de ser concretizável, recordando que os danos da radiação
solar são elevados e que o desprendimento de uma placa de
gelo de dimensões suficientes no Árctico pode fazer subir o
nível do mar seis metros, fazendo desaparecer cidades
como Copenhaga, Estocolmo, Manila, Londres ou Los Angeles.
E se países mais ricos dispõem de condições para responder,
com diques ou outras estruturas, nações mais pobres
não têm capacidade. De acordo com o especialista, países
inteiros, como o Bangladesh, poderiam ser destruídos.

RRP1, 14-2-2007
 
"Portugal será mais frio e seco, pior que a Noruega"

ANA MAFALDA INÁCIO

A semana começou com 26 graus. Há duas noites caiu granizo no Centro do País. A situação é normal para a época ou já é justificável com o fenómeno das alterações climáticas?

Eu creio que é um fenómeno que se vai enquadrar nas alterações climáticas. Só poderemos falar dele se se repetir num prazo de 30 anos, o período climático para a nossa latitude. É preciso que se repita para se falar de frequência.

O clima está mesmo a mudar em Portugal?

Aqui e no mundo todo. Há razões astronómicas que estão a condicionar o clima global da Terra, às quais se juntam forçamentos climáticos provocados pelo Homem.

Fala-se do efeito de estufa que não mais parou desde a Revolução Industrial. A culpa é do progresso?

Tudo começou com a Revolução Industrial e com a libertação de dióxido de carbono (um dos componentes do efeito de estufa), que nunca mais parou e que está a agravar a situação mundial.

O Mundo corre para duas estações. Inverno e Verão?

Penso que sim. Portugal será, certamente, um país mais frio e mais seco. O mesmo acontecerá em toda a Península Ibérica. Trata-se de uma região no Sudoeste da Europa, e tendo em conta que se vai estabelecer uma circulação atmosférica relativamente estável de Nordeste para Sudoeste sobre a Europa, toda a humidade que essa circulação irá transportar vai "gastar-se" na Polónia, Alemanha e Europa Central. Logo, quando chegar à Península, já só haverá pouca ou nenhuma água. A situação criará um problema grave: deixará de ter precipitação de qualquer tipo (neve, chuva, granizo). Não haverá degelos para alimentar os rios. Aliás, de acordo com a antevisão dos modelos climáticos, a Península é a única região da Europa que terá problemas graves de falta de água, já em 2025. A nível mundial, há outras regiões, como o Norte da China, Austrália, Nova Zelândia e Tasmânia. Em África, além da expansão do Sara para Sul, haverá problemas graves no Sul de Angola e na Namíbia. O mesmo acontecerá na América do Norte. A América do Sul é a região que não registará problemas.

Portugal poderá vir a ter um clima pior do que aquele que se faz sentir actualmente no Centro e Norte da Europa? Por exemplo, pior do que o da Noruega?

Podemos. Corremos fortemente esse risco. Mas a estabelecer-se a circulação de que já falei (Nordeste-Sudoeste) isso implica que o clima no Norte e no Centro da Europa também sofrerá um agravamento, ligado ao degelo da Gronelândia. Este irá provocar uma diminuição da salinidade do Atlântico Norte, o que facilitará o congelamento das águas. Uma situação semelhante à de há 25 mil anos, em que o Atlântico Norte esteve gelado da Europa à América. Os climatologistas chamaram-lhe o período "aquecendo para congelar".

O Verão de São Martinho ou o ditado "Abril, águas mil" deixarão de fazer sentido?

Deixarão, pois com a inclinação do eixo da Terra vamos passar a ter uma outra incidência do Sol no Planeta. Teremos certamente outras expressões ou um Verão de São Martinho em Dezembro.

DN, 21-4-207, pág. 56
 
Media aderem à questão das alterações climáticas

NUNO CARDOSO

As questões ambientais, que nos últimos tempos têm sido massivamente abordadas - muito por causa das alterações climáticas e do aquecimento global - deixaram de ser uma simples matéria de notícia para os meios de comunicação social, um pouco por todo o mundo.

Cada vez mais, os media começam a encarar a temática ambiental como uma estratégia empresarial para campanhas de sensibilização, uma vez que é um método eficaz de captar a atenção do público em geral.

Um dos exemplos mais recentes foi o de Al Gore, o ex-vice-presidente norte-americano e autor do documentário Uma Verdade Inconveniente, que alerta para o aquecimento global e o qual conheceu grande sucesso junto das bilheteiras mundiais.

Até mesmo reconhecidas publicações internacionais como o jornal El País, a operadora ABC e as revistas Vanity Fair, Domino, Outside ou Fortune já lançaram publicações 'verdes', as quais destacavam a temática ambiental.

Mas este tipo de iniciativas não se fica além-fronteiras. Em Portugal, o semanário Expresso decidiu seguir a mesma tendência ecológica aquando da vinda de Al Gore ao nosso país, em Fevereiro deste ano. Assim sendo, lançou uma edição 'verde', na qual se comprometia a compensar as emissões de dióxido de carbono que a edição desse dia implicou.

Outro exemplo nacional é o da SIC, que anunciou esta semana as novas rubricas que vão integrar o Jornal da Noite, em cada dia da semana. Assim sendo, e sem data fixa, Terra Alerta (apresentado por Carla Castelo) e Mundo Moribundo (da responsabilidade de Luís Costa Ribas) são os dois novos espaços que darão relevo às questões ambientais, nomeadamente às consequências das alterações climáticas.

Ainda na televisão, o canal Discovery Communications vai lançar um modelo de transmissão durante 24 horas por dia, exclusivamente dirigido à qualidade de vida e à ecologia. O canal, da rede Discovery, pretende alargar a emissão a 170 países.

A revista The Week, da Dennis Publishing, decidiu colocar a edição do dia 20 de Abril (alusiva ao tema do clima) apenas na Internet, numa decisão coerente com os conteúdos da revista. Só nesse dia, a The Week amealhou 500 mil dólares, empregues depois em carros híbridos.|

DN, 2-5-2007, pág. 61
 
Mundo tem de agir já

Um grupo de peritos em alterações climáticas, reunido
na Tailândia, exortou hoje o mundo a agir rapidamente,
para reduzir as emissões de gases e evitar o aquecimento
global.
Segundo um relatório divulgado pelo Painel Intergovernamental
para as alterações Climáticas (IPCC), no final de uma
semana de reuniões em Banguecoque, a adopção rápida de
biocombustíveis e fontes de energia renováveis, uma maior
eficiência energética e outros passos podem mitigar uma
catástrofe global.
O documento do IPCC - uma rede das Nações Unidas que
envolve 2.000 cientistas - sublinha que o mundo terá de agir
agora para manter o aumento médio da temperatura global
entre 2 e 2,4 graus Celsius em relação aos níveis do período
pré-industrial.
Os delegados de mais 120 países reunidos em Banguecoque
discutiram arduamente questões como a partilha de cortes
nas emissões dos gases com efeito de estufa, o custo dessas
medidas e o peso a dar a certas medidas políticas, como a
energia nuclear avançada, proposta pelos EUA.
Este relatório segue-se a outros dois estudos divulgados este
ano pelo IPCC, segundo os quais as emissões de gases com
efeito de estufa, não sendo travadas, fariam aumentar a
temperatura global até 6 graus Celsius por volta de 2100,
provocando a subida dos oceanos, a destruição de numerosas
espécies, a devastação económica em zonas tropicais e emigrações
em massa.
Os esforços actuais têm por objectivo limitar o aumento das
temperaturas em cerca de 2 graus Celsius, mas mesmo esse
aumento poderá implicar falta de água para 2 mil milhões de
pessoas em 2050 e ameaçar de extinção 20% a 30% das espécies
mundiais, de acordo com o IPCC.
Para os grupos ambientalistas, o relatório demonstra que o
mundo dispõe dos meios para combater o aquecimento global,
mas advertem que isso deve ser feiro imediatamente.
Para estabilizar esta poluição atmosférica a níveis situados
entre 445 e 490 partes por milhão (ppm) de CO2 e outros
gases com efeito de estufa, e limitar o aumento médio das
temperaturas entre 2 e 2,4 graus Celsius em relação ao
período pré-industrial, é preciso que essas emissões atinjam
um pico até 2015 e desçam a seguir para 50% dos níveis
actuais (379 ppm) até 2050, refere o documento.

RRP1, 4-5-2007
 
Combater alterações climáticas é possível, urgente e caro

RITA CARVALHO

Lutar contra o aquecimento do planeta não é uma batalha perdida. Depois das mensagens catastrofistas divulgadas nos relatórios anteriores, os peritos do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) das Nações Unidas vêm agora dizer que é possível combater o problema. Mas é preciso actuar já, com convicção. E o empenho tem de partir de políticas globais mas também do esforço de cada cidadão.

"Se fizermos o que fazemos hoje, vamos ter sérios problemas", alertou ontem Ogunlade Davidson, vice-presidente do grupo do IPCC responsável pelo documento. Nas reacções ao relatório ouviram-se também palavras a lembrar que está na hora do combate às alterações climáticas sair dos discursos políticos para se traduzir em medidas assertivas e eficazes.

Depois de uma semana de conversações em Banguecoque, na Tailândia, mais de uma centena de especialistas concluíram que o mundo pode conseguir estabilizar as suas emissões de gases com efeito de estufa. Se isto acontecer num determinado nível (concentração de emissões de 45o partes por milhão) o aumento da temperatura neste século poderá ficar-se pelos dois graus centígrados. Uma subida superior provocará o degelo de grandes massas polares, já a ocorrer, e subidas abruptas do nível do mar, com impactos graves nas zonas costeiras.

A meta dos dois graus centígrados, que alguns cientistas consideram ser a única capaz de evitar uma catástrofe climática, é exigente e ambiciosa mas não inalcançável. Atingi-la custará ao mundo a redução de 3% do produto interno bruto. Numa primeira fase, as emissões poluentes continuarão a subir - até porque há países em franco desenvolvimento como a China ou a Índia - mas dentro de uma ou duas décadas poderá iniciar-se a descida.

O relatório dita ainda as principais medidas para mitigar o aquecimento global. E as recomendações vão para um uso mais intensivo dos biocombustíveis e o reforço da energia produzida através de fontes renováveis.

A mensagem de esperança do IPCC prende-se também com o uso das novas tecnologias, capazes de reter e armazenar carbono e, assim, evitar que as previsões dramáticas se concretizem. Neste objectivo de atenuação do problema, a energia nuclear também pode ter um papel importante, afirma o IPCC.

Um repto ao mundo

Pela primeira vez, os cientistas dizem que o esforço individual de cada um pode ter impactos importantes na diminuição das emissões de dióxido de carbono. As pessoas precisam de estar dispostas a mudar o seu estilo de vida, começando a deixar o carro em casa quando vão trabalhar e reduzindo o consumo de energia. Ao mundo pedem-se mudanças de comportamento, não sacrifícios, sublinham.

Durante a elaboração do documento, foram grandes as pressões dos delegados chineses para tentar atenuar as suas conclusões. A China tem evitado comprometer-se com a redução da poluição, pois teme que as restrições ambientais afectem a sua economia, em franca expansão. O argumento dos países em desenvolvimento é sempre o mesmo: por muito que a poluição aumente, as suas emissões per capita nunca chegam a aproximar-se das dos países desenvolvidos.

A Europa, líder no combate às mudanças no clima e empenhada em assumir compromissos ambiciosos como a implementação de uma economia de baixo carbono, aproveitou a publicação do documento para deixar alguns recados. Stavros Dimas, comissário do Ambiente, lembrou que em Dezembro vão reunir-se em Bali os decisores mundiais e que nesse encontro era bom que fosse lançada a negociação para os próximos compromissos de redução de CO2. Tal como fez Quioto.

DN, 5-5-2007, pág. 13
 
Alterações climáticas obrigam
mil milhões a migrar

Até 2050, pelo menos mil milhões de pessoas vão
migrar devido às alterações climáticas, que vão agravar os
conflitos e as catástrofes naturais actuais e criar outras.
Esta é a conclusão de um relatório divulgado pela organização
britânica Christian Aid, intitulado “Maré Humana - a verdadeira
crise migratória”.
A organização não governamental alerta para o ritmo de aceleração
dos deslocamentos das populações no século XXI,
lembrando que o número registado até hoje é já muito elevado
- 163 milhões de pessoas.
“No futuro, as alterações climáticas vão fazer este número
disparar”, refere a Christian Aid, que apela a uma “acção
urgente” da comunidade internacional para que adopte
“fortes medidas de prevenção”.
Segundo a organização, “ao ritmo actual, mil milhões de pessoas
serão forçadas a deixar as suas casas até 2050”, e o
aquecimento global “vai reforçar os actuais factores de
migração forçada e acelerar a crise migratória emergente”.
O relatório estima que 645 milhões de pessoas sejam obrigadas
a migrar devido a grandes crises, quando actualmente
são 15 milhões por ano.
Outros 250 milhões vão deslocar-se devido a fenómenos ligados
às mudanças climáticas (inundações, seca e fome) e 50
milhões por causa de conflitos e violações dos direitos humanos.
Citando dados (ainda não divulgados) do Grupo Intergovernamental
de Peritos sobre a Evolução do Clima, o documento
destaca que, até 2080, entre 1,1 mil milhões e 3,2 mil
milhões de pessoas serão afectados pela falta de água e
entre 200 e 600 milhões sofrerão de fome.
Em cada ano, entre dois e sete milhões de pessoas serão
afectados pela subida do nível dos oceanos.
Segundo um dos autores do relatório, “a migração forçada é
já a maior ameaça para as populações pobres dos países em
desenvolvimento”, mas “o impacto das alterações climáticas
é a grande e assustadora incógnita desta equação”.
De acordo com as estimativas da organização, entre os países
que deverão ser mais afectados pela deslocação forçada de
pessoas estão a Colômbia, o Mali e a Birmânia.

RRP1, 14-5-2007
 
Alterações ameaçam
baleias e golfinhos

O alerta é lançado por duas ONGs mundiais. As
baleias, golfinhos e belugas já estão a sofrer com as alterações
do clima.
Esta conclusão pode ser lida no relatório “Whales in Hot
Water” da organização World Wildlife Fund (WWF) e da
Whale and Dolphin Conservation Society (WDCS), a poucos
dias do início da conferência anual da Convenção sobre o
Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Flora e
Fauna Selvagens (CITES) –de 3 a 15 de Junho, em Haia.
“As baleias, golfinhos e belugas têm alguma capacidade para
se adaptarem às alterações no seu ambiente”, diz Mark Simmonds,
director internacional científico da WCDS. “Mas o
clima está a mudar a um ritmo tão rápido que não é claro
até que ponto eles se possam adaptar. Acreditamos que muitas
populações são muito vulneráveis às alterações previstas”,
acrescentou.
O relatório aponta os cetáceos que dependem das águas
polares como os mais ameaçados pela redução do gelo marítimo.
As ameaças principais são as alterações nas temperaturas da
água do mar, a subida dos níveis dos oceanos, a perda de
habitats polares e o declínio de “krill” em áreas consideradas
cruciais.
Problemas agravados pelas pressões actuais como a poluição,
ruído, colisão com navios e morte nas redes de pesca,
responsável pela morte de mil cetáceos por dia.
Face a este cenário, WWF e o WCDS apelam aos governos
para reduzirem as suas emissões de dióxido de carbono em
pelo menos 50%, até meados do século.
Além disso, exortam a Comissão Baleeira Internacional a
promover um estudo sobre futuros impactos das alterações
climáticas nos cetáceos.
Para mais informações consulte os sites http://
www.wdcs.org e
http://www.panda.org/news_facts/newsroom/index.cfm?
uNewsID=102980.

RRP1, 29-5-2007
 
"Clima vai ser como no Norte de África"

MARTIM SILVA e LUÍS PROENÇA (TSF)

Entrevista com Filipe Duarte Santos, um dos maiores especialistas nacionais em alterações climáticas

Esta semana houve cheias e calor na Europa. Em Portugal o Verão teima em não chegar. Pode afirmar-se cientificamente que estes fenómenos estão ligados às alterações climáticas?

Não podemos estabelecer uma relação causa-efeito para tudo o que são fenómenos individualizados. No nosso país há secas relativamente frequentes. A notícia de uma seca ou de cheias no Norte da Europa não pode levar a dizer que isto é uma consequência directa das alterações climáticas. Agora, do ponto de vista estatístico a maior intensidade desses fenómenos climáticos extremos é algo que temos observados nos últimos 30 anos. Há já uma alteração climática inevitável, mesmo que ainda haja uma travagem a fundo. A questão está em sabermos se o aumento da temperatura média global vai ser inferior a 2 graus centígrados, o que não seria extremamente grave. Se não for possível travar a intensificação das emissões de gases com efeito de estufa, teremos aumentos de temperaturas mais elevados, e caminhamos para um mundo muito mais incerto, com consequências mais graves. Em Portugal, há uma tendência para no Sul o clima se tornar mais próximo do que é hoje no Norte de África.

Se a temperatura média aumentar nas próximas décadas acima de dois graus centígrados, o que pode acontecer ao certo?

Isso traduz-se na maior frequência das ondas de calor, com dias sucessivos com temperaturas até aos 40 graus, e há também a questão da precipitação.

Isso pode significar o fim de duas estações e ficarmos apenas com uma grande estação quente e outra fria?

Serão mais frequentes as noites tropicais, com menor amplitude térmica. De acordo com um cenário de emissões que estudámos, nos últimos 30 anos deste século o número de dias por ano em que a temperatura máxima é superior a 35 graus passará a 100/120 dias no Alentejo interior: actualmente é 10/20 dias.

Uma subida média até dois graus é já inevitável?

Penso que será muito difícil evitar.

No Outono temos a Convenção para as Alterações Climáticas, em Bali. O que pode sair desse encontro?

Portugal vai ter grande responsabilidade nessa reunião, pois estaremos a liderar a União Europeia na altura. Há um país-chave no processo, os EUA, porque são a maior potência e um dos maiores emissores. Esta Administração dos EUA tem tido um comportamento muito aquém do desejável. Há sinais de tendência de inversão, mas tenho dúvidas que seja possível chegar a um acordo este ano. É mais provável que seja o próximo presidente a assumir compromissos quantificados. Sem este compromisso é muito difícil que outros países (China, Índia, Brasil) adiram.

A UE não tem capacidade para os convencer?

Sem os EUA não é possível. A China tem uma posição-chave. Nos últimos 20 anos duplicou a produção de carvão. A China tem grande apetência para o desenvolvimento e não vai ser possível que deixem de consumir carvão, que é um combustível barato.

A Europa também não cumpre as suas metas...

Isso é o argumento que os EUA usam, que os europeus são teóricos. Em relação a Quioto, isso é verdade, há países em dificuldades, como Portugal, mas os três mais populosos - Alemanha, Reino Unido e França - estão a cumprir.

O que falta a Portugal?

Temos feito um esforço, temos o plano nacional para as alterações climáticas. Talvez tenha sido demasiado ambicioso e a monitorização tem sido algo deficiente...

Em que áreas?

Nomeadamente no sector dos transportes. Mas a questão é sobretudo de eficiência energética: as nossas emissões crescem mais que o PIB, o que é uma tendência oposta à UE. É também uma questão de maior desenvolvimento de algumas energias renováveis, como a solar térmica. Também temos um desenvolvimento muito acelerado na energia eólica.

O que sucede nos transportes?

Temos uma frota nalguns sectores antiquada. É necessário as pessoas serem mais exigentes quando compram um carro em relação às emissões de CO2 que tem.

Porque não o fazem as pessoas?

A pessoa que comprar um híbrido gasta menos gasolina, portanto tem uma poupança. É evidente que o problema do consumo de energia é algo que exige um investimento, mas tem um retorno.

Falta essa cultura cívica?

Tem sido feito um esforço nesse sentido. Há três componente neste tema: a nível das leis é necessário um governo empenhado; depois, é fundamental a inovação tecnológica e a investigação no sector da energia. Andámos todos muito distraídos em relação à energia; e, por último, o comportamento individual das pessoas. Nós somos no planeta 6,6 mil milhões de pessoas, existem desigualdades tremendas.

DN, 30-6-2007
 
AQUECIMENTO ABRE CORRIDA AO ÁRCTICO

ARMANDO RAFAEL

Começou a corrida ao Árctico. Em parte porque a Rússia está a tentar provar que o Pólo Norte faz parte de uma cadeia montanhosa (Dorsal de Lomonosov) que é o prolongamento geológico da sua plataforma continental, tendo assinalado essa reivindicação, colocando há dias a sua bandeira no fundo do oceano, a mais de 4300 quilómetros de profundidade.

A partir desse momento, EUA, Canadá, Dinamarca e Noruega desdobraram-se em iniciativas mais ou menos mediáticas com um único objectivo: deixar claro que a Rússia não é a única potência com interesses territoriais na região do Árctico, onde é suposto existirem um quarto das reservas mundiais de petróleo e gás, além de urânio, diamantes e outros minérios.

É isso que motiva estes cinco países, tendo em conta que o direito internacional prevê que eles possam reivindicar a sua soberania sobre algumas extensões territoriais do Árctico. Com base numa convenção da ONU que regula os limites das plataformas continentais e que estabelece um prazo de dez anos a contar da sua ratificação para que os interessados apresentem as suas pretensões. O que, no caso da Rússia, significa que Moscovo tem até 2009 para se pronunciar. Já o prazo-limite do Canadá vai até 2013 e o da Dinamarca aponta para 2014.

Praticamente ignorado ao longo da História, com excepção do período da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a ex-URSS, o Árctico ganhou uma nova projecção nos últimos anos por força do aquecimento global. De acordo com os mais recentes estudos científico, a temperatura média na região está a crescer ao dobro da velocidade registada no resto do mundo, explicando, por exemplo, o descongelamento dos glaciares ou as razões por que a área de mar coberta por gelo tem vindo a diminuir no Verão entre 15% e 20% relativamente ao que sucedia ainda há 30 anos.

O que, em termos práticos, significa que a temperatura média no Árctico poderá vir a subir entre quatro e sete graus Celsius nas próximas décadas. Uma perspectiva muito superior ao aumento previsto para o resto do planeta, se nada for feito para conter os efeitos de estufa provocados pelas emissões de dióxido de carbono (CO2): dois a três graus.

Abrindo, assim, novas perceptivas à exploração do Árctico. Tanto no mar como no subsolo. Ao ponto de alguns responsáveis russos e canadianos já terem começado a referir-se a esta corrida como as Descobertas do século XXI, numa alusão aos Descobrimentos dos séculos XV e XVI.

Mas para além do acesso às reservas de gás e de petróleo que ali existem, países como o Canadá, EUA e Rússia parecem também interessados em abrir novas rotas ao tráfego marítimo e até ao turismo.

DN, 20-8-2007
 
Gore quer promover
campanha mundial

A fundação criada pelo ex-vice-Presidente dos Estados
Unidos, Al Gore, está a consultar agências de publicidade
para o desenvolvimento de uma campanha mundial sobre as
alterações climáticas.
A acção, que terá uma duração de três a cinco anos, terá
como principal objectivo convencer a opinião pública a encarar
as questões climáticas como um tema prioritário.
A fundação “Alliance for Climate Protection” prevê investir
mais de 73 milhões de euros por ano na compra de espaço
publicitário.
Crispin Porter and Bogusky, BBH, Martin Agency e Young and
Rubicam foram as agências convidadas a apresentar propostas
criativas, segundo avançou o jornal especializado
“Advertising Age”.

RRP1, 28-8-2007
 
Quercus quer Governo a discutir emissão de gases

A Quercus lançou ontem um apelo para que o Governo discuta "urgentemente", com a sociedade civil, as metas de emissão de gases , responsáveis pelo efeito de estufa, para 2020, uma vez que esta matéria deverá estar esclarecida até Dezembro, no âmbito da presidência portuguesa da União Europeia.

O apelo vem a propósito do da reunião das Nações Unidas sobre as alterações climáticas que ontem começou em Viena, Aústria, e se prolonga até sexta-feira. Representantes de mais de 100 países vão discutir não só novos meios de reduzir as emissões, mas também a percentagem dessa redução e o contributo individual de cada país para o cumprimento do objectivo.

Numa nota de imprensa, a organização ambientalista Quercus considera que Portugal desempenha "um papel absolutamente crucial" nesta reunião, enquanto detentor da presidência da União Europeia, "devendo conduzir eficazmente as negociações e assegurando que haja resultados frutíferos em prol da resolução do enorme problema que constitui o fenómeno das alterações climáticas.

A reunião de Viena é o ultimo encontro dos países da Convenção das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (UNFCCC), antes da reunião das Nações Unidas em Bali, em Dezembro, onde será discutido o "Mandato de Bali". Este mandato corresponde ao desenvolvimento das negociações formais que deverão definir um novo acordo para o período pós 2012 - quando termina o primeiro período de cumprimento do Protocolo de Quioto, que estabelece as primeiras metas para a redução de emissão de gases de efeito de estufa.

A Quercus defende a necessidade de um novo tratado até 2009, de modo a que haja tempo para os países ratificarem este novo acordo, evitando-se, assim, o risco de se criar um vazio após 31 de Dezembro de 2012.

Aquela organização diz ser fundamental que nas negociações de Viena sejam definidos princípios científicos e políticos que levem à redução das emissões a partir de 2015, de forma a que em 2020 não ultrapassem em mais de dez por cento os valores registados em 1990.|C.A. e LUSA

DN, 27-8-2007
 
Epidemias à espreita com aquecimento global

ELSA COSTA E SILVA

Especialista diz que País precisa de estar atento

Não há razões para alarme, mas os sinais são preocupantes. As alterações climáticas podem trazer o regresso de epidemias à velha Europa, entre as quais a malária. Outras doenças, próprias de climas tropicais, como a febre de dengue ou a do vírus-do-nilo-ocidental, podem originar igualmente surtos epidémicos em muitos países, sobretudo mediterrânicos. Portugal está na linha da frente do aquecimento global e os especialistas alertam: é preciso atenção e uma grande interacção entre a medicina humana e a animal.

"O aquecimento global pode facilitar a ocorrência de surtos epidémicos em áreas até então sem estas doenças", explica Henrique Lecour, da Universidade Católica Portuguesa, um dos participantes do congresso da Sociedade Portuguesa de Virologia, que ontem terminou no Porto. Mas, ressalva, "não há razão para alarmismos". O que é preciso é "atenção ao risco potencial" e o País estar preparado para "uma detecção rápida e uma acção imediata na informação à população e eliminação de locais de proliferação dos agentes responsáveis pelas epidemias".

Alterações climáticas

De acordo com este especialista, o clima tem uma grande interferência nos reservatórios animais usados pelos agentes. E o problema pode estar nas doenças animais (zoonoses) que se poderão transmitir-se aos humanos - como sempre foi o grande receio em relação à gripe das aves. Ou seja, diz, nesta matéria, "está reservado um grande papel para a saúde veterinária". Porque o clima poderá activar agentes que têm como vectores os mosquitos, como é o caso da malária, ou as carraças. Transmissores de doença que terão uma maior actividade e maior capacidade para contaminar humanos.

"Actualmente, a malária que existe em Portugal é de importação. Ou seja, é trazida por pessoas que estiveram nos locais onde ela é endémica", explica Henrique Lecour. Contudo, o aquecimento global poderá promover "condições propícias para voltar a ter a malária local". Outros problemas para a saúde pública poderão advir do aumento de casos como a leishmaniose ou a febre-da-carraça. Doenças virais até agora restritas a países tropicais como a febre do vírus-do-nilo-ocidental ou de dengue são outra ameaça. O especialista lembra, contudo, que apesar das altas taxas de morbilidade e mortalidade existentes nos países em vias de desenvolvimento, associadas a estas doenças, o clima não é o único responsável e as condições de higiene têm também um papel importante.

Hábitos de convivência animal - como acontece no caso da gripe das aves nos países onde se registaram mais casos e a propósito da qual houve "um alarmismo exagerado" na Europa - são também essenciais para perceber a evolução das doenças. Importante, garante Henrique Lecour, é ter em atenção que a maioria destas doenças tem origem em animais e, portanto, "tem de haver uma investigação conjunta próxima entre a medicina humana e a medicina veterinária".

DN, 23-9-2007
 
Temperatura no Árctico já chegou aos 22 graus

A ilha de Melville, no Árctico, alcançou este Verão temperaturas excepcionalmente elevadas que, em alguns dias, se fixaram nos 22 graus. Temperaturas amenas para os nossos padrões, mas inesperadas naquelas paragens. Foi em Julho e, para a equipa de investigadores do Ontário, Canadá, que há cinco anos regista passo a passo as variações de temperatura na ilha, esta onda de calor terá impactos ambientais significativos caso venha a manter-se ou a agravar-se num futuro mais ou menos próximo.

Scott Lamoureux, docente de Geografia na Queen's University e coordenador da equipa - que desde a Primavera passada integra, também, investigadores da Universidade de Toronto -, considera no entanto "ser ainda prematuro atribuir [estas alterações] ao aquecimento global" do planeta.

Os dados recolhidos na ilha de Melville, referiu o investigador à ABC News, em reportagem ontem difundida, apontam para a possibilidade de "algo estar a mudar", mas, disse, "é ainda muito cedo" para retirar conclusões.

As alterações sofridas pela paisagem - quer em extensão quer pela rapidez com que se processaram - marcaram a equipa, que no início de Agosto terminou a sua expedição deste ano. "Esperávamos que de algum modo isto viesse a acontecer um dia no futuro, mas vê-lo acontecer agora constituiu um choque para todos nós", recordou Lamoureux.

Registos mais antigos, datados da década de 50, apontavam para uma constante na ilha de Melville: por regra, a temperatura diurna mais alta registada no mês de Julho não ia além dos 5 graus. Julho passado, porém, alterou por completo este quadro: a temperatura fixou-se quase sempre entre os 10 e os 15 graus, referiu o coordenador da equipa canadiana, e, em dias excepcionalmente quentes, nos 22 graus.

A tendência de aquecimento observada em Julho terá, ao que a equipa apurou após o seu regresso a casa, prosseguido nos meses de Agosto e Setembro. A análise de imagens por satélite poderá agora ajudar a esclarecer esse quadro.

Mas a ilha de Melville não foi a única a registar temperaturas fora do normal este Verão. Walt Meir, investigador norte-americano ouvido pelo jornal britânico The Independent, afirmou que, em Junho, Julho e Agosto, as temperaturas registadas no Árctico se situaram 3 a 4 graus acima do normal, "particularmente no Norte da Sibéria", onde estiveram 4 a 5 graus acima do que habitualmente se esperaria.

O processo de degelo, referiu Meir, acentuou-se "rapidamente" aos longo da Primavera e Verão deste ano. Mark Serreze, investigador ouvido também pelo Independent, afirmou, por seu lado, que parecem não restar hoje muitas dúvidas sobre a possibilidade de assistirmos, ainda "durante o tempo das nossas vidas", a um "oceano Árctico sem gelo no Verão".

DN, 5-10-2007
 
Países continuam não resolvem
ameaças globais

A ONU acusa os países de continuarem sem resolver as
ameaças globais, como o impacto das alterações climáticas,
a extinção das espécies ou a alimentação de uma população
em crescimento.
A acusação é feita no relatório “Estudo Global Sobre o
Ambiente”, ontem divulgado pelo Programa das Nações Unidas
para o Ambiente (PNUA).
O documento, conhecido como GEO-4 e no qual trabalharam
390 peritos mundiais, reitera que uma acção imediata e decisiva
é indispensável a todos os níveis para garantir a sobrevivência
das gerações actuais e futuras.
As advertências do PNUA constantes no documento constituem
a primeira informação sobre o Ambiente realizada pelo
organismo em 20 anos, depois da Comissão Mundial para o
Ambiente e Desenvolvimento publicar o relatório “O Nosso
Futuro Comum”.
O documento avalia o actual estado da atmosfera, da terra,
da água e da biodiversidade a nível mundial, descreve as
alterações que ocorreram desde 1987 e identifica uma série
de prioridades de actuação.
Apesar de apontar alguns exemplos positivos, como o tratado
de redução das emissões de gás de efeito estufa, as Nações
Unidas salientam que “em muitas ocasiões, a resposta tem
sido lenta e marcada por um ritmo e um grau de actuação
que não responde ou que não reconhece a magnitude dos
desafios que as populações e o meio ambiente do planeta
enfrentam”.
Entre os problemas que os peritos consideram que
“persistem”, encontram-se situações que vão desde o rápido
aumento das “zonas mortas”, a falta de oxigénio nos oceanos,
o reaparecimento de enfermidades conhecidas e desconhecidas
relacionadas em parte com a degradação do
ambiente.
Os especialistas sustentam que as alterações climáticas são
“uma prioridade mundial” que exige vontade política mas
salientam que face a esta prioridade há “falta de sentido de
urgência” e uma resposta mundial “lamentavelmente inadequada”.
No mês de Dezembro começam, em Bali, na Indonésia, as
negociações sobre um tratado que substitua o Protocolo de
Quioto.

RRP, 26-10-2007
 
Na era das consequências

LUÍS NAVES

As alterações do clima devido à emissão de gases com efeito de estufa estão já bastante estudadas e há modelos que permitem fazer previsões com alguma segurança. Curiosamente, o que se conhece menos bem são os efeitos que isso poderá provocar nas sociedades humanas.

Um novo estudo, do Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos (CSIS, na sigla em língua inglesa), permite desenhar três cenários planetários, à distância de uma geração. O trabalho parte de três aumentos de temperatura aceites nos modelos científicos e tenta identificar a respectiva evolução geopolítica, retirando lições de política externa e de segurança para os Estados Unidos.

O primeiro parágrafo do trabalho é de uma eloquência brilhante: "Embora as consequências da mudança climática global pareçam matéria de Holywood - algum futuro distópico imaginário -, o derreter do gelo do Árctico, o crescimento dos desertos em África e a inundação das terras baixas são demasiado reais. Já vivemos numa 'Era das Consequências', que será cada vez mais definida pela intersecção das mudanças climáticas e a segurança das nações."

O primeiro cenário da organização independente americana considera um aumento de temperatura média de 1,3 graus centígrados. O ano é 2040. Em termos de segurança, este conjunto terá elevadas tensões fronteiriças provocadas por migrações de grandes grupos, escassez de recursos e doenças.

O segundo cenário, de 2,6 graus, também em 2040, agrava todas estas tendências. Segundo os autores, a própria coesão nacional dos países ficará em dúvida, devido a três factores: falta de água, escassez de alimentos e migrações em larga escala. Os conflitos serão motivados pelo domínio de recursos, tais como água.

O terceiro cenário, aqui definido como de catástrofe, parte de um aumento de 5,6 graus até 2100. Os autores do estudo não excluem o colapso de sociedades ou a guerra geral pelo controlo de território. A segurança das nações industrializadas estaria em grande perigo. Na comparação de um participante na discussão, citado no relatório, "um cenário Mad Max, só que mais quente, sem praias e talvez até maior caos".

Segundo os autores do estudo do CSIS, não há modelos que permitam saber com exactidão se estes acontecimentos ocorrerão mesmo, caso o aumento de temperatura global seja aquele, mas há trabalhos disponíveis sobre os efeitos do stress ambiental em sociedades humanas: os casos clássicos dos Maias ou da ilha da Páscoa, enunciados no livro de Jared Diamond, Colapse, são exemplos muito estudados.

Algumas projecções do CSIS são alarmantes. A de crescimento económico, por exemplo: com estimativas muito baixas de crescimento anual (de PIB e de população), os autores chegaram a um aumento de dez vezes nas emissões de dióxido de carbono em 2100, caso não haja novas fontes de energia. As fronteiras poderão ser dramaticamente alteradas. Em 2050, a Rússia terá 100 milhões de habitantes, um terço dos quais muçulmanos. A pressão da China e dos países vizinhos sobre o imenso território vazio será tremenda.

Os autores esperam terrorismo em larga escala, devido ao desespero de países com crescimentos demográficos insustentáveis. Haverá milhões em risco de fome, caso as colheitas falhem e um terço da população mundial terá falta de água.

DN, 11-11-2007
 
Portugal melhora nas
boas políticas ambientais

A avaliação que coloca Portugal como 13.º país com
melhor desempenho nas políticas para as alterações climáticas
representa, para o Governo e para a Quercus, o esforço do
país na defesa do ambiente.
Francisco Ferreira, da Quercus, saúda a classificação, mas
lamenta que muitas medidas continuem no papel.
Por seu turno, o secretário de Estado do Ambiente, Humberto
Rosa, responde aos reparos da Quercus com as boas posições
que Portugal conseguiu atingir neste índice.
Humberto Rosa lembra que o nosso país está com boa classificação
na emissão de gases por habitante, apesar da posição
menor na tendência de emissões.
O secretário de Estado garante, ainda, que este índice mostra,
mais uma vez, que Portugal vai conseguir cumprir as metas do
protocolo de Quioto.
Portugal subiu seis posições na lista de 56 países com melhor
desempenho nas políticas para as alterações climáticas.
O índice foi hoje apresentado em Bali, onde decorre a Cimeira
das Nações Unidas para as Alterações Climáticas.
Nas primeiras posições surgem a Suécia, a Alemanha, Islândia,
México e Índia. O pior país foi a Arábia Saudita em penúltimo
lugar estão os Estados Unidos.

RRP1, 7-12-2007
 
Mais pobres vão sofrer os piores danos do clima

RITA CARVALHO

As alterações climáticas ameaçam provocar um retrocesso no desenvolvimento em África e nos países mais pobres. Mais 600 milhões de pessoas subnutridas, mais 1,8 mil milhões afectados pela falta de água e mais 400 milhões expostos à malária são algumas consequências do aquecimento global previstas para o final do século. Um alerta deixado ontem pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) cujo relatório anual expõe uma realidade crua e injusta: são os que menos poluem que mais vão sofrer os efeitos drásticos da poluição.

O timing deste alerta do PNUD é pertinente. A uma semana da reunião que juntará em Bali mais de 200 países para traçar um novo regime climático pós Quioto, o relatório intitulado "Combater as alterações climáticas: solidariedade humana num mundo dividido" ex- pressa a urgência deste combate e os impactos que poderão daí advir, não só ambientais mas também ao nível do desenvolvimento humano. E prevê um acentuar ainda maior das desigualdades que distanciam ricos de pobres, comprometendo assim os objectivos de desenvolvimento do milénio. Em África o drama é duplo: são os mais afectados porque vivem em zonas ambientalmente mais sensíveis e são os que menos capacidade têm para se defender.

"As alterações climáticas constituem uma ameaça à humanidade. Mas são os pobres, cidadãos sem responsabilidade pela dívida ecológica que estamos a acumular, que enfrentam os custos humanos mais graves e imediatos", afirmou ontem Kemal Dervis, administrador do PNUD.

A mensagem do PNUD para a cimeira da Convenção das Nações Unidas é clara: é preciso apostar na mitigação do problema, invertendo o crescimento exponencial das emissões de gases com efeito de estufa, nomeadamente nos países desenvolvidos. Mas é urgente investir também na adaptação, pois alguns efeitos da mudança são já inevitáveis e têm de ser atenuados.

Adaptação

Adaptar o mundo às mudanças do clima exigirá gastar, em média, cerca de 86 mil milhões de dólares todos os anos, segundo prevê o PNUD. O mesmo é dizer 0,2 % do produto interno bruto dos países do hemisfério norte. Investir 44 mil milhões no desenvolvimento de infra-estruturas que ajudem a prever e controlar épocas de cheias e secas ou a adequar as técnicas agrícolas, dispor de 40 mil milhões para pagar seguros sociais em tempos de catástrofes e investir mais dois mil milhões em informação e alerta, que é ainda muito incipiente em África.

Mas o dinheiro disponível para ajudar as populações a prepararem-se para o que já não podem evitar é ainda escasso. A própria gestão deste fundo mundial, que vive exclusivamente de doações voluntárias ainda não está definida, como explicou Pedro Conceição, do PNUD. O debate sobre esta questão correrá também em Bali.

Nos países desenvolvidos, prevenir também será sempre melhor do que remediar, considera Isabel Pereira, do PNUD. Na Europa, estima-se que, em 2020, os danos causados pela não adaptação a esta realidade custarão quatro vezes mais do que a aplicação hoje de acções preventivas.

Recomendações

O PNUD recomenda a definição de um orçamento de carbono, ou seja, um limite de emissões de dióxido de carbono que permita evitar que a temperatura suba acima dos dois graus centígrados. Esse limiar - 15 mil milhões de toneladas de CO2 por ano - implicaria atingir o máximo de poluição em 2020. A partir dessa data, as emissões teriam de diminuir, sendo que em 2050 teria de haver uma redução de 50% em comparação com 1990.

Neste esforço, que a ONU considera que tem de ser partilhado, os países desenvolvidos teriam de dar o exemplo. Estagnariam a sua poluição já em 2012 ou 2015, deixando às economias emergentes a possibilidade de se expandirem até 2020, invertendo depois a tendência de subida do CO2. O mundo teria de reduzir 50% as emissões em 2050. Mas esta será uma inversão difícil, pois hoje já se emitem o dobro das emissões que o PNUD considera aconselháveis por ano.

Nas recomendações que produziu, o relatório sugere ainda que seja atribuído um preço ao carbono, como forma de penalizar a poluição e promover o investimento em tecnologia limpa.

DN, 28-11-2007
 
Alarme climático no oceano Árctico

LUÍS NAVES

Aquecimento global com efeito muito rápido
O oceano Árctico poderá ter o primeiro Verão livre de gelo dentro de apenas cinco anos, afirmou Wieslaw Maslowski, da Escola Naval de Monterrey, da Califórnia, numa reunião científica. Citado pela BBC, o académico fez uma previsão alarmante sobre os efeitos do aquecimento global, que reduz em 20 anos a esperada longevidade da camada de gelo naquela zona do planeta.

O modelo da equipa de Maslowski (que inclui ainda NASA e Academia Polaca de Ciências) utiliza dados entre 1979 e 2004. O resultado que aponta para um degelo em 2013 surge, assim, sem a série incluir os dois anos mais quentes já registados nesta zona, 2005 e 2007.

Só este ano, o recuo de gelo no Árctico foi gigantesco, tendo deixado navegável a famosa Passagem do Noroeste, no Norte do Canadá e Alasca. Calcula-se que a camada de gelo do oceano tenha atingido, este Verão, pouco mais de quatro milhões de quilómetros quadrados. Em 2005, o outro ano muito quente na região árctica, foi de 5,3 milhões de quilómetros quadrados. A média entre 1979 e 2000 cifrou-se em 6,7 milhões. Ou seja, a perda registada este ano atingiu o equivalente a quase 29 vezes o território de Portugal continental, na comparação com a média do final do século XX.

Segundo Maslowski, a projecção da sua equipa "poderá já ser conservadora". O cientista estima que as restantes projecções, todas mais optimistas do que a sua, estejam a neglicenciar efeitos que o cientista considera cruciais para o processo de degelo, nomeadamente a forma como a água mais quente flui dos oceanos Atlântico e Pacífico.

Os novos dados estão a ser incorporados nos complexos modelos e outros cientistas afirmam ter chegado a conclusões semelhantes às de Maslowski. Um cientista da NASA, Jay Zwally, fala num oceano praticamente livre de gelo em 2012.

Na Gronelândia, os cálculos dos peritos apontam para um degelo de 19 mil milhões de toneladas acima do anterior valor máximo. Em volume, o gelo do Árctico, neste Verão, foi igual a metade do valor de 2003.

Cientistas noruegueses detectaram nas ilhas Svalbard as temperaturas mais elevadas dos últimos 800 anos, desde o final da Era dos Vikings. Usando núcleos de gelo retirados de glaciares, foi possível perceber que as temperaturas actuais são as mais altas desde o século XIII naquela região. As medições de temperatura atmosférica estão a ser feitas desde 1911. Nessa série, 2006 é o ano mais quente.

DN, 13-12-2007
 
Governo quer discutir alterações climáticas com sociedade civil

LUÍS NAVES

Ambiente. Portugal organiza fórum

Parlamento Europeu também lança discussão política com organizações

A Comissão para as Alterações Climáticas, entidade nacional e interministerial que coordena a política do País em matéria de mudança do clima, está a organizar um fórum, que reunirá pelo menos uma vez por ano, para discutir com sectores da sociedade civil as consequências deste fenómeno. A primeira reunião está marcada para 2 de Julho e as inscrições dos interessados estarão abertas até 24 do mesmo mês.

O cumprimento nacional do Protocolo de Quioto e as políticas de energia serão dois dos temas centrais dos debates, mas haverá outros assuntos cuja discussão está prevista, como tratamento de resíduos, transportes e agricultura. A iniciativa do Governo surge numa altura em que o Parlamento Europeu organiza uma ambiciosa iniciativa na área das alterações climáticas. O evento, a Ágora dos Cidadãos, realiza-se em Bruxelas, na quinta e sexta-feira.

Estarão presentes 500 representantes de associações, sindicatos, indústria, além de organizações não governamentais, líderes políticos e cientistas. A Ágora sobre Alterações Climáticas será dividida em cinco mesas de trabalho e, tal como na iniciativa portuguesa, o objectivo é produzir recomendações políticas, pois as propostas vão circular entre os parlamentares. Aliás, o debate decorre no próprio hemiciclo do Parlamento Europeu.

A escassez de água foi um dos temas levantados nas sessões preparatórias que antecederam a Ágora, no caso, pela Confederação dos Agricultores de Portugal, CAP, que apresentou um documento sobre o impacto da seca na agricultura europeia, com graves consequências económicas. Este fenómeno é consequência das mudanças no clima e está a ser sentido de forma desproporcionada no sul da Europa. Segundo o autor da comunicação, Luís Bulhão Martins, os países da UE usam em média 24% da sua água para irrigação, mas esta proporção sobe para 70% no sul da Europa e era de 59% em Portugal, em 1995.

DN, 11-6-2008
 
Governo quer adaptar País às alterações climáticas

Estratégia Nacional de adaptação estará definida no próximo ano

Ideia é ver como alterações afectam sectores da economia e cada região

O Governo está a elaborar uma Estratégia Nacional de Adaptação às Alterações Climáticas, a aprovar ainda neste mandato, em 2009. "A ideia é ver como as alterações climáticas vão afectar cada sector da economia e cada região do País. No turismo o aumento da temperatura de certas zonas, que poderão vir a ter menos água em certas alturas do ano, carece de planeamento. No sector vitivinícola é preciso saber se a mudança de clima permite continuar a produzir nas mesmas regiões", exemplificou aos jornalistas o secretário de Estado do Ambiente, Humberto Rosa, à margem da conferência "Portugal num Clima em Mudança", que decorreu ontem no Estoril, Cascais.

"Em termos de mitigação das alterações climáticas [redução das emissões com gases de efeito de estufa] já temos trabalho de casa feito", disse, aludindo ao Plano de Alterações Climáticas, ao Programa de Atribuição de Licenças de Emissão e ao Fundo Português de Carbono.

Mas, para Humberto Rosa, mesmo que as alterações climáticas fossem travadas hoje, "os seus efeitos iam sentir-se nas próximas décadas". "É por isso que a adaptação é incontornável", justificou. O secretário de Estado admitiu mesmo que o Governo tem "estado concentrado na mitigação", defendendo que a adaptação tem de ter a mesma importância.

O governante explicou ainda alguns princípios daquela que será a Estratégia Nacional de Adaptação às Alterações Climáticas: "primeiro ver os pontos de partida, as medidas que temos para a seca ou erosão costeira e perceber se são suficientes. Depois integra a adaptação nas políticas sectoriais". Conseguir envolver na adaptação os diferentes sectores da sociedade, público e privados, é outro dos objectivos, tentando depois levar essa Estratégia para a política internacional, em termos de cooperação com outros países.

DN, 24-6-2008
 
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