26 abril, 2007

 

26 de Abril


Guernica, 70 anos depois

O crime:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Guernica

A obra:
http://en.wikipedia.org/wiki/Guernica_(painting)

Comments:
Bascos reclamam há muito o ícone pintado por Picasso

PAULA LOBO

Condição. 'Guernica' ficou em Nova Iorque até 1981. Voltaria a Espanha só com a democracia

Há um ano, quando o Governo basco pediu ao primeiro-ministro espanhol, José Luis Zapatero, que emprestasse o quadro para as comemorações dos 75 anos do bombardeamento de Guernica, tanto o Ministério da Cultura como o Museu Reina Sofia colocaram entraves. A ideia era expô-lo no Guggenheim de Bilbau, mas, usada a desculpa da fragilidade da pintura para recusar o pedido, a ministra Carmen Calvo veio dizer que não fazia "política" com o património. E este poderia transformar-se num empréstimo sem retorno. Há muito que os bascos reclamam o regresso da Guernica, recebendo sempre a mesma resposta: por razões técnicas, não sai de Madrid.

Sempre rodeada de seguranças, Guernica é a estrela daquele museu. Com 350x776 centímetros, foi encomendada pelo Governo republicano para o pavilhão de Espanha na Exposição Internacional de Paris de 1937. Picasso, que então vivia na capital francesa, estaria a pintar nus quando viu a notícia e as fotos no jornal francês L'Humanité, dando conta do bombardeamento da cidade basca, a 26 de Abril de 1937, pela Legião Condor.

Diz a versão não oficial, defendida por historiadores revisionistas, que o mural já estava a ser preparado para o projecto Tauromaquia-La Muerte del Toro. De 1 de Maio a 4 de Junho, dizem investigadores que em 2006 fizeram em Madrid a exposição Picasso -Tradição e Vanguarda, o artista fechou-se a pintar aquela que, numa entrevista, consideraria a sua única obra verdadeiramente motivada pela política.

Sintetizando os elementos clássicos, cubistas e surrealistas que marcaram a carreira de Pablo Picasso (1881--1973), este ícone universal contra o horror da guerra seria usado para angariar verbas para a causa republicana. Até que, durante a II Guerra Mundial, foi depositado no MoMA de Nova Iorque, a pedido do pintor. Ainda cruzou o Atlântico para exposições, mas em 1958 Picasso proibiu a circulação. E fez saber que Guernica só regressaria a Espanha quando voltasse a ter um regime democrático. Assim foi.

A chegada ao Prado, a 10 de Setembro de 1981, decorreu em ambiente de festa. E aí ficou Guernica até 1992, ano em que, num camião blindado e sob fortíssima escolta, foi transportada para o recém-criado Museu Arte Reina Sofia, onde ainda hoje está.

DN, 26-4-2007, pág. 33
 
A morte veio dos céus em dia de mercado

ABEL COELHO DE MORAIS

Guernica era um alvo de escasso valor militar

Às quatro e meia da tarde de 26 de Abril de 1937, dia de mercado em Guernica, a silhueta solitária de um avião de combate alemão surge sobre os céus desta cidade da província basca da Biscaia para largar as primeiras bombas de uma longa série de ataques, que se prolongam até ao cair da noite.

É a primeira vez que Guernica é bombardeada. Centro de comunicações, próximo da linha da frente, não era, contudo, considerada de grande significado militar. Por isso, a acção das vagas de Junkers e Heinkel, que reduzem a cinzas e escombros a pequena cidade de menos de dez mil habitantes, vai mobilizar a indignação internacional. Na imprensa, jornais e revistas na Europa e nos EUA pedem a punição do sucedido e clamam pelo apoio às forças republicanas. Um pintor exilado em Paris, Pablo Picasso, "até aí pouco interessado na política", segundo Hugh Thomas, mobiliza a inspiração para fixar num quadro a dimensão da violência do ataque.

O resultado do bombardeamento é devastador. Uma comissão de inquérito formada após a conquista da cidade pelas forças de Franco revela que só 10% das construções não sofreram danos. Por seu lado, os bascos no exílio referem, na época, a existência de 1600 mortos e 900 feridos. O centro da cidade foi totalmente destruído, as ruas e praças envoltas em chamas, devido em larga medida ao facto de as construções serem maioritariamente de madeira.

Do panorama desolador que fica do ataque alemão, as excepções são os símbolos da liberdade basca - um carvalho centenário e a medieval Casa dos Foros - que escapam à destruição, por se situarem longe do centro da cidade. A velha árvore só em 2005 perecerá de doença, substituída por uma nova nascida das sementes da primeira.

De imediato se instala intensa polémica sobre um acto que, em termos militares, muitos consideraram gratuito. Não sendo a primeira vez que os aviões da Legião Condor atacavam alvos civis - três semanas antes tinham bombardeado outra cidade basca, Durango, causando mais de 300 mortos -, a acção da unidade aérea de voluntários alemães ao serviço dos nacionalistas reveste-se de características dificilmente justifi- cáveis. Não é por acaso que, inicial- mente, os comandantes de Franco desmentem a realização do ataque ou procuram imputá-lo à aviação republicana ou até a bascos radicais, que não aceitariam ver Guernica cair nas mãos das forças nacionalistas, como veio a suceder a 28 de Abril. O comandante-chefe da Luftwaffe, Herman Goering, reconhecerá nos julgamentos de Nuremberga, em 1946, que a acção sobre Guernica funcionara como um teste aos efeitos de um ataque aéreo.

A destruição de Guernica não vai pesar no curso da guerra. A sorte das armas republicanas e nacionalistas conhecerá ainda muitas mudanças de rumo e nem sequer a sua captura assume importância central na campanha no País Basco. Em Maio, a ofensiva nacionalista está bloqueada em vários pontos da frente.

Não deixa de ser paradoxal que a acção tornada símbolo da violência na Guerra Civil espanhola tenha sucedido numa província em que "mais de metade da sua população apoiou de armas na mão a opção franquista", escreve Mikel Azurmendi, um académico basco.

Mas o principal legado do tipo de bombardeamento maciço que o ataque a Guernica prefigura será, mais tarde, a sua generalização durante a II Guerra Mundial, com devastadora eficiência, sobre alvos europeus e alemães, de que a acção anglo-americana sobre Dresden, em Fevereiro de 1945, é o exemplo máximo.

DN, 26-4-2007, pág. 32
 
Destruição de Guernica
aconteceu há 70 anos

A cidade basca de Guernica recorda hoje os 70 anos
dos bombardeamentos declarando-se "Cidade Mundial pela
Paz".
O ataque aéreo reduziu a escombros a cidade durante a
Guerra Civil Espanhola e seria imortalizado num quadro de
Pablo Picasso.
Os bombardeamentos da Legião Condor, ao serviço de Franco,
tiveram início na tarde de 26 de Abril de 1937. Era uma
segunda-feira, dia de mercado e grande parte da cidade
estava na rua. Durante quatro horas, a aviação alemã deixou
cair mais de 30 toneladas de explosivos sobre esta localidade
basca que inscrevia, de forma dramática, justamente
há 70 anos, o seu nome na história universal.
Várias cerimónias assinalarão o dia, entre elas a leitura de
uma declaração pela paz e reconciliação e contra toda a
espécie de guerra e violação dos direitos humanos e que vai
congregar políticos e cidadãos de cidades que também
foram devastadas pela guerra como Hiroshima, Nagazaki,
Dresden, Hamburgo, Varsóvia, St. Petersburgo ou Coventry,
só para referir alguns exemplos.
O manifesto "Cidade Mundial pela Paz" vai ser lido por um
sobrevivente do massacre, uma leitura que vai ser reproduzida,
simultaneamente, em várias cidades do mundo.
O grande ausente das comemorações será o quadro de
Picasso, instalado no museu de Madrid, Rainha Sofia.

RRP1, 26-4-2007
 
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