25 junho, 2007

 

Salman Rushdie


Cavaleiro e proscrito ou de como vale a pena continuar íntegro





http://pt.wikipedia.org/wiki/Salman_Rushdie

Comments:
Aos 60 anos sob o signo da ameaça

ISABEL LUCAS

Insulto. A palavra veio ontem do Paquistão e do Conselho Muçulmano da Grã-Bretanha (grupo considerado moderado) para classificar a decisão da rainha de Inglaterra de nomear Salman Rushdie Cavaleiro pelo serviço prestado à literatura. "É o momento de 1,5 milhões de muçulmanos encararem seriamente esta decisão", declarou no parlamento paquistanês o ministro para os Assuntos Religiosos. O escritor recebeu a distinção no sábado, dia 16. Ontem, ouviu o primeiro-ministro do Paquistão defender que o facto justifica atentados suicidas. Hoje, dia 19, completa 60 anos e volta a enfrentar a ameaça da morte.

1- Nascimento. A 19 de Junho de 1947, em Mumbai (Bombaim), numa família muçulmana.

2 - O exemplo. Um mês antes, a Índia tornava-se independente da coroa britânica.

3 - O exemplo. O avô materno, natural da Caxemira, é um modelo de como viver o Islão sem radicalismo. Quer uma "religião de paz e não uma religião em estilhaços". Irá influenciar o seu romance Shalimar, o Palhaço, 2005. "Com 12 e 13 anos podia sentar-me junto a ele e dizer-lhe: 'Avô, não acredito em Deus'. Ele respondia: "Ah sim?! Isso é muito interessante". Rushdie falava assim do avô. "Quando penso nele penso em tolerância."

4 - Influência. Aponta, na infância, o poeta Faiz Ahmed Faiz, um amigo da família que escrevia poesia com a mesma paixão com que se envolvia em discussões políticas.

5 - Inspirações. James Joyce, Günther Grass, Jorge Luis Borges, Mikhail Bulgakov e Lewis Carroll.

6 - Educação. Estudou num colégio em Mumbai e formou-se em História no King's College, em Cambridge.

7 - A palavra. É um indiano que sempre escreverá em inglês.

8 - 'Hobby'. Integra a companhia de Teatro de Cambridge.

9 - Mudança. Em 1964 vai com a família para o Paquistão.

10 - Primeiro emprego. Jornalista na televisão local .

11- Actor. Regressa a Inglaterra em 1971 e volta ao teatro

12 - Antes da escrita. A publicidade. Fez carreira na Ogilvy & Mather e na Ayer Barker

13 - Início. Em 1975, em Inglaterra, publica o primeiro romance, Grimus , que não está traduzido em português..

14 - Enlace. Casa pela primeira vez. A noiva é Clarissa Luard.

15 - Aplauso. O reconhecimento como escritor veio em 1981, com o segundo romance, Crianças da Meia -Noite. A acção passa-se em 1947, ano do nascimento do escritor. Olha-se a si e o ano em que nasceu. É um retrato da divisão sangrenta da Índia e do Paquistão

16 - Prémios. Em 1981 vence o Booker Prize, o Arts Council Award, o English-Speaking Union Award e o James Tait Black Memorial. Tudo, com Crianças da Meia-Noite.

17 - O livro dos livros. Dois anos após a publicação, Crianças da Meia-Noite ganha o Booker of Bookers, ou seja, é considerado o melhor romance vencedor do prémio nos 25 anos anteriores. Foi em 1993.

18 - Terceiro. Publica Vergonha que a crítica vê como uma alegoria à política do Paquistão.

19 - Aviso. Nesse ano escreve: "O efeito das migrações de massa teve como efeito a criação de novos tipos de radicalismo e seres humanos diferentes."

20 - Romance. Edita O Sorriso do Jaguar, em 1987, onde critica fortemente a administração Reagan a propósito da Nicarágua.

21 - Acusações. Não evita polémicas. Chama Margaret Thatcher de "Senhora Tortura" e aponta o dedo a Israel no conflito com a Palestina.

22 - Os Temas. Honra, perdão, vergonha.

23 - O escândalo. Publica, em 1988, Versículos Satânicos e é acusado de "blasfémia" pelo Islão. O romance, centrado nas aventuras de dois actores que se vêem em Inglatera após a explosão de um avião da Air India, ganha o prémio Whitbread, em 1988.

24 - Ameaça. Em 1989, no Irão, o Ayatollah Khomeni acusa Rushdie de apostasia: incentivo ao abandono da fé islâmica, "delito" ao qual é aplicada a pena de morte. Ordena aos "muçulmanos zelosos" que assassinem o escritor e os editores do livro. "Oh meu Deus, vou morrer!", foi o que passou pela cabeça do autor quando ouviu a "sentença" de morte (fatwa) ditada pelo Ayatollah Khomeni.

25 - 'Help!' Rushdie pede protecção ao governo e à polícia britânicos contra as ameaças do Islão.

26 - Exílio. O escritor passa a viver na clandestinidade, longe da mulher e do filho, e sob segurança apertada. Chamou-lhe uma "agonia".

27 - Fuga. Dormiu em 13 sítios diferentes no espaço de 20 dias

28 - A vida continua. Escreve, um livro para crianças, Haroun e o Mar de Histórias, sobre o perigo de contar histórias, e vence o prémio de melhor livro para crianças em 1990.

29 - O palco. O livro é adaptado ao teatro e estreia no Royal National Theatre, de Londres.

30 - Missão. Da clandestinidade, o escritor faz chegar a sua voz através da escrita. Os alvos são os mesmos de sempre: "obscurantismo" e mistura entre fé e política.

31 - Ensaio. Sai em 1993 a primeira colectânea do género publicada pelo escritor. Pátrias Imaginárias...

32 - 'Short'. Oriente, Ocidente, em 1994, é um volume de short stories. É Rushdie dividido entre dois mundos.

33 - 'Stop not!' "O mundo deve permanecer um lugar diversificado", diz. Diz ainda que a melhor maneira do Ocidente responder à ameaça do radicalismo Oriental é continuar o seu caminho, como até aqui.

34 - Repetido. Volta a figurar, em 1995, na short-list do Booker com o romance O Último Suspiro do Mouro e vence pela segunda vez o prémio Whitbread.

35 - Silêncio. Quatro anos sem editar, mas soma prémios dentro e fora de Inglaterra.

36 - Lamento. Numa entrevista à Veja dirá: "Eu tinha um filho pequeno e não pude ser um bom pai para ele. Não podíamos fazer coisas simples como brincar num parque. Também perdi muito trabalho. A sentença de morte custou-me um livro, que não pude acabar."

37 - Confissão. "Nunca fiz um romance para provocar polémica - nem Versículos Satânicos. Não acho que esse seja o papel da ficção."

38 - Aparições. De surpresa e sob segurança apertada, Rushdie surge em acções contra a intolerância política e religiosa um pouco por todo o mundo

39 - Perdão. Em 1998, dez anos depois da condenação, o Irão cede à pressão internacional e compromete-se a não voltar a apelar à morte de Rushdie.

40 - Regresso. Em 1999 publica o romance O Chão que ela Pisa, sobre o mito de Orfeu e Eurídice.

41 - Contra as elites. No livro, o clássico anda a par com a música pop: "O romance não é uma forma de arte elitista", diz.

42 - Bono. Os U2 inspiram-se no livro para escrever uma canção. "Sou amigo de muitos roqueiros", dirá. "Encontro-me com o pessoal dos U2 há pelo menos dez anos. Quando fui condenado pelo regime iraniano, deram-me muito apoio."

43 - Controvérsia. Apoia os bombardeamentos da NATO contra a ex- Jugoslávia.

44 - O fim. Em 2001, publica A Fúria, estranha coincidência com os atentados de 11 de Setembro. É o último romance de uma era.

45 - Pop. Aparece numa cena do filme O Diário de Bridget Jones, onde contracena com Hugh Grant.

46 - Para rir. Num episódio de Seinfeld, Kramer acredita ter encontrado Salman Rushdie num ginásio em Nova Iorque.

47 - Chega! "No momento estou enfastiado da política."

48 - A bela. Em 2004 casou em Nova Iorque com a ex- modelo e actriz Padma Laksmi, de 34 anos.

49 - Elas. Teve quatro mulheres.

50 - Pai. Tem um filho.

51 - Não ficção. Publica Pisar o Risco, colectânea de textos.

52 - O último. Em 2005, edita Shalimar, o Palhaço, candidato aos principais prémios literários.

53 - Portugal. Em Dezembro de 2006 vai a Santa Maria da Feira no âmbito do Festival Sete Sóis Sete Luas e recusa o conceito de choque de civilizações entre o Ocidente e o Islão

54 - 'Sir'. Recebe o título de Cavaleiro nas cerimónias de celebração dos 80 anos da rainha Isabel II.

55 - Volta o perigo. O regime paquistanês declara legítimos os ataques suicidas contra Rushdie. Motivo: a distinção dada por Isabel II.

56 - Os heróis. Italo Calvino e Thomas Pynchon.

57 - Deus. "Se Deus existe, creio que não se importa nem um pouco com as pessoas que não acreditam nele. Bem menos, em todo o caso, do que aqueles que se arrogam o direito de falar em seu nome e usam palavras como blasfémia e heresia para lutar contra todo o tipo de novidade ou mudança."

58 - Mania. Gosta de dormir com peças de Lego na cama. Diz que o faz sentir capaz de construir edifícios durante o sono.

59 - S. Valentim. Todos os anos, a 14 de Fevereiro, continua a receber um cartão do regime iraniano.

60 - A cidade. Vive em Nova Iorque desde 2000.

DN, 19-6-2007
 
Condecoração de Rushdie gera conflito diplomático

HUGO BORDEIRA, Londres

Salman Rushdie, o controverso escritor britânico de origem indiana, está de novo no centro da ira do mundo islâmico depois de a Rainha de Inglaterra ter decidido distinguir o autor de Os Versículos Satânicos com a atribuição do título de cavaleiro. Os protestos começaram no fim-de-semana no Paquistão e nos últimos dias alastraram a outros estados como a Malásia e o Irão, lançando de novo o Reino Unido numa crise diplomática com países muçulmanos.

Na terça-feira, o ministro dos negócios estrangeiros do Irão convocou o embaixador britânico em Teerão para lhe dizer que a condecoração de Rushdie era "um acto provocatório", já que o Reino Unido estava a premiar um homem "que ofendeu a fé de 1,5 biliões de crentes". Ontem, 221 dos 290 deputados que compõem o parlamento iraniano aprovaram uma declaração pública de condenação à iniciativa.

Na Malásia, algumas dezenas de apoiantes do Partido Islâmico organizaram uma manifestação em frente à embaixada britânica em Kuala Lumpur (capital do país), entoando cânticos como "Vamos destruir Rushdie" e "Vamos destruir Inglaterra". Foi também entregue uma nota de protesto exigindo a retirada da distinção ao escritor.

Antes disso, na segunda-feira, já o ministro dos assuntos religiosos do Paquistão, Mohammad Ejaz ul-Haq, tinha classificado o gesto da Rainha Isabel II como um insulto ao mundo islâmico, que só por si justificava o sacrifício de bombistas suicidas. "Se alguém comete suicídio para proteger a honra do profeta Maomé, esse acto é plenamente justificado", afirmou na altura. Mais tarde, emendou as palavras e disse que não defendia atentados bombistas, explicando ter alertado que este gesto poderia ser usado por extremistas como pretexto.

DN, 21-6-2007
 
A CULPA É DO RUSHDIE E DO SCOTCH

Ferreira Fernandes

Pergunta-se: há alguma ligação entre a nomeação de Sir Salman Rushdie e as tentativas de atentado no Reino Unido? Mas claro que há! O Ocidente tem de perceber que não pode provocar e viver impune. Arma cavaleiro um ímpio e queria continuar na boa... É como aqueles que estavam na discoteca Tiger Tiger. Homens e mulheres. Juntos! Às tantas da matina. Estavam a pedi-las. Pergunta-se: há alguma ligação entre essa devassidão e um Mercedes parado, pronto a rebentar, à porta da discoteca? Mas claro que há! Querem rebaldaria, têm-na. Há ali um dedo no ar. Diga lá? Aquilo do aeroporto de Glasgow? Qual a relação?... Bom... Glasgow, Escócia, Escócia, alambique, malte, turfa, casco de carvalho, querem que vos faça o desenho completo? Estavam a pedi-las, é o que é. E não vale a pena continuarem com perguntas à volta do mesmo. Vamos ao essencial, pergunte-se: há alguma relação entre o Ocidente e bombas? Claro que há. Conhecem outra forma de acabar com ele?

DN, 3-7-2007
 
Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?