31 maio, 2007

 

Toxicodependência


Algumas, entre muitas...



Da poesia...




...à realidade.


http://pt.wikipedia.org/wiki/Droga

http://www.psicologia.com.pt/areas/subarea.php?cod=d12A

Esperança:

http://www.correiomanha.pt/noticia.asp?idCanal=0&id=204141
http://www.suboxone.com/patients/suboxone/ http://dn.sapo.pt/2007/08/12/sociedade/novo_tratamento_para_heroinomanos_ch.html


Ajuda:

http://www.na-pt.org/

Despacho normativo n.º 51/2008, D.R. n.º 190, Série II
Ministérios das Finanças e da Administração Pública e da Saúde
Aprova o Regulamento Interno do Instituto da Droga e da Toxicodependência, I. P.

Comments:
Novo tratamento
apresentado em Lisboa

Especialistas de vários países apresentam, esta
manhã, em Lisboa, uma nova terapêutica da toxicodependência
de heroína que evita as deslocação aos CAT.
Trata-se de uma terapêutica com as mesmas indicações que
a metadona, só que com a vantagem de poder ser administrado
pela própria pessoa, sem sair de casa. Só esse facto,
dizem os especialistas, permite uma maior autonomia do
doente e facilidade na reintegração social.
Outra vantagem apontada é a de que este tratamento minimiza
o risco de uso indevido e de abuso, como refere o
médico do Centros de Atendimento aos Toxicodependentes
(CAT) das Taipas. “Trata-se medicamento que junta duas
substâncias e uma delas tem um efeito de ser anti-heroína.
Assim, se for tomado correctamente não tem efeito de
opiáceo ou sintomas de privação”.
O novo tratamento vai ser apresentado por médicos oriundos
de países onde o medicamento está a ter bons resultados,
casod dos Estados Unidos, Itália, França e Finlândia.
O novo tratamento foi aprovado pela Comissão Europeia e
estará disponível, a curto-prazo, também em Portugal.

RRP1, 31-5-2007
 
Recluso agradece ao juiz a prisão que o afastou da droga

ELSA COSTA E SILVA

Participantes em programa prisional contam experiência
Manuel Oliveira tem ainda mais quatro meses de cadeia pela frente, para acrescentar aos quase 30 que já passou no Estabelecimento Prisional do Porto. Mas garante que se vir o juiz que lhe ditou voz de prisão, vai agradecer-lhe o gesto. A verdadeira prisão, diz, era a droga e a sua libertação começou no dia em que passou os muros do EPP. Deixou de consumir, mas o mais importante foi encontrar a "Unidade Livre de Drogas" (ULD), um programa que ajuda reclusos a deixar a toxicodependência e procura prepará-los para o regresso ao mundo real.

Um mundo onde Rui Rosas já está há sete meses. Ontem - num simpósio organizado pela Escola Superior de Saúde do Vale do Sousa, a propósito do Dia Internacional contra o Abuso e o Tráfico de Drogas - contou a sua experiência na ULD. Abstinente há mais de seis anos, trabalha agora na peixaria da família. Tinha antes "uma grande ansiedade de viver" que satisfazia sem regras. Começou pelo haxixe aos 11 anos e tem 20 de uma vida de droga para contar. O percurso, com tráfico e roubos à mistura, acabou no EPP. "Foi um tombo muito grande", recorda.

Desde que está cá fora, só lamenta a falta de apoio. E, pior, as apresentações no Centro de Apoio à Toxicodependência que o tribunal lhe impôs para o libertar. "Aquilo é um zona de risco, um ponto de encontro para toxicodependentes", conta. E só resiste porque na ULD o ensinaram a viver consigo mesmo, a não temer a solidão. Porque cá fora é difícil fazer novas amizades e as da droga são disponíveis e perigosas.

Manuel Oliveira, outro dos intervenientes, está de saída precária. Conta com a libertação em Outubro e até já arranjou emprego para quando sair. Sabe que o esperam momentos difíceis, porque "a sociedade vai estar de pé atrás e ver um recluso e toxicodependente, mas temos de dar provas daquilo que já não somos".

DN, 27-6-2007
 
O FUTURO PREVISÍVEL DA SOCIEDADE ONDULANTE

João César das Neves
Professor universitário

Como será a sociedade daqui a 30 ou 50 anos? Todos sabem que terá menos casamentos e mais divórcios, menos fumadores e mais drogados. Haverá menos religião, mais abortos, eutanásia, bebés-proveta, pornografia, prostituição, etc. Estas ideias são consensuais. Alguns lamentam, outros aplaudem, mas todos aceitam. Porquê? Afinal, elas baseiam-se em três métodos de previsão que, embora populares, sempre falharam redondamente.

O principal é a extrapolação linear: se a evolução recente vai num sentido, devemos prolongá-lo. Foi com esta lógica que se apregoou que hoje todo o mundo seria comunista ou americano, muçulmano, hippie ou deserto. Assim se previu que os mercados dominariam tudo ou desapareceriam na fúria colectivista, se decretou a extinção próxima de cafés, livros, teatros, jornais, telefones. Pelo contrário, a História mostra que a ondulação dos hábitos é tudo menos recta. Mas a tentação de estender uma tendência até ao absurdo parece invencível.

Os outros métodos comuns de previsão são ainda mais frágeis. O mais popular é seguir as opiniões dos jovens que, como sabemos, são o futuro. Nunca se viu ninguém que no futuro fosse mais jovem. A única certeza é que todos vão envelhecer e mudarão as opiniões. Afinal os actuais idosos retrógrados já foram novos e também eram rebeldes. Dadas as tendências demográficas, o futuro será mesmo dos velhos.

Finalmente, o método mais tolo é usar as teses das forças que se auto-apelidam de progressistas. Há séculos que intelectuais e movimentos, sobretudo aberrantes, julgam determinar o futuro, apesar das provas em contrário. Aliás esses grupos só chegaram às causas actuais depois do falhanço das anteriores.

Se estes métodos falham, como fazer antevisões razoáveis? Recusar essas tolices é um primeiro passo. Depois deve-se respeitar o futuro, que sempre será remoto. Existem ainda duas ideias simples que podem dar uma ajuda. A primeira é que, em geral, a lógica e sensatez acabam por vencer os embustes e parvoíces. A humanidade, por vezes, com grande atraso, destrona sempre as muitas asneiras que ergue.

Ora o consenso actual inclui enormes disparates, sendo obsessivo nuns temas e displicente noutros. Por que razão o fumador é agredido como criminoso, enquanto o drogado é considerado doente? Se o vício é tão poderoso num como noutro, e as consequências laterais são muito piores no segundo, qual o motivo de tratar o fumo com ameaças mas acarinhar e tolerar a droga? Porque se testa a alcoolemia nos condutores e não os estupefacientes?

Como estes, muitos outros mitos da propaganda actual acabarão eliminados mais cedo ou mais tarde. As ideias de que o divórcio liberta, de que aborto e eutanásia são aceitáveis, de que todas as formas de família são equivalentes vão desaparecer. Tal como a promoção de infâmias, pornografia e prostituição, em nome da liberdade. A sociedade faz campanhas contra o racismo e campanhas contra o fundamentalismo, que promovem novos racismos.

No extremo oposto a existência de graves situações de agressão e perseguição a homossexuais, que têm de ser punidas e combatidas, não justifica que se viole a liberdade de opinião, acusando de homofobia quem não aceite essa prática como "orientação" natural. Será que os fumadores se podem queixar de tabacofobia? Também inventar novos tipos de casamento em nome da igualdade é tolice. Todos podem casar livremente, ninguém com pessoas do mesmo sexo. Onde está a desigualdade? Casamento sempre foi entre homem e mulher, mesmo nas culturas que exaltaram a homossexualidade. E como é possível que o tempo que mais defende a natureza permita à ciência as mais terríveis manipulações da mesma, logo na sua manifestação suprema, a geração da vida humana?

Os animais são protegidos, só os embriões são explorados.

A outra ideia que ajuda a uma previsão razoável é que a sociedade, eliminando os erros actuais, estará sempre pronta a criar novas tolices ou a ressuscitar velhos embustes e parvoíces. Até a mitologia regressou na New Age. Também aqui a ondulação é a regra.

DN, 16-7-2007
 
Ecstasy “retira energia”
aos neurónios

Um artigo publicado na revista “Journal of Neuroscience”
vem confirmar a relação entre a degradação dos
neurónios e o consumo de ecstasy.
O estudo foi feito por uma equipa portuguesa, que inclui Ema
Alves e Teresa Summavielle do IBMC e Félix Carvalho
REQUIMTE/Serviço de Toxicologia da Faculdade de Farmácia
da Universidade do Porto.
Segundo os autores, o consumo de ecstasy provoca alterações
profundas nas células nervosas, fazendo diminuir a sua produção
de energia e o desgaste provocado poderá levar à morte
das células cerebrais.
Os cientistas acrescentam, no entanto, que é possível minorar
este efeito devastador com um fármaco usado em doentes
com Parkinson.
O estudo justificava-se a partir do momento em que se verificou
a existência de danos nas mitocôndrias neuronais sujeitas
à acção do ecstasy.
Dado que as mitocôndrias são as estruturas das células responsáveis
pela produção de energia no organismo, o impacto
nas células cerebrais poderia ser grave.
Esse impacto ficou claro pela análise de cérebros de ratos
jovens sujeitos à acção do ecstasy e que apresentavam mitocôndrias
bastante afectadas.
No entanto, os Investigadores recorreram a um inibidor específico,
a selegilina, um fármaco usado em doentes com Parkinson
e confirmaram ser possível reduzir o efeito neurotóxico
do ecstasy utilizando o fármaco.
O projecto que tem permitido avançar nesta linha de estudo
é financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian.

RRP1, 19-9-2007
 
TROCA DE BALAS

Alberto Gonçalves
sociólogo
albertog@netcabo.pt

Para combater o sono induzido pela lengalenga oficial sobre a matéria, vale a pena seguir a (adiada) troca de seringas nas prisões com um livro à mão. O livro chama-se Junk Medicine: Doctors, Lies and the Addiction Bureaucracy. O autor é Theodore Dalrymple, pseudónimo do psiquiatra inglês Anthony Daniels, colunista da revista Spectator e médico (reformado) de uma prisão em Birmingham.

A tese de Dalrymple é simples: a convenção de que o uso de narcóticos é uma doença serve apenas para desresponsabilizar os sujeitos que os consomem e empregar os sujeitos que, alegadamente, tratam o problema. Na longa experiência de Dalrymple, nem o drogado é um doente nem as drogas ditas duras fomentam uma dependência impossível de interromper sem ajuda externa. O "vício" é, acima de tudo, deliberado: é iniciado de livre vontade (ao invés da pneumonia) e pode ser abandonado de livre vontade (ao invés da pneumonia), com desconforto mas longe do tormento físico popularmente difundido. Dalrymple não nega as consequências clínicas do hábito (hepatite, Sida, tuberculose), nega que as consequências façam do hábito uma doença (o montanhismo não é uma doença embora os montanhistas sofram queimaduras do frio). E garante que prevenir os efeitos de um acto deliberado é estimular a repetição do acto. Ou seja: nada de seringas ou injecção "assistida".

Se por milagre o lessem, "Junk Medicine" seria uma fonte de irritação permanente para hordas de médicos, psicólogos, sociólogos, assistentes sociais e funcionários afins. Para mim, foi um prazer, excitante até na discórdia. Para mencionar um pormenor, a ideia (ideia de Dalrymple) de que, em vez de predispor ao crime, a droga é reflexo de uma espécie de "vocação criminosa", logo punível, não me convenceu inteiramente. Não acho que cidadãos maiores e vacinados (aliás frequentemente, e com diversas substâncias) devam ser detidos à conta dos extremos testes a que submetem as entranhas. Porém, é polémico que se gastem fortunas a salvá-los deles próprios. Polémico e ocasionalmente ridículo: no que respeita às seringas nas prisões, o Estado estará, no limite, a fornecer ao heroinómano os meios para que continue a cometer o crime pelo qual foi condenado. Rezo para que o paternalismo não alargue o método aos homicidas.

DN, 30-9-2007
 
Cientistas investigam para combater o 'ecstasy'

ELSA COSTA E SILVA

Trabalho usa ratos como modelos
Já demonstrou ter efeitos anticelulíticos e, por isso, adicionada a cremes para o corpo. Provou ainda ter consequências nos programas de emagrecimento e incluída em águas e bolachas. E está agora em investigação a possibilidade de proteger o cérebro contra os malefícios da chamada droga de discotecas. A carnitina é um composto que poderá vir a ser inserida na dieta alimentar de jovens e evitar a morte das células pelo consumo de ecstasy. O trabalho é de uma equipa de oito investigadores do Porto, do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC).

A investigação insere-se na tentativa de reduzir os danos provocados pelo consumo da droga. "Não podendo evitar-se, como seria desejável, podemos, pelo menos, tentar evitar que as consequências sejam tão graves", explica uma das investigadoras responsáveis, Teresa Summavielle. Mas, explica, há ainda que "debater a questão do ponto de vista ético", para saber até que ponto políticas de redução de danos se podem tornar incentivos ao consumo. O trabalho ganhou um prémio travel award para viajar até aos Estados Unidos e ser apresentado na conferência da Sociedade Neurociências.

Este grupo do IBMC, que trabalha com modelos animais, conseguiu já demonstrar que o ecstasy mata os neurónios, não por aumentar a temperatura corporal, como se pensava, mas por retirar energia às células ao danificar as mitocôndrias - um trabalho publicado no Journal of Neuroscience. Este mecanismo testado em ratos foi provado pelo facto de haver uma resposta favorável nos neurónios à administração de um medicamento contra a doença de Parkinson, que trava este mesmo processo.

Mas, explica Teresa Summavielle, este fármaco não pode ser utilizado para reduzir os efeitos das drogas porque interfere com outras funções que acabam por provocar a morte dos ratos usados como modelo de investigação. Há ainda evidências clínicas do perigo desta "mistura" pela morte de jovens que acumularam ecstasy com antidepressivos (que usam as mesmas substâncias que os medicamentos contra Parkinson).

E também no caso da carnitina não há "bela sem senão". Este composto, que evita a perda de energia das células do cérebro, provoca um aumento da metabolização dos lípidos, o que acarreta igualmente perigos para a saúde. Portanto, os investigadores procuram agora perceber que dose minimiza este efeito ao mesmo tempo que continua a proteger os neurónios. "Temos ainda um equilíbrio a fazer", explica Teresa Summavielle, adiantando ter em estudo outros compostos que possam igualmente ser introduzidos nas dietas alimentares dos adolescentes.

A carnitina aumenta a capacidade da célula de resistir aos ataques dos radicais livres que provocam poros nas membranas das mitocôndrias, levando à perda de funcionalidade das célula. O composto protege contra a deterioração das reser- vas energéticas dos neurónios que leva à morte celular.

DN, 2-11-2007
 
Um em cada cinco alunos do secundário usou drogas

PEDRO SOUSA TAVARES

Em cada cinco alunos do ensino secundário, do 10.º ao 12.º ano, um já experimentou algum tipo de drogas. A estatística surge nos dados preliminares do Inquérito Nacional em Meio Escolar de 2006, levado a cabo pelo Instituto da Droga e Toxicodependência (IDT) e revela, apesar de tudo, uma descida de 7% face aos anteriores dados, que é considerada "animadora", embora ainda "incipiente" por esta entidade.

De resto, o relatório do IDT aponta para uma redução consistente, desde 2003, do consumo de substâncias viciantes como o álcool, as drogas e o tabaco, tanto nos estudantes do secundário como entre os que frequentam o ensino básico.

Entre os que frequentam os 10.º, 11.º e 12.º anos, 88% confirmam já ter consumido bebidas alcoólicas pelo menos uma vez, o que representa uma descida de 4%. Já no terceiro ciclo do ensino básico (7.º, 8.º e 9.º anos) 60% dos jovens confessam terem provado estas bebidas, o que representa uma descida de 8% face a 2003.

O tabaco é a substância em que se notam as maiores reduções nos hábitos de consumo. A percentagem de estudantes do secundário que já o experimentou desceu de 68% para 56%. Entre os alunos do básico os progressos foram ainda mais significativos, com o consumo a cair dos 49% para os actuais 35%.

Ao DN, João Goulão, presidente do IDT, assumiu que o inquérito parece demonstrar a eficácia das campanhas de sensibilização dos jovens em relação ao consumo: "São dados provisórios, mas bastante animadores", considerou. Esperemos que na apresentação final [em Dezembro] se possa comprovar esta tendência e também perceber, melhor o que contribuiu para este progresso".

João Goulão admitiu, que apesar de Portugal figurar "entre os níveis mais baixos da Europa" ao nível dos consumos, nomeadamente entre os jovens, as "consequências, como as doenças e a exclusão social são das mais elevadas". Mas para o presidente do IDT, os números podem indicar o princípio de uma nova realidade: "Uma descida incipiente, mas que queremos consolidar".

DN, 28-11-2007
 
Dependentes de heroína aos dez anos

LÍLIA BERNARDES, Funchal

"É normal uma criança ter hábitos de consumo em família toxicodependente"

Sentados na berma da estrada, maldormidos, de olhar perdido, esperam junto ao Centro de Atendimento de Toxicodependentes (CAT) do Funchal, Madeira. As portas abrem-se e partem para o aconchego de uma casa sem condições físicas para um atendimento ideal. As escadas estreitas, os gabinetes reduzidos, a sala de espera minúscula, são ultrapassados pelo sorriso e empenho dos técnicos e da directora, Manuela Parente, psicóloga clínica nascida no Porto e com experiência dos CAT do Norte.

Vizinho do Liceu Jaime Moniz e de duas escolas profissionais, o CAT do Funchal atende 1800 heroinodependentes. Um número em crescendo quando comparado com os 1300 de 2006. Os últimos dados da PJ do Funchal revelam, também, que em 2007 a apreensão de heroína sofreu um aumento de 700%. E se é notório que a procura acompanha a oferta, o drama chega através de uma nova realidade: as crianças.

"Temos miúdos cada vez mais novos a iniciar-se na heroína. Miúdos que vêm de meios sociais muito degradados onde a heroína já é um hábito", disse ao DN Manuela Parente. Explica que há alguns anos era normal uma criança de dez anos ter hábitos alcoólicos numa família de alcoólicos. Hoje passou a ser "normal uma criança de 11 anos ser heroinodependente numa família de heroinodependentes. Não há muitos casos, por enquanto, mas os poucos que aparecem são suficientemente preocupantes para me deixar angustiada", afirma. Esta situação implica encontrar soluções, pois o centro "nos moldes em que está não é adequado para receber estas crianças. Não me interessa nada que digam que lá fora elas andam com adultos! Eles são demasiados novos, nem sequer são adolescentes. Vamos ter de encontrar espaço e estratégias próprias", reitera.

Semanalmente, há sempre pessoas que recorrem ao centro pela primeiro vez, o que significa que, "neste momento, a situação não está controlada na Madeira, tal como acontece noutros locais do país", diz.

A pergunta impõe-se. O que se faz a uma criança de dez ou 11 anos dependente de heroína e que não adere a qualquer tratamento, pois "entram aqui quase obrigadas pela mão das assistentes sociais"? É difícil estabelecer uma relação, mas "acho que já conseguimos alguma coisa. Hoje, os miúdos da rua vêm ter comigo. Antes eram bichinhos-do-mato, nem olhavam para a nossa cara. Temos uma criança que foi o próprio pai que lhe injectou heroína".

A verdade é que eles não conseguem parar de consumir. E agora? "Devemos ou não integrá-los num programa de substituição? A metadona é uma hipótese. Mas vamos começar já a dar-lhes metadona? Introduzir-lhes uma substância que acaba por ser agressiva tendo em conta a idade? Ou não fazemos nada, sabendo que vão continuar a consumir e a correr riscos?", diz. As interrogações sucedem-se até porque estas crianças já não estão na escola.

A distribuição de seringas disparou de duas mil mensais para quatro mil. Uma unidade móvel que só trabalha de dia faz, em simultâneo, a distribuição da metadona a quem está com terapias de substituição e a troca de material aos que consomem.

DN, 3-3-2008
 
BZP vai ser incluída na lista de drogas proibidas

RUTE ARAÚJO

A Europa ganhou ontem uma nova droga, com a decisão tomada pela Comissão Europeia de integrar a BZP na lista de substâncias ilícitas. Com efeitos semelhantes aos do ecstasy ou anfetaminas, este produto circulou durante anos sem qualquer entrave legal. Vendido nas lojas de produtos naturais, integra a composição de medicamentos para tratar os parasitas e está também disponível no mercado ilícito em comprimidos.

Mas, depois de analisar um relatório elaborado pelo Observatório Europeu da Droga e Toxicodependência, que alertava para os perigos do consumo, a Comissão Europeia decidiu ontem submeter esta substância a "medidas de controlo" e "sanções penais" em todos os Estados-Membros. E deu um ano a cada país para tomar estas medidas, "proporcionais aos riscos relativamente pouco elevados da substância".

Apesar de estar à venda em Portugal - e ser acessível através da compra pela Internet -, o consumo desta substância não atinge no País os sinais de alarme de outros estados como a Grã-Bretanha, onde têm crescido os números de apreensões e de jovens que a consomem nos locais de diversão nocturna. Sofia Santos, responsável pelas relações internacionais do Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT), refere que o instituto já tinha enviado um alerta aos organismos com os quais trabalha sobre esta substância (Direcção Geral da Saúde, forças policiais ou Instituto de Medicina Legal). Mas aquilo que era até aqui um pedido de colaboração voluntário passará agora a ser uma obrigação legal. Primeiro, o IDT vai fazer uma proposta de alteração legislativa para que a lista de substâncias ilícitas integre também a BZP (abreviatura para benzilpiperazina). Quanto às sanções, o quadro legal português não necessita de ser alterado, já que as coimas definidas passam a aplicar-se automaticamente também a esta substância.

Com efeitos estimulantes do sistema nervoso central, a BZP pode provocar reacções que vão das náuseas e confusão a crises de epilepsia há casos de morte associados ao seu consumo, por exemplo, na Suécia.

DN, 4-3-2008
 
Toxicodependentes que preferem abraços a clínicas de reabilitação

PEDRO VILELA MARQUES

O vapor de água da respiração das pessoas e da comida embacia os vidros da casa de Duarte, em Lisboa. Como em qualquer outra véspera de Natal, o jovem de 28 anos olha emocionado para a família reunida. Nesse ano, a única diferença era estar do lado de fora do apartamento. "Esse é um dos momentos mais marcantes da minha vida, estar no passeio em frente à casa dos meus pais e enquanto a minha família tinha o jantar da consoada, eu arrumava um carro para ganhar 50 escudos para mais uma dose".

Duarte - nome falso, como todos os que por razões de anonimato são usados nesta reportagem - percebeu nessa altura que a adição na droga se tinha tornado em algo mais do que uma doença - tinha-lhe destruído a vida. Levara-o a sair de casa e a cortar os laços familiares. Nessa altura resolveu entrar nos Narcóticos Anónimos (NA) e cortar com 17 anos de consumo de drogas. "Comecei a usar aos 11 anos, especialmente cocaína e heroína, e saí aos 28 sem nunca passar por nenhum tratamento ou clinica de reabilitação. Consegui-o só através das reunião dos NA". Já lá vão 13 anos.

A conversa é interrompida por duas crianças que brincam com uma bola de futebol junto ao auditório da Faculdade de Medicina Dentária, em Lisboa, onde acabou ontem a a 18ª Convenção Nacional dos Narcóticos Anónimos. "São filhos de ex-adictos. Isto é uma verdadeira festa de irmandade, onde celebramos o facto de nos mantermos limpos", afirma Duarte, que entretanto casou, teve filhos e tornou-se num empenhado membro da sub-comissão de informação dos NA.

Ao seu lado, Ruca mantém-se calado, mas não esconde alguma emoção ao ouvir as histórias do colega de secção. Também ele consumiu durante 17 anos, também ele viveu na rua durante quatro anos e assistiu à ceia de Natal da família do lado errado da porta. Mas não foi isso que o fez largar a droga. "O que me fez perceber que precisava de ajuda foi um dia estar no Casal Ventoso a mexer no lixo à procura dos sacos que os traficantes deitavam fora para poder raspar mais uma migalha de heroína ou coca para injectar. Quando levantei a cabeça, lembro-me de ter olhado para o céu e perceber que estava a mexer no lixo, como tantas vezes fazia à procura de comida, e constatar que a minha vida ia ser para sempre assim". Ruca tinha 32 anos e pouco tempo depois cruzou-se com um amigo na rua que o encaminhou para os NA.

Os relatos dos recém-chegados às reuniões repetem-se. Primeiro o receio, a vergonha de cheirar mal, de ir ainda a ressacar para as salas. Depois, o choque da aproximação. "Ainda me lembro que a terceira pessoa que abracei foi aquela que se tornou minha mulher. Nesse dia, quando vieram para me dar um abraço, reagi com medo. Mas depois aquele calor tornou-se bom, senti-me protegido e a partir daí aprendi a partilhar o meu fardo", conta Duarte, enquanto instintivamente fecha os braços, como se estivesse a receber os de alguém.

Tanto ele como Ruca são unânimes em considerar que o sucesso dos NA passa por esse gesto. Mas não só. "O andar connosco ao colo é fundamental, mas depois há a parte do serviço, que começa por servir cafés e chás e onde o simples facto de recebermos um obrigado e nos dizerem que aquilo está bom nos começa a levantar a auto-estima", acrescenta Ruca, que é interrompido por uma amiga, que o abraça efusivamente. "Não tinha noticias tuas há 11 anos, pensei que tinhas morrido".

DN, 2-6-2008
 
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