24 junho, 2007

 

24 de Junho


S. João



http://amen.no.sapo.pt/S.Joao%20do%20Porto.htm

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Fogo de artifício de volta
à Ponte D. Luís I

No São João do Porto o fogo de artifício regressa à
ponte D. Luís I, depois de, no ano passado, o fogo ter sido
lançado apenas no rio devido ao metro na antiga Ponte de
Eiffel. Este ano a atracção das festas sanjoaninas na Invicta
está de volta, e de acordo com o vereador Gonçalo Gonçalves
será um espectáculo a não perder, que incluirá também
“uma surpresa no rio”.
Este ano, e pela segunda vez, o fogo de artifício é um trabalho
conjunto das autarquias de Gaia e do Porto.
A noite dos foliões terá três palcos considerados importantes:
Fontainhas, Avenida dos Aliados e Castelo do Queijo, neste
caso com a actuação dos GNR.

Em Braga a festa é mais religiosa

São João também muito conhecido é o de Braga, com atracções
diferentes. Não vão faltar os cabeçudos e a componente
religiosa, numa festa considerada o ex-líbris da região. Vítor
Sousa, presidente da associação de festas do S. João de Braga,
ressalva a “forma genuína com que é organizado” este
são João.
Para domingo, está marcada a grande procissão dos santos do
mês de Junho, com dois pontos altos: o desfile do carro do
Rei David e do carro dos pastores.

Mais a sul, São João inaugura pavilhão

As festas da cidade de Évora apresentam este ano, como um
dos pontos altos, a inauguração do pavilhão multiusos. A
nova Arena de Évora, antiga praça de Touros, tem lotação
para cinco mil pessoas e alarga a sua área de actuação. “Um
espaço polivalente e de grande modernidade”, como refere o
presidente da câmara José Ernesto. Um espaço que vai também
“reforçar a identificação da população com o património”
da região.
Ainda em Évora, e com o templo romano como fundo, as festas
da cidade e a feira de São João abrem hoje as portas. Um
certame que este ano quer sensibilizar e apelar ao voto no
monumento eborense para as Sete Maravilhas de Portugal.

RRP1, 22-6-2007
 
São João transfigura o Porto

Permissividade. Festa popular tira a barriga de misérias e serve de desforra

A maior celebração transforma o Porto e arrabaldes numa gigantesca quanto animada cascata com a boémia no altar. É a consagração da noite reinadia, o respirar de sensações de amor. É o povo festeiro no esconjuro de toda a casta de ruindades. E por isso pula, salta, canta e dança até romper a aurora.

Eis o tripeiro a comer à tripa-forra, a beber brancos e tintos. Ainda com sangue na guelra faz-se à sardinha assada, ao anho apetitoso, enfim, seja trinca-espinhos ou quebra-ossos, o rapioqueiro vai de se entregar ao festim orgiástico durante a magia da madrugada das mais belas sensações.

Arraiais, bailaricos, o saltar das fogueiras. Nos bairros populares, no âmago da sua alma, no seu espírito de vizinhança, o povo ainda constrói, ergue e partilha o mais genuíno, terno e castiço S. João. Fontainhas, Pelames, Rua de São João. O convívio não conhece classes sociais.

A multidão deambula, livre, por praças e vielas, muitos estrangeiros se espaventam com tal idolatria, com essa pândega cheia de luzes, enfeites, arcos, fragrâncias, brejeirices, fogo-de-artifício. Cordoaria, Praça da Liberdade, Batalha, Ribeira, Miragaia, Cantareira, Foz do Douro. A borga nos umbrais da loucura, desde o casco histórico à Ramada Alta.

Treluzem fogareiros, alastra frango assado, sobem os balões, "olha o balão!", há frenesins de mar-telinhos de plástico, "tlic-tlic", em acção desde 1968. O alho-porro que "tem barbas e não as corta, tem dentes e não come, tem rabo e não o arrasta" percorrendo a sinuosidade feminina. O manjerico ameiga o hálito da noite e a quadra que o encima anda de mãos dadas com a sensualidade dos amores-perfeitos. "Ao saltar duma fogueira/ Na noite de S. João/ /Não sei bem de que maneira/ Chamusquei o coração".

Trevos, alcachofra, cidreira, alecrim, "alecrim aos molhos", alfazema. Na escarpa da permissividade o S. João a todos serve, até aos que juntam os amigos no quintal, põem lâmpadas ao dependuro e soltam a "maior folgança popular na cidade", conforme descreveu o cronista Fernão Lopes, no século XVI.

Ora, para que isso aconteça, há uma empresa de Espinho a ornamentar alguns recantos do burgo; há ruidosos tasquinhares; há restaurantes com esplanadas para todos os gostos e preços; há quem coloque no mercado aí coisa de 20 mil borregos e 400 mil quilos de sardinha. E há uma data de anos que a senhora Laurinda, de Gondomar, vende ervas odoríferas. "Agora está tudo mais murcho", diz, desalentada, junto à sorumbática Torre dos Clérigos.

Martelinhos a dois euros, vasos de manjerico de um a seis euros, alho-porro de um a cinco euros. O preço, explica, oscila "consoante o tamanho da cabeça do alho. Mas dá sorte, o sacanote". Lá pelas orvalhadas, "a saliva dos deuses", o povo, suado e feliz, vai à deita magicando num mundo a roçar a perfeição. A.M.

DN, 23-6-2008
 
Profeta decapitado e a borga no pedestal

ALFREDO MENDES

A par de muitas celebrações pagãs absorvidas pelo cristianismo, os festejos de São João relacionam-se com o assinalar do solstício do estio, e daí a volúpia e a foliaria, juntando-se-lhes brejeirice, sensualidade e tributos às águas, ao fogo e às ervas bentas

Grande festa pagã com reminiscências gregárias ignora mártir

De muito longe vêm os festejos orgiásticos que assinalavam a morte do Inverno, o fantástico, o fecundo solstício do Verão, com o florescimento dos campos e das vontades humanas. A maior noite do ano, noite de sonho - a de 24 de Junho.

A data, o posicionamento do astro-rei, de acordo com o calendário juliano, pré-gregoriano, coincidiam com esse milagre da natureza ou dos deuses. E por isso faziam vingar e vicejar toda a pujança gregária, toda a seiva da vida.

Com a Idade Média, a celebração seria cristianizada. Porém, de tal maneira se procedeu o acolhimento que o povo jamais relacionaria a vida e a morte do profeta com a foliaria sem freio: desregrada, permissiva, brejeira, sensual, em calorosa veneração à volúpia. São João Baptista, o anunciador do Messias. O que no deserto "nem comia, nem bebia", o caminhante que se alimentou de gafanhotos, vejam a praga! São João Baptista, o que baptizou Cristo no rio Jordão, o que relegaria beldades, como a vistosa Salomé. O Santo mártir que seria decapitado.

Festejado um pouco pela Europa, idolatrado no Brasil, principalmente no nordeste, com as festas juninas e os seus arraiais, em Portugal o santo ficaria como símbolo de festança de arromba, de instantes pandegueiros, de amores que se desejam amores-perfeitos. Ao jejum do primo de Jesus, as comezainas, sardinha e borrego e vinhaça gorgomilos abaixo. À sua abstinência sexual, trovas insinuosas, prenhes de malícia. Até porque, casamenteiro e maroto, "São João era bom santo/ Se não fosse tão gaiato/ Levava as moças à fonte/ Iam três e vinham quatro".

E de muitas formas em todo o País e ao longo dos tempos se rogava ao santo que desencantasse moço ou moça à altura dos arfares e dos fulgores. Enquanto isso, na noite reinadia, abafadiça e tentadiça, ciosa de folguedo, o fálico alho-porro lá ia percorrendo a curvatura dos corpos femininos.

Depois, o culto das águas purificadoras. Nas cascatas, nos repuxos, a água do baptismo, as águas onde se põem papelinhos, ora ovos, para se desvendarem paixões e demais emoções. Águas e aguardente para a sossega, mal assomassem as orvalhadas.

Ah, as fogueiras rosmaninhas que se saltam, "vais tu,vou eu", permitindo descortinar as pernas das raparigas. É a crença no fogo, na chama durante a magia da noitada.

Para completar a trilogia, a fé nas ervas bentas, ervas odoríferas que mandam às urtigas os caprichos do diabo e do mau-olhado: manjerico, trevo, alcachofra, cidreira, alecrim, alfazema, sabugueiro, dedadeira, erva do monte, véu de noiva. A convir.

DN, 23-6-2008
 
Fogo-de-artifício de S. João ensombrado pelo nevoeiro

MARCOS CRUZ

Rui Rio e António Costa viram o espetáculo pirotécnico a bordo de um barco, no Douro

Miragaia deu baile até às 07.00. S. João está bem e recomenda-se

Aos primeiros sinais de humidade falou-se em orvalhadas. É o optimismo típico do S. João portuense, festa a que ninguém falta. Por todo o lado, à hora de jantar, as brasas assavam sardinhas e pimentos, fosse debaixo de toldos, coberturas improvisadas ou mesmo ao ar livre.

Houve, ainda assim, quem temesse o flop. "Logo no único dia do ano em que toda a gente sai à rua é que tinha de vir chuva!", lamentava Joana Pacheco, advogada, ainda a apalpar a festa no Bairro Inês, ponto de passagem obrigatória, quer pela localização - um enorme pátio sobre o rio, pejado de embarcações - quer pela frequência, em grande parte feita da mistura entre portuenses de gema e estudantes Erasmus.

Nuno Brito e Cunha, designer gráfico, trazia uma T-shirt preta de sua autoria com um dizer estampado a cor-de-rosa: "Sou popular, mas não sou santo." Debaixo dos seus olhos, nas águas do Douro, dois autarcas tinham de si mesmos opinião diferente. António Costa, presidente da Câmara de Lisboa, que convidou Rui Rio para assistir ao desfile das marchas populares de Santo António, viu a gentileza retribuída e presenciou pela primeira vez in loco o S. João - se bem que in loco, in loco, é na rua.

Dizia Costa, sorridente: "É um encontro de santos populares." Comentava Rio, sobre a possibilidade de esta troca de galhardetes prenunciar um ressurgimento do Bloco Central: "Só se for mesmo ao nível dos santos populares." Com eles navegavam Valentim Loureiro, Pacheco Pereira, José Magalhães e Silva Peneda, entre outras figuras da política, rendidas à aliança - essa, sim, irrecusável - das sardinhas com o caldo verde.

O fogo-de-artifício foi menos de arte e mais de ofício, culpa do nevoeiro. Perdeu-se alguma espectacularidade, mas cumpriu-se o ritual. Daí para a frente, o ritual era mesmo a perda - ou melhor, a perdição. Generalizada. Miragaia fervia, mesmo com música pouco ajustada à ocasião. A chuva parou, a banda de serviço corrigiu o rumo, associando temas marcantes do rock português, como Contentores, dos Xutos e Pontapés, a clássicos imortais do disco sound, como I Will Survive, de Gloria Gaynor, por entre as inevitáveis brasileiradas e espanholadas que, nos últimos anos, ali têm roubado espaço às "pimbalhadas" nacionais, e o baile foi até quase às seis da manhã.

Na mesma zona da Ribeira, o Rádio Bar e o recém-aberto Porto Rosa aguentaram mais uma hora, permitindo aos foliões queimar os últimos cartuchos, que é como quem diz dar as últimas marteladas, entornar para dentro e para fora os últimos copos de cerveja, jogar os últimos trunfos na sedução instantânea e gastar as últimas energias. É que, faça chuva ou sol, S. João só há um... por ano.

DN, 25-6-2008
 
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