01 abril, 2007

 

1 de Abril


Dia da mentira

http://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_da_mentira

Museu das petas:

http://www.museumofhoaxes.com/

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MENTIRA E DIREITO À VERDADE

Anselmo Borges
padre e professor de Filosofia

Quando se reflecte sobre a mentira, é difícil não vir à mente o famoso paradoxo de Epiménides. Diz um cretense: "Todos os cretenses são mentirosos." Sendo cretense, também ele mente. Então, a sua afirmação é verdadeira ou falsa?

Pessoalmente, também lembro uma estória que um jesuíta me contou. Ah! o céu vai ser a coisa mais fabulosa que possamos imaginar. Mas, nos primeiros dois-três dias, no fim do mundo, antes da entrada no céu, quando Deus começar a entregar os filhos aos verdadeiros pais e o dinheiro aos verdadeiros donos, portanto, quando se repuser a verdade, que confusão!...

Afinal, independentemente do paradoxo do cretense, todos mentimos. Mentimos às crianças e ensinamo-las a mentir, com este resultado caricato: "O pai disse para dizer que não está em casa." O miúdo acha que a tia é feia e diz-lho na cara, mas é claro que vai ser repreendido.

Se uma mulher gorda nos pede a opinião - "Estou gorda, não estou?" -, vamos aliviá-la: "Nem pense nisso!"

Imaginemos que uma bela manhã todos se levantavam com a decisão firme de, fossem quais fossem as circunstâncias, dizerem na cara dos colegas, dos amigos, dos vizinhos, dos superiores hierárquicos, dos amantes, dos companheiros de viagem em comboios e autocarros, dos imbecis, dos governantes, fosse de quem fosse, o que verdadeiramente pensam deles. O que seria a vida social sem algumas mentiras ou, pelo menos, sem a omissão da verdade nua e crua?

Os políticos! Desses diz-se que têm como condição de sobrevivência mentir.

Depois, há sempre o que não é conveniente...

E é assim que a verdade raramente se diz, pelo menos toda. Porque realmente não é conveniente: nem na política, nem nos media, nem no sexo, nem aos amigos - Pascal escreveu que, se os amigos soubessem o que os amigos dizem deles na sua ausência, talvez não restassem no mundo mais do que dois ou três. O que pensam e dizem realmente de nós os nossos amigos? Quereríamos saber?

Todos mentimos. Há, porém, mentiras e mentiras. Tomás de Aquino distinguiu entre mendacium - mentira - e falsiloquium - não dizer a verdade a alguém que não precisa de sabê-la ou não tem o direito de sabê-la. No limite, pode acontecer que mentir seja uma obrigação moral. Se um assassino procura um inocente para matá-lo, deve-se mentir quanto à sua localização. O detentor da chave do segredo para desencadear a guerra nuclear deverá mentir ao terrorista que a exige...

A mentira não se refere imediatamente à verdade, mas à veracidade: dizer a alguém o contrário do que se julga ser verdade, com a intenção de enganar. Aprofundando mais, deve-se acrescentar: não dizer a verdade a alguém que tem o direito de sabê-la. M. Onfray escreveu que nunca se deveria mentir, fossem quais fossem as consequências, como exige Kant; mas, se Kant tem razão em princípio, esse princípio é na realidade não vivível, impraticável; por isso, aceita a definição de mentira como "o facto de não dar a verdade, sem dúvida, mas só a quem é devida". Uns têm direito a ela, outros não: por exemplo, um nazi que procurava um judeu para matá-lo não tinha o direito à verdade. Deve-se distinguir "a mentira prejudicial, impura, a que procura um engano destinado a submeter o outro, a limitá-lo, a evitá-lo, a desprezá-lo, e a mentira para ajudar, limpa, chamada por alguns mentira piedosa, a que cometemos, por exemplo, com a finalidade de poupar sofrimento e dor a uma pessoa querida".

Em Portugal, quando se olha para as promessas incumpridas dos políticos, jogos obscuros na banca, subterfúgios à procura da localização de aeroportos, uma política de saúde que fecha maternidades e urgências e descura pobres e velhos, o caos na justiça, um leque salarial gritantemente indecoroso, previsões inverdadeiras da inflação e outras infindas manobras com corrupção activa e passiva à mistura, tem-se a sensação de que se avança em terreno minado pela mentira, com uma democracia perplexa, triste e quase impotente. Quando os portugueses têm direito à verdade.

DN, 19-1-2008
 
HOMENS MENTEM MAIS QUE AS MULHERES

LICÍNIO LIMA

"Mentir não é só dizer aquilo que não é. É também, e sobretudo, dizer mais do que aquilo que é e , do que diz respeito ao coração humano, dizer mais do que se sente. É isso que fazemos todos, todos os dias, para simplificar a nossa vida."

A expressão é de Albert Camus, escritor francês do século XX, também jornalista, um dos autores que mais pensou o absurdo. Neste caso, o absurdo da mentira neste dia 1 de Abril, exaltado desde 1564 porque, não raras vezes, também torna a vida bem mais suportável.

Segundo um estudo feito pela companhia britânica Beverage Brands, todas as pessoas mentem cerca de quarto vezes por dia. Quando alcançam os 60 anos de vida, já mentiram pelo menos 88 mil vezes. Como muitos previam, os homens mentem mais vezes do que as mulheres. Em média, os homens mentem cinco vezes por dia, ao passo que as mulheres o fazem apenas três.

Sendo assim, seria mais lógico que existisse, antes, o dia da verdade. Sir Winston Churchill dizia que "uma mentira dá meia volta ao mundo antes que a verdade tenha tempo de se vestir". Merecia, pois, um dia de consagração. Mas também é certo que, "qualquer um, pode dizer a verdade, mas é necessário um espírito hábil para dizer uma boa mentira", como referiu Samuel Butler.

O certo é que, nascidos para a verdade, porque só a verdade liberta, lê-se na Bíblia, a mentira está enraizada no ser humano e ajuda a sobreviver.

"Estou contente por te ver". Quantas vezes esta expressão não é acompanhada de um sorriso amarelo... Os 'chicos espertos' preferem: "Voltei a a esquecer-me da carteira, desculpa". Ou uma mais sarcástica: "Não atendi porque não ouvi o toque do telemóvel". Ou, então: "Fiquei sem bateria".

Di zia Albert Camus: "Uma pessoa que eu conhecia costumava dividir os seres humanos em três categorias: aqueles que preferem nada ter a esconder de modo a não serem obrigados a mentir; aqueles que preferem mentir a não poderem esconder nada; e, finalmente, aqueles que gostam de mentir e esconder". Há, no entanto, quem defenda a mentira por amor. Porém, há quem diga: "Uma pessoa que minta por ti também mente contra ti".

Sendo assim, "a melhor política é dizer sempre a verdade, a não ser, claro, que sejamos uns excepcionais mentirosos", como também defendia Jerome K. Jerome. E acreditar nas palavras, como o filósofo Friedrich Wilhelm Nietzche: "As convicções são mais perigosas para a verdade do que as mentiras". Mas sempre escaparão as mais piedosas das inverdades: "Hoje trabalho até mais tarde"; "Ligo-te depois"; "Temos de nos encontrar novamente". "Claro que te amo".

A mentira sempre está presente no ser humano. Mas, o Dia das Mentiras é, sobretudo, um dia de brincadeira. Com partidas que podem ser bem interessantes, como as que pregou o DN ao longo dos anos.

DN, 1-4-2008
 
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