20 março, 2007

 

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Espaço de liberdade ?

Assim se pretende que continue pelo que se deve contrariar a censura imposta em países como a China, a Turquia ou a Coreia do Norte.

http://greatfirewallofchina.org/

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Censura na Net atinge 24 países e continua a subir

Ana Pago

Foi concebida como espaço de informação livre, mas nem assim a Internet está a conseguir escapar à vaga de censura que se propaga "rapidamente" pelo mundo. "São já 24 os países que vêem os seus governos dominar a Web, seguindo o exemplo de países censores como a China", alertam investigadores dos EUA, Canadá e Reino Unido. E a progressão pelo mundo continua.

Falando ontem ao Financial Times, após seis meses a analisar os índices de liberdade nos 40 países mais problemáticos, estudiosos de Harvard, Cambridge, Toronto e Oxford surpreenderam com o seu "The OpenNet Initiative". A censura "marca 24 países e expande-se rapidamente", adiantam. A repressão é copiada de governos com mais tradição no controlo de conteúdos online, usando filtros para palavras proibidas ou banindo sites e aplicações - caso do bloqueio da Wikipédia, na China, ou do Google, no Paquistão.

John Palfrey, director executivo da Harvard Law School, define o fenómeno como "uma tendência notável para seguir a direcção oposta" aos ideais democráticos. Ronald Deibert, professor de Ciência Política em Toronto, concorda e sublinha a existência de "dez países que se tornaram bloqueadores omnipresentes" - entre os quais China, Irão, Arábia Saudita, Tunísia, Myanmar e Usbequistão -, impedindo os cidadãos de acederem livremente à Net.

As conclusões do "OpenNet" ganham especial força depois de a Turquia ter cortado o acesso ao YouTube na semana passada (ver infografia), assinando um dos mais graves ataques à liberdade de informação.

DN, 16-3-2007, pág. 48
 
Censura na Internet cresce e já atinge 27 países

INÊS DAVID BASTOS

Os governos da China e do Paquistão são os que mais filtram informação
A censura feita pelos governos à Internet, que foi criada para ser um espaço de liberdade, não pára de aumentar. São já 27 os países que vêem os seus governos controlar conteúdos na Web, nomeadamente sobre a matéria política, social e de segurança nacional, segundo um estudo recente da Open Net, uma organização formada pelas universidades de Oxford, Cambridge, Harvard e Toronto.

O Open Net estudou os filtros que os governos aplicam naquelas três matérias nas ferramentas da Internet e chegou à conclusão que o fenómeno tem aumentado e que o Irão e a China são os países mais restritivos, segundo o diário espanhol El País.

Na China, por exemplo, se alguém procurar na Net a palavra Tibete, nada encontrará sobre esta região. E o mesmo acontece se quiser saber qualquer informação sobre a matança de Tiananmen, onde morreram dezenas de estudantes em 1989. Foi também o Governo chinês que vedou o acesso dos cidadãos à Wikipédia. Os investigadores adicionam ainda Cuba e Coreia do Norte, mas sobre estes dois países dizem não ter dados concretos por falta "de fontes fidedignas que permitam quantificar a censura".

O Paquistão, que proibiu o acesso ao Google, é considerado também um caso preocupante. A par da Arábia Saudita, da Birmânia, da Síria, da Tunísia, do Vietname e do Iémen. Tunísia, Síria e Vietname fazem sobretudo censura em matéria política.

A Coreia do Sul, embora exerça uma censura considerada mais moderada, faz parte da lista dos casos mais graves.

No que respeita às questões sociais, os governos dos países muçulmanos são os que mais fazem censura à Web. É o caso da Arábia Saudita. E os que mostram maior preo- cupação em filtrar informação que, pensam, pode colocar em causa a sua segurança nacional são o Paquistão, a China e a Coreia do Sul. E para filtrar conteúdos, os executivos contam com a ajuda dos próprios servidores de Internet.

O Google, por exemplo, já veio afirmar que não pode ir contra as leis dos países e que "é melhor dar alguma informação que não dar nada".

A polémica em torno da alegada existência de um Pacto de Autodisciplina subscrito por cerca de vinte empresas do sector - entre as quais o Yahoo! e o MSN - e da censura à Net já chegou mesmo à União Europeia (UE). O eurodeputado socialista Carlos Carnero enviou na passada semana uma carta à Comissão Europeia a perguntar se tem conhecimento do tal pacto e a exigir a tomada de medidas para "defender os direitos humanos básicos na União Europeia".

DN, 3-9-2007
 
OS 'BIG BROTHERS' DESTE MUNDO TÊM MUITO MEDO DA INTERNET

Leonídio Paulo Ferreira
jornalista
leonidio.ferreira@dn.pt

Não se pode acusar os censores chineses de falta de imaginação: dois ciberpolícias vão patrulhar os computadores sempre que os internautas acederem a um portal. A cada 30 minutos, os ícones, homem e mulher, de rosto redondo e olhos negros como os que nos habituámos a ver nos manga japoneses, surgirão no ecrã a indicar a página web da polícia onde se informa sobre o que é proibido. Os dois agentes - a pé, de carro ou em moto - também estão programados para intervir no ecrã caso detectem abusos, se bem que o China Daily não avance pormenores sobre a actuação. Apenas que a "missão é eliminar a informação que perturbe a ordem social". Sites pornográficos e de apostas estão na mira, mas também conteúdos políticos. Por exemplo, uma pesquisa sobre Tiananmen é impossível de fazer, denunciou a Open Net. E o mesmo acontece se alguém num cibercafé de Pequim procurar novidades do Tibete, alerta essa organização formada por Oxford, Cambridge, Harvard e Toronto.

O mais assustador é que a China está longe de ser caso único: medrosos perante a crescente liberdade que a informática oferece hoje aos seus cidadãos, muitos regimes big brother esforçam-se por filtrar conteúdos, proibir acessos ou deter internautas. Se na China é a Wikipedia que está proibida, no Paquistão é o Google o tabu. Coreia do Norte, Arábia Saudita, Tunísia e Cuba são outros países que censuram a Internet.

É típico das ditaduras pensar que se perpetuam fechando-se. A Coreia do Norte é tão emblemática dessa obsessão que é chamada de "Reino Eremita". Mas o passado mostra que nenhum controlo é absoluto. Na RDA, por exemplo, a TV oficial era ignorada e os noticiários mais vistos eram os das emissoras da Alemanha Ocidental. Só em Dresden, cuja geografia impedia a captação das televisões da RFA, o regime comunista podia ambicionar moldar os espíritos. Mas não lhe serviu de nada quando o Muro caiu. Dresden estava tão informada como o resto da Alemanha comunista. Outro exemplo é o Iraque de Saddam. Mesmo num local para estrangeiros, como o Hotel Al-Rachid, a Internet era controlada. Um computador pré-histórico rangia enquanto gravava as pesquisas. E uma busca por Kerbala, a cidade santa do xiismo, dava sempre páginas interditas. A ida aos artigos na BBC ou na CNN sobre o Iraque também acabava com o ecrã a piscar "acesso não autorizado". Mas uma pesquisa num jornal francês já não tinha entraves. Enviar correio electrónico era um drama e usar o hotmail impossível. O regime, como sabemos, não resistiu. E o fecho ao mundo de nada serviu a Saddam. O povo não o admirava. Não teve defensores. Acabou enforcado.

Há uma lição para todos os regimes totalitários aprenderem. Sem liberdade não há desenvolvimento. Sem conhecimento igualmente. E sem tecnologia também não. A internet soma tudo. A China tem demasiada civilização para não entender isso.

DN, 10-9-2007
 
China reforça censura aos vídeos na Internet

Restrições para que se respeite "código moral do socialismo", a partir de 31

A China aumentou a censura na Internet ao anunciar novas regras na divulgação de vídeos neste meio.

De acordo com a France-Presse, passa a ser proibido, a partir de dia 31 deste mês, difundir filmes em portais privados, sendo apenas permitido aos portais do Governo a emissão deste género de conteúdos - um sistema de censura semelhante ao já aplicado no cinema e na televisão. Estes sites estatais terão de renovar autorização de três em três anos.

Os conteúdos deverão estar em conformidade com o "código moral do socialismo" com um certo número de restrições, nomeadamente sobre violência, sexo, segredos de Estado que atentem contra a sua segurança. "Estas regras foram for- muladas para salvaguardar os interesses da Nação e do público e do desenvolvimento são e ordenado do sector audiovisual", referia o comunicado do Ministério da Informação chinês.

O regulamento afectará também os servidores de vídeos que estão registados naquele país asiático, nomeadamente o site de partilha de vídeos YouTube ou o chinês Tudou.

As empresas do mercado mostraram-se reservadas com as novas regras, esperando por mais pormenores. Referindo que todos os dias existe nova regulamentação a adoptar, o responsável do Yahoo! China disse à France-Presse que "deixa para os advogados a análise das diferentes implicações para as empresas". O Google China, por seu turno, preferiu não comentar, enquanto um responsável de um site, que pediu anonimato, ao jornal económico 21st Century Business Herald, disse que estes "regulamentos são desastrosos". Mas as críticas endureceram na imprensa escrita, que diz serem regras que atentam contra o desenvolvimento das sociedade independentes na Internet. - P.B.

DN, 7-1-2008
 
O NOVO COLABORACIONISMO

João Marcelino
director

1. O presidente do Comité Olímpico Internacional, Jacques Rogge, foi incapaz de cumprir o prometido. Na realidade, prometera demais. Ousara prometer a liberdade de acesso à Web para os jornalistas acreditados à cobertura dos Jogos de Pequim.

Esta incapacidade não resulta, convém assinalar com justiça, apenas da vontade férrea do Governo da China em controlar tudo aquilo que possa de alguma forma beliscar a gigantesca acção de propaganda prevista para o próximo mês, durante a qual os atletas chineses tentarão vencer os dos Estados Unidos na guerra das medalhas. Da leitura da imprensa internacional, constata-se que todas estas medidas, ditas "de segurança", só foram possíveis de implementar com a cúmplice colaboração de algumas das principais marcas e empresas de tecnologia do Ocidente, desse mesmo espaço civilizacional onde agora se ouvem os protestos naturais pelo inadmissível acto de censura que afecta as páginas Web de todos os movimentos que possam ser supostos de alguma crítica ao regime chinês.

E quais são essas empresas "colaboracionistas"? Yahoo, Google (entre as mais notáveis dos motores de busca), Hotmail e Microsoft, Cisco Systems, Nortel Networks, Sun Microsystems e Websense, entre outras do mundo da tecnologia pura e dura.

A China montou um sistema de controlo e bloqueio informático sem paralelo, a que alguns já chamam a nova grande muralha, que conta com 40 mil "ciberpolícias" a analisarem e a controlarem, em tempo real, as páginas - e quem as consulta. [Curiosamente, ontem estas restrições foram suavizadas - ver notícia da pág. 42] O apoio dos gigantes ocidentais da tecnologia permite censurar, a quem acede à rede a partir do território da China (da mesma maneira como os pais protegem os filhos de termos menos adequados à idade), palavras ou expressões tão subversivas como "democracia", "massacre de Tiananmen", "independência de Taiwan", "Falum Gong" (movimento religioso crítico) ou "Xianjiang" (província onde vive uma larga minoria de oito milhões de muçulmanos, longínquos descendentes do antigo império otomano).

Os problemas do espaço territorial chinês, à semelhança do que acontecia no interior da ex-URSS, são muitos e delicados. Para além dos movimentos cívicos, culturais e religiosos, e de Xiangiang, ainda há a província da Mongólia exterior, o Tibete e Taiwan. Tudo concorre para a melhor justificação que agora a censura tem a "protegê-la": a desculpa da segurança. É por isso, também, que na China as transmissões televisivas dos Jogos irão ser vistas com um atraso de dez segundos em relação ao resto do mundo. É o tempo necessário para proteger os olhos chineses de qualquer protesto, de uma alteração da ordem ou mesmo de um acto terrorista sobre o qual o poder não possa antes raciocinar.

2. Mais do que as atitudes do regime chinês, onde coexistem o capitalismo mais selvagem e o espólio da defunta revolução cultural socialista, torna-se igualmente necessário salientar a atitude cada vez mais corrente das grandes empresas ocidentais, que na sua ânsia de globalizar os lucros, julgam poder ter sempre o melhor dos dois mundos, ou seja, conquistar consumidores em todo lado e a qualquer preço.

É também isto que está a desequilibrar a economia mundial.

De um lado há regras, do outro elas não existem (políticas, laborais, ambientais, cívicas e humanas). E no meio proliferam as empresas que, se não devem ser alvo do chamamento do poder político, devem perceber que serão no futuro vulneráveis a fenómenos de cidadania. Quem tem medo de poder ficar de fora da conquista do mercado chinês deve igualmente sentir receio de perder os consumidores que sempre dá por adquiridos.

Há exemplos de como estas coisas funcionam. O champanhe e os perfumes sofreram com os testes nucleares franceses nos atóis do Pacífico. A cava catalã deu-se mal com as reivindicações demasiado agressivas da Catalunha em relação ao estado central espanhol. Os produtos e o turismo norte-americanos sentiram o unilateralismo de George W. Bush.

Há-de chegar o dia em que também as multinacionais vão ter de enfrentar esta crescente consciência crítica colectiva. É uma questão de tempo.


DN, 2-8-2008
 
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