06 maio, 2007

 

6 de Maio


Dia do filho e este ano também da mãe

Das mães:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_das_M%C3%A3es

http://www.notapositiva.com/temp/diadamae.htm

Do filho,
talvez, um dia.


«Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça!»

«Mãe! Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei! Traze tinta encarnada para escrever estas coisas! Tinta cor de sangue, sangue verdadeiro, encarnado! Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça! Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça não se lembra senão de viagens! Eu vou viajar. Tenho sede! Eu prometo saber viajar. Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um. Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa. Depois venho sentar-me a teu lado. Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquela que eu viajei, tão parecida com as que não viajei, escritas ambas com as mesmas palavras. Mãe! Ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado! Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa. Como a mesa. Eu também quero ter um feitio, um feitio que sirva exactamente para a nossa casa, como a mesa. Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça! Quando passas a tua mão pela minha cabeça é tudo tão verdade!»

Almada Negreiros in A Invenção do Dia Claro

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DIZER DEUS NO DIA DA MÃE

Anselmo Borges
padre e professor de Filosofia

Ernst Bloch, com a espantosa capacidade de deslumbramento frente às grandes experiências, na raiz do filosofar, escreveu: "Se a noite de amor não é clara, o seu fruto é-o ainda menos. Facto bizarro: a criança no ventre da mãe, o mundo indizível no qual dorme o embrião, as mulheres grávidas levam-no para a rua, para as compras, para os bailes. O começo de um mundo e mesmo do mundo em geral encontra-se em letargia e abrasa-se aqui numa mulher acordada; o ponto zero da Pré-História viaja eventualmente entre duas estações do eléctrico, num dia frio e banal de 1928, e os ginecologistas não sabem classificar os mistérios do começo."

Entretanto, as ciências biológicas avançaram. Mas o fascínio do mistério do começo de um ser humano enquanto pré-história de um mundo e do mundo continua igual.

Contamos a nossa idade a partir do dia do nascimento, o dia da chegada à luz. Na realidade, já cá andávamos, mas lá no escuro do ventre materno. Depois da vinda à luz, começamos o processo de fazer-nos. O animal chega ao mundo feito. O Homem nasce prematuro, por fazer, tendo de aprender quase tudo: a andar, a falar, a comportar-se segundo regras. O Homem é por natureza um ser histórico-cultural.

Para qualquer ser humano reflexivo continua misterioso o aparecimento da autoconsciência, tanto a nível filogenético como ontogenético. Quem foram os primeiros seres humanos? Como é que se passou da oclusão da noite do inconsciente à luz da consciência? Alguém se lembra do dia e do local em que, pela primeira vez, disse a si mesmo de modo consciente, iluminado por dentro: eu sou eu?

A escola jungiana também reflectiu sobre este enigma, indo à procura, nos arquétipos, desse processo. E lá está, nas várias culturas, o estádio primeiro, inconsciente, figurado pelo uroboros, a figura mítica em círculo, que exprime a situação inicial, sem começo nem fim, e que pode ver-se representado no andrógino, na serpente circular, no dragão que morde a cauda. Depois, o mito da Grande Mãe é símbolo do afecto, da ternura, mas, representada como devoradora, exprime ao mesmo tempo a luta que se trava no processo de autonomização. É assim que aparece a figura do herói, que é cada ser humano à conquista de si mesmo. Nessa conquista, surgem obstáculos constantes, figurados, por exemplo, no dragão mítico, que é preciso vencer. Despertando para si, o ser humano descobre o tesouro escondido: ele mesmo, adulto, em relação viva consigo, com os outros e com o mundo. Chegar a ser si mesmo é a única verdadeira tarefa, sempre inacabada, de cada Homem.

A imagem do pai e da mãe são decisivas também para a imagem de Deus. Normalmente, os crentes figuram Deus como Pai: Deus é Pai. Mas isso é apenas uma metáfora. João Paulo I - o que foi Papa só 33 dias - disse que Deus é Mãe, provocando a crítica até de cardeais. Mas realmente não há razão para a ira cardinalícia, pois, se se trata de metáforas, porque é que não hão-de os crentes referir-se a Deus como Pai e como Mãe? A Bíblia põe na boca de Deus estas palavras: "Acaso pode uma mulher esquecer-se do seu bebé, não ter carinho pelo fruto das suas entranhas? Ainda que ela se esquecesse dele, eu nunca te esqueceria. Juro pela minha vida."

Segundo E. Fromm, o psicanalista heterodoxo, é na mãe que encontramos o modelo ideal do amor. De facto, o que é que procuramos senão o amor incondicional? Ora, a mãe ama o filho/filha não porque ele ou ela têm estas ou aquelas qualidades, não pelo que são, mas pura e simplesmente porque são.

Também deste modo encontramos uma boa imagem para Deus. O espantoso na mãe é que ela continua ela, mas, grávida, há nela, sem deixar de ser ela, lugar para o outro dela - o filho ou a filha -, e, ao longo da vida, ao mesmo tempo que eles podem sempre contar com ela o que ela quer é que eles sejam eles. São Paulo foi a Atenas dizer que "é em Deus que vivemos, nos movemos e existimos". É em Deus que somos, tudo é em Deus, mas, como a mãe, Deus quer ao mesmo tempo a autonomia das criaturas, dos homens e das mulheres.

DN, 5-5-2007, pág. 10
 
MÃE, NÃO HÁ SÓ UMA...

CÉU NEVES

Dia da Mãe. O mundo está a mudar.

Dantes, mãe só havia uma. Hoje há vários tipos: mães biológicas, mães afectivas, mães portadoras, mães adoptivas e madrastas. Os avanços tecnológicos permitem que uma criança possa mesmo ter três mães: a que fica com ela, a que dá à luz e a que fornece o ovócito
Mães afectivas, mães adoptivas, mães portadoras, mães de acolhimento, madrastas e mães biológicas. Variações de uma mesma figura e que, afinal, se resumem a uma só: MÃE. E que as sociedades actuais - através da evolução social, científica e jurídica -, alargaram a outras formas de família, que não a tradicional. E mãe é mãe, mesmo que não tenha dado a luz, ao contrário do que estipula o artigo 1796 do Código Civil ("a filiação resulta do facto do nascimento..."). E mãe é mãe, mesmo que não tido contacto com um parceiro masculino. Qual é a dúvida .... se a figura católica que serviu de inspiração ao Dia da Mãe, a "imaculada Conceição da Virgem Maria", foi mãe sem ter concebido?

Aquela realidade pode ser ilustrada com as estatísticas. Aumentam os divórcios e, numa proporção maior, os recasamentos. "O divórcio tem vindo a aumentar e há uma tendência generalizada para a conjugalidade. As pessoas não querem ficar sozinhas, tenham ou não filhos", explica a socióloga Cristina Lobo, autora da tese de doutoramento: "Recomposições familiares; dinâmicas de um processo de transição". E que tem um dado novo: os filhos já não são um impedimento para um divórcio ou um recasamento, embora tal constatação se aplique mais aos homens do às mulheres e, entre estas, às mais novas. Há cada vez mais famílias do tipo "os meus, os teus e os nossos filhos".

Nos recasamentos, em 71% dos casos têm filhos de anteriores casamentos e, como os homens se voltem a casar mais facilmente que as mulheres após uma ruptura ou um divórcio, há mais madrastas do que padrastos. Mas estas "são madrastas intermitentes", refere Cristina Lobo. E explica: "A maior parte não vivem com os filhos dos maridos, porque essas crianças vivem com as respectivas mães. Já os padrastos são em menor número, mas são mais padrastos do quotidiano". A criança fica com a mãe m 95% das separações.

Juridicamente, a madrasta tem uma "afinidade na linha recta" (impedimentos no recasamento em caso de viuvez), mas não tem deveres nem direitos para com o enteado. E, por vezes, tem um papel indefinido: quem é a madrasta, até onde vai o seu poder?. "Essa redefinição de papéis é que é mais difícil de gerir. Esses papéis estão todos por definir e fica muito ao critério de cada um", sublinha Cristina Lobo.

A situação é diferente na adopção, em que a mãe adoptiva tem todos os direitos e deveres para com a criança, independentemente da existência ou não de uma mãe biológica. O problema é que o processo de adopção é complicado e demorado, além de que só é permitido entre casais heterossexuais ou pessoas singulares. E há quem se torne mãe afectiva antes de ser mãe adoptiva, ou quem assim permaneça, porque não quis ou não foi possível encontrar o enquadramento jurídico para a situação.

A evolução das técnicas de fertilização in vitro e a procriação medicamente assistida ampliou o leque de possibilidades para quem deseja ter um filho. Pode ser-se mãe recorrendo à inseminação artificial, a uma dadora de óvulos e, até, a uma barriga de aluguer. O enquadramento da criança no meio familiar é feito de acordo com a estratégia de cada um dos elementos que constituem esse núcleo, já a questão jurídica é mais complicada, diz a jurista Stela Barbas, cuja tese de doutoramento se intitula "Direitos do genoma humano". "O problema é determinar a filiação. Por exemplo, numa inseminação artificial em que recorra a uma barriga de aluguer, podemos considerar que há três mães: a mãe que dá à luz, a mãe que empresta o ovócito e a mãe a quem vai ser entregue a criança, Mas, à face da lei, só existe uma mãe, a que deu à luz, e são nulos todos os contratos que possam existir entre as pessoas envolvidas".

Uma lei que, segundo Stela Barbas, "está perdida no tempo, desactualizada". E se se desconhecem casos de barriga de aluguer em Portugal, já a inseminação é já frequente.

Os casais homossexuais acrescentaram novos dados às "famílias recompostas ou reconstruídas", "às famílias de acolhimento" e às "famílias adoptivas", as famílias com dois pais ou com duas mães. E as mulheres têm vantagens sobre os homens, já que facilmente podem contornar as leis, tanto da adopção como da procriação medicamente assistida, vedadas aos homossexuais.

Então, mãe há só uma? "Essa ideia tem muito a ver com a mãe biológica, sabe-se sempre quem é a mãe. Mas podemos falar de uma parental idade social porque, por exemplo nas famílias recompostas, há uma parentalidade biológica e uma parentalidade social. Todos falamos na família, mas esta não é a mesma coisa para cada um de nós!", responde Cristina Lobo.

DN, 4-5-2008
 
"A minha filha quis começar a chamar mãe à Teresa. Diz que tem duas mães"

Helena Paixão e Teresa Pires são ambas mães. Casaram-se, tiveram filhos, separaram-se e conheceram-se. Mas porque se apaixonaram uma pela outra e resolveram viver juntas, vivem a maternidade de forma diferente. Helena habita com a filha e, segundo conta, "uma semana depois de vivermos juntas, a minha filha quis começar a chamar mãe à Teresa". Foi há seis anos. A menina diz a toda a gente que tem duas mães, tantas vezes as que forem necessárias para que as pessoas deixem de estranhar. "A minha filha [14 anos] diz que quem gosta dela tem de respeitar a família", explica a Helena. E do outro lado, ouve-se a voz da Teresa que cita um provérbio popular: "Parir é dor, criar é amor". Mas Teresa já não pode criar a sua filha biológica. Foi-lhe retirada porque alguém entendeu que a sua "conduta" não lhe poderia proporcionar uma boa educação. O caso de Helena e Teresa exemplifica grande parte das situações em que os casais de homossexuais têm filhos. Ou seja, já tinham filhos de anteriores casamentos heterossexuais quando partiram para uma relação com um parceiro do mesmo sexo. Mas, hoje, as mulheres lésbicas podem ter filhos sem terem relações sexuais com homens, através da inseminação artificial. "Vai acontecendo cada vez mais. É evidente que as pessoas não vão deixar de ter filhos porque o Estado não quer. Em Portugal, não é permitida a inseminação artificial a mulheres sós e a casais homossexuais e as pessoas vão a Espanha ", diz Paulo Côrte-Real, membro da Ilga Portugal, associação e defesa dos direitos das lésbica, gays, bissexuais e transgéneros. A organização defende que, "uma lei que se centra na questão do tratamento da infertilidade não poderá excluir as mulheres sós ou as mulheres lésbicas que vivam em união de facto", E justifica: "sendo a infertilidade uma doença que precisa de uma resposta do Serviço Nacional de Saúde, o acesso a esse serviço deverá ser universal". Segundo um estudo realizado nos EUA, 15% dos lares gays e 32% dos de lésbicas têm filhos.

DN, 4-5-2008
 
Mães têm o direito de amamentar dois anos

DIANA MENDES

Mais de 80% das mulheres decidem amamentar os seus filhos, mas a maioria só o faz até aos seis meses, embora os especialistas recomendam até aos dois anos. Enfermeiras afirmam que leite materno é melhor que o artificial e os dois primeiros bancos de leite podem surgir já em 2009

Mais de 80% das mães decidem-se pela amamentação

A maior parte das mães portuguesas escolhe amamentar o seu bebé. Mas se 85% das mulheres decidem fazê-lo, são ainda demasiadas as que interrompem o aleitamento ao fim de três ou seis meses. O ideal, diz a enfermeira Rosário Côto, "é amamentar pelo menos durante dois anos", mas é preciso ajudar a mulher a enfrentar os múltiplos obstáculos que dificultam este gesto tão natural. "A mulher tem de ser ajudada a resolver estas dificuldades e a conhecer os seus direitos". São poucas as que sabem que podem amamentar no local de trabalho até aos dois ou três anos. Só é preciso "comprovar que o podem fazer", refere. No dia 1 comemorou-se o dia do aleitamento materno.

Rosário Côto reconhece haver um aumento do número de mães que amamentam os seus bebés durante mais tempo. "As mães têm os filhos mais tarde e estão mais preparadas, porque são bebés muito desejados. Mas temos noção de que as mulheres não podem abandonar a carreira", diz a presidente da Comissão da Especialidade de Enfermagem em Saúde Materna e Obstétrica da Ordem dos Enfermeiros. A conjugação com o trabalho é uma das mais difíceis, porque ainda há muitas pressões dos empregadores. "A lei determina que a mulher pode amamentar em dois períodos do horário de trabalho. Mas pode continuar a fazê-lo enquanto tiver leite e, até, dividir esse horário com o companheiro. As mulheres não conhecem os seus direitos e deixam de dar mama por razões conómicas ou culturais", lamenta.

Até aos seis meses, os especialistas recomendam que apenas se dê leite materno. A primeira mamada, o colostro, é uma espécie de primeira vacina, por ser rica, nutritiva e conceder grande protecção às crianças. O leite vai mudando desde o parto, adaptando-se às necessidades do bebé: "varia de mamada para mamada, de uma mama para a outra e no tempo. Todas as mamadas são diferentes. É como se fossem pratos diferentes", brinca Rosário Côto.

Não há leites fracos

O leite materno nunca é fraco. É sempre melhor do que qualquer leite artificial: mais nutritivo, variado e tem a temperatura correcta. Pode é não ser suficiente para o bebé, mas isso tem só se pode concluir se o bebé não ganhar peso. Só aí se pode optar pelo leite artificial. De outro modo, as mamadas devem ser dadas em exclusivo até aos seis meses, altura em que se pode começar a introduzir alimentos.

Há períodos em que a produção de leite diminui e há vários factores para isso. "Muitas vezes a mulher é muito solicitada, está em stress ou não amamenta regularmente. A mãe está sempre condicionada. Não pode ir a uma discoteca ou ir para fora sem levar o bebé. É preciso que a família lhe dê apoio", avança. Para a mulher ter leite, é preciso que o bebé mame mais e haja uma sucção contínua.

As vantagens do leite materno são inúmeras para a mãe, para o bebé e até para a sociedade, visto que a amamentação garante uma redução das doenças. Rosário Côto refere que há dados a comprovar que os bebés se tornam mais inteligentes e têm melhores resultados. A ligação entre mãe e filho é fortalecida e a própria mulher recupera mais facilmente a figura que tinha antes da gravidez, além de ter umra redução do risco de alguns tipos de cancro".

A OMS refere, até, que as crianças terão um risco mais reduzido de asma, infecções, obesidade, diabetes, entre outras doenças. Este leite garante imunidade, redução de infecções, uma digestão mais fácil e é muito variado, além de económico e ecológico. Uma lata de leite artificial dura uma semana e custa entre 10 e 15 euros.

Há regras?

Não há regras para amamentar, mas há uma quase "ditadura" do bebé. A mãe tem de aprender a conhecer o seu filho e as suas reacções. Neste caso, dar-lhe de mamar quando ele pedir e durante o tempo que necessita. "Há bebés que mamam quatro minutos e ficam satisfeitos, mas também acontece o oposto", refere a enfermeira. "É importante que se dê a mama toda até ao fim, porque o leite do fim é mais rico", diz ao DN Teresa Félix, enfermeira e responsável pela área de amamentação na especialidade de saúde materna e obstétrica da OE. A mãe não tem de se preocupar com o facto de a outra mama poder ficar cheia, porque há factores naturais que regulam a sua produção.

Mesmo quando a mãe está doente não há risco para o bebé, até porque o leite tem anticorpos que protegem o bebé. Apenas as mães com infecção VIH/sida não podem dar de mamar.

Durante esta semana, a Ordem dos Enfermeiros fez acções de sensibilização em várias praias do País. A iniciativa visou envolver toda a família no processo de amamentação do bebé, mesmo as crianças. "Lembro-me de a minha mãe falar que era maravilhoso dar de mamar. E isso fez com que eu, já em criança, pensasse: quando for grande eu vou querer dar de mamar", recorda Rosário Côto.

DN, 3-8-2008
 
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