06 maio, 2007

 

Cannabis


Mais um assunto difícil?

Marcha:
http://www.correiodamanha.pt/noticia.asp?id=241358&idselect=10&idCanal=10&p=200
http://mgmporto.org/mgmv2/

Referências:
http://images.google.pt/images?q=cannabis&hl=pt-PT&ie=UTF-8&oe=UTF-8&um=1&sa=N&tab=wi
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cannabis
http://www.cannabis.net/

Divulgação:
http://www.cannabisculture.com/

Comércio:
http://www.cannabis.com/

Comments:
Marcha mundial pela 'cannabis'

RUTE ARAÚJO

Legalizar a cannabis e todas as suas utilizações - "recreativas, relaxantes, medicinais, sacramentais, religiosas ou em rituais de outra natureza". É com este objectivo que, amanhã, os manifestantes de um movimento internacional vão sair para a rua, simultaneamente em 220 cidades de todo o mundo, incluindo Lisboa e, pela primeira vez, o Porto.

Realizada desde 1999, esta iniciativa foi adoptada para Portugal no ano passado por um grupo de dez estudantes. Viram na Internet, quiseram importar a ideia para Lisboa e dois anos depois já a exportaram para o Porto. "Este ano esperamos superar em muito as 200 pessoas de 2006", explica Pedro Pombeiro, 25 anos, estudante de Antropologia e membro da organização.

Sem esperanças de verem a concretização dos seus sonhos liberalizadores, querem pelo menos colocar o assunto na agenda política. A actual lei, de 2001, que despenalizou o consumo, foi "um avanço", mas continua a ser uma "decepção". "Os consumidores ou são doentes, que devem ser tratados, ou traficantes. Nós consideramos que só é doente quem faz um uso abusivo das substâncias - e isso acontece com o café, com o tabaco ou com o sal. Mas é possível ter uma relação saudável com a cannabis", acrescenta Pedro Pombeiro.

Entre os signatários da iniciativa estão os músicos Vitorino e Carlos Guerreiro (Gaiteiros de Lisboa), o escritor Luiz Pacheco, os jornalistas Fernando Dacosta e Sérgio Vitorino, médicos, professores universitários, investigadores, estudantes, arquitectos e desempregados. Quase 200 nomes que reivindicam também a legalização da produção e "compra em estabelecimentos autorizados e regulados" e "encorajar o estudo das utilizações benéficas da planta". É o caso da médica Maria José Campos. "Já há um medicamento autorizado, de produção sintética, mas tem efeitos mais pesados. A legalização permitiria a investigação farmacêutica, hoje impossível por ser uma substância ilegal". Lembrando as experiências na Catalunha, diz que há efeitos benéficos em doentes com sida, glaucoma ou doenças reumáticas - diminui as náuseas, aumenta o peso e alivia o sofrimento e ansiedade. E, por isso, há todo um mundo de possibilidades terapêuticas a explorar.

Apesar da vontade dos manifestantes, Danilo Ballotta, especialista do Observatório Europeu da Droga, duvida da capacidade de os movimentos civis mudarem 80 anos de proibição. "Estão em jogo acordos internacionais suportados pelas Nações Unidas. E se um país decidir modificar a sua política pode pôr em causa relações diplomáticas" com repercussões a outros níveis. "É como no jogo da corda. À corrente liberalizadora responde uma acção contrária proibicionista que teme que um buraco no sistema faça cair o muro."

DN, 4-5-2007, pág. 6
 
Portugal tem haxixe mais barato da UE

Nunca a cannabis foi tão barata. De 1999 a 2004, o preço médio baixou 19%. A certeza é que a liberalização da substância mudaria, e muito, o mercado. A dúvida é "em que direcção". Chloé Carpentier, especialista do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência, explica que "a qualidade e o controlo da produção aumentariam, assim como a homogeneização do produto à venda nos diferentes países". Contudo, "não é claro" o efeito sobre o custo.

Como em todos os mercados ilícitos, é difícil perceber as regras que o regem. E a recente descida de preços é explicada por um conjunto de factores, alguns pouco perceptíveis. O preço baixou apesar de as apreensões terem subido e da pureza média da substância ser a mesma. Portugal, por exemplo, é o país da Europa onde a cannabis é mais barata. Cada grama de haxixe custa 2,3 euros e cada grama de erva 2,7 euros, quando a média dos restantes países varia dos cinco aos 12 euros. Mas não é aquele onde se consome mais. Estará a explicação no aumento da oferta? Chloé Carpentier diz que é uma hipótese, tendo em conta que há produção em todos os Estados europeus e esta está a aumentar. Mas, no caso de Marrocos, o grande produtor, medidas governamentais recentes fizeram baixar o cultivo.

Para o economista César das Neves, o facto de ser uma substância ilícita não faz com que o mercado se reja por outras regras diferentes das do mercado livre. E aponta o aumento da oferta para explicar a baixa de preços. Mas, como é um mercado negro, "é mais difícil perceber onde está a causa e actuar". Lembrando que foi, durante muito tempo, um produto permitido - "estudava na escola primária as exportações de cânhamo, que dava a corda" - refere que a ilegalização, por si, não faz diminuir o mercado e tudo depende da consciência social. "O exemplo mais flagrante é a lei seca nos Estados Unidos. Toda a gente bebia, mas os preços eram muito altos." E defende que, se a cannabis fosse liberalizada, seria descontado no preço o factor de risco do traficante e haveria mais potenciais consumidores. |

DN, 4-5-2007, pág. 6,7
 
Proibição controversa e à margem da ciência

A cannabis é "o tema mais controverso da política de droga a nível mundial" e a sua proibição nunca foi um assunto que colocasse o mundo de acordo. Danilo Ballotta, especialista em leis do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência, afirma que o controlo do consumo, em 1925, teve como base "dogmas e não dados científicos". E, desde aí, os críticos reclamam avaliações científicas dos perigos reais desta droga.

Muito por influência dos EUA, a cannabis foi integrada no grupo de substâncias sujeitas a controlo na segunda convenção sobre o ópio de Genebra, no início do século XX. E, quando não era ainda uma substância de consumo alargado, "vários países tentaram prevenir o problema antes que surgisse". Mas a verdade é que ninguém sabe qual seria a situação da cannabis hoje não fosse considerada uma droga ilícita. "Não podemos dizer se traria mais problemas que o álcool", explica Danilo Ballotta. A partir desse documento, sucessivos tratados internacionais repetiram e reforçaram o controlo e proibição. Estudos científicos, encomendados pelos governos e parlamentos mundiais, não resultaram na revisão da ilicitude. À excepção da Holanda. Na Europa, a maioria dos países despenalizaram o consumo - que passou a ser um ilícito punível com coimas e não com prisão - mas, mesmo onde há consequências penais, a aplicação prática vai no sentido da flexibilização da suspensão da pena. Isto porque, à semelhança das outras drogas, houve na Europa uma mudança na forma como se encaram as drogas: de uma visão moral e de ordem pública para um problema de saúde.

Para o perito, "a política das drogas é das mais globalizadas do mundo, até nas formas de tratamento". E não são de esperar mudanças nos próximos tempos. Mesmo assim, "é provável uma evolução das políticas fruto, sobretudo, de uma influência cada vez maior da investigação da ciência".

DN, 4-5-2007, pág. 7
 
Alegações finais de João Goulão (PRESIDENTE DO INSTITUTO DA DROGA E DA TOXICODEPENDÊNCIA): "No futuro, as drogas serão uma escolha de cada um"

RUTE ARAÚJO

Que comentário faz à reivindicação dos organizadores da marcha pela cannabis de liberalizar a droga para todos os fins, dos recreativos aos médicos?

Há uma confusão quanto à defesa da legalização, metendo no mesmo saco a utilização para fins médicos e as outras. Quanto aos fins médicos, não tenho nenhuma oposição de princípio, se comprovado pelos especialistas que é o mais benéfico para os doentes. Há indicações de ser favorável para doentes com sida ou em quimioterapia, e é possível a utilização de fármacos com o princípio activo.

Portugal pode avançar para experiências de uso terapêutico, como a Catalunha? Não com medicamentos, mas com a substância?

Se virmos que há benefícios, não tenho resistências. E é perfeitamente possível, não passa por alterações legais demasiado complicadas. Pode partir da iniciativa de grupos parlamentares. Desde que não ponha em causa as convenções internacionais e Portugal não caia em incumprimento.

As políticas da droga estão muito condicionadas pelas convenções internacionais.

Sem dúvida. A legalização de uma substância num só país é irrealizável e irresponsável. É necessário uma concertação internacional mais alargada. E a Holanda, que accionou um mecanismo legal que nós não temos para não perseguir o consumo, não está a obter os resultados esperados na divisão dos consumos de drogas leves e duras...

Se virmos a história da proibição, há pouco de evidência científica e os estudos são contraditórios. Há mesmo riscos no consumo de cannabis?

Os estudos são contraditórios, mas quem lida com consumidores sabe que há cada vez mais pedidos de ajuda porque eles sentem o impacto nas suas vidas. A dependência da cannabis é um facto. E há um nexo causal, ainda não perfeitamente provado, com o aparecimento de psicoses e esquizofrenia.

Mas os manifestantes consideram que, à luz da actual lei, um consumidor ou é doente ou traficante, mas que pode haver uma relação saudável. Pode?

Há pessoas que vivem em equilíbrio com os seus consumos - e podemos fazer o paralelismo com o álcool -, outras, não. Haverá um momento na evolução social em que tudo será deixado à livre escolha das pessoas. O uso das substâncias será uma escolha de cada um. Penso é que não é ainda o momento certo, nem pode ser uma decisão de um só país.

Liberalizar faz sentido, não há é margem política, até do ponto de vista internacional. É isso?

Não há nem margem nem uma informação e conhecimento generalizado daquilo que está em causa que permita dar o salto no escuro. Mas, nos últimos relatórios das Nações Unidas, tem sido dado destaque à utilização de substâncias legais, como fármacos, para fins recreativos. A diferença entre lícito e ilícito é cada vez mais arbitrária. Os ingleses até usam drugs para tudo, medicamentos e drogas.

DN, 5-5-2007, pág. 48
 
Quase mil pediram 'cannabis' legalizada

RUTE ARAÚJO E JOÃO PAULO MENDES

"Tá-se bem, o ambiente tá fixe, ia ficar em casa para quê?" Encostado a um muro, Juca enrola erva numa mortalha enquanto desenrola ideias sobre a liberalização da cannabis e a ajuda que daria ao controlo das contas públicas. "Contribuía para os impostos, o Governo ficava feliz, nós também porque a polícia não nos chateava tanto e a droga era mais barata". Estudante de Economia de 23 anos, fumou o primeiro charro no 11.º ano. "Mas não comecei logo com o ritmo que tenho hoje". Hoje, com outro ritmo, fuma quando lhe apetece, mas isso não quer dizer que lhe apeteça sempre. "É como em tudo na vida, o que é preciso é ter cabecinha."

Folhas pintadas nas escadas, folhas tatuadas nos braços, máscaras de folhas na cara, folhas queimadas em mortalhas. O jardim das Amoreiras, em Lisboa, encheu-se ontem de cannabis e foi espalhando o cheiro da erva até ao largo Camões. 500 pessoas aderiram à marcha pedindo, em ritmo reggae, para "legalizar a Maria" e pôr "fim à hipocrisia". A personagem principal da marcha, a marijuana, foi fumada ao longo do trajecto. Os polícias fechavam os olhos ao fumo que passava debaixo dos seus narizes, os idosos fechavam o nariz à marcha que passava debaixo dos seus olhos. Enquanto uns largavam os sacos das compras, levados pela música, outros agarravam-se às carteiras com medo que as levassem.

"Não acho bem... Vê-se logo o tipo de pessoas", critica Clotilde, reformada, de 68 anos. "Que tipo? Então mas não vê logo, pessoas porcas, com aspecto sujo, não é nada o género da minha neta. Nunca se meteu nestas coisas". Mas Clotilde conhece quem se tenha metido, "uma pessoa muito bem criada" que pôs a família numa carga de trabalhos. Felício, empresário de 60 anos, até entrava no cortejo se soubesse. Como não soube antes, fica a observar do passeio. "Estou plenamente de acordo. Acho que deve haver liberdade para tudo, até para as pessoas se suicidarem." A droga é um suicídio? "Tudo na vida é um suicídio, se as pessoas exagerarem. Até o cozido à portuguesa".

"A cura está na erva, a erva da Maria", ouve-se um dos animadores, de dentro de uma carrinha pintada com cores da Jamaica. Pedro, 33 anos, vem das Caldas da Rainha com amigos de Coimbra e do Algarve. "Estavam para vir mais, mas os pais não deixaram". E só pede que o deixem plantar e fumar as suas ervinhas. "Há dez anos que não compro. Só é ilegal para ser mais caro e uns enriquecerem com produtos de má qualidade". Depois de puxar da lista de recomendações -"bom rapaz, tenho uma filha e toda a gente no meu bairro gosta de mim" -, explica que vende o seu saber como produtor na loja de que é proprietário. "A polícia já foi lá à paisana, mas eu só tenho coisas legais, fertilizantes, luzes." Lá na terra "toda a gente planta, toda a gente rouba, é mais a erva que me roubam do que a que a política apreende". Mas ontem não foi preciso roubar as plantas do Pedro. A organização andava desde Janeiro a preparar o encontro. Cada um contribuiu com aquilo que sabia fazer melhor. Os músicos deram a música, os designers fizeram camisolas e panfletos. E foram os panfletos que tiveram mais saída. Do manifesto se fizeram os filtros, com os filtros se puseram as palavras a circular de boca em boca.

No Porto, cerca de 500 pessoas desfilaram pela primeira vez em defesa da legalização da cannabis. A adesão deixou a organização satisfeita e os agentes da autoridade surpreendidos: "Disseram-nos que seriam perto de 200 pessoas, mas afinal está mais gente do que o previsto", diz um dos agentes da PSP. Eram 15.00 quando os manifestantes, aos poucos, começaram a concentrar-se na Praça do Marquês de Pombal. Seguidores da filosofia rastafari, ocupavam o topo norte do jardim, enquanto do outro lado cerca de duas dezenas de idosos jogavam às cartas. A "convivência" foi pacífica. Apesar de os organizadores disponibilizarem máscaras a quem quisesse manter o anonimato, todos desfilaram com o rosto descoberto. E não faltaram figuras conhecidas, como Ana Deus, antiga vocalista dos Três Tristes Tigres. "Não temos de que nos envergonhar", diz Luís Madureira. Com dreadlocks e chinelos, o jovem de 21 anos entende que "é pior defender o tabaco e o álcool do que a cannabis".

Emanuel Rodrigues destaca-se na multidão devido à idade e ao cartaz que empunha. Com 57 anos, comerciante de profissão, decidiu participar no desfile "porque a cannabis é um bom antidepressivo". E a escolha do cartaz, com a frase "Regressa D. João IV", tem uma explicação: "Mandou plantar cânhamo no País". E só não digo 'Volta Salazar', porque podia ser mal interpretado". É que o vencedor dos Grandes Portugueses "permitia a cultura desta planta".

DN, 6-5-2007, pág. 20
 
Marijuana agrava em 41% risco de psicoses

FILOMENA NAVES

O consumo de cannabis, mais conhecida por marijuana, pode aumentar em 41% o risco de psicoses em fases mais tardias da vida. Este é o veredicto, preto no branco, de um grupo de investigadores britânicos que reviu uma série de 35 estudos realizados nas últimas décadas e que hoje publicam um artigo na Lancet com os seus resultados.

Theresa Moore e Stanley Zammit, das universidades de Bristol e de Cardiff, respectivamente, sublinham que há neste momento provas suficientes para alertar os jovens para o risco que constitui o consumo daquela droga considerada leve.

A cannabis é a droga mais vulgarizada, sobretudo entre as faixas etárias mais jovens, na maioria dos países europeus. Portugal, com uma percentagem de 7,6% da população a admitir que já consumiu esta droga (dados de 2001), também não foge à regra.

De acordo com o último relatório da Agência das Nações Unidas contra a Droga e o Crime (ONUDC), divulgado em Junho, estima-se que 159 milhões de pessoas consumam cannabis em todo o mundo. Destes, 12 milhões são europeus, segundo números avançados pela própria Comissão Europeia.

Já se sabia - "isso está documentado", como sublinham os dois investigadores britânicos - que o consumo desta droga pode desencadear episódios psicóticos esporádicos. No entanto, na revisão que fizeram das mais de três dezenas de estudos sobre a questão, Moore e Zammit procuraram associações entre o seu consumo e o desenvolvimento de perturbações mentais crónicas de tipo psicótico em fases mais tardias da vida.

E encontraram, garantem.

"Identificámos uma associação consistente entre o uso de cannabis e sintomas psicóticos, incluindo doenças psicóticas persistentes", escrevem os dois investigadores na revista Lancet.

Nesta avaliação, os cientistas verificaram que mesmo o uso esporádico desta droga representa um risco acrescido no surgimento tardio de problemas mentais de tipo psicótico, sendo que esse risco aumenta quando o consumo da droga é regular.

A associação entre o consumo desta droga e perturbações depressivas ou ansiosas, também avaliada no estudo, surge, por outro lado, muito menos marcada.

Embora não excluam a hipótese de haver outros factores que concorram para o desenvolvimento de psicoses no decurso da vida de consumidores de cannabis, os autores dizem que, "mesmo com incertezas, o que já se sabe justifica que o público seja informado sobre esta droga tão vulgarizada".

A propósito destes resultados, a Lancet escreve em editorial, nesta mesma edição, que "os governos deveriam investir em campanhas prolongadas e eficazes sobre os riscos da cannabis para a saúde".

DN, 27-7-2007
 
Um charro é equivalente ao fumo de cinco cigarros

Consumo habitual de 'cannabis' também causa doenças respiratórias

O efeito de um único charro de cannabis (marijuana) nos pulmões é equivalente ao de cinco cigarros e os consumidores frequentes desta droga também desenvolvem doenças respiratórias crónicas, à semelhança do que acontece com os fumadores. O veredicto é de um estudo realizado por uma equipa da Nova Zelândia e publicado ontem na revista científica Thorax.

No artigo, a equipa liderada por Richard Beasley, do Medical Research Institute, da Nova Zelândia, conclui que os seus resultados demonstram que o consumo regular de cannabis produz "efeitos adversos na função pulmonar, que são de grande relevância do ponto de vista da saúde pública".

Para realizar a pesquisa, os investigadores recorreram a uma amostra de 339 adultos da região de Wellington, categorizados em quatro grupos distintos: os que fumavam apenas cannabis, com um consumo igual ou superior a um "charro" diário nos cinco anos anteriores, os só fumadores, os que fumavam as duas coisas e os não fumadores.

Todos os participantes foram submetidos a TAC (tomografias axiais computorizadas) aos pulmões e fizeram testes respiratórios para verificar o funcionamento pulmonar.

De acordo com os resultados do estudo, os fumadores de cannabis sofrem de pieira crónica, tosse, dificuldades respiratórias e expectoração, tal como os outros, já que o consumo desta substância afecta o funcionamento dos brônquios, com obstrução respiratória, exigindo mais esforço aos pulmões.

"A principal descoberta", explicam os autores, é a de que "um charro é equivalente a cinco cigarros de uma só vez, do ponto de vista do efeito na obstrução respiratória".

Esta equivalência, explicam, tem a ver com os níveis de monóxido de carbono presentes na hemoglobina do sangue (carboxihemoglobina) e de alcatrão, que são três a cinco vezes mais elevados num 'charro' do que num cigarro. Outra das razões prende-se com a forma como a cannabis é fumada, com inalações mais profundas e retidas durante mais tempo, e sem filtragem, garante a equipa.

O pneumologista Teles Araújo, presidente da Associação Nacional de Tuberculose e Doenças Respiratórias, é da opinião que "deverá ser tido em conta", a propósito da equivalência estabelecida, que, do ponto de vista dos efeitos adversos, "um fumador médio nunca fuma apenas cinco cigarros por dia, mas 20, 30, ou mais, ao passo que um consumidor habitual de cannabis não consumirá essas doses". Sublinha, porém, que "há uma tendência para a desculpabilização da cannabis, mas esse fumo, na verdade, também é tóxico". - F.N.

DN, 1-8-2007
 
'Cannabis' da ilha do Pico está entre as melhores da Europa

PAULO FAUSTINO, Açores

A cannabis plantada na ilha do Pico, Açores, está entre as melhores da Europa, de acordo com a classificação de sites holandeses especialistas no tema. O clima húmido e o solo vulcânico garantem a sua boa qualidade, pelo que o número de plantações ilícitas tem vindo a crescer na região.

O Comando da Polícia de Segurança Pública (PSP) da Horta, na ilha do Faial, deteve dois indivíduos e apreendeu no passado fim-de-semana mais 17 quilos de liamba (Cannabis Sativa L) na vizinha ilha do Pico que dariam para 42 500 doses individuais. É a segunda grande apreensão, num espaço de dias, que a Polícia faz na ilha-montanha, com condições climatéricas (humidade) e de terreno que favorecem o desenvolvimento da substância estupefaciente.

No início deste mês, a PSP já tinha apanhado 10 quilos de liamba; em Julho passado 1,2 quilos; e no primeiro semestre 3 quilos. Contas feitas, o ano de 2007 já ultrapassou os 30 quilos em plantas apreendidas, quando em 2006 este número situou-se nos 40 quilos. A mais recente operação policial na segunda maior ilha dos Açores foi o culminar de uma investigação que deteve na Madalena dois homens, de 40 e 17 anos.

É no Verão, altura em que a cultura floresce, que os indivíduos identificados como consumidores e traficantes utilizam a liamba plantada nas hortas de suas casas, ou então a proveniente de plantações maiores, situadas em terrenos isolados e de acesso difícil. E é quando apura que os suspeitos se deslocam a estas áreas mais remotas, durante os meses de Julho, Agosto e Setembro, que a Polícia monta a sua estratégia, avança para o terreno e apanha-os, por vezes, em flagrante delito.

Boa cotação internacional

Embora sem adiantar pormenores, o comissário Carlos Ferreira, comandante interino do Comando da PSP da Horta, admite que a liamba do Pico está a ser divulgada em sites holandeses na Internet. Nestes sites, apurou o DN, a Cannabis Sativa L daquela ilha açoriana aparece bem cotada, referenciada como uma das melhores, senão mesmo a melhor liamba da Europa. Uma situação que conduz à suspeita, por parte da Polícia, de que estará a haver exportação do estupefaciente para o Norte da Europa. Como refere o comissário Carlos Ferreira, "não temos dados concretos que nos permitam dizer que há exportação, embora a divulgação nos sítios da Internet o possam indiciar". Por enquanto, a tese prevalecente é a do consumo na própria ilha e ilhas vizinhas.

Nos Açores, a situação é preocupante no combate ao tráfico de droga, de tal maneira que a PSP da Horta reforçou, nos últimos dois anos, o efectivo das brigadas de investigação criminal em 75%. Mas o esforço, traduzido num elevado número de operações que permitem deter e condenar em Tribunal os responsáveis pelo tráfico, não chega. E isto porque, como sublinha o comissário Carlos Ferreira, as apreensões realizadas já "não traduzem situações esporádicas".

Não se trata, para já, de uma grande rede organizada, mas uma coisa também é certa: "As condições da ilha do Pico (sobretudo essa) favorecem uma actividade criminal rentável, que, consequentemente, se torna apelativa para indivíduos que enveredam por trajectos delituosos."

A boa cotação da cannabis evidenciada nos sites holandeses coincide, inclusive, com a opinião que têm sobre esta droga muitos reclusos detidos nas cadeias açorianas.

DN, 20-8-2007
 
Apreensões de 'cannabis' disparam no interior do País

SUSANA LEITÃO*

As apreensões de plantas cannabis dispararam desde o passado mês de Junho. O principal focos de cultivo é a região de Trás-os-Montes, nomeadamente nas zonas de Chaves, Montalegre, Vila Pouca de Aguiar, Alijó e Régua. O Alentejo é outro dos locais problemáticos. Este aumento de apreensões deve--se sobretudo a denúncias que chegam à GNR .

Desde o início do ano, só em Vila Real, foram detidas 20 pessoas e apre-endidos mais de 200 quilos daquela planta. Ao todo foram destruídas mais de dez plantações. A GNR justifica este crescimento com o isolamento da região e o clima propício ao crescimento da cannabis. E, embora não haja dados nacionais, a mesma fonte afirma que em todo o País já foram apreendidas várias centenas de quilos de plantas cannabis, a grande maioria oriunda de pequenas plantações.

A GNR esclarece que muitos destes produtores cultivam cannabis para o tráfico local. Outros, apenas para uso doméstico. "Foram atraídos pelo dinheiro fácil e pela muita procura que este produto começa a ter, principalmente entre os mais jovens", explicou ao DN o major Falcão, do Núcleo de Investigação Criminal de Droga de Vila Real. Quanto ao número de apreensões, o responsável destaca que "o trabalho de campo desta brigada, que anda à civil, é de extrema importância. Não é suficiente detectar as plantas. Para provar que as pessoas se dedicam ao seu cultivo e tráfico os nossos homens perdem muitas horas em vigilâncias".

Duas das maiores apreensões de plantas cannabis nos últimos três meses aconteceram em Vila Real e em Odemira. Em Julho, a GNR deteve um septuagenário por plantação de cannabis em Montalegre e Vila Real, tendo sido apreendidas 203 plantas. No mesmo mês, em Odemira, Alentejo, a GNR apreendeu 175 plantas de cannabis, numa só operação.

Ainda assim, as pequenas plantações locais não chegam para as encomendas, afirma a GNR. Prova disso, é o relatório da Polícia Judiciária (PJ) sobre o tráfico de estupefacientes no primeiro semestre deste ano. Segundo o documento, nesse mesmo período foram apreendidos seis quilos de liamba, dois quilos de folhas de cannabis e 515 gramas de sementes da mesma planta. A estes números acrescem os últimos meses, mais quentes, e mais adequados ao crescimento da planta, tendo os números aumentado muito.

A maior preocupação da PJ é o haxixe vindo de fora, especialmente de Marrocos. Entre Janeiro e Junho foram confiscadas mais de 15 toneladas de cannabis sob a forma de haxixe e pólen. Destes, mais de metade era proveniente de Marrocos. "Em termos globais, no que concerne às quantidades de estupefacientes apreendidos e em comparação com igual período de 2006, constata-se um aumento extremamente acentuado da quantidade de haxixe apreendido (420,06 %)", lê-se no relatório. E o negócio é lucrativo, se em grande escala. Para gerar 40 quilos de cannabis são necessárias pelo menos 70 plantas de tamanho médio. Cada grama custa cinco euros.

*com PAULO SILVA REIS, Chaves

DN, 8-10-2007
 
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