03 maio, 2007

 

Cancro


Pode ser a qualquer idade

Para os mais novos:

http://www.oncologiapediatrica.org/

E os outros:

http://www.infocancro.com/?gclid=CKj--PnN8osCFSggEAodYkcZPg

http://www.ror-sul.org.pt/Pages/Home.aspx

A esperança:

http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=884727#
http://diario.iol.pt/noticia.html?id=933998&div_id=4071

Comments:
Site inédito apoia pais
de crianças com cancro

Está disponível desde 10 de Março, mas já ajuda cerca
de cem pessoas por dia. É o primeiro site português na Internet
na área da oncologia pediátrica e o objectivo é o de criar
uma rede de informação e apoio mútuo entre pais de crianças
vítima de cancro.
Em declarações à agência Lusa, o autor do site, Nuno Martins,
diz que, na investigação que deu origem a este projecto
apercebeu-se que não existia informação on-line nesta área e
que os pais se perdiam em sites estrangeiros que muitas
vezes lhes davam informações erradas”.
Foi assim que nasceu a ideia da criação do site
www.oncologiapediátrica.org.
O projecto conta com a colaboração e apoio da Acreditar -
Associação de Pais e Amigos de Crianças com Cancro e do
Instituto Português de Oncologia do Porto.
Além dos actuais apoios, Nuno Martins considera que são
necessários mais para que o site continue a crescer, apelando
nomeadamente a uma maior contribuição dos médicos especialistas
na área da oncologia pediátrica.

RRP1, 29-3-2007
 
Novo tratamento do cancro da próstata reduz risco de impotência

DIANA MENDES

Uma nova técnica de tratamento do cancro da próstata está a revelar grandes benefícios nos casos precoces da doença e nos recorrentes, que geralmente se revelam dez anos após uma cirurgia radical. O HIFU (High Intensity Focused Ultrasound) é um tratamento menos invasivo e seguro e tem menos riscos de disfunção eréctil e incontinência. Milhares de doentes vão poder beneficiar deste método, que foi introduzido há oito meses em Portugal.

A nova técnica consiste na utilização de ultrasons de elevada intensidade para eliminar os tecidos cancerígenos. O tratamento é menos lesivo do que a radioterapia ou do que a prostatectomia radical e pode ser utilizado em duas situações, de acordo com o urologista Reis Santos. "É mais uma arma de combate para situações onde outras falharam, como a radioterapia, que pode deixar células vivas", explica. "Depois de uma primeira cirurgia não é possível fazer outra, porém, através de ultrasons, podemos voltar a tratar a próstata", esclarece. De acordo com o especialista, 50% dos homens que foram tratados acabam por ser novamente afectados.

Os casos diagnosticados precocemente ou em que o cancro está bem definido também estão a beneficiar do tratamento. "Nos tumores pequenos ou localizados, este método é eficaz. Hoje temos muitos doentes com 40 e até na casa dos 30 anos. Se conseguirmos apanhar a doença no início podemos preservar a sua vida sexual, tratando apenas a parte afectada".

O HIFU foca a energia dos ultrasons na zona afectada dos tecidos, elevando rapidamente a temperatura dos mesmos (em segundos chega aos cem graus). As células cancerígenas são eliminadas, mas os tecidos circundantes são preservados.

Nos Estados Unidos, um estudo clínico revelou que este sistema foi eficaz em 88% dos doentes de baixo risco. A incontinência urinária é muito mais reduzida (2% dos casos), bem como a disfunção eréctil, que, ainda assim, afectou 25% dos doentes.

A técnica, que tem revelado grandes progressos nos últimos anos, também pode ser utilizada no tratamento de outros tipos de cancro, mas apenas em parte dos mesmos. |

DN, 4-5-2007, pág. 14
 
Sobrevivência ao cancro duplicou em 30 anos

RUTE ARAÚJO

Em apenas 30 anos, aumentou para o dobro o número de doentes diagnosticados com cancro que conseguem sobreviver dez anos à doença. Os números são de um estudo inglês, que analisou a incidência das principais doenças oncológicas e a respectiva mortalidade na população. Em Portugal, os dados existentes continuam a não ser fiáveis, mas os especialistas dizem que a batalha contra o cancro tem também sofrido melhorias nas últimas décadas.

De acordo com a análise feita por uma equipa de epidemiologistas da London School of Hygiene and Tropical Medicine, o cancro já não é uma sentença de morte como há décadas e está a tornar-se numa doença com a qual as pessoas vivem. Melhorias nas terapêuticas, diagnósticos precoces e maior consciência da população sobre estas patologias são os grandes responsáveis pela evolução.

Se em 1971 a percentagem de doentes a quem era diagnosticado cancro e para os quais se esperava uma sobrevivência de dez anos ficava pelos 23,6%, em 2000/2001 este valor disparou para quase metade - 46,2%. Para os especialistas, o período de dez anos funciona como um marco a partir do qual a doença pode ser considerada perto da cura. A hipótese de sobreviver varia, no entanto, com os tipos de cancro - o do pulmão ou do pâncreas continuam difíceis de tratar - e com o sexo - as mulheres têm mais possibilidade de viver do que os homens. As autoridades inglesas querem agora aumentar a sobrevivência para 60% até 2020.

Jorge Espírito Santo, presidente do colégio de Oncologia da Ordem dos Médicos, explica que em Portugal os dados existentes continuam a dar um retrato pálido do que acontece na realidade. Mas se em 2000, o país estava mal colocado na Europa em mortalidade do cancro (ver texto em baixo), a situação tem melhorado.

"A disseminação de oncologistas e serviços de oncologia pelo País aconteceu nos anos 90 e os resultados demoram pelo menos uma década a tornar-se visíveis", explica o médico. Para o oncologista, tem havido pequenos avanços nas terapias que, todos juntos, conseguem produzir efeitos importantes na luta contra a doença. Mas, acrescenta, a grande diferença está na detecção do problema numa fase mais precoce - e para isso contribuiu uma melhor cobertura médica, rastreios frequentes e exames regulares, além de uma maior informação por parte das pessoas.

Contudo, Jorge Espírito Santo considera que o diagnóstico atempado ainda é um problema no País e o tempo que vai da detecção para o início do tratamento faz toda a diferença. "Mais do que os avanços na investigação científica, que só têm resultados práticos passado décadas, o importante é a forma como os serviços se organizam e como respondem aos seus doentes o mais rapidamente possível", defende.|

O cancro do pulmão continua a ser o mais mortal porque é dos mais difíceis de tratar. "O da próstata também apresenta problemas complicados, mas outros, como o do cólon ou da mama, há já terapêuticas muito eficazes", explica.

Certo é que a incidência de cancro tem aumentado desde os anos 40 e a tendência é para continuar a crescer nas próximas décadas. "É inevitável. A partir dos 60 anos, os casos são mais prováveis e, com o aumento da esperança média de vida, há cada vez mais pessoas a viverem para além desta idade."

DN, 17-5-2007, pág. 11
 
Diagnóstico é tardio nas doenças da tiróide

DIANA MENDES

500 novos casos de cancro surgem no País, mas só 15% são fatais
As doenças da tiróide são comuns a mais de 10% da população portuguesa, mas os sintomas e tratamento permanecem desconhecidos para grande parte dos afectados e até da classe médica. Segundo o endocrinologista Jácome de Castro, "ainda há um grande atraso do diagnóstico", apesar de estas doenças serem muito fáceis de tratar.

O desconhecimento por parte da população gera mesmo algum alarmismo sempre que se detecta um nódulo na tiróide - glândula que produz hormonas que regulam o metabolismo e afectam o funcionamento dos órgãos. "Cerca de 40% da população tem pequenos nódulos, mas apenas 10% têm de ser analisados. Destes, apenas 5% são malignos", explica o coordenador do grupo de estudos da tiróide. O cancro da tiróide afecta 500 novas pessoas a cada ano, um "número que tem crescido devido a um diagnóstico mais precoce", mas é fatal em apenas 15% dos casos.

Entre as mulheres registam-se quatro vezes mais casos de cancro do que nos homens, razão que leva o médico a lançar uma hipótese: "É possível que nas idades intermédias, as hormonas femininas tenham tendência para ajudar a desencadear o problema", uma vez que nas camadas mais jovens ou maduras os números sejam semelhantes nos dois sexos.

Se os casos malignos são uma minoria, doenças que alteram a função da glândula (situada no pescoço) são frequentes e bastante incapacitantes, além de difíceis de detectar. No caso do hipotiroidismo, em que a libertação de hormonas é insuficiente, é habitual "ganhar peso, ter baixa frequência cardíaca, irregularidades menstruais, obstipação e intolerância à dor". Já no hipertiroidismo, a situação é inversa: "intolerância ao calor, excesso de suor, irritabilidade, tremores e perda de peso", alerta o médico.

É o hipertiroidismo que gera maiores preocupações, porque "os doentes chegam tarde a nós. Já passaram por vários médicos devido aos vários sintomas". No caso de a pessoa ser nova, o atraso na detecção não é problemático, mas se a "pessoa tiver 50 ou 60 anos é perigoso. Pode ter uma insuficiência cardíaca, por exemplo". Entre as grávidas, qualquer uma das versões tem de ser acompanhada cuidadosamente.

Ontem, terminou um encontro internacional entre especialistas e doentes, iniciativa que visava promover o diagnóstico precoce, informar "clínicos gerais sobre estas áreas e dar-lhe normas orientadoras". Os doentes tiveram espaço para colocar dúvidas e conhecer fontes de informação ao seu alcance. Segundo o responsável, deve ser "criada uma associação de doentes", uma vez que esta iniciativa foi um sucesso.

DN, 1-7-2007
 
COMER CONTRA O CANCRO

ELSA COSTA E SILVA

Há alimentos que protegem das neoplasias
Ingerir fibras, como as que encontramos nos cereais, previne o cancro do cólon. O leite e o queijo parecem igualmente trazer benefícios. A cebola e o alho ajudam a evitar alguns tumores do estômago e do esófago. De uma maneira geral, é aconselhada a ingestão de frutas e vegetais, mas, por exemplo, estes alimentos não parecem estar relacionados com uma diminuição de risco do cancro da mama ou da próstata. A alimentação é cada vez mais chamada a explicar casos de cancro e, crescentemente, a investigação científica tem vindo a debruçar-se sobre a relação entre a dieta e a saúde.

Contudo, a tarefa dos investigadores não tem sido fácil e a relação com os alimentos também não, porque é uma associação nem sempre simples de medir e seguir, não surgindo de forma evidente. Um dos estudos mais importantes neste campo tem sido o EPIC, um projecto internacional que tem trazido grandes contributos para a conhecimento do cancro através da participação de mais de meio milhão de europeus. Fátima Carneiro, investigadora do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (Ipatimup), que está envolvida no projecto na parte do controlo dos diagnósticos, explica que esta base de estudo "tem um valor inestimável".

O desenho de coorte - que está na base do EPIC - tem um importância capital na ciência: a ideia é seguir um conjunto populacional ao longo de vários anos, às vezes décadas, avaliando inúmeros factores, como é o caso da dieta alimentar. Ou seja, os cientistas acompanham uma população real no seu dia-a-dia. A "importância capital" do EPIC, explica a ainda a patologista do Porto, reside no facto de ter conseguido agregar mais de 500 mil pessoas - recrutadas entre 1992 e 1998 - vindas de dez países como a Dinamarca, França, Alemanha, Grécia, Itália, Holanda, Noruega, Espanha, Suécia e Reino Unido. Portugal não tem participantes nacionais envolvidos neste projecto, que tem vindo a armazenar as amostras biológicas em Lyon (França).

Um dos estudos recentes "saídos" do projecto EPIC, financiado por uma série de instituições europeias, é o trabalho que relaciona a ingestão de carne vermelha com o cancro de estômago e do esófago. É já um dos artigos, publicado no International Journal of Cancer, mais citados em todo o mundo.

Muitos estudos têm falhado em encontrar ligação entre a dieta alimentar e o cancro (com sucessivos resultados e descobertas contraditórias a serem recorrentemente publicadas) porque existem diferentes tipos de neoplasias, mesmo dentro da cada órgão, e os factores de risco variam. Por isso, uma das componentes que contribuem para a solidez do EPIC diz respeito à confirmação dos diagnósticos de cancro por análise patológica, em que Fátima Carneiro tem estado envolvida.

No que diz respeito ao cancro do estômago, os investigadores distinguiram dois tipos diferentes, consoante a sua localização: os de tipo cárdia (na zona de transição entre o estômago e o esófago) e os não-cárdia, relativos a outras zonas deste órgão digestivo. Assim, o consumo de qualquer tipo de carne, de carne vermelha e cozinhada, está significativamente associada ao cancro do estômago não-cárdia, risco significativamente agravado quando há infecção pela Helicobacter pylori (bactéria responsável pelas gastrites). Os investigadores não encontraram relação entre o tipo de cancro do estômago de tipo cárdia e uma associação positiva, mas não significativa, entre o consumo de carne e a neoplasia do esófago.

DN, 2-8-2007
 
Dieta roxa e vermelha combate o cancro

Os pigmentos naturais, que dão a algumas frutas e vegetais a cor avermelhada, azul ou roxa, contribuem para a diminuição do número de células cancerígenas no organismo e, em alguns casos, pode mesmo causar a sua extinção, tornando-os uma importante ajuda no combate ao cancro, afirma um estudo realizado por cientistas norte-americanos.

Alimentos como a beringela, a couve-roxa, o tomate, a groselha, a ameixa e a melancia têm componentes que podem combater a progressão de uma doença oncológica. Frutas e vegetais que contenham um número elevado destes pigmentos, como a acerola e a beterraba, são mais eficazes em desacelerar o crescimento de células cancerígenas. Em 20% dos casos pode mesmo extingui-las. Mas os benefícios não ficam por aqui. Alimentos menos ricos nestes pigmentos, como o rabanete e o morango, diminuem o cres- cimento do cancro do colón entre os 50% e os 80%. Estes resultados são a conclusão de um estudo que combina testes de laboratório em células cancerígenas humanas e experiências em animais, citado pelo Guardian. O objectivo é saber se há uma relação entre uma dieta rica nestes alimentos e o baixo risco de desenvolver um cancro, tal como foi apresentado no encontro da American Chemical Society, nos EUA.

Os componentes destes pigmentos pertencem a um grupo denominado por antocianinas que, por ser um antioxidante, dificulta a sua absorção pela corrente sanguínea. Estes componentes viajam do estômago até ao intestino delgado. Os cientistas acreditam que conseguirem percorrer este caminho é o segredo para as suas propriedades anticancerígenas. Esta conclusão serve de pista de investigação para descobrir como este tipo de alimentos pode prevenir diversos tipos de cancro.

O próximo passo deste estudo é saber se os componentes destes pigmentos podem ser modificados de modo a torná-los ainda mais poderosos na luta contra o cancro. Foram identificados 600 antocianinas diferentes e os investigadores analisaram já a sua composição. Sabe-se que as antocianinas são responsáveis pela pigmentação de alimentos, flores e folhas, e a sua cor varia entre o vermelho vivo, o azul e o violeta.

Os benefícios destes alimentos, como o arando e a acerola - muito usados em sumos naturais -, foi testado em ratos. Os animais sofriam de cancro do colón e, ao fazerem uma dieta à base de antocianinas extraídas de frutas, o seu estado clinico melhorou entre os 60% e os 70% em comparação com outro grupo que não se alimentou destas frutas.

Além do cancro, em particular o do cólon, estes alimentos ajudam a combater ainda doenças cardiovasculares e a formação de coágulos no sangue.

DN, 21-8-2007
 
Estilo de vida é a causa de 60% dos cancros

DIANA MENDES

Estilo de vida é a causa de 60% dos cancros

Tabaco associado a cerca de 30% dos casos
Os estilos de vida são responsáveis por 60% dos casos de cancro em Portugal. Vítor Veloso, presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro, afirmou ontem que "a prevenção primária, através da mudança de estilos de vida", é a principal arma contra as doenças oncológicas. "Se as pessoas tivessem cuidado com os seus estilos de vida, teríamos menos 60% de casos de cancro", sublinha, à margem do evento Saúde Portugal 2007.

Os dados contradizem "uma ideia que era tradicional, ou seja, que a maioria dos casos eram hereditários". A alimentação, sedentarismo, consumo de tabaco e álcool ou o stress são alguns dos hábitos que aumentam o risco de cancro, além de outras doenças como as do foro cardiovascular. Por essa razão, Vítor Veloso afirma ser preciso "educar para prevenir. As pessoas podem ter marcadores idênticos, mas umas sofrem de cancro e outras não".

Só o tabaco, o maior factor de risco, é responsável "por 20% a 30% de todos os cancros". Em Portugal, ainda não há comparticipação de tratamentos de desabituação tabágica. Para o oncologista, "a solução devia passar por aí". Vítor Veloso lembrou o papel da liga durante um painel que reuniu várias associações de doentes, como a Liga Portuguesa Contra a Sida, Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla e a Associação Portuguesa de Hemofílicos.

O papel do doente como gestor da sua patologia foi frisado diversas vezes, salientando-se que quanto mais informado estiver, melhor. A Ordem dos Enfermeiros, representada por António Manuel Silva, afirmou que "as famílias têm um papel decisivo na cura do doente" e que foi importante o alargamento do tempo de visita dos familiares. O próximo passo poderá ser a sua presença "na prestação de cuidados ao doente".

Iniquidade na doença crónica

A situação dos doentes crónicos esteve no centro do debate da distribuição e regulação do medicamento. Rui Narciso, director da Federação de Instituições de Apoio a Doentes Crónicos, colocou na mesa os elevados preços dos fármacos para doentes crónicos e apelou para que fossem comparticipados a 100%. Além disso, pediu explicação para o facto de "umas patologias terem apoio a 100% e outras não", ideia partilhada pela Plataforma Saúde em Diálogo.

Outra questão foi a possibilidade de estes doentes poderem adquirir os medicamentos numa farmácia de oficina e não apenas na hospitalar, "devido à necessidade de deslocação frequente e às filas de espera para os levantar". A ideia foi aplaudida por Ema Paulino, da Associação Nacional de Farmácias, mas Hélder Filipe, do Infarmed (entidade reguladora do sector), alertou: "Se estes medicamentos têm indicação hospitalar, é porque têm condições especiais de preparação, administração ou armazenamento". Mas admitiu que estão em estudo alguns medicamentos que podem ser vendidos em ambulatório. O acesso à informação, o preço dos fármacos e a notificação de reacções adversas pelo próprio doente foram outras ideias em debate.

DN, 21-9-2007
 
Metade dos cancros do pulmão mata em menos de dez meses

DIANA MENDES, em Barcelona

Em Portugal, 85% dos cancros são fatais em menos de cinco anos e "a sobrevivência está entre nove e dez meses em 45% dos casos, que são os diagnosticados tardiamente", disse ao DN Fernando Barata, pneumologista e presidente do Grupo de Estudos de Cancro do Pulmão. A doença continua a não ter um método de rastreio recomendado, uma razões para que a sobrevivência seja reduzida.

Por enquanto, a doença continua a ser principalmente combatida com cirurgia, quimioterapia e radioterapia. No entanto, nos casos diagnosticados tardiamente, devido à ausência de sintomas - na Europa, são cerca de 55% do total - a cirurgia deixa de ser uma opção viável, porque já existem metástases.

De acordo com Fernando Barata, apenas "25% dos cancros são detectados precocemente, numa fase em que a quimioterapia e a cirurgia têm resultados. Se todos os anos são detectados 3600 casos, 3060 têm uma esperança de vida até cinco anos. Por isso, urge melhorar meios de diagnóstico e rastreio. "Ainda não há cura nem método de rastreio recomendado e válido universalmente".

Para 2009/2010, espera que haja resultados sobre novos métodos de rastreio, como a tomografia computadorizada em espiral e "técnicas de biologia molecular como a detecção de marcadores no sangue ou alterações de DNA", refere.

Natasha Leigh, oncologista do Princess Margaret Hospital, em Toronto (Canadá), alerta que "ainda há pouco conhecimento público do que são os sintomas do cancro do pulmão. Durante um encontro com jornalistas organizado pela Roche deu como exemplo a "tosse, dores no peito, perda de peso acentuada, sintomas que muitos fumadores consideram estarem associados ao tabaco". Apesar de o tabaco continuar a ser um dos principais factores de risco, "são cada vez mais os casos que não estão associados ao consumo", diz.

O cancro do pulmão, que mata uma pessoa no mundo a cada 30 segundos afecta mais homens do que mulheres. Em Portugal, a incidência é de 53 casos por cem mil habitantes no homem. Na mulher, os números são cinco vezes menores.

Tratamentos e perspectivas

Na semana passada foram apresentados vários estudos e terapêuticas durante a Conferência Europeia de Oncologia, onde especialistas lançaram alertas para o parco investimento na investigação e tratamento oncológicos. Um tratamento aprovado recentemente na Europa e apresentado no evento, combate a angiogénese, ou seja, o desenvolvimento de uma rede de vasos sanguíneos que fornece nutrientes e oxigénio aos tumores. Segundo um estudo que envolveu 275 mil doentes, o bevacizumab combinado com quimioterapia, aumenta em dois meses a esperança de vida (para 12,3 em média), nos casos avançados, e reduzir o cancro em 35%, o dobro do conseguido só com quimioterapia. Em Portugal já decorrem ensaios clínicos.

DN, 2-10-2007
 
Papiloma mata 18 vezes mais do que a meningite

RUTE ARAÚJO

A última vacina a ser incluída no Plano Nacional de Vacinação - contra a meningite C - combate uma doença que tem uma taxa de mortalidade em Portugal 18 vezes inferior à do cancro do colo do útero. Quando as autoridades decidiram vacinar todas as crianças contra esta bactéria, em 2004, eram notificados por ano 257 novos casos de meningite meningocócica, 20 dos quais fatais. No caso do cancro do colo do útero, as estimativas apontam para mil novos casos, resultando em 365 mortos. Este é um dos vários pontos que faz parte da análise que está a ser realizada pela Direcção-Geral da Saúde sobre a imunização contra o papiloma vírus. Mas, como explica a sub-directora Graça Freitas, não é, só por si, determinante para a decisão de disponibilizar gratuitamente a vacina à população.

De acordo com a responsável, quando se estuda a introdução de uma nova imunização no Plano Nacional, há muitos factores a ter em conta. Um deles é o número de anos perdidos. E, neste caso, as crianças são sempre privilegiadas. A meningite provocada pela bactéria do meningococo pode afectar um bebé logo no primeiro ano de vida. "Contabilizam-se 80 anos perdidos, para além do impacto social que tem a morte de uma criança", refere Graça Freitas. Contudo, este factor pode também pesar a favor da vacina contra o colo do útero, que tem uma forte incidência nas jovens em idade fértil. "As perdas em anos de vida são também grandes e, por isso, vários países decidiram incluí-la nos seus planos", refere a responsável.

Entre as duas vacinas há, no entanto, uma grande diferença. A da meningite era muito mais barata do que a imunização contra o papiloma vírus, o que reverteu a seu favor na avaliação de custo/benefício. Hoje, a vacina contra o papiloma vírus custa 480 euros, a da meningite custava 35 euros, sendo comparticipada a 40%. Mesmo assim, a meningite C só foi incluída no Plano Nacional de Vacinação cinco anos depois de ser comercializada no País e três anos após passar a ser comparticipada a 40%. Mas o Estado até poupou um milhão de euros com esta decisão, passando a gastar menos dinheiro comprando a vacina do que quando comparticipava o produto a preço de mercado, com as margens dos distribuidores.

Por enquanto não se conhece o custo de uma vacinação gratuita contra o papiloma vírus das 798 mil jovens portuguesas até os 14 anos. A imunização das crianças contra a meningite custou nos dois primeiros anos da campanha de vacinação (2006 e 2007) 14 milhões de euros - além dos bebés no primeiro ano de vida, foram ainda incluídos jovens até aos 18 anos que não tinham sido vacinados.

O relatório sobre a avaliação do custo/benefício da vacina do cancro do colo do útero deverá estar pronto em dois meses para ser entregue ao ministro Correia de Campos. O Governo pode também optar pela compar- ticipação a 40%, que está a ser avaliada pelo Instituto Nacional da Farmácia e do Medicamento (Infarmed).

6-10-2007
 
Meses para confirmar cancro colorrectal

DIANA MENDES

Um doente suspeito de ter cancro colorrectal pode esperar vários meses para confirmar o diagnóstico. Os estrangulamentos são vários e diferem em todo o País. Em Lisboa, por exemplo, um doente espera até mês e meio para fazer uma colonoscopia em clínicas com convenção estatal, porque praticamente não existem. Chegando ao hospital, pode ainda esperar "dois a três meses até ter uma consulta de gastrenterologia", disse ao DN Pilar Vicente, médica do Hospital de São José.

Estas dificuldades sentem-se em todo o País, com excepção da região centro, onde também já se iniciou um programa de rastreio. A ausência de uma política de rastreio é, aliás, mais uma das razões que tornam o cancro colorrectal no mais fatal em Portugal - em contracorrente com a Europa. "Todos os dias morrem nove pessoas por dia devido a este tipo de cancro", explica ao DN José Manuel Romãozinho, o presidente da Sociedade Portuguesa de Endoscopia Digestiva.

Em doentes assintomáticos e com mais de 50 anos, pede-se um exame anual de sangue oculto nas fezes no centro de saúde. Se for positivo, terá se ser feito um exame, como a colonoscopia, que pode ou não detectar a existência de um carcinoma. Em alternativa, o doente é "remetido para o hospital, para uma consulta de gastrenterologia", afirma um médico de família da Unidade de Saúde Familiar (USF) Amato Lusitano.

Segundo Jorge Espírito Santo, o presidente do colégio de oncologia da Ordem dos Médicos, a colonoscopia pode ser feita no hospital, mas, na maioria dos casos, o doente já leva o exame feito a partir de clínicas privadas, podendo recorrer às que têm convenção com o Serviço Nacional de Saúde. O problema é que "existem poucos centros convencionados", alerta o médico de família que tem conhecimento de apenas dois ou três. Um deles tinha uma espera de mais de um mês, apurou o DN. "Não saber o que se tem é motivo de grande ansiedade para o doente", realça o médico de família.

A espera foi confirmada por fonte ligada à Associação Nacional dos Médicos de Endoscopia Digestiva (SPED): "Os convencionados são insuficientes, sobretudo nas grandes cidades. A espera pode chegar a seis semanas". A pouca oferta é justificada "com o facto de o Estado pagar menos de metade do que cobra pelos exames nos hospitais". Margarida Damasceno, oncologista do hospital de São João, refere que "o hospital não está a dar resposta, pelo que os doentes recorrem a convencionados".

Jorge Espírito Santo acredita que o grosso dos problemas está no hospital. "O doente já confirmou o diagnóstico de cancro e é enviado para o bolo das consultas de gastrenterologia para ser triado. Deviam ser criados canais directos entre os centros de saúde e os hospitais", alerta. Enquanto se espera pela discussão da rede de referenciação, o doente "chega a esperar dois meses pela marcação da consulta, exames de estadiamento" e aspectos da terapêutica. A isto associa-se a espera pela cirurgia, que já é conhecida, e que pode chegar a oito meses. "A situação não está boa para o doente oncológico", conclui.

No Hospital Amadora/Sintra, a espera para a consulta de triagem pode chegar a três meses, "embora o exame tenha um tempo de espera médio inferior a duas semanas", diz fonte do hospital, que aponta a importância da articulação com os centros de saúde para identificar casos urgentes. Anabela Pinto, médica que faz o rastreio no IPO de Lisboa, ressalta a importância dos "contactos pessoais. Se os doentes trouxerem uma cartinha do médico estão melhor. Fica muita coisa entregue à iniciativa individual".

DN, 7-10-2007
 
Morreu pioneiro
da luta contra o cancro

O investigador norte-
americano Judah Folkman,
pioneiro na luta contra
o cancro. Morreu segunda-
feira, aos 74 anos.
Folkman dedicou toda a
sua vida à procura de um
tratamento para o cancro
em ratos, que renovou a esperança da descoberta da cura em
humanos.
O investigador terá morrido de ataque cardíaco, segundo a
porta-voz do Hospital Pediátrico de Boston, onde Folkman
era director do programa de biologia vascular.
Folkman defendia a tese de que o cancro necessita do crescimento
dos vasos sanguíneos para sobreviver e só com o bloqueio
desse processo, chamado angiogénese, se pode parar o
crescimento ou mesmo eliminar os tumores.
“Judah Folkman é reconhecido por todos como o pai da pesquisa
da angiogénese”, afirma John Niederhuber, director do
Instituto Norte-americano do Cancro.
Com a cura da doença em roedores, o seu trabalho abriu a
porta para uma nova linha de tratamento que abrandou o
desenvolvimento do cancro em humanos.
A pesquisa de Folkman deu origem a mais de dez medicamentos,
que estão actualmente disponíveis no mercado, e
dezenas de outras drogas estão a ser desenvolvidos com base
nas suas teorias, ajudando mais de 1,2 milhões de pessoas.

RRP1, 16-1-2008
 
Banco de tumores já tem 250 amostras

PAULA CARMO

É mais um avanço na criação da rede nacional do Banco de Tumores. Ultrapassada a fase experimental, os Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC) já têm um repositório de 250 amostras de tumores (fragmentos, células e/ou líquidos e seus derivados conservados em parafina e por congelação), devidamente catalogados, para que a investigação em oncologia traga novas fórmulas de diagnóstico e prevenção de doenças.

A criação deste banco de tumores - que actualmente possui amostras de tumores do foro ginecológico e mamário, mas que no futuro também integrará amostras de tumores pulmonares, do colo rectal e hematológicos - foi ontem anunciada por Fernando Regateiro, presidente do Conselho de Administração dos HUC, e por Carlos Oliveira, director do Serviço de Ginecologia desta unidade hospitalar. Para concretizar este arquivo para fins de investigação, agora instalado no Serviço de Anatomia Patológica, os HUC contaram com a parceria de uma empresa farmacêutica, que investiu, nesta fase, 150 mil euros.

Graças a um grupo de trabalho multidisciplinar (ginecologistas, patologistas, cirurgiões, radiologistas, técnicos de anatomia patológica, entre outros), o Banco de Tumores dos HUC resulta de um protocolo entre os HUC e a Associação de Apoio ao Centro de Investigação em Meio Ambiente, Genética e Oncobiologia (ACIMAGO), foram, porém, necessárias as aprovações da Comissão de Ética dos HUC, da Comissão Nacional para a Protecção de Dados e do Ministério da Saúde. A futura base de dados permitirá criar um Banco de Tumores virtual, para que um investigador autorizado de outro centro possa pesquisar estas amostras humanas.

Carlos Oliveira diz que com a criação deste banco de tumores se está a "recuperar 20 a 25 anos em relação aos EUA e cinco a dez anos face a países europeus e, em certos casos, a colocar-nos à frente". Este, revelou, é um dos três existentes em Portugal, surgindo depois dos do Hospital de S. João (Porto) e antes do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP). Ontem, também o IPO do Porto e o IPATIMUP formalizaram um acordo para criar melhores condições para a investigação na área da oncologia.

DN, 12-1-2008
 
Estudo revela que incidência do cancro baixou

FILOMENA NAVES

Portugueses contestam queda dos casos

Especialista luso nega diminuição da incidência e defende mais prevenção

Diminuição da incidência do cancro e da sua mortalidade e um aumento de doentes que sobrevivem mais de cinco anos a doenças cancerosas são as principais tendências observadas na Europa, de 1990 a 2000, e publicados num estudo, no European Journal of Cancer. Mas a primeira destas conclusões é surpreendente e até polémica.

O presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC), Vítor Veloso, discorda abertamente dos dados que indicam diminuição da incidência de cancros na Europa. "Pelo contrário, a incidência tem aumentado em todos os países, de acordo com a Organização Mundial de Saúde e todas as autoridades ligadas ao sector", garantiu ao DN, sublinhando que "este estudo deve ser lido, por isso, com muita cautela". E avisa: "Não devemos tirar ilações triunfantes destes dados, sobretudo nós, portugueses, que temos de investir muito ainda em prevenção nesta área".

Realizado na Universidade de Erasmus, em Roterdão e coordenado por Jan Willem Coebergh, o estudo avaliou 17 tipos diferentes de cancro e conclui que, à excepção dos tumores malignos ligados à obesidade e ao tabaco, a mortalidade causada pelas doenças cancerosas também diminuiu, o que pode ser atribuído a maior prevenção, diagnósticos precoces e a tratamentos mais eficazes.

Estas tendências positivas são sobretudo válidas para os países da Europa do Norte e Ocidental, se se excluírem os cancros ligados à obesidade. Neste caso, o seu aparecimento pode ter a ver com má alimentação e pouca actividade física.

Outro dado que contraria as outras observações optimistas da avaliação tem a ver com as doenças malignas causadas pelo tabaco. Embora a incidência e a mortalidade te- nham ambas diminuído nos homens da Europa do Norte, Ocidental e do Sul, na Europa Central, ela aumentou em ambos os sexos. Por outro lado, os cancros de pulmão e laringe causados pelo tabaco aumentaram nas mulheres europeias.

Os autores atribuem as tendências positivas a uma prevenção mais eficaz, que permite o diagnóstico da doença numa fase mais precoce e uma intervenção em tempo útil, em termos de sobrevivência do doente.

Em relação à diminuição da mortalidade causada pelas doenças cancerosas na Europa, Vítor Veloso concorda que "tem de facto havido melhorias, sobretudo devido aos diag- nósticos mais precoces".

A Europa registou uma diminuição entre 10% e 20% na mortalidade causada pelas doenças cancerosas, nos últimos anos, mas "em Portugal ainda não estamos a esse nível", diz Vítor Veloso. "Também estamos a melhorar, porque já há alguma prevenção, e porque os tratamentos são idênticos ao de qualquer outro país desenvolvido", adianta o especialista. Mas, sublinha, "é preciso apostar mais na prevenção e resolver o nosso maior problema, que é o das listas de espera nos hospitais, que é impeditivo do acesso ao diagnóstico e ao tratamento cirúrgico necessário."

DN, 17-3-2008
 
Novo modelo promissor para estudos no cancro

FILOMENA NAVES

Cientistas portugueses do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC), do Porto, descobriram um fungo que mostrou ser "um modelo óptimo" para estudar os mecanismos de um processo celular que é a morte programada. Estudo é publicado hoje no 'Journal of Biological Chemistry'

Há muitas razões pelas quais surgem as doenças. Uma delas tem a ver com "erros" no processo da morte celular programada, cujos mecanismos estão ainda muito mal compreendidos. Um grupo de investigadores portugueses do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC), no Porto, descobriu uma estirpe de fungo, parente das famosas trufas, que é "um modelo óptimo" para estudar este processo nas suas múltiplas vertentes, como afirmou ao DN a investigadora Ana Castro, principal autora do estudo.

A descoberta da equipa liderada Arnaldo Videira, feita em colaboração com investigadores da Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, é publicada hoje no Journal of Biological Chemistry, e abre portas a "uma nova possibilidade de investigação em diversas áreas, desde a compreensão dos mecanismos da morte celular, até ao estudo de cancro ou de doenças associadas ao envelhecimento", explica a Ana Castro.

É suposto que as células do organismo, cumprida a sua função e passado o seu prazo de validade, morram, para dar lugar a outras. É a chamada morte celular programada, ou apoptose, uma espécie de suicídio necessário que permite manter o organismo saudável.

Às vezes, porém, algo corre mal. Há suicídios destes em massa, e surgem as doenças como a de Alzheimer ou Parkinson. Ou então estas mortes celulares não se dão como deviam e aparecem os cancros, as doenças autoimunes e as infecções persistentes.

Sabe-se que por detrás da morte celular programada está a formação de radicais livres, compostos oxidantes e agressivos que destroem a própria célula, mas não está de todo esclarecido o que leva à formação destes radicais livres. É aqui que a estirpe mutante do fungo Neurospora crassa, descoberta pelo grupo do Porto pode dar uma grande uma grande ajuda. No seu trabalho, os investigadores conseguiram "demonstrar pela primeira vez que é possível induzir a morte celular programada neste microorganismo, utilizando um factor exógeno", ou externo, esclarece Ana Castro.

Por outro lado, este fungo mutante demonstrou ser mais resistente do que o da estirpe selvagem - ou não mutante - à indução de morte celular programada, recorrendo a uma droga para o efeito. E na resposta à pergunta "porquê?", feita pelos cientistas, estes descobriram que essa maior resistência resultava de uma menor produção de radicais livres durante o processo. "Isso, e o facto de o genoma deste fungo estar sequenciado, faz dele um modelo muito promissor para estudar estes processos", conclui Ana Castro.

DN, 11-7-2008
 
Ordem critica falta de plano oncológico e de especialistas

CARLA AGUIAR

A abertura de centro para tratar cancro no Interior não afasta as acusações à estratégia nacional

Plano Oncológico Nacional não passa de documento vago, diz OM

O "primeiro centro oncológico do País fora das grandes cidades" foi ontem inaugurado pelo primeiro-ministro, José Sócrates, em Trás-os -Montes e Alto Douro, levando a ministra da Saúde, Ana Jorge, a congratular-se por terem "acabado as longas viagens dos doentes para fazer radioterapia no Porto". Esta inauguração ocorre, no entanto, num momento em que os especialistas acusam o plano oncologico nacional de não funcionar e reclamam uma transformação profunda na abordagem ao doente oncológico.

" Depois de termos estado quase dois anos sem um plano oncológico nacional, temos desde finais do ano passado um documento vago, que não pode sequer ser considerado um plano, que nem chegou a estar em discussão pública nem a incorporar as reflexões dos especialistas nesta área", disse ao DN o presidente do Colégio de Oncologia da Ordem dos Médicos, Jorge Espírito Santo. Até à hora de fecho desta edição não foi possível obter um comentário do ministério a estas críticas.

A somar-se a esta "desarticulação" na abordagem à doença oncológica está, para aquele especialista, a extrema carência de oncologistas a nível nacional. Só existem inscritos como clínicos activos na Ordem cerca de 130 oncologistas, "o que é manifestamente pouco".

De acordo com uma estimativa de há cinco anos da Ordem dos Médicos, "deveriam ter sido formados neste período um mínimo de 60 oncologistas, o que está longe de ter acontecido".

Para além da insuficiência de médicos, o presidente do Colégio da Especialidade também aponta uma carência de radioterapeutas e ainda de equipamentos de radição. "Deveriamos ter seis equipamentos de radiação para cada um milhão de habitantes e temos cerca de metade", lembrou o clínico. As transformações preconizadas por Jorge Espírito Santo para a área da oncologia passam, sobretudo, por colocar o doente no centro da abordagem multidisciplinar, o mais cedo possível.

"O que se passa hoje em dia na maioria dos hospitais é que, se, por exemplo, uma paciente é referenciada com suspeita de cancro da mama o mais certo é que vai vendo um espacialista de cada vez, imagiolgista, ciurgião para biópsia, etc, etc, num período de tempo que, às vezes, para estes doentes, podem ser longo de mais", diz. " O que pretendemos é que um doente nesta situação possa ter logo uma consulta multidisciplinar, em que está presente o oncologista - que deve ser o chefe da orquestra -, o cirurgião, um especialista em anatomia patológica, imagiologista, etc, e em que fique definido o percurso do doente, sem que ele tenha de andar de um lado para o outro, e para que um caso possa ser estudado de todos os ângulos sem demasiadas demoras", explicou Jorge Espírito Santo.

DN, 29-7-2008
 
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