22 abril, 2007

 

22 de Abril


Dia mundial da Terra


http://pt.wikipedia.org/wiki/Terra

http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=814&op=all

2008, ano internacional da Terra:

http://portal.icn.pt/ICNPortal/vPT/Noticias/Files/Terra.htm?res=1024x768

E para ir vendo se até lá não destruimos tudo:

http://www.breathingearth.net/

Comments:
Mudanças no clima ameaçam de extinção 37% das espécies

RITA CARVALHO

Há ursos-polares a morrer de fadiga porque têm de nadar grandes distâncias até encontrarem um bloco de gelo para descansar. Eis um exemplo concreto do impacto das alterações climáticas na sobrevivência das espécies. Em Dia Mundial da Biodiversidade, a ONU alerta para as perdas naturais desencadeadas pelo aquecimento global. E estima que, até 2050, 15 a 37% das espécies do planeta possam deixar de existir.

O desequilíbrio provocado pela intervenção humana já vem sendo alvo de alertas nos últimos anos, pois a degradação dos habitats está a ser mais rápida do que a capacidade de regeneração do planeta. Mas as alterações do clima estão a acelerar este desaparecimento de animais e plantas. Ao ponto de, actualmente, as Nações Unidas afirmarem que a cada dia se extinguem 150 espécies no mundo. Por ano, atingem-se perdas entre as 18 mil e as 55 mil.

"Estamos a experimentar a maior onda de extinções depois do desaparecimento dos dinossauros", afirmou Ahmed Djoghlaf, secretário-executivo da Convenção para a Diversidade Biológica da ONU. Pior: os efeitos das alterações climáticas serão maiores nos países mais vulneráveis, mesmo sendo estes os que menos contribuem para o aquecimento global.

Os estudiosos investigam agora o impacto do aumento da temperatura, da subida do nível do mar e dos fenómenos como as secas, as cheias ou os fogos. As conclusões são desoladoras. Segundo um estudo de 2004 feito em 1103 espécies de seis zonas ricas em biodiversidade, se houver um impacto moderado das alterações climáticas, em 2050 as perdas podem atingir os 37%. Da investigação "Evolução dos Ecossistemas do Milénio", saiu outra mensagem clara: a degradação progressiva das espécies pode ter consequências desastrosas para a humanidade nos próximos 50 anos.

Em Portugal, os dados disponíveis constam do Livro Vermelho dos Vertebrados, publicado em 2004 pelo Instituto de Conservação da Natureza. E referem que 40% das espécies animais estão ameaçadas. Nesta lista, e com vários níveis de ameaça, estão o lince-ibérico, o saramugo, o priôlo e o morcego.

Na Europa, um em cada seis mamíferos está em risco de extinção, revelou também ontem a União Mundial para a Conservação. Por isso, alertou o comissário europeu para o Ambiente, o desafio fixado de estancar esta perda até 2010 é enorme.|

DN, 23-5-2007, pág. 13
 
O homem e a Terra: questão de ter futuro

A pretexto do Dia Mundial da Terra, que amanhã se celebrará, a edição de hoje do Diário de Notícias é atravessada por uma série de trabalhos jornalísticos cujo denominador comum são as preocupações ambientais e a preservação do planeta.

Hoje, felizmente, estes temas começam já a absorver a atenção das pessoas em todo o mundo, nomeadamente a das novas gerações. E é urgente que assim seja para reverter esta tendência do aumento da poluição, do abuso das energias fósseis, do desperdício da água - e, sobretudo, das consequências que um inadequado comportamento humano produz na planeta.

O século XXI será com certeza dominado, até do ponto de vista do debate político, por estas temáticas que no fundo se relacionam com a qualidade de vida de todos nós. A comunicação social, como as empresas, tem aqui um papel importante numa reflexão geral, permanente, sobre este tema e daí a certificação de Carbono Zero que exibiremos durante toda a semana que agora começa.

A temática relativa ao ordenamento do território, tão cara ao arquitecto Ribeiro Teles, que nos ajudou à elaboração desta edição, está igualmente patente nas nossas páginas. E o que se fala quando se invoca o ordenamento do território? De coisas ao mesmo tempo simples e complexas que se prendem com relação coerente entre o espaço urbano e o rural, a necessidade de suster a pressão do imobiliário que se vai traduzindo, por um lado, num crescimento irracional do betão e, por outro, na destruição sistemática da paisagem rural e no abandono da agricultura, consequência do desaparecimento das aldeias, do despovoamento do território.

É também o modelo urbanístico que está em causa e deve ser alvo de uma reflexão profunda com tradução em planos directores municipais equilibrados e amigos de uma relação saudável do Homem com o meio ambiente.

Não podemos ignorar que o fenómeno urbano que avassala todos os continentes permite antecipar que em 2050 vivam em cidades 6 mil milhões de pessoas.

Não haverá no futuro vida de qualidade se o Homem continuar a ter como prioridade o desenvolvimento económico a qualquer preço, sem respeitar os níveis de CO2 que despeja na atmosfera à revelia do Protocolo de Quioto.

O mundo mais desenvolvido industrialmente, que chegou ao estado em que se encontra depois de um século XX que depauperou as reservas de combustíveis fósseis, tem de saber negociar com a China, a Índia, o Brasil e demais potências que esgrimem com alguma lógica as respectivas necessidades.

E sempre com uma certeza: a preservação da Terra passa por todos os dias reavaliarmos os nossos gestos e as nossa opções.

DN, 21-4-2008
 
Viagem ao interior dos "Verdes" portugueses

JOÃO PEDRO HENRIQUES

O Partido Ecologista os Verdes (PEV) nasceu em 1982, nunca teve vida eleitoral própria nem para a mais ínfima das juntas de freguesia. Sempre surgiu coligado com o PCP, primeiro na APU (Aliança Povo Unido) e agora na CDU (Coligação Democrática Unitária)

Contudo, não exclui que isso venha a acontecer. "Até podemos ter um candidato presidencial próprio", disse ao DN José Luís Ferreira, membro da comissão executiva do partido, membro da Assembleia Municipal de Lisboa e, também, - ou sobretudo - o funcionário que comanda a vida na sede do partido, em Lisboa.

Ferreira recorda: o PEV sempre se coligou com o PCP. Contudo, nas eleições presidenciais, não é automático que apoie o candidato apoiado pelos comunistas.

Em 1991, quando Mário Soares se recandidatou à Presidência da República, o PCP fez avançar Carlos Carvalhas. Nessa altura o PEV decidiu não apoiar ninguém, dando liberdade de voto aos militantes e apoiantes.

Dez anos depois, em 2001, na recandidatura de Jorge Sampaio, o PCP apresentou António Abreu. Os "Verdes" apoiaram de imediato Jorge Sampaio.

Daí que o dirigente e funcionário admita a possibilidade de um dia o partido ter um candidato próprio. Com algumas reservas: "É uma eleição que exige uma estrutura que não temos".

Os "Verdes" sempre se coligaram com o PCP - foram até considerados, desde o início, uma invenção dos comunistas, por isso chamados de "melancias" (verdes por fora, vermelhos por dentro). Heloísa Apolónia, deputada na AR, garante que "há respeito mútuo".

E que a coligação acaba por ser "algo mais" do que a soma dos dois partidos. "Um mais um igual a três?", pergunta o DN. "Sim, é isso." Acrescentando: "O objectivo eleitoral não tem de ser o objectivo primeiro."

José Luís Ferreira admite, contudo, alguns constrangimentos desta espécie de aliança permanente: "Admito que possa haver pessoas que não se juntam aos Verdes por estarmos coligados". Mas isso será, no seu entender, um fenómeno residual.

O que interessa é que "a coligação é vantajosa para todos". E o problema da legitimidade eleitoral inexistente não se coloca: "As coligações são legais. Acha que o PCP não tem legitimidade eleitoral por aparecer sempre coligado?"

Heloísa Apolónia explica porque o PEV não se candidata solitariamente a legislativas ou autárquicas: o sistema está "bipolarizado" e por isso "afunilado", pelo que seria "muito difícil" que o partido se conseguisse afirmar.

Os "Verdes", garantem estes dois responsáveis do partido, são "responsáveis" por grande parte da crescente "consciencialização ambiental" do país. José Luís Ferreira dá um exemplo prático: no Parlamento só se usa papel reciclado por causa de uma resolução do PEV aprovada há dez anos.

Mas a "chave" do futuro, acrescenta, "a chave são as crianças". "São os miúdos que mandam em casa", diz, explicando que é muito por influência deles que os pais agora separam o lixo.

Por isso a insistência do partido em fazer campanhas de divulgação junto a escolas.

Orgulhoso, José Luís Ferreira conta que em dois anos o partido passou por 261 escolas do país inteiro distribuindo um folheto intitulado "Stop às alterações climáticas". É um folheto que dá instruções práticas partindo da regra dos três "R": reduzir, reutilizar, reciclar.

As alterações climáticas são, no dizer do dirigente, a principal causa, agora, do PEV. Mas não só. Há prioridades políticas internas de curto-prazo em que o partido se promete aplicar a fundo.

Por exemplo: o plano do Governo para construir nove barragens novas. José Luís Ferreira afirma: "Os ganhos em produção energética são mínimos, 0,3 por cento. Não compensam as alterações no património e nos ecossistemas."

DN, 21-4-2008
 
Quando Sócrates defendeu o nudismo

19 de Abril de 1988. Um jovem deputado do PS pede a palavra no plenário da Assembleia da República. Vai fazer o seu primeiro discurso sobre uma questão nacional (meses antes tinha falado sobre questões orçamentais relativas ao seu círculo eleitoral). O que estava em causa era um projecto-lei dos "Verdes" legalizando a possibilidade da prática do nudismo.

Disse o jovem deputado que "esta prática tem tido um enorme desenvolvimento na Europa e no mundo" dado o "progressivo reconhecimento" das suas "vantagens para a saúde física e mental" e para um "desejável equilíbrio emocional". Além do mais "liberta" as "mentalidades de complexos de moral sexual retrógradas e bloqueadoras".

E, como se isso não bastasse, "acentua a unidade rica e perfeita do corpo e do espírito". Algo, enfim, só ao alcance de pessoas com "elevada consciência cívica e ecológica".

Por causa deste discurso, o jovem deputado em causa - José Sócrates, de seu nome - foi notícia em todos os jornais. O projecto dos "Verdes" que defendera em nome do PS tinha conseguido vencer as resistências da maioria PSD. Foi aprovado. Um dia histórico para o naturismo nacional, ao qual o actual primeiro-ministro viu o seu nome associado, do lado dos que ganharam. Herculano Pombo, na altura deputado dos "Verdes", foi um dos autores do projecto.

A legalização do nudismo foi uma marca da sua passagem por aquele partido. Herculano Pombo voltaria a ser notícia - e ele e vários outros militantes do partido - dois anos depois. No início dos anos 90, os "Verdes" portugueses viveram a sua mais profunda crise. À volta de cem militantes bateram com a porta. Herculano Pombo, Maria Santos, muitos outros. Uns rumaram ao PS, outros afastaram-se. O que esteve na origem da crise foi a mais que óbvia questão da autonomia dos "Verdes" face ao PCP. Os que saíram queriam o partido com vida própria, arriscando ir solitariamente a votos; os que ficaram queriam manter a coligação. Ganharam estes. Em Setembro de 1990, Maria Santos ainda ensaiou uma candidatura presidencial. À última hora recuou.

Hoje os dissidentes de 90 preferem não falar dos "Verdes". Foi uma página dolorosa nas suas vidas. Herculano Pombo passou de deputado do partido a deputado independente e chegou a ler num jornal que tinha "roubado" dois mil contos ao PCP (percebeu-se depois que esses dois mil contos eram a verba que o partido tinha deixado de receber pelo facto de os dois parlamentares ecologistas terem passado a independentes). Pombo e Maria Santos ligaram-se depois ao PS. Hoje estão ambos afastados de qualquer vida partidária.

Em "Foi assim", Zita Seabra contou que os "Verdes" foram, em 1982, uma criação da cúpula do PCP, com envolvimento directo de Álvaro Cunhal. Ela própria, Zita, na altura ainda militante (seria expulsa em 1988) teve essa tarefa.

DN, 21-4-2008
 
VISTOS POR DENTRO

João Pedro Henriques
jornalista

Já passaram 20 anos. Mais, até. Como muitos no jornalismo político, já gostava da política antes do jornalismo. Era de esquerda e não me revia nem no PS "cata-vento" de Soares nem na ortodoxia leninista do PCP (tinha tido contacto directo com essa ortodoxia nas guerras das associações de estudantes na escola secundária que frequentava, Belém-Algés). Tentei a militância nos "Verdes". E as coisas são como são: a figura envolvente da deputada Maria Santos (entretanto dissidente) não foi alheia à tentação. A "coisa" começou com um amigo de escola, o Pedro. Foi a minha "ligação". E os tempos eram muitos interessantes: algures no segundo semestre de 1985, período de intensa campanha eleitoral para as presidenciais que viriam, em Fevereiro do ano seguinte, a eleger Mário Soares. Já me sabia um eleitor de Maria de Lurdes Pintasilgo. Os "Verdes", sendo uma extensão do PCP, apoiavam Salgado Zenha. Entrei no partido com a firme convicção de que seria possível mudar o seu sentido de voto, levando-os a apoiar Pintasilgo.

Os"diálogos" foram mais ou menos assim:

- Sobre as presidenciais...

-Isso já está decidido! Vamos apoiar...

- ...Mas julgo à mesma que deveríamos discutir! Se bem percebi nada foi discutido...

- Foi! E está decidido! Vamos apoiar...

- Eu sei quem vão apoiar! Trata-se de um erro grave para os Verdes apoiarem esse candidato! Se...

- Está decidido, não há nada para discutir!

- É um erro grave! As pessoas em Portugal sensíveis à questão ecológica não se revêem de todo em Salgado Zenha. Se alguém representa...

- Está decidido!

- Não acabei! Se alguém representa a parte do país mais sensível à questão ambiental, esse alguém é a candidata Maria de Lurdes Pintasilgo!

- Está decidido! É o Zenha!

Saí tão depressa como entrei. Convicto, finalmente, que os "Verdes" eram mesmo, como dizia a maledicência, os "melancias": verdes por fora e vermelhos por dentro. Rumei a outras paragens. Até chegar ao jornalismo.

DN, 21-4-2008
 
Carbono não obrigou empresas a mudar

ANA SUSPIRO

O mercado do carbono, a funcionar em regime experimental desde 2005, pouco mudou na gestão da maioria das empresas portuguesas.

Das cerca de 200 instalações industriais que receberam licenças grátis para emitir gases, poucas terão tido necessidade ou de reduzir as suas emissões ou de ir à bolsa comprar créditos para cobrir défices de licenças. Também poucas terão sido as sociedades a perceber e a aproveitar a oportunidade de negócio da transacção de licenças excedentes.

Nas contas de Eduardo Marcos da Sedeco, sociedade com sede em Barcelona que transacciona na bolsa do carbono, as empresas nacionais terão perdido cerca de 50 milhões de euros em receita no triénio 2005/2007 por não terem vendido as licenças excedentárias que tinham face às suas necessidades de emissões quando o preço estava mais alto. Nestes três anos, entre 50% a 80% das licenças que constituem o mercado potencial em Portugal, entre cinco a seis milhões de toneladas por ano, não foram transaccionadas.

Muitas empresas, PME, mas também grandes empresas cotadas na bolsa não fizeram a gestão deste activo e limitaram--se a esperar pelo final do período de validade da licença. Só que quando este chegou, no final do ano passado, os preços caíram para cêntimos de euro e não valia a pena vender. A Secil, por exemplo, chegou ao final de 2007 com licenças para 120 mil toneladas com um valor próximo do zero que não negociou. Se tivesse vendido a 20 euros teria encaixado mais de dois milhões de euros.

A atribuição generosa de licenças gratuitas por parte dos governos [que fez disparar o preço em bolsa (ver gráfico)], em nome da defesa da indústria e do crescimento económico, acabou por não passar o sinal correcto às empresas que não sentiram qualquer pressão para reduzir as emissões de dióxido de carbono e mudar a gestão industrial. Esta é uma realidade bem visível na evolução das cotações das licenças de CO2 entre 2005 e 2007, cujo preço por tonelada caiu de 28 euros para cêntimos no final do período.

Para 2008/12, com o Protocolo de Quioto em vigor, o panorama não parece mudar muito. Pelo menos no caso português, porque é dos poucos países da Europa que pode aumentar os gases de efeito estufa face a 1990 por ser pouco industrializado. Mais uma vez em nome do desenvolvimento económico impôs às suas indústrias a redução de apenas 8% nas emissões anuais de CO2. A excepção vai para as indústrias mais poluentes, em particular as eléctricas que são das poucas indústrias que podem passar para o cliente um aumento de custos da electricidade sem perder competitividade. Apesar das licenças já estarem atribuídas, Portugal é dos países que está atrasado no processo de validação e as empresas ainda não podem negociar os seus créditos.

Miguel Costa da Intermoney, sociedade financeira de corretagem que actua neste mercado, não tem dúvidas que as licenças excessivas acabaram por não ter o efeito pedagógico pretendido e como tal falharam o principal objectivo da criação do mercado de carbono que era a redução de emissões. Para além da falta de pressão sobre as empresas para usarem tecnologias mais limpas, o consumidor final também não mudou o comportamento porque o esforço de redução do carbono não fez subir os preços.

Preço do petróleo ajuda

Aliás, reconhece Miguel Costa, a escalada do petróleo terá mais efeito na mudança dos comportamentos de empresas e pessoas, porque o argumento económico acaba por ser o que tem maior racionalidade e poder de influenciar as decisões. Tem sido por isso mais o aumento dos custos dos combustíveis fósseis, que são os que produzem mais gases de efeito estufa, a grande mola impulsionadora das energias renováveis.

Para além de limitado nos seus efeitos, o mercado do carbono também só cobre parte das fontes de emissão de gases de efeito de estufa, indústrias que representam apenas uma parte do CO2 produzido. Outras origens, como os transportes (aviação entrará em breve no esforço controlo de emissões) e a habitação e serviços continuaram a produzir mais carbono. Esta é uma realidade visível em Portugal. Segundo a Quercus, em 2006 o nosso país ficou 13% acima do tecto de emissões de dióxido de carbono permitido a Portugal pelo Protocolo de Quioto que nos permite produzir mais 27% de CO2 que em 1990.

DN, 21-4-2008
 
Renováveis com mais energia

ANA TOMÁS RIBEIRO

O recurso a fontes inesgotáveis de energia, que a natureza nos dá, como o sol, o vento, e as ondas para produzir electricidade, reduz custos de emissões de CO2, a dependência dos combustíveis fósseis e melhora o ambiente. Mas só nos finais dos anos 90, início desta década, os ventos começaram a soprar a seu favor em Portugal. A União Europeia exigiu metas mais ambiciosas aos Estados-membros, quer para a produção de electricidade a partir de fontes renováveis quer para a redução de emissões de dióxido de carbono. E o aumento do preços do petróleo e do gás natural nos mercados internacionais, a partir de 2002 também ajudaram ao seu desenvolvimento.

Por isso, Portugal, como um dos países da UE mais dependente do petróleo e um dos mais atrasados em renováveis, lançou-se numa verdadeira corrida contra o tempo. O Governo de José Sócrates acelerou os concursos para eólicas e agilizou o licenciamento de projectos. Os privados responderam e o balanço é positivo.

No final de 2007, o país ultrapassou a meta estabelecida pela União Europeia para 2010, que prevê a produção de 39% da energia eléctrica consumida a partir de fontes renováveis. Naquele ano, as renováveis já asseguraram 42% da produção. E a potência instalada de energia a partir de fontes renováveis continua a crescer, aumentando de 4 846 MW em 2000, para 7 409 MW no final do ano passado, de acordo com as estatísticas da Direcção Geral de Energia e Geologia. Mas o Governo quer que o país vá além das metas acordadas com Bruxelas. A Estratégia Nacional para a Energia tem como objectivos para o País que a produção de energias renováveis represente 45% do consumo em 2010 e que a incorporação de biocombustíveis utilizados nos transportes aumente de 5,75% para 10%. Esta última meta contribuirá para reduzir as emissões de CO2 no sector dos transportes, aquele que mais contribui para o aumento das mesmas. Os privados consideram que estas metas são "perfeitamente atingíveis".

DN, 21-4-2008
 
Estratégia climática divide países ricos

LUÍS NAVES

A mudança do clima será um dos factores dos conflitos no século XXI, mas a sua ligação com a emissão de gases com efeito de estufa é, só por si, motivo de discussões. George W. Bush opôs-se à ratificação do Protocolo de Quioto, de 1997, e resiste às pressões europeias para cortes voluntários. Os EUA são o país decisivo e qualquer avanço dependerá do seu próximo presidente.

A UE lidera as reduções a nível mundial, pois concordou em fazer, até 2020, cortes substanciais, primeiro 8% abaixo dos níveis de 1990, depois 20%. Isto possui custos elevados e em Março alguns Estados membros afirmaram ter dúvidas. Entretanto, esta semana, Bush, num gesto criticado no Congresso dominado pelos democratas, anunciou uma proposta voluntária sobre as emissões dos EUA: paragem da subida, até 2025.

O Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas afirma que isto não chegará, pois para impedir o aumento da temperatura no planeta terá de haver uma paragem na subida das emissões antes de 2015. Esta organização da ONU divulgou nova estimativa sobre o nível dos oceanos e as perspectivas não são optimistas. Até ao fim do século, o mar pode subir 150 centímetros. Só um metro seria suficiente para deslocar mais de 7o milhões de chineses e 10% da população vietnamita. O Bangladesh, um dos países com maior densidade populacional, perderia um terço do seu território. A alteração dos padrões climáticos pode provocar secas extremas, inundações, fomes localizadas, deslocações maciças de população. Se a camada de gelo do Árctico derreter, haverá consequências geoestratégicas. E a falta de água ou comida agravará conflitos existentes.

Isto torna estranho o passo lento das negociações multilaterais. O Protocolo de Quioto produziu as maiores esperanças, foi ratificado por 175 países e entrou em vigor em 2005, com objectivos definidos até 2012. Mas estes estão distantes, o que dá um argumento à administração Bush, segundo a qual as metas são irrealistas. A outra crítica contesta o facto dos objectivos não serem obrigatórios para países em desenvolvimento, cujas emissões continuam a aumentar. A China, por exemplo, entre 1990 e 2004, aumentou as emissões de dióxido de carbono em 47%. Mas são os EUA o maior produtor deste gás.

A sequência da negociação internacional deverá ter o mesmo passo lento de Quito. Em 2007, em Bali, foi aceite um calendário para a negociação sobre pós-Quioto - a negociação das regras nas emissões de gases com efeito de estufa após 2012. Mas países com taxas de crescimento elevadas (China e Índia) dificilmente aceitarão cortes nas suas emissões. A cimeira de Copenhaga, em 2009, pode ser importante, mas os avanços dependerão do próximo Presidente dos EUA. Um democrata na Casa Branca irá querer avançar com a questão. Mas a redução de emissões é mais fácil quando a economia cresce e a próxima administração irá começar o mandato com uma recessão económica.

DN, 21-4-2008
 
Fenómenos extremos do clima terão alta mortalidade

A 29 de Agosto de 2005, um furacão baptizado Katrina atingiu em cheio o estado norte-americano de Louisiana. Na sua passagem pelo golfo do México, a tempestade crescera depressa e, apesar de estar a perder força, a intensidade com que chegou a terra foi suficiente para destruir os diques que protegiam a cidade de Nova Orleães. As inundações provocaram o caos, que se prolongou durante semanas. Em consequência, morreram 1836 pessoas, na sua maioria vítimas indirectas.

Ninguém pode afirmar que o furacão não aconteceria se não houvesse emissões de gases com efeito de estufa, mas fenómenos como este serão mais frequentes no futuro. Al Gore, o ex-vice-presidente americano, sublinha no documentário que lhe valeu um óscar, Uma Verdade Inconveniente, que não existe relação directa entre o aquecimento global e o Katrina, mas que é necessário reflectir sobre uma ideia que gera a unanimidade na comunidade científica: os fenómenos atmosféricos extremos serão mais frequentes, devido ao aquecimento global.

A mortalidade dos fenómenos extremos é elevada, mas o aquecimento global poderá ter outros efeitos. A Organização Mundial de Saúde acaba de publicar um controverso relatório onde constam números alarmantes. Segundo a OMS, em média morrem por ano 60 mil pessoas em catástrofes naturais e 800 mil vítimas de poluição. A diarreia, consequência de falta de água segura, mata 1,8 milhões de pessoas por ano.

Mas as mudanças no clima prometem criar uma situação muito mais mortífera do que esta. Uma seca localizada pode matar milhões de pessoas. O aumento das temperaturas e da humidade permitirá a expansão de mosquitos e doenças. Na década de 80 deste século, haverá mais dois mil milhões de pessoas em risco de adoecer com dengue. Até 2030, a malária entrará em regiões onde vivem 90 milhões de pessoas.

As vagas de calor também podem matar. Em 2003, houve temperaturas anormais na Europa e calcula-se que tenham morrido 70 mil pessoas com o calor. Portugal foi um dos países afectados, com cerca de dois mil mortos.

L.N.

DN, 21-4-2008
 
Eucaliptos e pinheiros dispararam no último século

CÉU NEVES

A área florestal passou de 1,9 milhões de hectares no século XIX para 3,5 milhões no século XX. É demasiado? Há quem defenda que sim e que o facto se deve a uma má avaliação da capacidade do solo nacional para uso agrícola. Mas está em minoria. Ambientalistas, produtores, industriais e peritos discordam, argumentando que o que falta é uma gestão da floresta nacional.

O último Inventário Florestal Nacional (2005/2006) indica 3,412 milhões de hectares ocupados por espécies florestais, mais 300 mil hectares do que o terreno agrícola. A chamada floresta representa 38% do território , enquanto a agricultura se fica pelos 34%. A situação era diferente no início do século XX, além de que se passou a investir em eucaliptos, o que é mais rentável.

Para o arquitecto Ribeiro Telles, o desinvestimento na agricultura teve por base uma "leitura simplista e directa" da Carta de Capacidade de Uso do Solo (SROA, ver caixa) de 1960. Esta teve como referência o trigo, esquecendo as culturas características da paisagem mediterrânica, como a vinha, o olival e os pomares. E, com o recuo da agricultura, desapareceram as economias agropecuárias de montanha e a população rural migrou.

Pedro Ôchoa, engenheiro e professor no Instituto Superior de Agronomia, contrapõe que a Carta SROA deixou de ter sentido quando Portugal entrou para a UE. E a estratégia europeia é definida em termos da produção e do seu valor no mercado.

A questão comercial fez com que se alterasse a paisagem portuguesa. O pinheiro-bravo e o eucalipto substituiu o carvalho, o sobreiro, a azinheira, o pinheiro-manso e o castanheiro. Mas é de realçar o aumento da produção de sobreiro registado no último inventário, a par da diminuição da de pinheiro-bravo e de eucalipto com graves problemas sociais, já que as afastou as pessoas das aldeias. Uma das explicações tem a ver com os apoios para o cultivo de árvores autóctones. "Não há floresta a mais porque muitos dos terrenos agrícolas não tinham qualidade, nomeadamente no Alentejo, onde os solos eram pobres e houve uma grande erosão quando se começou a investir no cultivo do trigo (anos 30). Agora, cometeram-se muitos exageros ao plantar eucalipto em todo o lado. O eucalipto não é de cá e, não sendo de cá, não existem as espécies que vivem à sua volta, além de que exige muita água", explica José Paulo Martins, da Quercus.

"Portugal investiu em eucaliptos e muitíssimo bem. A necessidade de arborização vem dos finais do século XIX e o eucalipto vem resolver um problema de falta de arborização. Os proprietários viram que havia mercado (o País foi pioneiro na produção da pasta de papel), que as terras tinham um aproveitamento agrícola marginal e a cultura do eucalipto era uma resposta interessante para resolver o problema", argumenta Armando Góis, director-geral da Associação da Indústria Papeleira.

Ricardo Jacinto, presidente da Federação dos Produtores Florestais de Portugal, sublinha: "O que faltou foi adaptar o antigo regime de subsistência, onde a floresta oferecia o mato e a resina. Tudo mudou. Temos vastas zonas sem aptidão económica no contexto actual do mercado, mais vocacionado para a produção da madeira e da cortiça. Mas é preciso conciliar com um esforço de gestão dos recursos que as espécies fornecem e que devem valorizar a regulação dos ciclos de águas."

A falta de gestão dos espaços florestais é o principal problema levantado por todos os intervenientes, o que, dizem, deve ser fomentado pelo Governo e pelas associações. "A floresta tem de ser gerida de forma competente e segundo a realidade económica, cultural e social. Há um défice de aplicação das técnicas de florestação", diz Ôchoa.

Mas a solução passa por contornar a estrutura fundiária nacional, baseada no minifúndio, sobretudo a norte do Tejo, o que dificulta uma intervenção mais global. Mais de 90% das florestas pertencem a privados, a maioria a donos de pequenas parcelas de terreno. Com tal estrutura, é difícil garantir a limpeza das florestas ou o tratamento dos prédios rústicos. O sector "bateu no fundo" em 2003, com o fogo a destruir 425 mil hectares de floresta. Vieram ao de cima os erros e foram accionados planos de prevenção a incêndios. Estes têm vindo a diminuir e, em 2007, arderam 31 mil hectares. Cautelosos, os técnicos alertam que só o futuro dirá qual o real impacto desses planos e se a principal razão dessa redução não terá sido as alterações climatéricas.

DN, 21-4-2008
 
Planos verdes guardados na gaveta

PEDRO VILELA MARQUES

As câmaras da área metropolitana de Lisboa que pediram a elaboração de planos verdes para os seus concelhos não os chegaram a incluir nos planos directores municipais (PDM), ou então deixaram-nos na "gaveta", sem nunca os porem em prática. Dos cinco casos analisados pelo DN, apenas a autarquia de Lisboa incluiu uma estrutura ecológica no seu documento principal de ordenamento do território. Que só agora, passados dez anos, se prepara para cumprir.

Posterior ao projecto de Lisboa, concluído em 1993, o plano verde do Seixal foi o segundo a ser elaborado pela secção de arquitectura paisagística do Instituto Superior de Agronomia (ISA). Iniciado em 1993, o plano foi entregue à câmara em 1996, que nunca o colocou em prática. Para a principal responsável pelo projecto, a arquitecta Manuela Raposo de Magalhães, o caso do Seixal é emblemático da falta de consciência do País para as questões ambientais. Mesmo entre os técnicos. Segundo a professora do Instituto Superior de Agronomia, a autarquia do Seixal "não aproveitou o projecto para nada e não sabe o que fazer com ele devido às forças técnicas", o que ilustra bem a falta de preparação de muitos especialistas em urbanismo para lidar com as questões da ecologia. "Não querendo generalizar, os arquitectos civis, que são quem coordena os planos directores municipais, são pouco sensíveis paras questões ambientais, o que se nota pela falta de cadeiras nos cursos de arquitectura sobre esse tema".

Vizinho do Seixal, e também ele dirigido por um executivo comunista, o município de Almada é o que maior interesse tem demonstrado pela implementação de uma estrutura ecológica. Mesmo que ainda não esteja contemplada no PDM. Entregue em 2006, o plano verde de Almada é caso único na região de Lisboa, pois, como afirmou ao DN Maria Raposo de Magalhães, já tem sido aplicado informalmente ao nível do licenciamento de novas urbanizações, o que demonstra "um maior eco sobre as questões ambientais por parte do executivo camarário, que tem mostrado vontade de colocar em prática o que diz o documento".

Pelo contrário, a Câmara de Loures é apontada como exemplo negativo em relação à falta de vontade de aplicar as medidas previstas pela equipa constituída por técnicos do ISA. O projecto ainda foi encomendado pelo executivo comunista, em 2001, mas com a mudança de cor partidária na autarquia, que passou a ser dirigida pelo PS, "o documento está pronto, foi entregue, mas não sabemos se vai ser convertido em PDM, porque a câmara tem mostrado total desinteresse em relação ao assunto. Não responde aos nossos pedidos de colaboração e nem sequer pagou a última fase do protocolo, mais de cinco mil euros", refere Maria Raposo de Magalhães.

A arquitecta paisagista espera agora que o novo plano verde de Sintra, a ser entregue na próxima semana e que rotula de "fantástico", represente uma nova fase de cumprimento das regras ambientais pelas autarquias. Agora, resta esperar que a mudança de vereação na Câmara de Sintra não comprometa a inclusão do plano verde no Plano Director Municipal do concelho. Para que se inverta a "política urbanística tacanha do País, que gira apenas em torno dos edifícios".

DN, 21-4-2008
 
Ribeira das Jardas devolvida aos moradores do Cacém

KÁTIA CATULO

Sempre que há um "bocadinho de sol", Rafael Sardinha sai da escola, passa por casa para almoçar, pega na bicicleta e segue directo para o Parque da Ribeira das Jardas, no Cacém (Sintra). O programa que o adolescente tem para as suas tardes não é original. Mal chega ao "jardim", descobre que muitos outros tiveram a mesma ideia. "Depois da hora do almoço, isto está cheio de 'cotas', de malta a jogar à bola ou de pessoas que trazem os cães para passear", conta o miúdo de 14 anos que vive em Agualva.

Os colegas de Rafael também aparecem no parque do Cacém todos os dias. Durante a semana, nunca combinam hora e ponto de encontro, porque já sabem onde estão os amigos, que antes se reuniam à entrada do Centro Comercial das Mercês ou no Shopping de Fitares, em Rio de Mouro.

Até há bem pouco tempo, Alfredo Nóbrega, 78 anos, tinha de ir mais longe para conseguir "ler em paz" os diários desportivos: "Apanhava o comboio até Lisboa e depois ainda tinha de viajar de metro até à estação do Rato." Quase uma hora dentro dos transportes públicos para chegar à capital e ter direito a um lugar ao sol no Jardim da Estrela.

Susete Fragoso transformou o novo espaço verde num restaurante ao ar livre. A funcionária do Centro Dietético do Cacém desce todos os dias a Avenida dos Bons Amigos e acomoda-se junto à ribeira para comer a refeição cozinhada em casa: "Não sou a única a fazer isto."

A revolução nos hábitos de quem mora e trabalha nas duas freguesias de Sintra aconteceu da noite para o dia. O parque das Jardas nem sequer foi oficialmente inaugurado - mal as obras acabaram, a população tomou conta do espaço. E este é um dos principais factores que tornou a reabilitação desta zona num "caso de sucesso", explica José Veludo, do ateliê NPK, empresa responsável pelo projecto do Parque Linear do Cacém.

Há cinco anos, quando a equipa de arquitectos paisagistas começou a trabalhar no projecto, a ribeira nem sequer estava ao alcance dos moradores. Uma muralha de habitações tapava o curso de água, que era um "autêntico esgoto a céu aberto", recorda José Veludo. Foi necessário demolir as casa construídas em leito de cheia para dar lugar ao único parque urbano que, desde Dezembro de 2007, serve os 70 mil habitantes do Cacém e de Agualva.

A obra, uma das prioridades do programa Polis no Cacém, não é só um lugar de lazer. O projecto da NPK conjugou ainda estratégias para controlar as cheias e para repor a biodiversidade da flora. Não significa isto que as inundações sejam parte do passado, pois essa é uma missão impossível: "Agora a zona pode inundar, mas não ao ponto de pôr em risco a segurança das pessoas e dos seus bens", diz o arquitecto, esclarecendo que o parque foi projectado de forma a retardar a entrada das águas que chegam do Cacém e de Agualva.

Resta acrescentar que os custos de manutenção dos 40 mil metros quadrados de espaço verde são reduzidos, porque 60% da área dispensa rega ou fertilizantes: "A maior parte do parque é constituído por zonas herbáceas que não requerem cuidados permanentes."

DN, 21-4-2008
 
RECURSO PRECIOSO

Ário Lobo de Azevedo
professor universitário

O solo, recurso natural que o homem, desde os primórdios da humanidade, tem utilizado e explorado, pode ser considerado um recurso natural renovável; isto à escala geológica. Mas à escala humana tem de ser considerado não renovável, uma vez que a taxa de formação do solo é muito pequena, tendo sido encontrados valores da taxa de formação tão baixos como 0,01mm/ano, se bem que cheguem a apontar-se valores tão altos como 1 mm/ano.

Sendo o solo um recurso natural não renovável, é perfeitamente defensável que se procure evitar que os solos potencialmente mais capazes de produzir biomassa venham a ser usados por outras formas de aproveitamento que destruam essa capacidade produtiva, tornando-os praticamente irrecuperáveis para tal finalidade. Daí a criação das reservas: a Reserva Agrícola Nacional (RAN) e a Reserva Ecológica Nacional (REN). A RAN tem sido muito criticada, mas a maior parte das críticas não é desinteressada, pois por trás está quase sempre o desejo de conseguir a desanexação de terrenos incluídos na RAN para lhe dar outra utilização que não a de produção de biomassa. Há também críticas, mas estas sem eco, pois vão contra a corrente, que dizem que a RAN não teve na devida conta nem defendeu, nem de perto nem de longe, os solos agrícolas, pois, devido a uma errada escolha dos critérios, considerou que no "nosso país só existem cerca de 28% de solos com capacidade de uso agrícola, não excedendo 12% os de maior potencialidade" (Decreto-Lei 308/79, de 20 de Agosto). Para se compreender melhor tal afirmação é preciso saber que, por embuste inserido no processo de estruturação do sistema, foi deliberadamente (mas não explicitamente) excluída de ser considerada de uso agrícola a utilização de solos por culturas arbóreas arbustivas, pomares, vinhas, olivais, amendoais, alfarrobeiras e outras culturas pratenses. Escondeu-se sempre esta face do problema através de artifícios dos mais diversos. De acordo com a informação de que hoje se dispõe, pode afirmar-se que em cerca de 40% do território português há solos de qualidade perfeitamente aceitável para utilização agrícola.

Acontece que grande parte dos melhores solos do País, como produtor de biomassa, está a ser sistematicamente destruída pela "betonização".

A RAN, tal como foi estabelecida, não só não considerou protegidas muitas áreas que ali deveriam ter sido incluídas, como a sua estrutura organizativa e os seus normativos reguladores permitem os maiores atropelos à adequada gestão deste recurso natural não renovável. E as desanexações à RAN têm sido feitas ao sabor dos interesses mais díspares, sem razões justificativas para tal procedimento.

DN, 21-4-2008
 
Os outros verdes

FERREIRA FERNANDES

Verde ecologista é o tipo de termo que abafa os restantes, mesmo os outros verdes mais antigos. Este verde tem o efeito do eucalipto (paradoxalmente, tão criticados na propaganda ecológica): os outros verdes à volta definham. Um ecologista diz "os verdes" como um comunista diz "o partido" referindo-se ao PCP, como se, totalitariamente, não houvesse outros verdes e outros partidos. Aqui se vão lembrar, a contracorrente, os outros verdes tão esquecidos desde que a ecologia ficou dona do nome.

Desde logo, o verde que está na bandeira nacional . Aliás, também conhecida por verde-rubra. Deixemos o rubra e ocupemo-nos da parte junto a pau de bandeira: o verde escuro. Apareceu na República (1910) e é quase uma novidade: antes, só uma bandeira nacional (nos cem anos entre D. João I e D. João II) teve verdes: quatro pequenas flores-de-lis, que pertenciam à Ordem de Avis. As bandeiras monárquicas preferiram azul e branco (outro paradoxo: o pai da ecologia portuguesa, o arquitecto Ribeiro Teles, é monárquico). E o verde da bandeira republicana nem apareceu por vagas razões ecológicas (as paisagens minhotas, o esmeralda do mar algarvio...), mas porque o verde e o vermelho eram as cores da loja maçónica republicana que fez a revolta de 31 de Janeiro de 1890.

O verde é a cor simbólica do Islão. O profeta Maomé usava um turbante verde e o Paraíso para os muçulmanos é verde. Os azulejos verdes são comuns nas mesquitas. Por isso também muitos países muçulmanos têm verde na bandeira. Mas nenhum ganha a palma à Líbia , cuja bandeira é uma só faixa de verde.

Outro povo marcado pelo verde são os irlandeses , com o seu culto ao trevo nacional. No dia de St. Patrick, a comunidade irlandesa imigrada nos Estados Unidos desfila nas cidade onde é importante (como Nova Iorque, Boston e Chicago). As ruas americanas, nesse dia, são verdes, dos fatos, chapéus altos e até sapatos. Em Nova Orleães, na parte velha da cidade (French Quarter), atiram-se missangas verdes das varandas. Dos dois clubes rivais escoceses, o Celtic, católico e apoiado pelos emigrantes irlandeses, é o que tem, naturalmente, a cor verde.

No futebol português, equipamento verde é o do Sporting, embora outros clubes (Setúbal, Naval...) também o usem. O outro verde, o dos relvados, só em 1973 se tornou obrigatório na I Divisão. Embora dois clubes, o Belenenses (no campo das Salésias) e o FC Porto (no campo da Rua da Rainha), reivindiquem terem tido o primeiro com relva. Ainda no desporto, o verde é associado ao golfe, embora aí se esconda em palavra inglesa (green). E verde era tradicionalmente o forro das mesas de jogo nos casinos.

Verde é permissão, como ficou simbolizado nos semáforos. E o verde progressista dos ecologistas já foi a cor da camisa da Mocidade Portuguesa, nos tempos de Salazar. Em grego diz-se "chloro", como os mais curiosos já tinham dado conta nas pastas dentífricas com clorofila. Bernardim Ribeiro e Sá de Miranda, cancioneiros antigos, cantavam "os verdes prados". E o pai da poesia moderna portuguesa, dono de uma granja na bucólica Linda-a- -Pastora, trazia a cor no nome: Cesário Verde.

Vinho verde e caldo verde vão bem um com o outro e, com a sobremesa, pode-se beber um verdelho madeirense. Nas verduras é a cor que se quer mas, na fruta, verde traduz o que ainda não está bom, não está maduro. O que permitiu que saltasse da literatura (fábulas de Esopo e La Fontaine), uma frase para a linguagem comum. "Ah, mas estão verdes!" Na alma, traduz maus estados: "verde de inveja" e "verde de raiva". Já a liturgia lê o verde como esperança e põe-no nos paramentos em épocas com esse significado.

Em Branca De Neve e os Sete Anões, Dunga tem os olhos azuis, de ingénuo, Zangado tem os olhos negros, de mau, e a madrasta tem os olhos verdes, traiçoeiros. Isso são histórias velhas: o Shrek é todo verde e é simpático. Também o eterno Robin dos Bosques tem o colete e o chapéu verdes. E, na vida irreal (oh, quanto!), três pares de olhos verdes: Hedy Lamarr, Ava Gardner e Vivien Leigh.

DN, 21-4-2008
 
"Não fazemos parte do problema mas da solução"

RITA CARVALHO

Nunes Correia, MINISTRO DO AMBIENTE, ORD. DO TERRITÓRIO E DESENV. REGIONAL

As políticas ambientais já ganharam o peso que gostava que ganhassem no Governo?

O Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional (MAOTDR) tem uma intervenção transversal que se articula com todas as políticas. Ao contrário do que tem sido dito, temos chumbado muitos projectos e contribuído para que muitos outros sejam concretizados de forma adequada ambientalmente.

Sente-se pressionado no Governo por ministérios como a Economia ou Obras Públicas? Por exemplo, no aeroporto, plano de barragens e turismo?

Não. As políticas do Governo são discutidas em conjunto, tal como devem ser. Não há a política da Economia, a do Ambiente e a das Obras Públicas, mas uma missão comum. Como sempre disse, o Ministério do Ambiente não faz parte do problema, mas da solução. É estéril e completamente ultrapassada a visão do Ambiente como contra-poder. Pelo contrário, o normativo nacional e comunitário atribuem- -lhe um papel central nos processos de decisão. Esse poder tem de ser exercido com responsabilidade e equilíbrio e não para paralisar o País.

Não o incomoda tantas decisões suas serem questionadas em tribunal? Não o faz repensar opções?

Não, o recurso aos tribunais é um dos garantes das democracias e um direito dos cidadãos. Dá-nos satisfação que, na generalidade, os tribunais tenham decidido a nosso favor. As acções a propósito da co- -incineração deram-nos razão.

O que mais gostaria de resolver até ao fim da legislatura?

Gostaria de ver aplicada a Lei da Água em todas as suas vertentes. No Ordenamento, gostaria de deixar, pela primeira vez, o País coberto por Planos Regionais de Ordenamento. No De-senvolvimento Regional, estamos à beira de ter o QREN totalmente montado e em plena execução. O objectivo agora é lançar o programa PROVER, destinado à dinamização de actividades económicas em zonas de baixa densidade fustigadas pela desertificação. O Governo já dá o exemplo? Não podia ter carros híbridos e edifícios eficientes?

O Governo dá o exemplo quando um critério na adjudicação de veículos são as emissões de CO2. Aprovámos a Estratégia das Compras Públicas Ecológicas. Mas é possível ir mais longe e fazer mais.

Qual a acção menos ecológica do seu dia?

Deslocar-me frequentemente de carro devido aos compromissos oficiais. Para minimizar isto, adquirimos um veículo híbrido que está ao meu serviço.

E a mais?

É o somatório de pequenas coisas, como a atenção ao consumo de energia, ou preferir produtos recicláveis.

Recicla o lixo em casa?

Em casa pomos no ecoponto vidro, plástico e papel.

DN, 21-4-2008
 
A QUINTA DE RECREIO

Aurora Carapinha
prof. Univ. Évora

No universo do património paisagístico existente em Portugal destaca-se a Quinta de Recreio pelo número com que surge naquele universo mas, sobretudo, pelo papel que representa na nossa cultura. Nascida no contexto cultural renascentista, rapidamente absorve características da nossa forma de nos relacionarmos emocional e afectivamente com a paisagem. Por isso a consideramos um espaço onde a ideia de jardim na cultura portuguesa melhora se materializa e se sente. Infelizmente a sua localização, a proximidade de centros urbanos, o pouco ou nenhum reconhecimento do seu valor identitário têm contribuído, em muito, para o seu desaparecimento. A Quinta de Recreio é um todo organizado: mata, edifícios, horto de recreio, pomar/horta. É um lugar versátil, onde recreio e produção compartilham o mesmo espaço, invadindo-se mutuamente, estabelecendo relações formais e funcionais. São espaços bucólicos, onde, em áreas confinadas à produção, pontuam elementos arquitectónicos, escultóricos, que definem agradáveis locais de estada, em que sombra, luz, água, aromas e sons se conjugam para criar uma ambiência peculiar. Os locais de recreio são miradouros sobre as áreas de produção e colonizam infra-estruturas funcionais. Caleiras e tanques, revestidos de azulejos plenos de cor, são elementos de ligação e pólos aglutinadores, decorativos e refrescantes entre o recreio e a produção. Pérgolas, caramanchões e casas de regalo polarizados e reflectidos em taças de água, são a sombra de fonte de frescura onde, recatados das vistas no mais delicioso isolamento, se frui uma paisagem longínqua. Vegetação, água, luz e morfologia do relevo são os componentes fortes no desenho da Quinta de Recreio como o são em todos os jardins. Mas, em Portugal, a forma como estes elementos são ordenados, desenhados, determina o surgimento de um espaço onde o ócio e o negócio se conciliam criando um espaço com características únicas. Estes espaços revelam-se como a possibilidade da resolução de uma premência da contemporaneidade, pois eles conciliam aquilo que, hoje em dia, se considera inconciliável; o espaço do recreio e o espaço de produção.

É um património que está a desaparecer e com ele perde-se um lugar de condensação do conhecimento de transformação da paisagem, pela localização, pelas técnicas, pelas práticas, pelo uso, pela inteligência com que se usava o solo, o vento, o sol, o lugar no desenho do jardim em Portugal.

DN, 21-4-2008
 
Energias insustentáveis

LUÍS PEDRO CABRAL

Se o tema é ambiente, o melhor é não falar nos estádios. Os gigantes congregadores de multidões, sejam de adeptos ou de fãs, são verdadeiras máquinas de produção de CO2, autênticos monstros de consumo energético. As soluções ecológicas na maioria dos estádios portugueses ainda não são realidade, sendo que, pela positiva, destaca-se o Dragão (ver peça em baixo) que até já mereceu certificações internacionais.

Na Europa, os estádios alemães, muito por "culpa" de ter sido anfitriã do Mundial de 2006, estão na vanguarda, tal como o Brasil no continente americano. Em Portugal, os estádios que floresceram do Euro 2004, à excepção de Sporting, Benfica e FC Porto, são uma espécie de desertos, sem proporcionalidade entre as dimensões e a assistência média, fontes imparáveis de despesismo, com encargos avultados de manutenção, muitas vezes pagos pelas autarquias. Ou seja, dinheiro dos contribuintes.

Por essas e por outras, os gastos de manutenção dos estádios não são propriamente anunciados aos sete ventos. A informação, ao contrário das despesas, chega normalmente a conta gotas. Um estádio como o municipal de Braga, tem custos de manutenção anuais na ordem dos 700 mil euros, correspondendo grande parte desse bolo à fatia energética. No municipal de Leiria, onde se regista uma das mais pobres estatísticas de assistência média por jogo, as despesas de manutenção ascendem a cerca de um milhão de euros por ano.

Muito desconhecimento

Como se isto não bastasse, os estádios são normalmente maus exemplos de aplicação prática de medidas de protecção ambiental. Os estudos de impacte ambiental directo do funcionamento dos estádios são uma incógnita. Palavras como "arquitectura sustentável" são como palavrões no imenso "futebolês" da nação, mais ocupado na discussão da intensidade das faltas. Nem mesmo as próprias associações ecologistas parecem ter dado grande importância ao assunto. Sobre esta temática, que daria pano para mangas, escasseiam os relatórios, os dados científicos, os números exactos ou aproximados que sejam sobre os consumos dos estádios, no particular ou na totalidade.

É, portanto, um assunto mergulhado em vácuo, que aparentemente ninguém parece muito interessado em discutir, conforme o DN constatou em contactos com algumas associações ecológicas que confessaram o desconhecimento sobre o assunto. Sendo assim, prossegue a política de "desordenamento" que teima em vigorar. O problema não é exclusivo de Portugal. E, evidentemente, também não se restringe somente aos estádios, mas também aos acessos, às instalações destinadas ao público, também em relação aos centros de estágio dos clubes de maior dimensão, que deviam ser os primeiros interessados na adopção destas novas tecnologias, que no horizonte trariam poupança.

Os maiores problemas "ecológicos" que enfrentam os nossos estádios têm a ver com o consumo astronómico de energia eléctrica e de água, que é o bem mais precioso do futuro, mais cara que o seu peso em ouro, muito mais cara que o petróleo.

Um dos "grandes" de Lisboa ou do Porto gasta em média cerca de 250 mil euros em facturas de electricidade e perto de 50 mil euros em contas de água num semestre. E este consumo de energia só é renovável na medida em que se volta a ter que pagar.

Não faz grande sentido, num país onde brilha constantemente o sol - o mesmo país que vai dispôr de uma das maiores centrais fotovoltaicas do mundo -, que a maior parte dos estádios não disponha dessa tecnologia, de colectores solares, e que a própria arquitectura dos estádios não tenha sistemas de ventilação e iluminação directa, que permitam utilizar em menor quantidade a luz eléctrica. Ou, no caso da água, sistemas de captação e reutilização das águas da chuva.

O ambiente agradecia. E, a curto e médio prazo, provavelmente também os clubes ou as autarquias.

DN, 21-4-2008
 
Relvados sintéticos em expansão acelerada

Os pisos do futuro já são presente. Lentamente ou não, a relva sintética está a instalar-se em Portugal, com cerca de 300 rlavdos artificiais já em funcionamento.

Nos clubes de futebol, um sintético garante uma redução nos avultados gastos de manutenção. Não é que a instalação seja mais barata que a de um piso de relva natural. Na verdade, um piso sintético, como o que o Sporting foi inaugurar ao estádio Luzhniki, quando defrontou o Spartak de Moscovo para as competições europeias na época 2006/07, custa entre 300 e 500 mil euros, sendo um um relvado natural não ultrapassa os 200 mil. É na sua manutenção que chega a verdadeira poupança. Um sintético não precisa de ser regado. Precisa apenas de ser escovado, de preferência diariamente. Os custos de manutenção ficam em cerca de dois mil euros por ano.

A relva natural exige outros cuidados e manutenção especializada, que varia de acordo com os climas. A manutenção, por semestre, incluindo litros e litros de água de rega, fica em cerca de 50 mil euros. Outra vantagem do sintético é que suporta temperaturas até 50 graus negativos, onde não há relva natural que resista.

Mas, como em tudo, há críticos. Há os que defendem que a pureza do futebol está em causa com a adopção de pisos sintético, há jogadores que prometem arrumar as botas se os sintéticos proliferarem, há os médicos que referem que os sintéticos são sinónimos de lesões graves, há relatórios mais ou menos científicos que apontam riscos de saúde, como a existência de virus associados aos pisos sintéticos. Porém, este argumentos não têm colhido na UEFA e na FIFA, organismos decisores. E, como os relatórios são como as sondagens, a FIFA apoiou a elaboração de um estudo aprofundado sobre os pisos sintéticos e a sua relação com o espectro da lesões, cavalo de batalha dos "inimigos" do artificial. Este estudo, conduzido por especialistas suecos, chegou a conclusão que os sintéticos "de última geração" são mais seguros para os jogadores. Acompanhando 500 jogadores em mais de 80 mil horas de competição, o número de lesões é inferior à média que se regista num piso de relva natural. Naturalmente, a FIFA usou este estudo para acelerar a sua implementação, apesar de ser sobejamente conhecido, por exemplo, que uma queda num sintético, por ser uma superfície quente, fere muito mais do que em relva natural.

Um outro problema inerentes à utilização de pisos sintéticos tem a ver com os níveis de humidade. A acumulação de humidade provoca o aparecimento de micro-organismos e a possível existência de vírus associados a estas condições - facto que taé levou à pribição destes pisos em parques infantis. Tudo devido à incapacidade evaporação, visto que o próprio tapete sintético funcionava como bloqueador. O piso não permite a inflitração e circulação das águas fluviais. Os especialistas em pisos sintéticos, porém, também já desenvolveram soluções para este problema, que passam por assentar os pisos artificiais numa estrutura absorvente, com uma camada de granulados e cimento colante, em vez do tradicional alcatrão.

Mas a FIFA e a UEFA, rei e rainha do futebol, já deram várias demonstrações de luz verde, verde sintético, entenda-se, para a adopção de relvados artificiais nas competições ao mais alto nível. O próprio governo português, em finais de 2006, fez anunciar o programa "Primeiro Relvado", cujo objectivo era o de instalar relvados sintético em 80 munícipios em Portugal. A esmagadora maioria dos municípios aderiu. Por uma razão muito simples: a vantagem entre um pelado, que no inverno se transforma em piscina de lama, e um relvado sintético não precisa de ser explicada.

L.P.C.

DN, 21-4-2008
 
Não há medida para o impacto da cultura no ambiente

ISABEL LUCAS

Foi notícia quando o escritor José Saramago decidiu que a edição no Brasil do seu romance As Intermitências da Morte fosse totalmente em papel reciclado. Foi notícia quando a escritora J.K.Rowling, autora da saga Harry Potter, quase boicotou a edição na Suécia do sétimo e último volume da colecção por a sua editora naquele país não estar a cumprir as instruções que dera: a de que o papel usado na impressão do livro obedecesse às normas do FSC (Forest Stewardship Council) indicadas pelo Greenpeace. Foi ainda notícia o número de árvores que deixaram de se abater por se decidir que um livro de Harry Potter fosse publicado em papel reciclado no Canadá, país onde, desde o ano 2000, foram impressos mais de seis milhões de livros naquele tipo de papel.

Os exemplos começam a ser cada vez mais e o espaço dado à notícia sobre edições verdes vai sendo proporcionalmente menor. Como Saramago ou Rowling, escritores como Margaret Atwood, Isabel Allende ou Alice Walker aderiram à ideia de imprimir os seus livros em papel reciclado ou parcialmente reciclado. Sinal dos tempos?

Por cá, como em qualquer assunto que tenha a ver com o mercado dos livros, não há números oficiais e não estão feitas as contas às edições que resultam do reaproveitamento de papel, nem mesmo ao volume de exemplares que todos os anos são colocados à venda, seja em que papel for. Ao contrário do que acontece, por exemplo, em Espanha, país onde há dois anos mais de 450 mil livros foram impressos em papel reciclado ou certificado pelo FSC. Aqui, resta trabalhar os poucos dados que existem. Na Valorsul, entidade que tem a cargo o tratamento de resíduos sólidos urbanos de cinco concelhos da área de Lisboa (Loures, Amadora, Odivelas, Lisboa e Vila Franca de Xira), a entrada de papel/cartão não-embalagem (onde se inclui o livro, jornal, cadernos...) representou 55% do total de papel/cartão retomado. Ainda relativamente ao ano de 2007, e tendo por base esta percentagem, a quantidade de papel/cartão não-embalagem enviado para reciclagem foi de 17 641 toneladas. Isto, sublinhe-se, apenas na área de intervenção da Valorsul.

E se uma tonelada deste tipo de papel equivale a três toneladas de madeira... Façam-se as contas. Corresponde a qualquer coisa como 52 923 toneladas de madeira.

A contabilidade é apressada, simplista. Não tem em conta uma quantidade importante de variáveis, como por exemplo, quanto deste papel já era reciclado, mas dá uma ideia do impacto que pode ter no ambiente uma simples edição equivalente à de um título como O Segredo, de Ronda Byrne, - o livro mais vendido em Portugal, em 2007, com uma circulação de 350 mil exemplares.

Os números mundiais alarmam e os técnicos do Greenpeace apelam cada vez mais à reciclagem, revelando que entre 2003 e 2004 era destruída por minuto, na floresta amazónica, uma área equivalente a seis campos de futebol, ou seja, mais de 26 mil quilómetros quadrados de floresta num ano. Esse impacto só se diminui reciclando. A Greenpeace deu o exemplo de Rowling que, ao editar um volume da sua saga em papel reciclado, poupou mais de 28 mil árvores e impediu a libertação na atmosfera de 1,2 milhões de gases poluentes.

DN, 21-4-2008
 
A primeira digressão com preocupações ecológicas

DAVID PINHEIRO

Tudo começou há anos, quando André Sardet foi a casa do avô e o viu a separar o lixo: latas para um lado, jornais para o outro. Envergonhou-se e nada disse. Estava dado o "clique ambiental" na sua cabeça. "A partir daí, procurei saber mais sobre o assunto e comecei a ter preocupações".

No ano passado, e em plena época alta de concertos, o músico constatou que se "enchiam depósitos a cinco ou seis carros, os espectáculos eram promovidos com cartazes e, no final, o recinto estava cheio de garrafas". O útil juntou-se ao agradável e o interesse pelo ambiente foi posto em prática. Estava em curso o que viria a ser "um novo conceito".

No início deste ano, a digressão que André Sardet realizou por diversos auditórios foi justamente baptizada de Eco Tour. "Há 25 mil espectáculos por ano que movimentam 8,8 milhões de pessoas. A música tem um grande potencial de comunicação", assume. A partir daí, "cartazes só com papel reciclado, o plástico deixou de ser usado, todos os recintos foram obrigados a ter ecopontos, as pilhas foram proibidas, os carros alugados passaram a ser escolhidos em função do nível de emissão de CO2, o sistema de luzes foi reduzido e readaptado, de modo a gastar um terço da energia". Até os contratos passaram a ser assinados em papel reciclado. "Ninguém se queixou nem deixou de me contratar por causa destas regras".

Os resultados foram "óptimos" nas palavras do cantor. Em cada visita a uma cidade, Sardet fez questão de dar a cara em sessões de esclarecimento com alunos de escolas secundárias. "Quis ir ao encontro de jovens de diversas faixas étarias. Jogávamos à reciclagem e eu explicava o que era o aquecimento global". Mas nem tudo foram boas notícias neste contacto com um público supostamente informado. "Diz-se que os mais novos já sabem tudo do ambiente mas não é bem verdade. Às vezes os resultados são aterradores. Eu próprio tive que procurar informação. A nível nacional fala-se muito em termos genéricos. Fala-se muito em aquecimento global e nas florestas, mas não se explica porquê. Acho que se está a começar a casa pelo telhado".

Sardet não é fundamentalista quanto ao papel dos músicos na sociedade. A mensagem só deve ser passada quando "essa necessidade for sentida". No caso do ambiente, "há muita gente a aproveitar-se", defende, embora eventos como Live Earth, realizado no ano passado por iniciativa de Al Gore, tenham representado "uma preocupação legítima e verdadeira". Mas há muitos problemas por resolver. "Não vale a pena pensar no futuro para a minha filha se o planeta não for habitável".

DN, 21-4-2008
 
RTP e SIC já têm programas 'verdes'

PAULA BRITO

Apenas a RTP e SIC têm sido sensíveis à temática do meio ambiente e sua preservação. Com programas ou pequenos espaços em emissão - fruto de parcerias com vários órgãos de defesa do ambiente -, estes dois canais têm alertado o público para a necessidade de poupar água, reciclar o lixo, defender as florestas dos incêndios, trocar as antigas lâmpadas pelas de baixo consumo...

Na TVI, estas temáticas são tratadas em programas como As Tardes da Júlia e Você na TV.

Em emissão, a RTP1 tem, há três anos, O Minuto Verde, que passa no Bom Dia Portugal e o Km Verde, apresentado por Tânia Ribas de Oliveira.

Brevemente, está prevista a estreia, na RTP2, de Desafio Verde, apresentado por Silvia Alberto. A mesma que conduziu, em Portugal, dia 7 de Julho de 2007, na RTP1, o Live Earth, uma série de nove concertos que duraram 24 horas em todos os continentes, transmitidos por televisão, rádio, Internet e canais sem fios. Reuniu mais de 100 artistas da música e 2 mil milhões de pessoas para desencadear um movimento global para resolver a crise climática. Live Earth foi criado por Kevin Wall, o produtor do Live 8, um evento para combater a pobreza e que reuniu uma das maiores audiências da história.

Numa espécie de contagem decrescente para o Live Earth, Silvia Alberto apresentou o SOS Terra, uma série de 50 programas diários, de cinco minutos, antes do Telejornal. Em Junho, seguiu-se O Planeta Agradece, também com cinco minutos, em que o actor Diogo Infante dava conselhos amigos do ambiente. O programa, com 13 emissões semanais, versava sobre as atitudes e situações certas e erradas do dia-a-dia do cidadão. Mas depois eram apontadas soluções e conselhos.

A poupança de água, a poluição do ar, a alimentação ou energias renováveis foram alguns dos temas. Com uma abordagem "positiva, educativa, sem paternalismos" ao mesmo tempo que se "mostrava que o orçamento familiar e os cuidados ambientais são indissociáveis", diz a RTP.

Seguiram-se várias campanhas de sensibilização, nomeadamente, a da Defesa das Florestas, em parceria com a Forestis, e a da sensibilização para a poupança da água, ambas coordenadas por Silvia Alves, também apresentadora do Planeta Azul.

Quanto às apostas da SIC, estas têm características mais informativas, uma vez que estiveram integradas no Jornal da Noite. É o caso de Terra Alerta e Mundo Moribundo, duas rubricas cujo objectivo foi reforçar a informação da SIC sobre questões como as alterações climatéricas ou o aquecimento global.

Mais recentemente, "tivemos uma campanha durante um mês com várias dicas ambientais da SIC Esperança, campanha essa que terá uma segunda vaga no próximo mês", refere fonte da estação, recordando a acção Lâmpada Mágica, em Abril de 2007, que terá, em Maio deste ano, uma nova vaga na Escola Profissional do Alto Minho Interior - Monção. "Prevêem-se a realização de mais iniciativas do género, mas ainda estão em fase de construção e angariação de patrocínios", acrescenta.

Outra iniciativa relacionada com o ambiente é o projecto social do Rock in Rio, onde a SIC Esperança é responsável pelas verbas. Ainda esta semana, a organização do festival anunciou que vai plantar 15 mil árvores para compensar as emissões de dióxido de carbono (CO2) produzidas durante o evento. E, integrada que é no grupo que tem a sustentabilidade na agenda a SIC etem em prática um plano de comunicação interno com concelhos enviados diariamente por mail aos colaboradores, colocação de informação com dicas e links úteis na net, lembretes de boas práticas em locais estratégicos, bem como contentores de reciclagem. E ainda, presenças mensais de divulgação por entidades como o Instituto da Conservação da Natureza e da Biosfera, a Philips, a reciclagem de equipamentos electrónicos ou a ValorMed.

DN, 21-4-2008
 
SER 100% VERDE POR UM DIA

RITA CARVALHO

No rádio, o locutor da TSF anuncia o tema do fórum matinal. "Devem ser criadas portagens à entrada de Lisboa?" A pergunta deixada aos ouvintes vem a propósito de mais um estudo do LNEC sobre a terceira travessia do Tejo e não podia ser mais pertinente. Rodeada de carros por todos os lados, em mais uma manhã infernal de trânsito na auto-estrada que liga Cascais a Lisboa, dou por mim a pensar se seria esta a forma de acabar de vez com o martírio que enfrento sempre que tenho de levar o carro para o trabalho.

O dia está chuvoso. A chuva miudinha não justifica o limpa pára-brisas no modo rápido, mas tapa-me a visibilidade se o mantenho desligado. O pára-arranca surge logo nas portagens de Carcavelos e tem muito de pára e quase nada de arranca. Saí de casa há 20 minutos, pouco depois das 09.00, e já estou praticamente parada. Acidentes, filas enormes, congestionamentos em todas as entradas da cidade.... vão ditando as estações de rádio nos balanços do tráfego feitos de meia em meia hora. O costume.

O meu stress miudinho vai-se pronunciando. Curiosamente, contrasta com a naturalidade dos que viajam ao meu lado. Há quem leia o jornal, retoque a maquilhagem, tome o pequeno-almoço, e até arrisque ligar o portátil para preparar a reunião da manhã. Muitos, mesmo muitos, aproveitam a demorada viagem para pôr a conversa em dia ao telefone. Há que fazer render as três horas gastas, em média, por dia, a percorrer o caminho entre casa e o trabalho. E os muitos euros de combustível, portagens e estacionamento.

A experiência matinal serve para provar isso mesmo. Que não me compensa levar o carro para o trabalho. Já nem arrisco argumentar com questões ambientais, que milhares de carros apenas com uma pessoa poluem muito mais do que um comboio cheio de gente. Cinjo-me às evidências. É mais demorado (uma hora e 22 minutos), mais stressante, e muito mais caro: a coisa não fica por menos de 15 euros.

Ontem, a viagem foi bem mais agradável. Saí de casa às 09.08, exactamente à mesma hora de hoje. A chuva ameaçava cair, mas ainda consegui percorrer a pé os dez minutos até à estação de comboios de Cascais sem me molhar. É a ginástica matinal, acelerada diariamente conforme a dimensão do atraso. À noite vou de boleia ou apanho o buscas, o autocarro. Ainda tive tempo de beber um café antes de entrar no comboio que saiu às 09.32.

Nos trinta minutos que ligam a estação de Cascais à do Cais do Sodré aproveito bem o tempo: leio, ouço música, folheio os jornais gratuitos, troco umas palavras com alguém conhecido que viaja na mesma carruagem. Ao meu lado, há quem exercite a mente num jogo de sudoku ou esboce desenhos num moleskine. A viagem com vista de mar e rio é inspiradora, convida à meditação. Mas a hora e o cansaço acumulado de uma semana de trabalho arrastam muitos para uma sesta até Lisboa.

Ao som do alarme que toca à chegada à estação terminal, os ensonados despertam, meio estremunhados. Apertam--se os casacos para a chuva e voltamos ao ritmo acelerado de uma manhã já em final de hora de ponta. O metro até ao Marquês de Pombal é rápido, dá direito até a um lugar sentado, e em 15 minutos estou à porta do jornal. Às 10.25, uma hora e 17 minutos depois de ter saído de casa, estou prestes a começar mais um dia de trabalho.

Local de trabalho

Ainda é cedo, a redacção está meio adormecida, e o momento é propício para fazer o teste. Carla Verdasca, do projecto EcoCasa, da Quercus, está no DN para analisar o potencial de melhoria dos comportamentos ambientais da redacção. A avaliar pela quantidade de computadores que ficaram ligados ou em modo stand by desde a noite anterior concluo rapidamente que a auditoria não vai ser simpática e que aqui ainda se pode fazer muito por um ambiente melhor.

Debaixo das secretárias, embrenhada nos fios dos computadores, e de medidor de consumos em punho, Carla conta 60 monitores em stand by, 41 computadores ligados sem estarem a ser utilizados, muito poucos totalmente desligados. Também há consumos energéticos off power, ou seja, nos computadores que não estão a desempenhar a sua função nem dão indicação de estar a consumir, mas mesmo assim gastam energia.

Contas feitas, se na enorme redacção do DN fossem eliminados os consumos em stand by, off power e dos computadores ligados durante a noite (aplicando uma tomada eléctrica com interruptor corta-corrente), pouparíamos, por ano, 1742 euros e 7763 quilos de CO2 emitidos para a atmosfera. O mesmo é dizer: pouparíamos ao mundo as emissões de 55 450 quilómetros percorridos por um automóvel.

Se no poupar é que está o ganho, muito haveria a ganhar se o consumo de papel fosse mais moderado e todos contribuíssemos para o reciclar. Das três impressoras da redacção saem todos os dias três resmas e meia de papel impresso ou fotocopiado. As folhas chegam numas caixas verdes a indicar que são feitas com papel reciclado, mas depois de utilizadas não voltam a entrar no circuito da reciclagem. Isto porque nos caixotes de lixo individuais não se separa o papel dos outros resíduos... Só os jornais e outros grandes montes de papel são depositados numa espécie de ecoponto colocado à entrada da redacção, ou levados pelas funcionárias da limpeza para o contentor da garagem, depois recolhido por uma empresa de reciclagem. Estimando uma percentagem de 20% do papel reciclado, ficam por reciclar 2549,7 quilos de papel por ano, equivalendo a 1,98 toneladas de CO2.

Agência de viagens

Está na altura de marcar férias. E hoje vou em busca da oferta turística na área da natureza. Aproveito a hora de almoço para entrar numa agência de viagens, uma das maiores a nível nacional, e peço indicações sobre ecoturismo. O funcionário não estranha a questão e apressa- -se a sugerir uma série de destinos com estas características: proximidade com a natureza, ambientes pouco explorados e que exigem dos turistas algum espírito de aventura e pouca disposição para estar na praia de papo para o ar.

Costa Rica, Equador e outros países da América Latina estão entre os destinos que se ajustam a esta procura, que representa cerca de 5% do turismo mundial e tem um enorme potencial de expansão. Mas é o Brasil que se vende mais, acrescenta o funcionário, referindo os ecoresorts da Praia do Forte (na Baía) e de Fernando de Noronha, uma reserva natural.

Neste santuário ecológico, a riquíssima fauna e flora e a categoria de Património da Humanidade exigem restrições para preservar o equilíbrio ecológico do arquipélago. Não se pode pescar, recolher conchas, corais e mergulhar nalguns locais. A conservação do espaço exige também que seja cobrada uma taxa ecológica diária de 34 dólares a cada turista. Os preços da diária nas pousadas rondam os 200 euros. Por isso, só a classe alta se pode dar ao luxo de vir apreciar estas raridades.

E ir para fora cá dentro? Em Portugal, o turismo de natureza ainda não está bem estruturado, mas basta fazer uma pesquisa na Internet para encontrar empresas que organizam descidas de rio, percursos pedestres ou passeios de observação de aves. Um tipo de turismo que não passa pelas agências de viagem, explica o meu interlocutor, porque os apreciadores da natureza preferem pesquisar e organizar o seu próprio passeio.

Os comportamentos ambientais no sector do turismo é que ainda deixam muito a desejar. Tirando a regra da substituição das toalhas - aplicada já em muitos hotéis - os consumos de energia continuam a ser elevadíssimos e a água de piscinas e jardins raramente reutilizada. Pior: muitas vezes é o próprio turista a pôr em risco o que deseja apreciar.

Se quiser fazer uma viagem curta, por exemplo até Paris, e ser ambientalmente responsável, é bom preparar-me para alguns incómodos. O preço da viagem de comboio e de avião até é semelhante. Mas se viajar no Sud-Express polui apenas 182 kg de CO2, só chego lá 21 horas depois de ter saído de Lisboa. O avião, por sua vez, deixará um rasto de poluição no ar - qualquer coisa como 980 quilos de CO2 -, mas põe-me lá em duas horas e meia.

Supermercado

Fim do dia, hora de passar no supermercado antes de ir para casa. O jantar hoje quer-se o mais ambientalmente responsável, por isso, vou tentar comprar uma refeição só com produtos biológicos. E vou conseguir. Pago mais mas consigo. A ementa é simples: sopa, carne com esparguete, pão, sobremesa e vinho. No El Corte Inglés não tenho de me esforçar para discernir os produtos biológicos dos tradicionais. Na zona dos frescos, há prateleiras para cada categoria, bem como na carne e pão. O vinho é o mais difícil de encontrar, mas depois de consultar o colega, o funcionário lá me sugere um tinto de Lafões. "Mas não garanto que seja bom. Não tem conservantes", avisa, lamentando que a lei da agricultura biológica não esteja regulamentada.

No Continente, sou obrigada a empurrar o carrinho durante mais tempo para encontrar o que procuro. Quando pergunto pelos produtos biológicos, um funcionário encaminha-me para uma secção quase à saída da loja onde estão também produtos naturais e dietéticos. Aí pego num pacote de esparguete. À pergunta se têm cereais com garantias de que o milho não é transgénico, o mesmo funcionário, até aí bastante prestável, responde com um sorriso: "Ui, isso não sei..."

Na secção dos frescos, já não encontro fruta biológica. "A variedade costuma ser grande mas a quantidade não", explica o senhor que pesa a fruta, apontando na direcção do stand biológico, quase vazio. Azar, cheguei tarde.

A diferença de preços entre os produtos biológicos e os outros tem vindo a atenuar-se, explica o El Corte Inglés, o primeiro a apostar neste mercado. Mas, mesmo assim, ainda fica mais caro optar por alimentos produzidos sem recurso a químicos e com características tão específicas. Quando me sento à mesa à hora do jantar percebo porquê. O hambúrguer que tenho no prato veio da Herdade do Freixo do Meio, é biológico, e tem mesmo um sabor especial. Como as tangerinas que deixam um forte aroma na cozinha.

DN, 21-4-2008
 
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