14 abril, 2007

 

Dança


Que saudade





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Bailarinos de dança clássica: no palco não se vêem as mazelas

LEONOR FIGUEIREDO

Problemas graves na coluna vertebral, nos joelhos e nos pés são apenas alguns dos sérios contratempos com que se defrontam os profissionais da dança clássica.

É por este e outros motivos que a Comissão de Trabalhadores da Companhia Nacional de Bailado coloca hoje online uma petição para que o Parlamento tenha conhecimento das reivindicações.

"São problemas de saúde específicos dos bailarinos de dança clássica que não se comparam com outras danças, sem desprestígio para elas. Mas a verdade é que sofremos muito com os ligamentos e os meniscos dos joelhos. É preciso ir fazendo operações ao longo da vida. Porque? Porque desenvolvemos uma musculatura que é anti-natural, através dos movimentos que fazemos", revela, ao DN, José Carlos Oliveira, da comissão que quer sensibilizar o Governo para a causa da única grande companhia de dança de repertório em Portugal, com 30 anos de existência.

Não são apenas os joelhos que necessitam de intervenção especializada. "É normal que os homens desenvolvam hérnias discais e há mesmo casos de pessoas que ficaram sem os discos. As mulheres também arranjam deformações na coluna, sem falar nos problemas dos pés e tornozelos decorrentes de fazerem 'pontas'. A densidade óssea de uma bailarina de 30 anos é semelhante à de uma mulher de 60. Imagine-se o que é fazer dieta a vida inteira para se manter o corpo ágil...", sustenta José Carlos Oliveira.

Comparam-se aos atletas de alta competição. "Trabalhamos todos os dias, das 09.30 às 18.30. Só temos um mês de férias. A nossa actividade é muito intensa e não é sazonal", acrescenta o elemento ligado à UGT, através do SIARTE, um sindicato de trabalhadores dos espectáculos.

A Companhia Nacional de Bailado tem 70 bailarinos, dos quais 15 estão em fim de carreira, havendo ainda cerca de 20 que não poderão continuar a dançar por muito tempo.

Um dos casos apontados é o de Ana Lacerda, uma das dez melhores bailarinas da Europa em 2006 e condecorada, pelo então Presidente Jorge Sampaio, com a medalha de mérito. "Ela diz que o físico já não aguenta, mas continua a ser cabeça- -de-cartaz para tudo e mais alguma coisa", alerta José Carlos Oliveira.|

DN, 2-5-2007, pág. 51
 
O nosso Nureyev

MARIA JOÃO CAETANO

Aos 10 anos, entrou para a Escola de Dança do Conservatório
É difícil acreditar que tem 16 anos. O rosto miúdo, o corpo pequeno, a voz sumida, uma timidez confrangedora. É difícil acreditar que este é um dos melhores jovens bailarinos da Europa, uma das promessas mundiais. É difícil, mas só até o ver dançar. Ao som da música, o corpo de Telmo agiganta-se, o rosto abre--se num sorriso, os gestos são determinados. Debaixo das calças há músculos bem trabalhados que permitem a Telmo elevar-se em saltos e piruetas. Pode ser o mais franzino da classe mas quando dança tem algo que os outros não têm. Um ritmo especial. Um abanar de anca. Uns olhos negros que estão sempre atentos. Uma vibração. Talento.

A dança não foi uma escolha óbvia. Telmo Moreira nasceu em Lisboa, filho de angolanos. Mora em Oeiras com a mãe cabeleireira e o pai, que trabalha numa empresa de aviação, e começou a dançar aos oito anos, "levado por uma amiga" para o Batoto Yetu, grupo de danças africanas fundado pelo angolano Júlio Leitão. "Era só uma actividade de tempos livres."

Nessa altura, talvez se imaginasse actor, fez alguma publicidade e até apareceu em novelas. Num casting, para um anúncio a um chocolate, pediram-lhe que dançasse. E ele dançou. Uma das danças africanas de que tanto gosta. Foi nesse momento que lhe começaram a perguntar se por acaso não gostaria de ter aulas de dança.

"Eu não tinha nenhuma noção do que era o conservatório ou do que era a dança." Na audição para a Escola de Dança do Conservatório, foi cumprindo os exercícios pedidos sem grande esforço. "Não era bem dançar, eram exercícios para testar a nossa flexibilidade, o nosso corpo, a coordenação motora. Nunca tinha tido aulas de dança. Mas gostei." Aos dez anos viu-se, de repente, numa escola nova, com um horário "puxado" que começa às oito da manhã com as aulas de matemática e português, como em todas as outras escolas, e termina quase às seis da tarde com as aulas de música, dança clássica e contemporânea. "Logo no primeiro dia percebi que isto não iria ser fácil e que muitos dos meus colegas já tinham tido aulas de dança. Além disso, era um ambiente diferente daquilo a que estava habituado, é uma escola muito grande."

Foi aos poucos que se foi descobrindo bailarino. "Houve um momento decisivo: foi quando vi o Quebra-Nozes, no Coliseu. Foi o primeiro bailado a sério que vi." Agora, que terminou o 6.º ano de dança e o 10.º ano do ensino regular, Telmo já se sente à vontade na escola do Bairro Alto. E não se imagina a fazer outra coisa.

Este ano, o seu nome começou a ser conhecido fora dos portões da escola. Em Fevereiro, venceu o Prix de Lausanne, disputado por mais de 70 bailarinos, alguns deles mais velhos, com 17 e 18 anos. "Para mim, ir a Lausanne era um sonho e valeria sempre a pena, nem que fosse pela experiência", assegura. Pouco depois, em Maio, avançou com segurança para o Youth American Grand Prix, em Nova Iorque. Desta vez, competiu com mais de 500 bailarinos do mundo inteiro e conseguiu chegar à final vencendo o prémio de Melhor Bailarino Europeu no Escalão Sénior. "Sinto que evoluí muito desde que fui aos concursos. Não pela competição mas por ter tido oportunidade de dançar a sério. E por ver bailarinos de outros países e poder perceber o que é que eu quero e não quero fazer. Vi bailarinos de 12 anos a fazer coisas que só mesmo os grandes profissionais é que fazem. Isso é um enorme incentivo."

Telmo foi recebido com aplausos dos colegas e professores, desdobrou--se em entrevistas e até recebeu um telegrama do Presidente da República Cavaco Silva. Ainda assim, continua tímido: "Acho que não me subiu à cabeça." Sonha em dançar um dia no American Ballet Theatre, mas continua a aparecer, todos os sábados, nos ensaios do Batoto Yetu. Sem sapatilhas nem passos franceses. Só para sentir a felicidade de dançar.

DN, 11-8-2007
 
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