24 abril, 2007

 

Boris Ieltsin


A abertura ao ocidente


http://pt.wikipedia.org/wiki/Boris_I%C3%A9ltsin

http://www.correiodamanha.pt/noticia.asp?id=239664&idselect=91&idCanal=91&p=200

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Boris Ieltsin

A morte aos 76 anos

O Kremlin anunciou esta tarde a morte de Boris Ieltsin. O ex-presidente russo morreu com 76 anos. Até
este momento as autoridades russas ainda não divulgaram a causa da morte, mas de acordo com fontes médicas
citadas pelas agências internacionais a morte de Ieltsin terá resultado de uma falha cardíaca.
Eleito em 1991, governou a Rússia até 1996. Liderou a resistência ao golpe de Agosto contra Mikhail Gorbbachov e
transformou-se no primeiro presidente da era pós-comunista. Incompatibilizado com Gorbachov reclama a paternidade
da democracia na Rússia, mas as suas credencias democráticas ficaram manchadas pela sua acção na Tchéchenia.

PPR1, 23-4-2007
 
Da URSS à Rússia

Ieltsin o primeiro presidente da
era pós comunista

Por José P. Frazão e José Bastos

A defesa da democracia na Rússia e sua
actuação política e militar na Tchéchenia
são os aspectos mais destacados pelos analistas,
no momento da morte de Boris Ieltsin.
Os investigadores António Costa Pinto e
Álvaro Vasconcelos destacam o papel do
Boris Ieltsin nos primeiros anos da democracia
russa.
O antigo Presidente russo fica na história,
sobretudo, pela forma como defendeu a
transição da Rússia para um sistema político
democrático, sustenta o historiador do
IPRI, Instituito Português de Relações Internacionais,
António Costa Pinto.
Na sua opinião, “será sempre recordado,
não tanto como Presidente, muito embora
a sua presidência tenha sido determinante
para o fim do comunismo na Rússia, mas
sobretudo na atitude corajosa que tomou a
favor da democracia, aquando do golpe de
estado que pôs em causa a Perestroika”.
António Costa Pinto acredita que Ieltsin
ficará para a história como um homem
“corajoso”, qualidade simbolizada no
momento em que subiu a um blindado, no
meio das ruas de Moscovo, de onde condenou
o golpe de Estado contra o então Presidente
Gobatchov.
Na opinião de Álvaro Vasconcelos, Director do Instituto de
Estudos Estratégicos, Boris Ieltsin deve ser visto como o grande
responsável da transição do socialismo para o capitalismo
russo.
O antigo homem forte da Rússia aceitou a desagregação da
União Soviética, a independência da Ucrânia e das repúblicas
do Báltico e opôs-se a uma intervenção militar naquelas
regiões, recorda o director do Centro de Estudos Estratégicos
e Internacionais.

A mancha da Tchéchenia

Os anos de Ieltsin ficam marcados negativamente
pela sua actuação na repressão das
aspirações autonómicas de algumas repúblicas
da Federação Russa, em particular o
desejo independentista da Tchéhenia.
Em declarações à Renascença, John Selfard,
do International Relations Center de
Washington, é particularmente crítico para
o ex-presidente russo.
Na sua opinião, a liderança de Boris Ieltsin
esmagou na prática qualquer tentativa de
autonomia das repúblicas no interior da
federação russa e “teve também a tentação
de controlar países na órbita das fronteiras
russas”. Neste sentido, John Selfard, considera
que há dois tipos de registo de democracia
com Ieltsin: “um interno e outro
externo. Mas o externo compromete o que
Ieltsin dizia ser o seu contributo legítimo,
nalguns casos, para a democracia na Rússia”.
O investigador do International Relations
Center de Washington considera que o
“caso da Tchéchénia foi o pior exemplo de
Ieltsin. Estamos a falar de milhares e milhares
de desalojados, de 100 biliões de dólares
de prejuízo de guerra e de aproximadamente
50 mil mortos”. Ao avaliar para a
Renascença os anos de Boris Ieltsin, John
Selfard conclui, em tom critico, dizendo que a acção na
Tchechénia “ é um registo histórico terrível para Ieltsin”.
Boris Ieltisn morreu aos 76 anos, O seu trajecto político ficaria
marcado pela viragem de 1991, cortando com os conservadores
do Partido Comunista Russo.
Boris Ieltsin: a morte aos 76 anos
14h45: O Kremlin anunciou esta tarde a morte de Boris Ieltsin. O ex-presidente russo morreu com 76 anos. Até
este momento as autoridades russas ainda não divulgaram a causa da morte, mas de acordo com fontes médicas
citadas pelas agências internacionais a morte de Ieltsin terá resultado de uma falha cardíaca.
Eleito em 1991, governou a Rússia até 1996. Liderou a resistência ao golpe de Agosto contra Mikhail Gorbbachov e
transformou-se no primeiro presidente da era pós-comunista. Incompatibilizado com Gorbachov reclama a paternidade
da democracia na Rússia, mas as suas credencias democráticas ficaram manchadas pela sua acção na Tchéchenia.

Engenheiro industrial nascido em Bukta,
filiou-se no Partido Comunista em 61 e
em 76 liderou a região de Sverdlovsk.
Chegou ao Comité Central pela mão de
Gorbachov em 81 e em 85 já chefiava o
partido em Moscovo. Em 87, Ieltsin foi
despromovido no Politburo por acusar os
conservadores de sabotar as reformas
politicas e económicas da Perestroika.
Regressou ao primeiro plano em 89,
quando foi eleito para o Congresso dos
Deputados do Povo e em Junho de 91
era eleito presidente da Federação
Russa. Liderou a resistência ao golpe
contra Gorbachov em Agosto de 91, e,
depois da desagregação da União Soviética
em Dezembro desse ano, reforçou a
sua liderança à frente da Rússia.
Os seus múltiplos confrontos com os
conservadores de linha dura, consolidam
Ieltsin como um símbolo reformista,
mas a crise económica e a guerra na
Tchechénia são manchas na sua liderança.

PPR1, 23-4-2007
 
Imprensa Internacional

"Líderes mundiais reconhecem Ieltsin como um líder corajoso
e lutador", o título do Pravda produz a síntese de alguns dos
editoriais da imprensa mundial a propósito da morte do antigo
presidente russo. "Ieltsin é reconhecido pela sua liderança
nas dramáticas alterações que marcam o fim da guerra fria,
mas também é destacada a sua personalidade volátil e colorida"
acrescenta o diário moscovita, jornal símbolo da ex-
União Soviética e ainda hoje o título russo mais conhecido no
mundo. O Pravda reproduz, na sua edição desta manhã, a
última entrevista de Boris Ieltsin. "Fomos ingénuos e veio a
desilusão" afirma o ex-presidente que, na versão do jornalista
que o entrevistou, "não consegue esconder a amargura que
sente durante o resumo que faz dos seus acertos e erros à
frente da Rússia”. Um dos erros foi acreditar na melhoria das
condições de vida dos russos: "Na crista da euforia democrática
havia a sensação, e eu também a sentia, de que muito
em breve colheríamos os frutos das transformações, da
mudança do sistema político. Refiro-me à melhoria da vida
do povo. E foi um erro!". Equívoco ou não, a gestão da crise
na Tchechénia, uma das manchas nas credenciais democráticas
de Ieltsin não é referida nesta entrevista de Ieltsin ao
Pravda.
Noutros exemplos, o El Mundo destaca que "Putin despede-se
de Ieltsin evocando o líder corajoso que criou uma Rússia
livre", o Le Figaro olha para "o líder que libertou o seu país
do jugo comunista em direcção ao capitalismo selvagem,
quase caótico", o Guardian lembra-o como o "homem que
subiu ao tanque de guerra nas ruas de Moscovo em 1991" e,
ainda em Londres, o The Sun refere que "Ieltsin salvou a
Rússia do comunismo", enquanto o Daily Mail retrata-o como
"um excêntrico, frequentemente embriagado, mas sempre
carismático". O The Times detecta um detalhe curioso:
"Ieltsin é o primeiro líder na História da Rússia a morrer tranquilamente
na reforma".

RRP1, 24-4-2007
 
Rússia

Acção de Ieltsin “negativa”

A maioria dos habitantes da Federação da Rússia avalia
de forma negativa a actividade do primeiro Presidente
russo Boris Ieltsin, revela uma sondagem hoje divulgada.
De acordo com um estudo realizado pelo Fundo da Opinião
Pública, 57% dos inquiridos consideram “negativo” o papel
histórico de Ieltsin, enquanto 25% acham que esse papel foi
“positivo”. Em 2000, quando Ieltsin abandonou o Kremlin e
escolheu Vladimir Putin para o suceder no cargo de Presidente,
a opinião dos russos era ainda mais desfavorável: 67%
contra e 18% a favor.
Também na sondagem realizada pelo “Levada Tsentr”, a
acção de Boris Ieltsin foi avaliada de forma negativa por 67%
dos inquiridos em 2000 e 70% em 2006. Só 15% em 2000 e 13%
em 2006 consideraram positiva a acção de Ieltsin.
De acordo com os mesmos estudos, a maioria dos inquiridos
associa o nome de Ieltsin à desintegração da antiga União
Soviética e à crise ideológica e económica que se seguiu.
O primeiro Presidente da Rússia será sepultado quarta-feira
no cemitério do Convento de Novodevitch, em Moscovo.

RRP1, 24-4-2007
 
O legado contraditório de Boris Ieltsin

Albano Matos

Memória. Em Agosto de 1991 subiu a um tanque para apelar à resistência contra o derradeiro golpe do velho aparelho comunista da URSS. Ilegalizou o PC, despediu Gorbachev e dissolveu a URSS. Boris Ieltsin entrou então para a História, via CNN. Morreu agora em Moscovo, com 76 anos

Recordado pelos dirigentes estrangeiros como "um homem notável" (Tony Blair), "um patriota e um libertador" (Margaret Thatcher), Boris Ieltsin deixa um legado controverso aos seus compatriotas. Para uns, cumpriu um "destino trágico" (Mikhail Gorbachev), para outros foi o presidente "que vendeu o país", traindo os sonhos de milhões na hora em que a União Soviética acabou para deixar lugar a uma Rússia que rapidamente alimentou as ambições de grandeza nunca abandonadas desde o tempo dos czares. Morreu ontem, aos 76 anos, em Moscovo, de paragem cardíaca, doente e impopular.

A data em que Ieltsin entrou na História está devidamente identificada: 19 de Agosto de 1991. Em cima de um tanque, o então presidente da Federação Russa conclamava os seus compatriotas à resistência contra os golpistas que tinham sequestrado Gorbachev numa estância do Mar Negro e tentavam inverter a marcha da democratização. A CNN transmitiu, em directo, essas imagens para todo o mundo: uma espécie de assalto ao Palácio de Inverno em pleno Verão, em frente do parlamento, de certo modo símbolo desses novos tempos que recusavam o gesto deses- perado de um PC moribundo.

Saído triunfante dessa prova, ainda para mais em comparação com o seu antigo amigo Gorbachev, politicamente fragilizado, Ieltsin iniciou aí a sua irresistível ascensão aos céus do novo Poder, escolhendo as batalhas e os inimigos e derrotando-os rapidamente: os comunistas, que ilegalizou; a URSS, que desmantelou; e Gorbachev, que lançou para o desemprego em Dezembro desse ano.

Parecia todo-poderoso. E era. Mas os seus inimigos - os que já existiam e os que ele fabricou à mesma velocidade com que bebia a vodca que lhe arruinou a saúde e a credibilidade política - dizem que terminou então a unamidade.

O homem que nascera em Sverdlosk em 1 de Fevereiro de 1931 e durante anos fora o camarada responsável pelo Partido Comunista na região, descobriu-se subitamente, durante a glasnost iniciada por Gorbachev um adepto fervoroso do caminho acelerado para a economia de mercado. Gorbachev viu nele um aliado, mas logo descobriu que não podia confiar nele: demasiado impulsivo, demasiado apressado.

Reformista e guerreiro

Tendo sido eleito presidente da Federação Russa em Junho de 1991, dois meses antes do derradeiro golpe comunista, Ieltsin emerge, no final desse ano, como um triunfador. O único desse ano vertiginoso. Ele e o seu primeiro-ministro, Egor Gaidar, deixam então os preços em roda livre, enquanto lançam um radical programa de reformas.

O "libertador" da Rússia experimenta então o reverso da medalha: manda bombardear o parlamento, que se opunha maioritariamente à sua política, provocando 150 mortos; e atira-se em guerra contra a Chechénia, que proclamara unilateralmente a independência, com o seu exército a ser acusado de praticar atrocidades sobre a população civil. Entre gaffes (pouco) diplomáticas e problemas de saúde recorrentes, torna-se cada vez mais controverso no seu país. À medida que o Estado se desagrega e fica à mercê das mafias, dispensa vertiginosamente primeiros-ministros (Gaidar, Tchernomirdine, Kirienko, Primakov, Stepachine), até que, em 9 de Agosto de 1999 - oito anos depois da sua consagração como "libertador" -, nomeia o chefe dos serviços secretos, Vladimir Putin. No último dia do ano, Putin tornar-se-ia presidente dessa "nova Rússia democrática, um Estado livre aberto ao mundo", como evocaria ontem, ao homenagear o antecessor.

Nas ruas de Moscovo, os russos escondem mal a sua aversão, relata Ursula Hyzy, da AFP. "Eu tinha confiança nele e ele vendeu o país", diz um médico reformado. "Era possível ter acabado com a guerra na Chechénia e fazer reformas, mas os altos comandos e os políticos ganhavam demasiado dinheiro com ela", exclamava um veterano.

O legado de Ieltsin assume aspectos contraditórios. A Rússia que hoje procura consolidar o seu poder num alargado espaço de influência é filha da sua acção, mas, a avaliar pelas reacções gerais, essa herança é mais apreciada em Londres ou Washington do que em Moscovo.

DN, 24-4-2007, pág. 4
 
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