13 maio, 2007

 

13 de Maio


90 anos depois das aparições de Nossa Senhora de Fátima




http://pt.wikipedia.org/wiki/Apari%C3%A7%C3%B5es_de_F%C3%A1tima

http://www.santuario-fatima.pt/portal/index.php?id=1000

http://www.fatimavirtual.com/portal/

http://www.fatimamissionaria.pt/index_historia_fm.php
http://www.noticiasdefatima.pt/portal/

http://www.fatimashop.pt/cgi-bin/fsvg.cgi/?page=pp&titulo=no

http://www.portugaldiario.iol.pt/consola.php?tipo=1&art_id=913334&pagina=1&mul_id=7823679

Comments:
PEREGRINOS INVADEM FÁTIMA

JACINTA ROMÃO

Cardeal Angelo Sodano preside às cerimónias
A peregrinação do 13 de Maio será uma das maiores dos últimos anos. Se os números das autoridades policiais e religiosas se confirmarem, meio milhão de pessoas vai estar em Fátima hoje e amanhã. Prevê-se que nem todos os peregrinos possam entrar no Santuário. As cerimónias comemorativas do 90.º aniversário das aparições são presididas pelo cardeal Angelo Sodano, o ex- secretário de Estado do Vaticano, que em 2000 revelou, na Cova da Iria, a terceira parte do segredo de Fátima. O segundo homem mais forte da Igreja Católica durante o pontificado de João Paulo II chegou hoje a Portugal, em representação pessoal do papa Bento XVI.

Com uma parte do recinto ocupado pelas obras da nova basílica, actualmente em fase de conclusão, os milhares de fiéis esperados, como aconteceu na visita de João Paulo II em 2000, ficarão de fora. Mas o ambiente que se vive na cidade desde quarta-feira, deixa antever uma multidão próxima das previsões. O espaço está lotado, havendo já fiéis acampados nos espaços reservados para o efeito. O parque localizado atrás do Santuário está repleto.

Ontem, os peregrinos a pé ainda enchiam as estradas de acesso à cidade. A uma distância de dez quilómetros, os grupos seguiam compactos e dezenas de pessoas acotovelavam-se para conseguir caminhar sem pisar as faixas de rodagem. No ano passado, os serviços do Santuário contabilizaram 35 mil peregrinos a pé. Este ano são aguardados muitos mais. Ao longo dos caminhos foram instaladas cerca de 70 postos de apoio, sobretudo para Norte de Fátima, como é hábito nas grandes peregrinações aniversárias, e em muitos destes a indicação é de que têm passado mais peregrinos do que nos anos anteriores.

A favor dessa previsão, e como justificação para que esta peregrinação atinja tão elevado número de crentes, são apontadas factores como a coincidência do 13 de Maio com um fim-de-semana, assim como as condições atmosféricas. Em Fátima, nos últimos dias, as temperaturas têm ultrapassado os 30 graus.

No que toca à segurança, estão no terreno 500 militares da GNR, constituindo uma força que integra todas as especialidades da corporação: Brigada de Trânsito, patrulhas a cavalo, de bicicleta, vários binómios homem/cão e agentes de investigação à paisana. Só dentro do Santuário vão estar entre 130 e 140 militares. Uma parte deles ficará colocada nas entradas principais. Tudo porque o comandante da Guarda, tenente-coronel Vítor Lucas, refere que "são esses os locais que mais preocupam, porque há muitos obstáculos à circulação", sublinha, reforçando que o seu "maior receio são as saídas no final da Procissão das Velas e da eucaristia de domingo".

DN, 12-5-2007, pág. 24
 
"Seitas católicas estão a infiltrar-se em Fátima e tentam extorquir fiéis"

LICÍNIO LIMA (DN) PAULO ROCHA (70X7)

Comemora-se o 90.º aniversário das aparições. O fenómeno de Fátima foi criado pela Igreja?

Fátima é um sinal extraordinário da misericórdia de Deus para com a humanidade. Um sinal surgido num período histórico de risco e de autodestruição. A Igreja começou por ter alguma prudência em o aceitar. Por isso, não se pode dizer que a Igreja impôs Fátima. Como dizia o cardeal Cerejeira, foi Fátima que se impôs à Igreja.

E ao mundo... sobretudo no pontificado de João Paulo II.

Quem lhe deu mais visibilidade foi, de facto, João Paulo II. De algum modo sentiu-se envolvido naquela chamada terceira parte do segredo, lendo nele não só o atentado que sofreu em 1981, na Praça de S. Pedro em Roma, mas também todas as perseguições à Igreja, incluindo os mártires da fé do século XX.

É fácil para os teólogos enquadrar a mensagem de Fátima no Evangelho?

É preciso encontrar chaves de compreensão, como fazemos, por exemplo, em relação à mensagem da Bíblia. Esta também nos chega em categorias, em símbolos do tempo e da região de Jesus. E nós interpretamos o que a mensagem esconde por trás das parábolas, dos provérbios, etc. Acontece o mesmo com a mensagem de Fátima.

Que é uma mensagem privada...

Gostaria que se distinguisse bem entre uma revelação privada e a grande revelação de Deus na história da salvação. Uma revelação privada não vem trazer novas revelações, nem novas curiosidades sobre Deus nem sobre a fé. Portanto, Fátima não é o Evangelho de Jesus, nem se substitui à Igreja.

Está a relativizar o fenómeno?

Não relativizo nada. Os próprios pastorinhos, sendo crianças, souberam distinguir muito bem a primazia do mistério de Deus. É interessante quando o Francisco diz: "Eu gostei muito do anjo, gostei mais de ver Nossa Senhora, mas do que mais gostei foi de ver Nosso Senhor naquela luz".

Têm chegado a Fátima muitos movimentos marianos integristas?

A Fátima chega de tudo. Chega o trigo e chega o joio. Há pessoas e movimentos que às vezes querem aproveitar-se de Fátima e do clima de acolhimento que aqui se vive.

Pessoas e movimentos católicos?

Também católicos. E agora, segundo me consta, até há movimentos esotéricos. Aproveitando este clima que ainda não levanta suspeitas à polícia, procuram infiltrar-se aqui. Não sei com que fins ou intenções.

O bispo tem de analisar a ortodoxia de cada um desses movimentos?

O bispo de Fátima tem de discernir muito bem. Às vezes não se trata da questão da ortodoxia. Trata-se de desvios, de levar para extremos determinadas devoções, de explorar os sentimentos das pessoas. De explorar a generosidade económica dos fiéis. Nestas coisas eu gosto que haja muita lealdade, muita verdade, muita transparência.

Há o risco de exploração económica dessas pessoas?

Há esse risco. Haverá sempre.

Só o risco?...

Só risco, quer dizer... com uma ou outra tentativa isolada.

O bispo de Leiria-Fátima foi pressionado para impedir que outras religiões e confissões rezassem no Santuário?

O que aconteceu aqui foi um episódio esporádico, isolado, que depois foi empolado. Tratou-se de um grupo budista que terá feito aqui uma oração pública. Naturalmente que o Santuário é católico. Não vamos dizer que o Santuário é o santuário de todas as religiões. Mas isso não impede que esteja aberto ao diálogo ecuménico e inter-religioso. No dia 13 de Maio (hoje) estará aqui uma delegação de cristãos anglicanos, de Inglaterra. Vão estar num grupo à parte, mas são acolhidos.

Há movimentos católicos contra esse acolhimento?

A Igreja é plural. Não temos de nos espantar com algumas reacções de grupos mais tradicionais ou tradicionalistas.

O dinheiro que o Santuário recebe destina-se também a apoiar as dioceses?

Apoia muitíssimo. Quer as várias instituições de solidariedade social, quer a construção de igrejas, incluindo nos países de expressão portuguesa. E mesmo a nível mundial.

O Santuário é um mecenas?

Partilha. Partilha do que recebe...

O que recebe permitiu pagar sem recurso ao crédito a construção da nova basílica, orçada em cerca de 60 milhões de euros...

Sim. Se os fiéis deixam aqui o dinheiro é para depois ser usado naquilo que é necessário. Esta nova basílica é uma obra de arte. Queremos que essa arte seja digna, seja de qualidade, e os artistas pagam-se bem, como sabe. Mas isto não representa grande coisa se compararmos com o Centro Cultural de Belém ou com a Casa da Música.

Houve derrapagens no orçamento?

À volta dos 15 por cento. Está dentro do razoável. Não é uma derrapagem escandalosa.

Em Outubro haverá inauguração?

As promessas dos construtores vão todas nesse sentido. Os arranjos exteriores ficarão para uma fase posterior. Mas a basílica ficará aberta ao público.

Nessa altura teremos cá Bento XVI?

Temos a certeza de que o Santo Padre não vem. Só um milagre de Nossa Senhora é que poderia conseguir isso. Aguardemos.

DN, 13-5-2007, pág. 4,5
 
Santuário não chegou para todos os peregrinos que foram a Fátima

JACINTA ROMÃO

Militares da GNR tiveram de impedir a entrada no recinto
Santuário não chegou para todos os peregrinos que foram a Fátima

A peregrinação deste 13 de Maio foi a maior que se registou, em Fátima, desde a visita de João Paulo II, há sete anos, quando este Papa veio beatificar os dois pastorinhos. Na noite de dia 12, na Peregrinação da Velas e na principal cerimónia religiosa de ontem, muitos fiéis ficaram do lado de fora do recinto.

Terão sido mais de meio milhão aqueles que ao longo da última semana rumaram a Fátima, a pé, em excursões de autocarro. Muitos, provenientes de outros países, foram chegando de avião, estrangeiros e portugueses.

Cerca das 10.00 horas de ontem, os militares da GNR interditaram a entrada. Quem esperou por uma hora mais próxima do habitual começo das celebrações já não teve lugar. Muitos passaram grande parte do tempo da missa a percorrer o caminho que dava acesso às diversas portas, mas sem sucesso. Em todos esses locais havia homens da Guarda que lhes barravam a passagem.

Pelo grupo organizado da diocese de Évora, Carlos Eira, um dos que fez caminhada do alto Alentejo a Fátima, lamentava que as pessoas levem cadeiras para dentro do Santuário porque, assim, "ocupam muito mais espaço e tornam difícil circulação no recinto". Por volta do meio-dia, Carlos Eira regozijava-se de ter sido abordado pelo DN, porque "as televisões só falam dos peregrinos do norte; até parece que os alentejanos não são religiosos", dizia. Da diocese de Évora, onde pertence, "vieram 600 pessoas". "Somos o maior grupo inscrito, garantia.

Carlos Eira queixava-se também das dificuldades em cumprir as promessas. "Só conseguimos ir pôr as velas às 05.30 da manha", exemplificou. E o grupo de mulheres que veio de automóvel ontem de manhã, àquela hora não havia conseguido oferecer os ramos de rosas que trazia "para Nossa Senhora". Iriam depois de encerradas as cerimónias. Acabou por ser essa a atitude de muitos peregrinos. Aconteceu assim a Maria de Fátima, de Vale de Cambra, Aveiro e a todo o seu grupo, porque as promessas eram para cumprir dentro do Santuário. Ela e Elisa Ferreira costumam ir a Fátima há décadas. "Não saímos daqui sem ter entrado", garantiram.

Junto à entrada da Igreja que dá acesso ao altar-mor onde é celebrada a missa, nas peregrinações de Maio, houve quem tentasse forçar a entrada, por mais do que uma vez. Num desses momentos, peregrinos que já haviam "batido" a todas as portas tentaram aproveitar o momento em que chegava D. Duarte de Bragança; sem sucesso, embora naquele local não houvesse nenhum dos elementos da força policial.

Aquela porta sempre foi controlada pelos guardas da segurança privada do Santuário. Nesta peregrinação havia gente a mais para o espaço reservado aos crentes, mas não foi inédita a tentativa de peregrinos forçarem a entrada daquele lado ."

DN, 14-5-2007, pág.10
 
Vaticano nega existência de novo segredo de Fátima

JACINTA ROMÃO

O secretário de Estado do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone, está convencido que há uma teoria da conspiração, há décadas, que pretende atingir a Igreja Católica, a qual não deixa cair no esquecimento a ideia de que a Santa Sé esconde um quarto segredo de Fátima.

Para negar, mais uma vez, essa versão, o cardeal e o próprio Papa Bento XVI decidiram disponibilizar um livro de Bertone, o qual tem uma carta de apresentação do actual Papa, obra onde ambos negam que tenha ficado por divulgar qualquer tipo de segredo ligado às aparições.

A apresentação do livro foi feita, em Roma, no momento em que se celebravam, em Fátima, os 90 anos da aparição na Cova da Iria, segundo uma notícia do Times Online, retomada, ontem, pela Agência Ecclesia.

O que se passou foi que o Vaticano pretendeu assinalar os 90 anos da primeira aparição, em 13 de Maio de 1917, e a editora da Santa Sé colocou a obra à venda. O livro chama-se "A Última Vidente de Fátima: os Meus Encontros com a Irmã Lúcia. É uma obra que tem depoimentos do cardeal Bertone, do tempo em que trabalhava como o então cardeal Ratzinger (agora Papa), na Congregação para a Doutrina da Fé, serviço do Vaticano, herdeiro do Santo Ofício. Os dois, Bento XVI e Bertone, trabalharam com o falecido Papa João Paulo II na interpretação da terceira parte do segredo, para o tornar público. Foi a versão a que chegaram do escrito de Lúcia que havia de ser lida, em Fátima em Maio de 2000.

Neste novo livro, o cardeal afirma que a versão interpretada no Vaticano foi confirmada por Lúcia antes de ter sido divulgada. E garante que não há qualquer segredo escondido.

D. Carlos Azevedo, bispo auxiliar de Lisboa e porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, não vê qualquer "relevância" no facto de o cardeal vir desmentir, de novo, questões deste teor porque "há uma grande pressão sobre a igreja, sobre todos os bispos", reforça, da parte de "grupos integristas", mesmo "extremistas", que continuam a falar desta matéria. "Todos os meses, os bispos recebem cartas a pressioná-los sobre isso", diz. Mas "são meras conjecturas, extrapolações, exercícios de imaginação", assegura, referindo-se já a diversos livros que têm vindo a ser publicados, porque "isto é uma literatura que dá dinheiro". Carlos Azevedo trazia já à colação, ao ser confrontado pelo DN com a necessidade de o Vaticano vir explicar-se de novo, não só os livros do famoso Dan Brown mas também a obra de António Socci, jornalista católico, O Quarto Segredo de Fátima.|

DN, 15-5-2007, pág. 16
 
O “fenómeno” de Fátima

Fátima comemora este ano os 90 anos da primeira aparição
de Nossa Senhora.

O fenómeno sempre levantou discussão mesmo entre os
católicos, mas a verdade é que ao longo dos anos, Fátima
se foi impondo independentemente das modas, dos regimes
políticos e até dos muitos que ao longo dos anos se
têm entretido a antecipar o seu declínio.
Este fim de semana, mais uma vez, o santuário encheu-se
com cerca de meio milhão de pessoas, segundo os números
oficiais, desmentindo que o interesse do santuário se
esgotou depois da revelação do terceiro segredo, ou após
a morte de João Paulo II. A todas as mortes anunciadas,
Fátima tem sobrevivido e basta ver com olhos de ver o que
lá se passa para perceber porquê.
Os chamados “comentadores de sofá” insistem em não ver
e preferem comentar uma realidade virtual. Foi o que
aconteceu ainda este fim de semana, quando num canal
de televisão dois destes especialistas se entretinham a
dizer que por trás deles, o recinto repleto de gente, era a
representação do Portugal rural. Para estes iluminados, o
meio milhão de peregrinos estava ali por motivos sentimentais,
porque Fátima carece de razoabilidade.
E a falta de capacidade de juízo chegou a tal ponto que os
ditos comentadores não hesitaram em decretar que desta
vez é que é: João Paulo II morreu e este Papa não quer
saber de Fátima.
Não foram precisas 24 horas para até isto ser desmentido.
Bento XVI no Brasil quis assinalar a data a dizer ao mundo
que a mensagem de Fátima é a mais profética dos tempos
modernos.
É isto que os peregrinos de Fátima entendem e que escapa
aos “comentadores de sofá”. Por isso falham sempre as
suas previsões.

Raquel Abecasis

RRP1, 14-5-2007
 
Fátima e a vida da Igreja
no século XX

Por Aura Miguel

O santuário de Fátima é um dos mais importantes santuários
marianos do mundo. Desde 13 de Maio de 1917 é, todos os
anos, o ponto de chegada de milhares de peregrinos.
As aparições de 1917 ocorreram durante o pontificado de
Bento XV. Como sempre acontece, a Igreja manteve-se prudente
sobre a veracidade deste tipo de fenómenos e, por isso,
não houve qualquer pronunciamento oficial no pontificado de
Bento XV e também no pontificado de Pio XI.
Mas Pio XI, apesar de não se ter pronunciado sobre as aparições,
autorizou peregrinações ao local lideradas por sacerdotes.
Aliás, o Núncio Apostólico foi lá pessoalmente e fez um
relatório muito favorável, testemunhando a devoção dos
peregrinos.
A grande oficialização de Fátima deu-se com Pio XII. Na vida
do Papa Pacelli houve, aliás, uma coincidência: foi ordenado
Bispo no dia das aparições, a 13 de Maio de 1917 e, em 1939,
quando foi eleito Papa, os bispos portugueses reconheciam as
aparições de Fátima.
O Papa Pio XII foi tão amigo e devoto dos acontecimentos da
Cova da Iria que ficou conhecido como “o Papa de Fátima”. A
Pio XII se devem várias rádio-mensagens e foi ele quem mandou
coroar a Imagem e fez a primeira consagração do mundo
ao Imaculado Coração de Maria.
A importância de Fátima assume relevo
com as visitas Papais
Primeiro com Paulo VI, nos 50 anos das aparições, em 1967, e
depois com as três visitas de João Paulo II, Fátima tornou-se
um dos santuários marianos mais importantes do mundo.
E as razões são várias: a primeira, tem a ver com o conteúdo
da mensagem – um apelo, sempre actual, à conversão e penitência
-, mas também porque a mensagem tem profecias que
se verificaram de modo dramático ao longo do século XX: a
perseguição soviética, o martírio dos cristãos e até o atentado
ao Papa.
A ligação de João Paulo II a Fátima desde o atentado de 13 de
Maio de 1981 veio projectar ainda mais o santuário na vida da
Igreja.
A prova de como a sua mensagem continua actual é o facto do
interesse e o número de peregrinos não ter diminuido depois
da revelação do segredo no ano 2000 nem depois da morte de
João Paulo II, em 2005.
Este ano, Bento XVI nomeou como Legado Pontifício às celebrações
de 13 de Maio o Cardeal Ângelo Sodano. Na carta de
nomeação, Bento XVI recordou a sua ligação a Fátima, nos
tempos de prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, e a
particular devoção de João Paulo II pelo santuário mariano
português.
O Cardeal Sodano traz uma saudação particular do Papa aos
participantes nas celebrações, a que Bento XVI se associa com
a sua presença “em espírito”.

RRP1, 7-5-2007
 
Celebrações de 12 e 13

Bento XVI garante
presença em espírito

Em espírito.
Bento XVI
garante a sua
presença “em
espírito” no
Santuário de
Fátima, no próximo
fim-desemana.
Na carta que
escreveu, em latim, ao Cardeal Ângelo Sodano, seu Legado
Pontifício para a peregrinação de 12 e 13 de Maio, em que
serão solenemente abertas as celebrações dos 90 anos das
Aparições de Nossa Senhora, o Papa Bento XVI recorda a sua
ligação a Fátima, nos tempos em que presidiu à Congregação
para a Doutrina da Fé.
Enquanto Cardeal, Joseph Ratzinger foi mesmo responsável
pelo comentário teológico da terceira parte do segredo,
publicado nas “Memórias da Irmã Lúcia”.
O Papa Bento XVI refere, em particular, a devoção de João
Paulo II por Nossa Senhora de Fátima e a visita que o Papa
polaco fez à Cova da Iria em 1982, para agradecer a protecção
da Virgem depois do atentado que sofreu na Praça de São
Pedro, a 13 de Maio de 1981.
Em visita apostólica ao Brasil a partir de quinta-feira, Bento
XVI quis - no entanto - que o cardeal Sodano fosse portador de
uma saudação especial aos participantes nas celebrações do
próximo fim-de-semana em Fátima.
Cardeal Sodano representa o Papa
“Deus, Rico em Misericórdia” é o tema da Peregrinação Internacional
de Maio, de 12 e 13 de Maio, a que preside o Cardeal
Angelo Sodano.
A presença do Cardeal Sodano já era uma certeza, depois de
ter aceite o convite que lhe fez, pessoalmente, o Bispo de
Leiria-Fátima.
O Cardeal Angelo Sodano, antigo Secretário de Estado do Vaticano,
foi depois nomeado por Bento XVI Legado Pontifício às
celebrações dos 90 anos da primeira Aparição de Nossa Senhora
aos Pastorinhos.
Uma nomeação que quis significar, na opinião de D. António
Marto, o Bispo de Leiria-Fátima, a vontade do Papa – por estes
dias em visita apostólica ao Brasil – se fazer presente também
na Cova da Iria e de dar outra solenidade às celebrações.
O Cardeal Angelo Sodano esteve em Fátima pela última vez no
ano 2000, ao lado de João Paulo II, na sua terceira e última
visita em que presidiu à beatificação de Francisco e Jacinta
Marto. Foi o então Secretário de Estado quem, por indicação
de João Paulo II, revelou uma parte do Segredo de Fátima e o
seu significado.

Olhar de Moscovo

A Rússia e as aparições de 1917

“O que aconteceu em Fátima há 90 anos, é muito
importante para a Rússia”, declarou à Renascença o Arcebispo
de Moscovo.
Em entrevista à jornalista Aura Miguel, Monsenhor Tadeusz
Kondruziewicz adiantou que a arquidiocese de Moscovo assinala
os 90 anos das Aparições com duas iniciativas: a primeira
é uma conferência prevista para 13 de Maio e a segunda uma
peregrinação ao Santuário de Fátima, marcada para Outubro.
O Arcebispo de Moscovo encara estas iniciativas como “um
dever”. “Porque Maria predisse os sofrimentos da Igreja, mas
também deixou uma mensagem e uma esperança para todos
nós. Vivemos essa esperança e hoje somos testemunhas do
renascimento espiritual da Rússia.”
Para Monsenhor Tadeusz Kondruziewicz, este aniversário é
também uma boa possibilidade de conversão do povo português
face a grandes questões do mundo contemporâneo e, nas
declarações à Renascença, deixa mesmo um desafio aos portugueses:
“que sejam sempre fiéis à mensagem de Fátima!”.

RRP1, 7-5-2007
 
Segurança

250 militares no terreno

A segurança da peregrinação de 13 de Maio em Fátima,
é este ano, e pela primeira vez, da responsabilidade da
GNR.
É uma consequência da reestruturação que está em curso
nas forças de segurança que, no caso da freguesia de Fátima,
ditou a substituição da PSP pela GNR.
Em três dias (de 11 a13), a presença da GNR em Fátima vai
mais do que quadruplicar.
Passa dos 55 militares fixos do posto inaugurado nem há um
mês, para mais de 200 vindos de várias unidades.
O plano inclui a utilização de cavalos, cães, bicicletas,
motos, viaturas ligeiras e de todo-o-terreno. As forças no
terreno são constituídas por militares dos regimentos de
cavalaria e infantaria, em que se incluem alguns da Companhia
de Operações Especiais, pela Brigada de Trânsito, que
vai gerir os acessos a Fátima, auto-estrada do Norte incluída,
da Investigação Criminal, com especial responsabilidade
para actuar à paisana dentro do recinto do Santuário e ainda
pelo grupo territorial de Santarém, a quem cabe o comando
de toda a operação.
Os meios serão posicionados em quatro anéis de segurança
em torno do Santuário, sendo que fardas e armas não vão
entrar no recinto.
Lá dentro, só militares à paisana e desarmados.

História

O Avé de Fátima

Toda a gente conhece a quadra que faz parte dos
cânticos mais conhecidos do santuário. Mas sabe como é que
apareceu?
“A 13 de Maio,
Na Cova da Iria,
Apareceu brilhando
A Virgem Maria.”
Uma quadra simples que faz parte de um dos cânticos mais
conhecidos de Fátima.
O “Avé de Fátima” já constava da edição de 1926 do
“Manual do Peregrino da Fátima”. As quadras originais terão
sido escritas por Gilberto Ferreira dos Santos, devoto de
Nossa Senhora, natural de Torres Novas.
As quadras que escrevia, imprimia depois em postais e
estampas que distribuía aos peregrinos.
Sobre essas quadras originais trabalharam dois poetas: Afonso
Lopes Vieira fez algumas das quadras que ainda hoje se
cantam, Monsenhor Moreira das Neves deu-lhes a roupagem
definitiva, aquela que hoje se ouve, todos os dias, na Cova
da Iria.
O “Avé de Fátima” foi um dos primeiros cânticos em português,
em louvor de Nossa Senhora de Fátima.

Igreja da Santíssima Trindade

A Nova Igreja da Santíssima Trindade é um dos marcos
dos 90 anos das Aparições.
Com inauguração prevista para 13 de Outubro, no encerramento
das celebrações, a Igreja está agora em fase de acabamento;
o ritmo das obras foi avaliado esta manhã, numa
visita que o Reitor do Santuário proporcionou à Comunicação
Social.
Alguns pormenores são já conhecidos, como o facto do altar
da nova Igreja ficar em linha recta em relação ao altar do
Recinto do Santuário, local onde é celebrada Eucaristia nos
grandes dias.
A Igreja da Santíssima Trindade tem capacidade para acolher
9 mil pessoas sentadas.
O painel superior da entrada principal, dedicado aos mistérios
do Rosário, será da autoria do artista português Pedro Calapez.

Nova basílica inaugurada
a 13 de Outubro

A nova Igreja da Santíssima Trindade, no Santuário
de Fátima, é inaugurada no dia 13 de Outubro.
A garantia foi deixada esta manhã, pelo reitor do Santuário,
o Monsenhor Luciano Guerra, durante uma visita às obras da
nova igreja. As obras devem estar concluídas na data comemorativa
da última aparição de Nossa Senhora, altura em
que se vai celebrar uma “missa da consagração da Igreja”.
A igreja será inaugurada, embora fiquem a faltar alguns
arranjos exteriores.
Um deles
e o mais importante
é o túnel
que deveria
retirar o trânsito
da entrada da
igreja. Esta obra
estava prevista
desde o início
das obras, mas o
reitor diz que
não pode fazer
mais, “fiz o que
pude para que
houvesse uma
simultaneidade,
mas nem sempre
a gente
pode tudo”.
“Em princípio,
temos o caminho
para a
capelinha pronto.
Deve partir de lá a procissão. E espero que a reconciliação,
em baixo, também possa ser inaugurada”, acrescenta o
Monsenhor Luciano Guerra.
O custo final da obra está avaliado em 60 milhões de euros,
a que se somam 10 milhões para pagar o túnel na principal
avenida de Fátima.

A mensagem de Fátima

A espiritualidade é o essencial da mensagem de Fátima.
Uma espiritualidade que obriga as pessoas a um compromisso
integral.
O olhar do padre Jacinto Farias, professor de Teologia da
Universidade Católica, estudioso e profundo conhecedor da
mensagem de Fátima, entrevistado pela Renascença.

Rádio Renascença - Rezai o terço todos os dias. Palavras
simples de Nossa Senhora aos Pastorinhos em Fátima,
para lhes dizer que a oração é a chave da leitura da sua
mensagem.
Fátima sempre se afirmou como centro irradiador de
grande espiritualidade. Podemos dizer que a espiritualidade
é o núcleo central da sua mensagem?
Jacinto Farias - A partir já da experiência de décadas do
Santuário, dos milhões de peregrinos que por lá passaram,
do reconhecimento público da Igreja através dos Papas e da
beatificação dos Pastorinhos, nós temos esta oportunidade,
através destas celebrações jubilares, de voltar ao essencial
da mensagem de Fátima que é de facto a espiritualidade.
E esta espiritualidade articula-se em torno de alguns tópicos,
nomeadamente em primeiro lugar um forte apelo à
penitência, á conversão e à mudança devida em termos
morais, com as suas implicações sociais e comunitárias na
vida da sociedade e da nação e depois aqueles outros elementos
que são clássicos, como o sacrifício, a oração e a
reparação, são três conceitos fundamentais que articulam a
espiritualidade de Fátima.
RR - Também aqui podemos perguntar qual a ligação da
espiritualidade à vida? Há riscos de ficarmos numa espiritualidade
que possa dizer muito pouco ou quase nada às
pessoas?
JF - Os factos contradizem um pouco, digamos assim, essa
dificuldade ou essa objecção, porquanto, ao longo destas
décadas, Fátima tem sido um centro de atracção. Os peregrinos
vão a Fátima atraídos pelo Mistério que lá aconteceu
e continua a acontecer, numa busca de paz, de comunhão
com deus, de mudança de vida, de espiritualidade que funciona,
digamos assim, como um carregar de baterias para a
vida.
O risco que me parece poder ocorrer é sobretudo nesta fase
contemporânea, em que há uma pressão ambiental, digamos
assim, para uma interioridade desvinculada da vida, como
uma pacificação interior mas sem implicações na própria
existência; que se dê uma clivagem ou um divórcio, entre
aquilo que acontece e a própria sociedade. Ou seja, Fátima,
por passarem por lá 5 milhões de peregrinos por ano, da
Por Domingos Pinto
Página 6 Edição pdf 08-05-07 Actualizado às 17:30
Grupo Renascença, 2007—www.rr.pt
Fátima
90 anos das aparições
Não só em termos da sua devoção mariana, porque a mariologia,
a devoção a nossa senhora faz parte do horizonte espiritual
de toda a existência do Papa João Paulo II, como cristão
e depois como papa, mas também a partir dessa sua
leitura pessoal da relação com o mistério de Fátima porque
ele via, numa linguagem digamos assim “naïf” para alguns
mas para mim que é a simplicidade dos crentes, uma mão
providencial que desvia a bala e que evitava que o ferimento
fosse fatal.
Paulo VI veio a Fátima, mas não se envolveu muito, digamos
assim. Mas a sua presença foi, de si, já significativa. O ter
depois oferecido a "Rosa de Ouro" ao Santuário, um dos gestos
de Paulo VI que manifestam já o reconhecimento, ao
nível da instância máxima, do catolicismo, que é o Santo
Padre, da autenticidade do que acontecia e do que acontece
em Fátima.
João Paulo II, que é um gigante do espírito, imprimiu esse
seu carisma pessoal. Mas eu não diria que Fátima depende;
Fátima é um movimento que se impõe por si.
população portuguesa - ainda um recente inquérito sobre
este tema demonstrou a amplitude do que o Santuário
representa - como é que isso se não traduz numa outra dinâmica
social de empenhamento
nos grandes
problemas, enfim,
recentemente o problema
do aborto e
outras questões fracturantes
da sociedade,
não se vê o peso positivo,
digamos assim, de
quem vive e traduz na prática aquilo que a Senhora pediu.
Efectivamente a Senhora pediu conversão e mudança, não
numa interiorização abstracta mas numa transformação
dinâmica da própria sociedade. E é isso que é o desafio do
futuro.
RR - A verdade é que a devoção popular leva, muitas
vezes, as pessoas a fazerem sacrifícios nem sempre fáceis
de entender. Que sentido têm as manifestações penitenciais
dos peregrinos?
JF - É um dos paradoxos típicos do fenómeno religioso em
geral, porque se nós formos observar as grandes religiões da
humanidade, por exemplo, o budismo, o hinduísmo, e
outras, há estas manifestações exteriores de algum excesso
e algum extremo.
No catolicismo isso também acontece. É típico da tradição
católica ter, nas suas manifestações do povo de Deus, alguns
excessos que podem escandalizar algumas sensibilidades,
digamos assim, aristocráticas, ou elitistas, ou de uma concepção
quase asséptica da fé, na pureza absoluta, mas é um
paradoxo, porque, a mim próprio nunca me escandalizou,
impressiona-me, é verdade, mas nunca me escandalizou e
tem sido até um factor de conversão de muitos ao catolicismo
porque dizem: - uma Igreja, ou uma religião, como agora
se diz, que admite no seu seio este excesso, é verdadeira.
Naturalmente que, do ponto de vista pastoral, o Santuário e
a Diocese de Leiria-Fátima, todo o episcopado, enfim, a
Igreja, procuram uma pedagogia de educação de modo que
estes excessos sejam contidos mas não os pode, de todo,
evitar.
RR - Em que medida é que, tanto Paulo VI, em 1967, como
João Paulo II, nas suas duas visitas a Fátima, impulsionaram
a devoção mariana?
JF - O Papa João Paulo II, sentiu-se pessoalmente tocado
pelo mistério de Fátima, a partir do atentado, na praça de
São Pedro, em 1981.
A partir dessa coincidência, ele ocupou-se de Fátima, e sentiu,
a dinâmica que ele conduziu para a beatificação dos
pastorinhos; isso é um corolário, é quase uma consequência.
Ao ler a Mensagem de Fátima, ao tomar conhecimento da
terceira parte do segredo, ele interpretou-a referida a si e
por isso ele imprimiu um ritmo muito pessoal à relação com
Fátima. E uma certa projecção, digamos assim, que em João
Paulo II Fátima alcança deve-se a essa relação muito pessoal.
Não só em termos da sua devoção mariana, porque a mariologia,
a devoção a nossa senhora faz parte do horizonte espiritual
de toda a existência do Papa João Paulo II, como cristão
e depois como papa, mas também a partir dessa sua
leitura pessoal da relação com o mistério de Fátima porque
ele via, numa linguagem digamos assim “naïf” para alguns
mas para mim que é a simplicidade dos crentes, uma mão
providencial que desvia a bala e que evitava que o ferimento
fosse fatal.
Paulo VI veio a Fátima, mas não se envolveu muito, digamos
assim. Mas a sua presença foi, de si, já significativa. O ter
depois oferecido a "Rosa de Ouro" ao Santuário, um dos gestos
de Paulo VI que manifestam já o reconhecimento, ao
nível da instância máxima, do catolicismo, que é o Santo
Padre, da autenticidade do que acontecia e do que acontece
em Fátima.
João Paulo II, que é um gigante do espírito, imprimiu esse
seu carisma pessoal. Mas eu não diria que Fátima depende;
Fátima é um movimento que se impõe por si.

RRP1, 8-5-2007
 
Congresso Internacional
sobre a Santíssima Trindade

É um elemento fundamental da espiritualidade de
Fátima, embora pouco conhecido. O núcleo Trinitário da
mensagem está no centro dos debates e comunicações que,
a partir de hoje e até ao próximo sábado vão acontecer no
âmbito do Congresso Internacional da Santíssima Trindade.
Integrado nas celebrações dos 90 anos das Aparições, este
Congresso é o segundo de uma série de três sobre diversas
vertentes da mensagem.
Constitui, também, do ponto de vista dos promotores, uma
oportunidade para explicitar um dos elementos fundamentais
da espiritualidade de Fátima que não tem sido muito
divulgado, porque, como admite o professor de Teologia,
padre Jacinto Farias e um dos participantes no congresso,
apresenta grande complexidade.
Ainda de acordo com o Padre Jacinto Farias, é esse lugar
central do mistério Trinitário na mensagem que justifica que
a nova Igreja do Santuário seja dedicada à Santíssima Trindade.
O Congresso Internacional da Santíssima Trindade tem também
uma vertente cultural intensa; já esta noite, os participantes
são convidados a assistir a uma peça de teatro,
baseada nas Memórias da Irmã Lúia, com encenação de Norberto
Barroca e representada por diversas companhias de
teatro do concelho de Ourém.
Peça de teatro no programa
Inserida na programação do Congresso está a encenação de
uma peça de teatro.
A peça “Memórias de Lúcia” resulta de uma parceria entre o
Santuário e algumas dezenas de actores amadores de diversos
grupos de teatro do concelho de Ourém.
A encenação é de Norberto Barroca que quis retratar algumas
cenas da vida familiar dos Videntes de Fátima, tendo
sempre como base os escritos da Irmã Lúcia.
A peça sobe ao palco esta noite, às 21h30, no Centro Pastoral
Paulo VI.

História

O Adeus de Fátima

É a banda sonora de um dos momentos mais emotivos
que se vive no Santuário de Fátima.
A Procissão do Adeus é o último acto solene de todas as
peregrinações. Os lenços brancos acenam o adeus à Virgem,
nas bocas de todos um dos cânticos mais conhecidos.
O Adeus de Fátima canta-se na Cova da Iria desde 1934.
Surgiu da inspiração do padre Higino Lopes Pereira Duarte,
que, em 1933, foi à Terra Santa, integrado numa peregrinação
francesa.
Quando se despediam de Jerusalém, os peregrinos cantaram
uma canção de que o padre Higino decorou a música.
No regresso à sua diocese, a de Leiria, o padre Higino Lopes
Pereira Duarte desafiou alguns colegas de seminário a elaborarem
os versos.
Assim surgido o Adeus de Fátima, com que ainda hoje os
peregrinos se despedem da Virgem, num até breve pontilhado
a lenços brancos.

RRP1, 9-5-2007
 
Aparições desafiaram lobbies
da época

As Aparições de Nossa Senhora foram um momento
de viragem nas difíceis relações da Igreja com o Estado, no
início do século XX.
Um verdadeiro desafio aos lobbies da época, refere João
Luís César das Neves. Em conversa com o jornalista Domingos
Pinto, o autor do livro “ O Século de Fátima”, olha para
a importância dos acontecimentos da Cova da Iria.
Uma entrevista que ler desde já no
Página 1.

Rádio Renascença – Que significado teve para a época o
anúncio das aparições de Nossa Senhora de Fátima pelos
Pastorinhos?
César das Neves - Eles confrontam claramente os lobbies da
época. A situação era dramática; aliás, Nossa Senhora apareceu
numa diocese sem bispo. O bispo de Lisboa, porque na
altura Fátima ainda pertencia a Lisboa, tinha sido expulso,
mais uma vez, da sua sede episcopal, poucas semanas antes.
De facto, na República de 1910, na sequência aliás, do liberalismo
porque, ao longo de todo o século XIX, de uma
maneira um pouco mais subtil, a Igreja tinha sido sucessivamente
atacada, agora o ataque era aberto, o culto estava
proibido.
Nossa Senhora aparece numa zona, que foi considerada, por
exemplo por Lenine, Lisboa a capital mais ateia da Europa.
Isto quer dizer que este foi um dos períodos mais difíceis por
que a Igreja portuguesa teve que passar.
E Nossa Senhora, com aquela calma que ela tem, apareceu
exactamente neste quadro. Confrontar a época, não podia
ter sido mais claro.
RR -Quanto mais perseguida mais se afirmou a devoção
mariana. Basta recordar a célebre noite de 6 de Março de
1922, em que foi dinamitada a primeira Capelinha das
Aparições, já um sinal claro dessa crispação entre o poder
político e a esfera eclesial; o povo não perdeu tempo e
construiu outra. É a força da fé a falar mais alto?
CN - Devo dizer que imediatamente a seguir ao fim das Aparições,
muda claramente o clima, com o golpe de Sidónio
Pais, que altera a lei da separação, retoma as relações com
Roma, e depois a seguir, mesmo depois do assassínio de
Sidónio, a situação da República, embora continuando a ser
hostil à Igreja, é completamente diferente da perseguição
aberta que havia antes.
Agora, o que é de facto extraordinário é que no meio desse
quadro, Fátima vai-se afirmando com uma rapidez que não é comparável com qualquer outra aparição, desde o Evangelho.
Vários fenómenos, entre eles, o mais importante é evidentemente
o milagre do Sol, fazem com que Fátima se vá
impondo sucessivamente, primeiro a Portugal e depois a
todo o mundo, de forma paulatina, contra ventos e marés.
De facto, há sempre uma grande quantidade de hostilidade;
hostilidade sempre um bocadinho tonta, desorganizada,
quer dizer, não houve nunca uma hostilidade organizada
assim como o apoio da fé também não foi organizado. Foi
simplesmente espontâneo mas absolutamente esmagador e
vai num crescendo e continua.
RR - É no meio deste confronto que se afirma, como sempre,
a secular prudência da Igreja?
CN- Sim, e por ambas as razões, aliás provavelmente mais
pela primeira que pela segunda. É mais perigoso a crendice
súbita e rápida e por vezes sem razões do que propriamente
a hostilidade. Não foi por o Estado ser hostil que a Igreja foi
prudente, foi mais porque a adesão foi súbita e isso pode ser
perigoso, porque é fácil haver enganos que mais tarde têm
terríveis consequências.
A Igreja foi muito prudente, talvez até demasiado prudente.
Só em 1930, há aceitação, com o povo a celebrar. Curiosamente,
começam os bispos a aparecerem de forma anónima,
no meio do povo, atraídos por aquele fenómeno, mas sem
quererem ainda, digamos, afirmar-se explicitamente. Cada
vez mais temos figuras importantes da Igreja portuguesa da
época, o Padre Cruz, por exemplo, que vão a Fátima e
começam, através da sua presença e do que vêm, a testemunhar.
Enfim, o caso mais extraordinário foi o futuro
Cónego Formigão, que foi a grande figura da divulgação de
Fátima.
RR - E o papel da imprensa?
CN - A imprensa teve um efeito extraordinário. Em particular
O Século, que estava lá e que viu o Milagre do Sol, e que
o divulga imediatamente, e a indiscutível seriedade do jornalista
fez com que fosse muito difícil negar uma coisa que
não era simplesmente uma crendice popular - estavam lá 70
mil pessoas, algumas das quais reputadas - e a imprensa
teve um papel decisivo na divulgação de Fátima.
RR - Professor César das Neves, falamos agora dos Papas
que vieram até Fátima e que acabaram por lhe dar outra
projecção. Paulo VI em 1967 e João Paulo II, duas vezes
nos últimos 20 anos. Que impressão digital, do seu ponto
de vista, um e outro deixaram?
CN - A influência que os Papas tiveram neste processo é
também ela surpreendente e muito importante. Aliás, devemos
começar com Pio XII, o Papa de Fátima, o Papa que
tinha sido ordenado Bispo exactamente a 13 de Maio de
1917. Foi ele que fez, em 1942, a consagração da Rússia ao
Imaculado Coração de Maria. Depois, o Papa Paulo VI, que
tinha renovado essa consagração no final do Concílio Vaticano
II, decide vir a Fátima, uma das poucas viagens que fez, e
foi um impacto decisivo, na altura. A presença de um Papa
no Santuário, hoje, parece uma coisa quase normal; na época
foi algo de muito importante.
João Paulo II, enfim " TOTUS TUUS", entrega-se completamente.
Veio cá três vezes, levou Nossa Senhora - a imagem
da capelinha - duas vezes a Roma. Com João Paulo II, depois
com a identificação que faz do seu pontificado, e em particular
do atentado à questão de Fátima e à terceira parte do
segredo, Fátima colocou-se no centro do mistério da Igreja
neste tempo. João Paulo II é absolutamente decisivo, mas
sem esquecer os anteriores, que num crescendo, também
foram muito importantes.

RRP1, 9-5-2007
 
Pastorinhos “serão beatificados”

Nos 90 anos das Aparições da Virgem aos Pastorinhos,
em Fátima, a jornalista Aura Miguel entrevista o Cardeal
Saraiva Martins, Prefeito para a Congregação da Causa dos
Santos.
Em andamento está o processo de canonização dos pastorinhos
Jacinta e Francisco Marto, que já são beatos. No entanto
há quem gostasse que o processo fosse mais rápido e é a
esses que o Cardeal pede paciência.
D. Saraiva Martins diz-se convencido que, mais cedo ou mais
tarde, ambos serão canonizados.
Quanto à hipótese da beatificação da Irmã Lúcia, também
está em andamento, mas o Cardeal recorda que ainda não
passaram cinco anos sobre a morte da vidente e que o eventual
acelerar do processo está nas mãos do Papa.

Rádio Renascença - Por ocasião dos 90 anos das Aparições,
muitos desejam ver os Pastorinhos nos altares. É certo
que Jacinta e Francisco já são beatos. Para quando a
canonização?
Cardeal Saraiva Martins - Não se pode prever para quando a
canonização, porque o processo de canonização está em
andamento e não se podem fazer previsões sobre o termo
desse processo.
RR - Portanto aconselha aos fiéis paciência?
CSM - Aconselho aos fiéis portugueses paciência, mas também
que sejam optimistas, tenham confiança, porque estou
certo que - mais tarde ou mais cedo - os pastorinhos serão
canonizados.
RR - E no que se refere à Irmã Lúcia? Quais são as expectativas?
CSM - No processo da Irmã Lúcia, naturalmente, como todos
sabem, todo o processo de beatificação consta de duas
fases: uma diocesana (local) e outra “romana” (ou seja, ao
nível da Santa Sé). Pois bem, o processo da Irmã Lúcia deve
passar pela fase diocesana e essa fase ainda não começou,
porque, segundo as normas canónicas, do Direito Canónico,
é preciso esperar cinco anos depois da morte para poder
iniciar o processo na Igreja local.
RR - Mas pode haver excepções…
CSM - Pode haver excepções… o Papa João Paulo II fez uma
excepção para a Madre Teresa de Calcutá, dispensando dois
anos.
E o Papa Bento XVI dispensou dos cinco anos o processo de
beatificação de João Paulo II, portanto é possível uma
excepção, mas tem de partir do Santo Padre.

Por Aura Miguel

Santíssima Trindade

Congresso junta 300 pessoas

Considerado o mais profundamente teológico dos
mistérios da Fé católica, tem, na vida dos protagonistas de
Fátima e na história da mensagem, uma presença constante.
A Santíssima Trindade, presente na primeira oração que o
anjo ensina aos pastorinhos, marca profundamente a forma
como Lúcia, Francisco e Jacinta vivem a mensagem.
Na opinião do Padre Armindo Janeiro, responsável pelo programa
de comemorações dos 90 Anos das Aparições, é essa
experiência profunda que permite compreender os esforços
que as 3 crianças fizeram para dar a conhecer a outros as
palavras de Nossa Senhora e os pedidos que lhes fez.

O olhar do Padre Jacinto Farias

As comemorações dos 90 anos das Aparições são uma
oportunidade para sublinhar o essencial da mensagem de
Fátima que funciona, em simultâneo, como um carregador
de baterias para a vida.
Esta é a opinião do padre Jacinto Farias, professor de Teologia
da Universidade Católica.
O teólogo que vai presidir em Outubro próximo ao congresso
“Fátima para o século XXI”, um congresso que encerra as
comemorações dos 90 anos das Aparições, escreve no Página
1 sobre “O essencial na mensagem de Fátima”.
Nestes dias as atenções do mundo estão voltadas para Fátima,
para onde acorrem centenas de milhares de peregrinos.
Neste ano ocorrem os 90 anos das Aparições, e por isso as
celebrações destes dias revestem-se de um significado muito
particular. Pode dizer-se que Fátima, hoje como há 90 anos,
continua a ser um sinal paradoxal, sobre o qual pode haver
opiniões divergentes: pode aceitar-se ou rejeitar-se Fátima;
defender a sua mensagem ou combatê-la, mas ao fenómeno
de Fátima ninguém fica indiferente. Neste tempo a muitos
títulos crepuscular em que vivemos, Fátima obriga a pensar,
e para muitos é uma pedra de tropeço, para outros de incómodo,
porque o que ali se vive e se celebra representa para
todos uma interpelação à consciência, e por isso, sob muitos
aspectos, Fátima é algo de incómodo, e mesmo até, se virmos
bem, perigoso. Gostaria de chamar a atenção para
alguns tópicos que confirmam este tese.
1. Fátima é antes de mais um convite à oração
A oração é o aspecto mais relevante. Rezai, rezai sem cessar,
dizia o anjo, que ensinou uma das mais belas orações:
“Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-vos. Peço-vos
perdão pelos que não crêem, não adoram, não esperam e
não vos amam!...” Nesta oração está contido o essencial da
espiritualidade cristã, colocada na perspectiva da adoração
reparadora, por todos os que não acreditam, não adoram,
não esperam e não amam! Em Nossa Senhora tudo se concentra
no Rosário, a síntese do mistério cristão, numa oração
tão simples, que se pode dizer, em qualquer lugar, nos
transportes públicos ou no trabalho... O ‘segredo’ de Fátima
passa por esta mística da simplicidade!...
2. O convite à conversão e à penitência
Este é outro eixo da espiritualidade em Fátima, que percorre
a mensagem em todas as aparições, angélicas e marianas,e sobretudo constitui o núcleo essencial do segredo, na sua
terceira parte. Talvez este seja o aspecto mais incómodo
para todos, quer sejam crentes quer não sejam, porque aqui
está algo que contradiz a inclinação natural e espontânea da
mentalidade contemporânea, marcada pelo princípio do
prazer e da espontaneidade, e que talvez seja uma das possibilidades
de explicação para esta vaga de despudor que
domina a moral, os comportamentos e as atitudes, que
ultrapassa o campo estrito da compostura e do modo de se
vestir e de se apresentar, e que invade sobretudo a política
e a comunicação social!... Fátima com o apelo ao sacrifício
e à penitência, incomoda toda a gente, mesmo quem não
crê…, porque a descrença é caminho de morte e de perdição!...
3. Fátima é convite ao sacrifício
O terceiro aspecto característico de Fátima é o sacrifício,
que, para lá de outras manifestações corporais (as longas
caminhadas de peregrinação, o percurso de joelhos da Cruz
Alta à Capelinha das Aparições...), passa pelo domínio de si,
da dor, da fome, da sede... Quem conheça a tradição mística
não se surpreenderá com nada disto, onde à intensa
vivência do mistério está ligado o sofrimento e o sacrifício, o
caminho estreito e íngreme pelo qual se sobe ao monte da
transfiguração. Os peregrinos que em Fátima se deslocam de
joelhos fazem-no como um gesto de amor e de gratidão ou
até mesmo de reparação por aqueles que têm vergonha de
dar testemunho público da sua fé! Estamos aqui perante o
excesso de Fátima que para muitos representa um escândalo,
mas que para outros é motivo de mudança e de conversão
ao catolicismo, como aquele meu conhecido londrino
que me disse que se converteu ao catolicismo quando veio a
primeira vez a Fátima e viu o excesso dos sacrifícios dos
peregrinos. E isso foi o sinal de que se a Igreja aceita no seu
seio estes excessos, então é verdadeira!... De facto, o catolicismo
é a vida tal como ela é, também nos seus excessos,
de que os santos são o mais admirável testemunho, e em
Fátima vive-se isto, na sua dimensão e expressão mais simples,
do povo crente… Os peregrinos vão ter com o Homem e
a Senhora das Dores, onde encontram o conforto no silêncio,
na oração e no perdão. O sofrimento, na sua dimensão mais
profunda e espiritual, só com o Homem e a Senhora das Dores, numa comunidade de fé e de oração, é possível
suportar-se! Este é o ‘segredo’ de Fátima que atrai as multidões,
e foi isso que os pastorinhos experimentaram no
‘reflexo de luz’. Nele o Francisco pressentiu o mistério da
Santíssima Trindade, no qual se sentiam envolvidos, naquela
atmosfera do sobrenatural que os oprimia, os impedia de
falar e ao mesmo tempo os inundava de paz e de uma alegria
comunicativa.... Na linguagem simples do Francisco,
aqui estava todo o ‘segredo’. E este é, de facto, o ‘segredo’
de Fátima!... E é por causa disto que há excessos, como
resposta a um amor sem medida, levado até ao fim!...
4. Fátima e o dogma da fé em Portugal
Desde 1917 Fátima tem-se imposto como o símbolo do catolicismo
e o centro espiritual de Portugal, onde respira, na
simplicidade e na frescura, a alma portuguesa, que se
encontra em Fátima, no anonimato e na discrição dos peregrinos,
na respiração daquela atmosfera sobrenatural!...
Portugal está incluído na mensagem de Fátima, desde a aparição
do anjo que se apresentou como o Anjo de Portugal,
até ao ‘segredo’, quando Nossa Senhora diz: “mas em Portugal
há-de manter-se sempre o dogma da fé!...”
Esta inclusão de Portugal no segredo de Fátima dá que pensar!...
Seja como for que ela se interprete, representa uma
graça, que implica para todos os que a tomam a sério – vejase
o exemplo da vida dos Pastorinhos – uma particular configuração
com o mistério da cruz de Cristo, porque a permanência
na fidelidade passa por muitas tribulações!... Quer
se queira quer não, quer se acredite quer não, não é possível
pensar-se Portugal e o catolicismo sem uma referência a
esta inclusão no segredo!... Isso significa que temos de pensar
e de praticar a política, a cultura, a ciência e as artes de
outro modo!... E aqui está o maior desafio, o de fazer a
transposição da fé para a vida, para que o segredo de Fátima
seja fonte de uma consciência viva e desperta para as
implicações existenciais que decorrem da espiritualidade,
como compromisso e missão, com todas as suas consequências,
morais, sociais e políticas, como resistência não violenta
a todas as tentativas de ditadura, que é o fruto mais apetecível
de quem professa o ateísmo ou de quem se coloca ao
serviço dos ídolos, os falsos deuses do prazer, do ter e do
poder.
5. O silêncio e a coragem da profecia
Em Fátima fermenta-se um outro modo de ser e de estar, o
princípio de realidade que trava a vertigem da realidade
virtual neste mundo planetário e global. Nesta época do
marasmo e da mediocridade, colhe-se, naquele lugar de
silêncio e de oração, a coragem para o risco e para a profecia,
nestas palavras da Senhora: “Não tenhas medo. O meu
coração será o teu refúgio e o caminho que te há-de conduzir
a Deus!...” Aquela atmosfera intensa do sobrenatural,
aquele profundo e emocionante silêncio da multidão incontável
nos dias da peregrinação, como explicá-lo, senão no
emudecer da palavra no recolhido e respeitoso silêncio também?!...

Aparições

O primeiro registo escrito

Uma carta de amor que é um documento precioso.
Foram muitas as pessoas que interrogaram os Pastorinhos
entre Maio e Outubro de 1917.
Como contou à Renascença o Padre Luciano Cristino, responsável
pelo Serviço de Estudos e Difusão do Santuário de
Fátima, uma dessas pessoas foi o advogado de Torres Novas,
Carlos de Azevedo Mendes, que, em carta que escreve à sua
noiva de então, a 7 de Setembro desse mesmo ano, conta
alguns dos pormenores dessa conversa com Lúcia, Francisco
e Jacinta.
Nessa carta dá conta de alguns traços fisionómicos das 3
crianças, conta pormenores da conversa e reproduz a Oração
que Nossa Senhora pediu aos Pastorinhos que rezassem.
Será, aliás, este o primeiro registo escrito desta Oração.

RRP1, 10-5-2007
 
Cardeal Ângelo Sodano fala
em “gratidão a Maria”

A mensagem de Fátima permanece actual porque
representa a revelação pública da mensagem de Jesus. São
palavras do Cardeal Ângelo Sodano,
a propósito da peregrinação
de 13 de Maio.
Em declarações à Renascença, o
cardeal que vai presidir às cerimónias
enquanto representante
do Bento XVI revelou com que
espírito vem a Fátima, já pela
segunda vez.
Foi o Cardeal Ângelo Sodano que,
no ano 2000, revelou no Santuário de Fátima, a terceira
parte do segredo, durante a cerimónia de beatificação dos
pastorinhos e no âmbito da última visita do João Paulo II a
Portugal.
Rádio Renascença - Eminência, com que espírito vem a
Fátima?
Cardeal Sodano - Com espírito de gratidão a Maria, Nossa
Senhora de Fátima, por todos os dons que derramou sobre
Portugal e sobre a Europa, sobre a Igreja inteira ao longo
destes 90 anos. Foram 90 anos difíceis para a história da
Europa e da humanidade: Duas grandes guerras mundiais e
tantos sofrimentos em milhões de homens.
Por tudo isto é de justiça, como dizia o Papa João Paulo II,
agradecer a Maria pela sua assistência. O Papa João Paulo II
tinha um motivo particular, foi a Fátima em 82 para agradecer
ter escapado ao perigo depois do atentado no ano anterior.
O Papa queria, e assim o fez, que a bala que se cravou
no Gipe no dia do atentado fosse colocada na coroa de Maria
naquele grande Santuário como sinal de reconhecimento.
Portanto, vou a Fátima também como um dever para com o
Papa João Paulo II que tinha uma, grande devoção por Nossa
Senhora. O Papa actual seguirá estas celebrações dos 90
anos a partir do grande Santuário da Aparecida no Brasil.
São dois grandes Santuários Marianos que aproximam estas
duas grandes nações, penso por isso que serão dias belos e
de santa alegria.
RR - Sua Eminência está também ligado a Fátima porque,
ouvimo-lo todos, revelou a terceira parte do segredo
Ca.S - Sim, no ano 200 quando o Papa quis vir a Fátima para
rezar a Maria no início do terceiro milénio cristão, pediu-me
para comentar o terceiro segredo de Fátima e para o explicar
de forma simples:
Esta visão dos três pastorinhos, depois confirmada pela irmã
Lúcia, que tinha visto esta via sacra de tantos mortos pela
fé, de tantos testemunhos de fidelidade ao Evangelho, guiados
por este homem vestido de branco que a irmã Lúcia
dizia estar segura de que, este homem vestido de branco
que caía sob os tiros de uma arma de fogo, era o Papa. A
irmã Lúcia dizia, "eu vi-o como morto", certamente para
explicar a violência do atentado. Por isto o Papa achava que
era justo dizer que agora - que tinha havido a derrocada do
comunismo e que este grande calvário da Igreja tinha terminado,
que o Papa se tinha salvo - era justo dar glória ao
Senhor pela intercessão materna de Maria .
RR - Por essa razão, muitos perguntam-se como é que
Fátima permanece actual? Vossa Eminência vai às celebrações
dos 90 anos porque Fátima permanece actual?
Ca.S - Permanece actual, porque a mensagem de Fátima no
fundo, é a mensagem do Evangelho, diz aquilo que Jesus
disse à dois mil anos na sua vida pública: "Convertei-vos e
acreditai no Evangelho". São quase as mesmas palavras de
Nossa Senhora aos 3 pastorinhos, ao Francisco, à Jacinta e à
Lúcia: "Convertei-vos - diz à humanidade de hoje - acreditai
no Evangelho de Cristo, só nele há salvação".
Esta solicitude da mãe pela salvação eterna dos seus filhos,
é sempre actual e neste sentido, eu creio que as aparições
de Fátima se inscrevem em tantas outras aparições de santuários
marianos.
Porque é que a Igreja aprovou esta revelação particular?
Porque leva á revelação publica a mensagem de Jesus e por
isso acho que esta mensagem continuará.

Precauções para os peregrinos

A Direcção-Geral de Saúde alerta para os cuidados a
ter pelos peregrinos que se concentram em Fátima este fimde-
semana para as celebrações do 13 de Maio. José Robalo,
subdirector geral de Saúde, adianta, à Renascença, alguns
cuidados, particularmente, em caso de calor: “hidratação,
usar roupas leves e largas de forma a não haver grande concentração
de calor. Usar óculos e protectores solares com
índices elevados e não expor grandes partes do corpo ao
sol.”. A DGS emite, ainda hoje, um comunicado com estes e
outros conselhos para os peregrinos.
Entretanto, além do dispositivo de segurança, que será este
ano pela primeira vez assegurado pela GNR, a peregrinação
a Fátima conta também com o habitual dispositivo de socorro
e emergência.
Até domingo, 200 elementos estão destacados para o local.
São, na sua maioria bombeiros, mas também elementos do
INEM, da Cruz Vermelha, e do Corpo Nacional de Escutas.
Ao serviço vão estar igualmente um helicóptero da Protecção
Civil e 59 veículos, entre ambulâncias, viaturas de combate
a incêndios e motos.

“Basta o meu olhar”

Aconteceu há 90 anos em Fátima.
A força deste acontecimento ainda hoje move multidões.
Vêm de todos os pontos do mundo, velhos e novos, movidos
por este desejo do coração que nos define.
Mais, ou menos, conscientemente, queremos mais. E sabemos
que pelas nossas próprias capacidades não conseguimos,
por isso dirigimos o nosso pedido à Mãe de Deus.
“Mesmo se não sei rezar, basta o meu olhar”, diz a famosa
canção a propósito de um outro santuário: o da Virgem da
Aparecida.
Bento XVI vai estar nesse santuário brasileiro no dia 13 de
Maio e considerou um sinal de providência o facto de a sua
visita à Virgem da Aparecida coincidir com os 90 anos das
Aparições de Fátima.
É um sinal de como a Mãe de Deus, mãe da igreja e nossa
Mãe, está presente em vários continentes, e “sendo nossa
Mãe”, disse o Papa, “está próxima de todos e, ao mesmo
tempo, tem um rosto específico para cada povo”.
Então, que nos deixemos confrontar com este rosto, em
Fátima ou Aparecida, fixando nele o olhar… mesmo que
não saibamos rezar.

Aura Miguel

Meio milhão de peregrinos
esperados na Cova da iria

Mais de meio milhão de pessoas são esperadas, a
partir de amanhã, no Santuário de Fátima para a habitual
peregrinação
aniversaria de
Maio. Os factos
de se assinalarem
os 90 anos
das Aparições e
dos dias 12 e 13
serem fim-desemana
fazem
esperar uma
maior afluência
à Cova de Iria.
A Autoridade Nacional de Protecção Civil tem preparado um
dispositivo de assistência aos peregrinos que vai estar em
execução já a partir da próxima noite.
No terreno, vão estar cerca de 200 elementos da Protecção
Civil, mais de uma centena de bombeiros, para além da Cruz
Vermelha, com postos montados nas duas rotundas “para
recepcionar as pessoas que já há vários dias tem vindo a
fazer a sua peregrinação”, garantiu Gisela Oliveira, a portavoz
da Protecção Civil, à Renascença. Desta forma, “o dispositivo
estará em todo o perímetro do santuário para prestar
a assistência necessária”, assegurou ainda.

Data assinalada na Rússia

A Arquidiocese de Moscovo organiza este fim-desemana
um colóquio sobre os 90 anos das Aparições de Fátima.
Este aniversário não é celebrado apenas em Portugal. Um
pouco por todo o mundo são muitos os católicos que recordam
a data.
Em declarações à Renascença, o Arcebispo de Moscovo sublinha
a importância de Fátima, não só para a Rússia, mas
para toda a Europa de Leste e para todo o mundo.
“Maria predisse os sofrimentos da Igreja, mas também porque
deixou uma mensagem e uma esperança para todos nós.
Vivemos com essa esperança e hoje somos testemunhas do
renascimento espiritual da Rússia, por isso, temos o dever
de organizar alguma coisa. Vamos organizar uma conferência
e uma celebração litúrgica dedicadas a este aniversário”,
diz Monsenhor Tadeusz Kondruziewicz.
O Arcebispo de Moscovo considera ainda que este aniversário
é uma “boa possibilidade de conversão para o povo português”.
A Arquidiocese de Moscovo promove este fim-de-semana um
colóquio sobre os 90 anos das Aparições e está também a ser
preparada uma peregrinação ao Santuário, a 13 de Outubro.

Enciclopédia de Fátima

É um instrumento fundamental sobre Fátima com
coordenação de D. Carlos Azevedo, Bispo-auxiliar de Lisboa.
A “Enciclopédia de Fátima” condensa toda a mensagem, a
história, a arte a liturgia, o Direito, e outras vertentes que
permitem uma visão alargada e enciclopédica sobre Fátima.
O coordenador da obra, que começou a trabalhar a ideia há
3 anos, convidou mais de 50 estudiosos, de áreas como a
História, a teologia ou a botânica - para definir o que é uma
azinheira - , num trabalho conjunto que, nas palavras de D.
Carlos Azevedo, permitiu uma abordagem o mais exaustiva
possível e uma visão alargada do fenómeno, ao mesmo tempo
que traduz o que de melhor se tem produzido em termos
de pensamento sobre Fátima.
A “Enciclopédia de Fátima” é apresentada esta noite, no
Centro Paulo VI.

Documento com 10 anos sobre a
memória de 1917

António Antunes estava prestes a completar 100 anos
de vida, no ano de 1997. Era, portanto, um rapaz, quando se
deram as aparições de Nossa Senhora, na Cova da Iria, em
1917.
Há dez anos, António Antunes partilhou as suas memórias
desse tempo com o jornalista António Gonçalves.
Ele não viu a Senhora, mas acreditou e acabou por ser testemunha
da relação entre Nossa Senhora e os Pastorinhos.
Há dez anos, quando, quase centenário, falou com a Renascença,
ir até ao santuário fazia parte da rotina semanal.
As memórias de António Antunes, partilhadas, em 1997, com
António Gonçalves, foram hoje recuperadas na antena da
Renascença e estão disponíveis em www.rr.pt.

----------------------------------

Conheça o percurso da caminha da Renascença com os peregrinos,
através do relato do jornalista João Duarte no:
Blog “Caminhos” em www.rr.pt

RRP1, 11-5-2007
 
A Casa-Museu da aldeia
dos Pastorinhos

Na altura das aparições na Cova da Iria, há 90 anos,
Aljustrel era uma pacata aldeia com apenas 25 famílias e
cerca de 100 habitantes.
Uma
memória agora
preservada na Casa
Museu de Aljustrel.
Localizado a cerca
de dois quilómetros
da Cova da Iria, o
museu perpetua o
quotidiano da
aldeia em 1917, o
ano das Aparições.
Nesta altura, as cerca de 25 famílias viviam sobretudo do
trabalho do campo. O milho para fazer o pão saia da terra
seca e pedrosa.
Guilhermina Silva, guia do museu, explica que neste museu
há “de tudo um pouco” sobre o quotidiano da aldeia que viu
nascer Lúcia, Francisco e Jacinta.
Um espólio quase todo oferecido pelos locais, mas muitos
ofícios que aqui estão perpetuados já se perderam.
Em exposição estão as alfaias agrícolas, os trajes da época e
o retrato dos hábitos quotidianos, por exemplo, a rotina de
uma costureira que se deslocava a casa das pessoas sempre
acompanhada da sua aprendiza e da sua máquina de costura
à cabeça.
A Casa Museu de Aljustrel está instalada numa casa do século
XVII.
Ao longo da visita, os cantares populares ecoam pelas salas
deste museu que apenas encerra às terças-feiras.

RRP1, 8-10-2007
 
Na rota do património cultural
Um novo olhar sobre Fátima.

O Página1 apresenta três propostas
diferentes de viver o culto mariano.

O roteiro cultural de Fátima é a primeira etapa de uma
semana dedicada aos 90 anos das Aparições na Cova da Iria.

Os mosaicos da Igreja da Santíssima Trindade

A nova Igreja da Santíssima Trindade no santuário de
Fátima reúne obras de mais de uma dezena de artistas nacionais
e internacionais.
Um dos convidados foi um artista esloveno, sacerdote que já
fez obras em mais de 50 igrejas em toda a Europa.
O Padre Marko Rupnik liderou a equipa que fez o painel de
mosaico do presbitério da Igreja da Santíssima Trindade
O painel tem mais de 400 metros quadrados, todo em tons de
ouro e ilumina o presbitério.
Marko Rupnik inspirou-se no início do capítulo 22 do livro do
Apocalipse do São João para fazer este trabalho, que foi algo
que nunca pensou.
“Vivo isto como uma experiência da graça de Deus. Para
mim, estar aqui a trabalhar é um sinal explícito de Deus.
Nunca sonhei nem pensei fazer este trabalho tão importante
e espiritualmente tão significativo”, confessa.
Tal como o painel de milhares de mosaicos pequenos, a equipa
que Marko Rupnik lidera é também ela um mosaico constituída
por artistas “de oito nações diferentes e de diversas
igrejas”. Há latinos, greco-católicos, ortodoxos e há um
maronita. “É uma experiência eclesial”, refere o artista esloveno.
Para o artista que criou o novo painel do novo altar de Fátima
estar em Fátima é uma experiência única: “Quem vem a
Fátima com o coração e a atitude certa purifica-se como
ouro e aumenta a fé.”

A casa de Francisco e Jacinta Marto
nunca fechas as portas

Nos arredores da Cova da Iria, o visitante pode conhecer
a casa dos videntes Jacinta e Francisco, uma casa onde a
porta está sempre aberta e que revela como era a vivência
da família Marto na época das Aparições.
Sempre cheia de peregrinos, esta casa tem como anfitrião, o
sobrinho mais velho de Jacinta e Francisco.
João dos Santos Rosa tem 81 anos, explica à Renascença que
nas pequenas divisões da casa “viviam três pessoas mas só
havia três quartos. E viviam mais contentes do que agora.
Eram mais unidos. Comiam o que traziam da terra”.
Atrás da casa, a horta, na frente, o muro onde os três Pastorinhos
foram fotografados. O testemunho é agora passado
pela voz de João
dos Santos Rosa que
tem a missão de
dedicar-se “o
melhor” que sabe
“aos peregrinos”,
porque, diz, sente
“a responsabilidade
de ser o sobrinho
mais velho de Jacinta
e Francisco”
Na casa onde o tempo
parece ter parado,
João dos Santos Rosa “nunca fecha a porta” de Abril até
Outubro.

Culto mariano em exposição no Museu de Arte

O Museu de Arte
Sacra e Etnologia de
Fátima assinala os 90
Anos das Aparições com
mais uma exposição.
“Salve Rainha, mãe de
misericórdia” é a terceira
e última mostra
para assinalar a data.
As mais de quatro
dezenas de obras que
fazem a exposição que invocam o culto mariano foram recolhidas
nas várias paróquias da diocese de Fátima-Leiria.
Trata-se de esculturas e pinturas que percorrem os séculos
na iconografia mariana “desde o século XV aos nossos dias e
de vários materiais”, explica Gonçalo Cardoso, director do
Museu de Arte Sacra e Etnologia dos Missionários da Consolotada,
em declarações à Renascença.
Nas igrejas e capelas da diocese são inúmeras as invocações
encontradas. Uma delas, uma escultura do século XVIII, era
uma das preferidas de Jacinta Marto.
“Uma imagem de Nossa Senhora do Carmo em madeira policromada
que está guardada na casa paroquial de Fátima e a
quem Jacinta tinha grande devoção”, refere o director.
A exposição é hoje inaugurada e pode ser visitada até 6 de
Janeiro no Museu de Arte Sacra e Etnologia de Fátima.
Na edição da noite da Renascença pode fazer uma visita
guiada ao Museu de Arte Sacra e Etnologia dos Missionários
da Consolata em Fátima, o único museu integrado na Rede
Portuguesa de Museus.

RRP1, 8-10-2007
 
Mais portugueses foram rezar a Fátima

2008/02/08

No ano passado cerca de 5,5 milhões de peregrinos passaram pela Cova de Iria

A Igreja da Santíssima Trindade, inaugurada em Outubro, e a comemoração dos 90 anos das Aparições levaram ao aumento de peregrinos no Santuário de Fátima, que, segundo dados divulgados esta sexta-feira pela instituição, chegaram aos 5,5 milhões em 2007, informa a Lusa.

Segundo o Santuário, em 2007 passaram pela Cova da Iria cerca de 5,5 milhões de peregrinos, mais 500 mil que no ano anterior.

Nas cerimónias oficiais, o número de participantes foi de 4,9 milhões, a que se somam os participantes nas celebrações particulares.

Esta subida está directamente relacionada com as celebrações dos 90 anos das Aparições mas também com a inauguração da nova Igreja da Santíssima Trindade, que provocou um aumento dos participantes na eucaristia diária das 11h00, explicou fonte do Santuário.

Fátima: acesso difícil à cidade-santuário
«Este é o templo que faltava»

Também o número de confissões subiu de 190 mil para 200 mil, bem como o número de hóstias consumidas (1,7 milhões de partículas).

Espanha, Itália e Polónia mantêm-se como os países com mais peregrinos no santuário, referem ainda os dados divulgados pelo Serviço de Peregrinos.

Para o padre Virgílio Antunes, director deste serviço, Fátima «deixou de ser simplesmente um lugar geográfico para se transformar numa mensagem» para «muitos milhões» que procuram na cidade-santuário a sua «paz interior».

Para isso, porém, são necessários «lugares tranquilos, espaços verdes, zonas pedonais, arrumação e diminuição dos caudais de trânsito», bem como a «eliminação dos ruídos de diversa ordem», defendeu aquele responsável do Santuário.

«Não estamos à espera que seja o Estado ou as instituições pública a fazer a difusão da mensagem de Fátima», mas «esperamos que este fenómeno de massas seja reconhecido como tal», acrescentou Virgílio Antunes.

PD
 
O fascínio da Rússia por Fátima

JOSÉ MILHAZES, Moscovo*

Czar Nicolau II tomou conhecimento das aparições na Cova da Iria

O fenómeno das aparições de Fátima na Cova de Iria está estreitamente ligado à Rússia, porque os destinos deste país estiveram no centro de um dos seus "três segredos". Daí também a atenção dedicada no país aos acontecimentos de 13 de Maio de 1917.

Uma das questões que os estudiosos colocam é se chegaram notícias sobre as aparições na Cova da Iria ao último czar russo, Nicolau II, que, em 1917, se encontrava detido na cidade de Tobolsk e, em finais de 1918, foi fuzilado pelos comunistas com toda a família.

Em 1975, em Nova Iorque, foi publicado o livro de memórias Casa Especial, de Charles Gibbs, perceptor do filho e das quatro filhas de Nicolau II e de Alexandra. Este inglês, que esteve com a família real russa entre Outubro de 1917 e Fevereiro de 1918, conseguiu escapar às mãos dos carrascos comunistas, regressou a Inglaterra, onde se converteu do anglicanismo à ortodoxia e dirigiu a comunidade ortodoxa de Oxford até 1963, ano em que morreu.

Nessa obra, Charles Gibbs escreveu: "Em meados de Outubro chegaram alguns jornais, publicados nos meses de Junho e Julho. Sua Alteza mostrou-me alguns jornais onde, com títulos diferentes, se fazia a descrição do milagre de Fátima... Todos os jornais descreviam pormenorizadamente as aparições extraordinárias na azinheira na Cova da Iria, assinalando que crianças camponesas analfabetas de uma aldeiazita remota portuguesa tinham alguma noção sobre a Rússia. Isso era simplesmente incrível!"

"No lugar de Vossa Alteza - assinalei com cuidado -, eu não prestaria especial atenção a essas notícias. Sabe como são os jornalistas e a sua eterna inclinação para os exageros. Nos países católicos, semelhantes casos como o milagre de Fátima não são uma raridade."

No entanto, segundo escreve Gibbs, Nicolau II não concordou com ele: "Nenhum jornalista português teria a ideia de pôr nos lábios dessa menina profecias sobre a Rússia... Em Portugal não só essa menina analfabeta, mas a maioria dos proprietários sabe tanto da Rússia como nós deles, talvez menos. Quem podia colocar nos lábios da menina, talvez santa no futuro, palavras precisamente sobre a Rússia?"

No seu diário, o czar Nicolau II regista a presença de Charles Gibbs em Tobolsk entre Outubro de 1917 e Fevereiro de 1918.

"Dia frio, claro. Soubemos ontem que chegou o mr. Gibbs, mas ainda não o vimos, talvez porque as coisas e as cartas que trouxe ainda não foram revistadas!", escreve Nicolau no dia 6 de Outubro de 1917.

Mas o último czar da Rússia nada deixou nos seus escritos sobre a conversa com Charles Gibbs acima citada.

O tema das aparições de Fátima esteve presente em alguns sectores da Igreja Ortodoxa Russa durante a era comunista.

A 3 de Abril de 1975, em pleno PREC em Portugal, o sacerdote Glev Iakunin e o teólogo ortodoxo Lev Reguelson dirigem um "Apelo aos cristãos de Portugal, onde pedem aos portugueses que não se deixem ludibriar pelos discursos dos comunistas."

"Imploramo-vos que, ao definir o vosso comportamento na vossa edificação político-social do novo Portugal, não se esqueçam da trágica e edificante experiência do nosso país. Se os comunistas, a título excepcional, podem chegar ao poder por via pacífica e democrática, eles nem na teoria nem na prática admitem a possibilidade de ceder esse poder por via pacífica. Isso significa que a sua vitória fecha a via a qualquer desenvolvimento político posterior, a qualquer criatividade política. Quando chegam ao poder, eles ignoram a vontade do povo se ele estiver contra eles. Na Rússia, em 1918, depois de não conseguir impor a maioria nas eleições para a Assembleia Constituinte e impor-lhe o seu programa, os comunistas-bolcheviques dissolveram--na imediatamente", escreviam eles no apelo, publicado na revista clandestina Mensageiro do Movimento Social-Cristão da Rússia.

Iakunin e Reguelson deixam aos portugueses a pergunta: "Com tristeza e preocupação, dirigimo-vos a vós com a pergunta: será que a alma popular de Portugal sofreu uma fractura tão profunda que a Praça Branca de Fátima irá parar às mãos dos inimigos da Igreja, será que os portugueses permitirão fazer sangrar uma vez mais o Coração Imaculado de Maria?"

Cepticismo ortodoxo

Actualmente, a direcção da Igreja Ortodoxa russa olha com cepticismo para o fenómeno de Fátima, vendo nele uma forma de o Vaticano tentar atrair para o seu seio o rebanho ortodoxo.

"As profecias de Fátima não se enquadram na tradição ortodoxa. Interpreto a profecia como o renascimento espiritual da Rússia, e não como a conversão do país ao catolicismo", considera o metropolita de Smolenski e Kaliningrado Kirill, dirigente do Departamento de Relações Internacionais da Igreja Ortodoxa Russa.

O padre Leonid, que desempenha o seu serviço religioso numa das paróquias de Moscovo, declarou à Lusa que "se pode olhar com cepticismo para as profecias de Fátima, mas também se pode acreditar plenamente nelas".

"Nós acreditamos noutra coisa, que a ortodoxia penetrou no corpo e no sangue do povo russo. Este continua a ser um povo crente, não sei que parte, e conserva a fidelidade à Santa Ortodoxia", concluiu ele.

* Jornalista da agência Lusa

DN, 10-5-2008
 
Grandes Esperanças

Em Portugal existe uma tradição mariana com origem nas festividades e cultos das deusas pagãs, a que se incorporaram discursos simples sobre a fé
e que se estruturam em torno a lugares, milagres e, sobretudo, sentimentos para com Nossa Senhora.
Este viver religioso, popular, constitui um elemento de construção de uma memória social
e ideológica que, hoje, numa sociedade laicizada, continua a interpelar os próprios poderes seculares, bandeira essencial
que é da liberdade religiosa.
A religiosidade popular é, muito frequentemente, uma religiosidade no feminino, uma religião do coração, representante ideal da afectividade.
Olhada como Mãe dos homens e colaboradora na Redenção, é na Mãe de Deus que o povo mais facilmente vê a face materna de Deus. Capaz de nos ajudar a encontrar a salvação eterna, Maria tem o poder de nos auxiliar na resolução das crises mundanas. Nas dores, viramo-nos para a Mãe e esta devoção
afi rma o papel da mulher na história da salvação.
Frequentemente é Fátima o local escolhido para esse encontro com Maria.
A Fátima do santuário, espaço de sagrado, de mistério, de separação das “coisas” do mundo, tem o poder de um forte impacto, não só religioso mas psicológico, no sentido em que é um lugar preservado, que encerra um tesouro substancial. Este tesouro torna-o dinâmico pela atracção que tem
aquilo que é recôndito, complexo, de difícil acesso.
O santuário testemunha e explica uma história santa, desfazendo o mito de uma cultura puramente profana e neutra.
Por isso mesmo, visto por alguns como um exemplo de ignorância, subdesenvolvimento e artimanha manipuladora por parte da hierarquia religiosa, de facto, o santuário revela a incessante
busca de sentido que marca a
história do ser humano, concedendo
ao peregrino referências que tornam
a sua vida salutar e direccionada. Assim, todos os anos, e de forma mais simbólica a 13 de Maio, cinco milhões de peregrinos nos interpelam mansamente sobre a realidade mais profunda do ser
humano, o seu desejo de um horizonte de transcendência, a sua necessidade de, por Maria, cheia
de graça, se encontrar com Deus.

RRP1, 13-5-2008
 
Fátima explicada pela ovniologia e espiritismo

MARCOS CRUZ

'Fátima Revisited' é uma obra compilada por portugueses que acaba de ser lançada nos EUA e propõe novo paradigma na abordagem das aparições marianas, em 1917, na Cova da Iria, onde análises científicas multidisciplinares convivem com outras perspectivas, incluindo a religiosa

Fátima explicada pela ovniologia e espiritismo

Publicação faz uma ponte entre ciência e religião
Tem título de disco de versões - e versões, na verdade, não lhe faltam. Mas é um livro. Fátima Revisited, editado este mês nos EUA (Anomalist Books), é a primeira abordagem científica multifocal das "aparições marianas". Da neurobiologia à psicologia transpessoal, passando pela física quântica, são várias as disciplinas do saber que, representadas por 17 especialistas de oito países europeus e americanos, lá se reúnem para avaliar os fenómenos ocorridos em Fátima de 13 de Maio a 13 de Outubro de 1917. O resultado não é um fim, mas um virar de página no livro do mistério.

Joaquim Fernandes, Fernando Fernandes e Raul Berenguel, mentores do projecto e compiladores dos textos, são portugueses, membros do Centro Transdisciplinar de Estudos da Consciência (CTEC) da Universidade Fernando Pessoa, no Porto. O primeiro define a antologia: "Representa o ano zero de uma abordagem multidisciplinar, científica, holística, integrada, desta problemática." Uma terceira via por entre "as perspectivas redutoras quer da parte dos que não acreditam no interesse científico de explorar estes fenómenos, preferindo dizer que é tudo inventado pela igreja, quer da parte da apologética católica, que continua a cingir Fátima à teologia mais restrita", diz.

Coordenador do Project Marian, rede internacional de pesquisa académica sobre as aparições, Joaquim Fernandes foi descobrindo escritos e depoimentos que, no pós-Internet, pôde fazer circular por investigadores e cientistas de áreas diversas. Embora a base do estudo não fosse uma evidência física, houve interesse generalizado nos destinatários e Fátima Revisited entrou em gestação.

Heresia a tomar forma? "É claro que não. 1917 não é 2008. O próprio Papa Bento XVI não entende a primeira aparição como uma presença efectiva da mãe de Cristo, mas tão-só como uma visão interior que representa essa mesma entidade no plano subjectivo, condicionado pela cultura, o que salienta a pertinência dos estados modificados de consciência no desencadear destes fenómenos e reforça a noção de que Lúcia nunca podia ter visto Maomé ou Buda", refere.

Igual raciocínio se aplica ao facto de os relatos de experiências de abdução, em que os raptores extraterrestres são sempre antropomórficos, terem surgido na era do audiovisual. Aliás, há pontos de contacto entre os dois tipos de fenómeno, quer nos sintomas físicos apresentados por quem os vive (amnésia, fraqueza, alteração do ritmo cardíaco, entre outros) quer nas percepções descritas (zumbidos, queda de filamentos, etc.), o que leva Fernandes a dizer serem fenómenos "que, no fundo, se movem pelas mesmas coordenadas".

DN, 30-6-2008
 
Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?