27 abril, 2007

 

Rostropovitch


Um virtuoso da música

"O violoncelista e maestro russo morreu hoje aos 80
anos de idade. Mstislav Rostropovitch obteve reconhecimento
internacional pelo seu virtuosismo como músico e também
como defensor dos direitos humanos.
Nascido a 27 de Março de 1927 em Baku, cidade junto ao Mar
Cáspio, Mstislav Rostropovitch começou aos quatro anos a
estudar música com os pais. A mãe era pianista e o pai era
um conhecido violoncelista que tivera Pablo Casals como
mestre.
No Conservatório de Música de Moscovo estudou composição
com Prokofiev e Shostakovitch, vindo a destacar-se em 1945
ao receber a medalha de ouro na primeira competição para
jovens músicos organizada na União Soviética.
Apesar da luta contínua com as autoridades comunistas do
país, em defesa da liberdade de expressão dos artistas, Rostropovitch
tornou-se uma das figuras centrais da cena musical
e durante um quarto de século inspirou violoncelistas,
compositores e o público soviético.
Porém, as posições que tomou contra o regime levaram-no ao
exílio, em 1974, na companhia da mulher, a soprano Galina
Vishnevskaya. As autoridades soviéticas reagiram e retiraram-
lhe a cidadania, que só viria a recuperar em 1990.
A saída do país de origem levou-o a uma carreira internacional.
Rostropovitch gravou quase todo o repertório para violoncelo
existente na época e estimulou outros compositores a
criar novas peças para este instrumento.
Entre os muitos prémios que arrecadou ao longo da sua carreira
contam-se o Albert Schweitzer Music Award e o Ernst
von Siemens Foundation Music Prize. Recebeu igualmente
mais de uma centena de condecorações e distinções de cerca
de trinta países, incluindo a de Cavaleiro da Ordem do Império
Britânico e Cavaleiro da Legião de Honra da França.
Por cá, os mais conhecidos violoncelistas reagem à morte do
mestre.
Irene Lima e Paulo Gaio Lima realçam, em declarações à
Lusa, as qualidades musicais e humanas de Mstislav Rostropovitch.
Para ambos trata-se de “uma figura marcante” do século XX,
um daqueles músicos que “estão para lá daquilo que tocam”,
disse Irene Lima.
Rostropovitch, lembrou, teve um “papel essencial” junto dos
compositores, convencendo a escrever para ele figuras tão
importantes como Prokofiev, Benjamin Britten, Chostakovich,
Lutoslawski e mesmo Fernando Lopes-Graça."

PPR1, 27-4-2007

http://news.bbc.co.uk/player/nol/newsid_6590000/newsid_6599100/6599121.stm?bw=nb&mp=wm

http://pt.wikipedia.org/wiki/Mstislav_Rostropovich

Comments:
Calou-se o violoncelo de Rostropovitch

BERNARDO MARIANO

Músico vitimado por um cancro. Tinha 80 anos
Há alguns meses que se adivinhava. Hospitalizado em Paris no final de Janeiro, Rostropovitch foi, por sua vontade, continuar os tratamentos na Rússia natal. Em Moscovo, esteve internado num centro oncológico, do qual saiu a 6 de Março para um sanatório. Foi de novo internado no início deste mês e, após breve alta, voltaria a 17, para não mais sair. Não resistiu a nova intervenção cirúrgica. Morreu ontem, aos 80 anos e um mês.

A última aparição pública fôra a 27 de Março, data do seu 80.º aniversário, num jantar dado em sua honra no Kremlin por Vladimir Putin. Ficou evidente a sua debilidade física.

Com Rostropovitch, morre uma das personalidades musicais dominantes da música ocidental do século XX. Ele foi um músico genial e um violoncelista de excepção, que marca a história da interpretação no século passado - como violoncelista e, em vários casos, como maestro em repertório russo, deixando uma discografia de quase 200 títulos - e a própria evolução do violoncelo e respectivo repertório, aqui através das mais de 170 obras que lhe foram dedicadas por compositores seus contemporâneos, desde Prokófiev na virada para a década de 50 até um Concerto de Penderécki, que estreou em 2002. Mas foi, acima de tudo, uma testemunha participante do mundo em que viveu e da história que se fazia à sua volta. Um homem de convicções e de causas, corajoso e benemérito, que não olhou às consequências, dissabores e contrariedades que isso lhe poderia trazer.

Numa frase, uniram-se em Rostrovitch os princípios da arte e do humanismo na sua mais alta expressão. Mostrando à sociedade que, atrás do violoncelista e do maestro, havia um homem de corpo inteiro, um Mensch, como usam dizer os judeus.

Nasceu (Baku, 1927) e viveu até aos 47 anos sob o regime comunista. Defensor desde cedo da liberdade de criação, vive de perto as circunstâncias acidentadas dos últimos anos de Prokófiev (conhecem-se em 1948) e, sobretudo, os altos e baixos da vida de Shostakovitch, que conheceu em 1943 e ao qual o uniu sólida amizade.

Filho querido da URSS (duplo prémio Estaline, prémio Lenine, Artista do Povo, para além da propaganda indirecta que um músico do seu calibre valia sempre que se deslocava ao Ocidente...), Rostropovitch cai em desgraça em 1970, aquando do affair Soljenitsine (ver página ao lado), que mudará a sua vida e a da sua família - casara em 1955 com o grande soprano Galina Vishnevskaya (que lhe sobrevive). Outros exemplos de humanismo e coragem ficarão para a história.

Desde a década de 90, sobretudo através da Vishnevskaya-Rostropovich Foundation (sediada em Washington, de cuja National Sympho- ny Orchestra foi titular entre 1977 e 1994), multiplicaram-se as actividades de beneficência (ver caixa).

Morreu na sua Rússia, na cidade onde residiu dos 4 aos 47 anos (com uma curta interrupção durante a II Guerra) e, intermitentemente, nos últimos anos. Será sepultado ao lado de Shostakovitch, Prokófiev, Tche- kov, Gogol, Bulgakov e Chaliapin.

Mais que testemunha, Rostropovitch (que se habituou a ser chamado de Slava [palavra que em russo também quer dizer "glória"] diminutivo carinhoso do seu nome, Mstislav), foi um protagonista da história. Que escreveu com o seu Duport Stradivarius de 1711, ao longo de 60 anos de carrei- ra; e com as decisões e gestos que tomou. Um gigante.

DN, 28-4-2007, pág. 40
 
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