07 junho, 2007

 

Segurança rodoviária


Sinistralidade jovem

Em 2006, mais de 18.000 jovens, com menos de 30 anos, estiveram envolvidos em acidentes...

- 2.000 milhões de euros é o impacto económico da sinistralidade com custos que equivalem a 0.82% do PIB;
- 187.134 é o número de feridos graves, nos últimos 20 anos;
- 1.070.363 é o número total de feridos ligeiros entre condutores e passageiros, no mesmo período de tempo;
- 39.096 é o número de mortos, sabendo-se ainda que um terço do valor real não está contabilizado.
Este número é, apenas, 4 vezes superior ao de vítimas mortais da Guerra Colonial!



http://www.dgv.pt/dgv/index.asp

http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=907449&sec=3

http://www.portugal.gov.pt/Portal/PT/Governos/Governos_Constitucionais/GC17/Ministerios/MAI/Comunicacao/Outros_Documentos/20080104_MAI_Doc_Sinistralidade_Rodoviaria.htm


Decreto-Lei n.º 153/2008, D.R. n.º 151, Série I de 2008-08-06
Ministério da Justiça
Procede à primeira alteração ao Decreto-Lei n.º 291/2007, de 21 de Agosto, revendo o regime aplicável aos processos de indemnização por acidente de viação, e à primeira alteração ao Decreto Regulamentar n.º 1/94, de 18 de Janeiro, clarificando que a atribuição das prestações por morte fica dependente de apenas uma acção judicial, de acordo com as medidas de descongestionamento dos tribunais aprovadas pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 172/2007, de 26 de Novembro

Comments:
Jovens são principais culpados de sinistros

SUSANA LEITÃO

Mais de 18 mil jovens tiveram um acidente
Os jovens com menos de 30 anos têm contribuído em larga escala para que as estatísticas da sinistralidade não baixem e permaneçam longe do objectivo: estar entre os dez primeiros países da União Europeia. Só em 2006, e de acordo com dados da Direcção-Geral de Viação, mais de 18 mil condutores com menos de 30 anos estiveram envolvidos em acidentes.

O alerta surge num estudo sobre as principais causas da sinistralidade rodoviária em Portugal, elaborado por uma equipa do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e Empresa (ISCTE). A mesma equipa de especialistas aconselha o Governo a ter uma atenção especial sobre este segmento. Outro dos problemas apontados são as estradas regionais e os arruamentos, locais onde o Governo tem de "priorizar" a fiscalização.

O documento, um conjunto de considerações para a futura Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária 2007-2015, e já apresentado pelo Ministério da Administração Interna, frisa que "nos acidentes entre ligeiros e peões, a probabilidade de ocorrência de mortos e de feridos graves é maior quando os condutores têm menos de 30 anos".

A radiografia da sinistralidade nas estradas portuguesas mostra um cenário sombrio e de difícil resolução. Nos últimos vinte anos morreram mais de 39 mil pessoas vítimas de acidentes de viação, ou seja, o quadruplo do número de mortos na Guerra Colonial (cerca de 10 mil). No que toca aos feridos, mais de 187 mil sofreram ferimentos graves e mais de um milhão, ligeiros. Os custos desta catástrofe saem caro aos bolsos do Estado e dos contribuintes, representando 0,82% do Produto Interno Bruto (PIB), ou seja, mais de dois mil milhões de euros.

Para que se consiga cumprir a redução de 50% no número de mortos e feridos graves, a que o Governo de José Sócrates se propôs até 2010, os especialistas recomendam que o Governo reveja as velocidades, a taxa de álcool, o ensino da condução e a rapidez das penalizações. Outro dos conselhos passa por fazer auditorias às vias.

O estudo surge da necessidade de corrigir o anterior Plano Nacional de Segurança Rodoviária, elaborado em 2003, aquando do Governo de Durão Barroso, considerado pelo secretário de Estado da Administração Interna, Ascenso Simões, de "coxo", já que "era um plano só para dois anos".

Um dos items a contemplar na futura Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária 2007-2015, é o socorro às vítimas. Aqui, Ascenso Simões diz que é necessário proceder a alguns ajustes na rede de distribuição de socorro hospitalar. No entanto, "compete ao INEM estabelecer essas linhas orientadoras. A nós [Governo] cabe-nos ajudar a definir as metas e a cumpri-las", explicou ao DN.

A constituição de uma rede de socorro é algo aplaudido por quem todos os dias trabalha no apoio às vítimas de acidentes rodoviários, explica Pedro Costa, da Associação Nacional de Segurança e Socorro Rodoviário. O responsável, que é também enfermeiro frisa que "cada caso é um caso" mas que quanto mais rápido for essa assistência, melhor. Ainda assim, defende, que mais do que um problema de falta de socorro é também um problema social: "o ideal seria a população ter conhecimentos de suporte básico de vida, como acontece na Holanda". Mas, Pedro Costa admite que a situação está melhor do que há dois anos atrás, em que havia apenas três viaturas médicas de emergência e reanimação (VMER) para toda a auto-estrada do Sul (ver mapa). A elas juntam-se as ambulâncias do INEM, bombeiros e Cruz Vermelha Portuguesa.

Para já, as considerações vão dar lugar a um primeiro esboço da estratégia que estará pronto no final de Julho, garante Ascenso Simões. O documento estará em discussão pública até ao final do ano.

DN, 7-6-2007
 
Vaticano

Os 10 Mandamentos da Estrada

O Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e
Itinerantes divulgou esta terça-feira um documento sobre
sinistralidade rodoviária, reflexo da preocupação da Santa Sé
em relação à tragédia diária que se vive nas estradas.
O primeiro destes “Mandamentos da Estrada” é um significativo
“não matarás”. Até porque, lembra o Vaticano, todos os
anos morrem 1,2 milhões de pessoas e cerca de 50 milhões
ficam feridas devido à sinistralidade rodoviária.
São, segundo se pode ler na nota pastoral, vítimas de
“transgressões e negligência” no cumprimento das regras de
trânsito. O Vaticano considera que esta “é uma triste realidade
e, ao mesmo tempo, um grande desafio para a sociedade
e para a Igreja”.
Para fazer face a este drama, explicou o Cardeal Renato Martino,
presidente do Conselho Pontifício para a Pastoral dos
Migrantes e Itinerantes, pede-se aos condutores “controlo
sobre si próprios, cortesia, prudência, espírito de serviço e
conhecimento das normas do Código de Estrada”.
O Cardeal lembrou que há quem se sente ao volante “para se
evadir do ritmo quotidiano” e guie “com sentimentos de prepotência”,
ao ponto de considerar “humilhante cumprir os
limites de velocidade”.
O automóvel, afirma, é
muitas vezes usado “como
ostentação e projecção do
próprio ego”, ao ponto de
gerar comportamentos
desequilibrados e irresponsáveis.
A Santa Sé lembra que conduzir um veículo tem consequências
morais e éticas, sobretudo, se pensarmos que, durante o
século XX, morreram 35 milhões de pessoas em acidentes. E,
só no ano 2000, o número de mortos atingiu os 1,260
milhões.
Neste contexto de preocupação, a Santa Sé enuncia os 10
Mandamentos de Condutor – um decálogo que apela às virtudes
da caridade, da prudência, da justiça e da esperança,
para os que andam por aí a conduzir.
A situação nas estradas “é grave e alarmante”. Por isso, é
urgente uma educação consistente ao longo da vida – diz a
Igreja – a começar pelos mais pequenos.

Outros problemas da estrada

No documento dedicado a quem vive “na estrada”, a pastoral
da estrada não ignorou também problemas como a prostituição,
os sem-abrigo e as crianças de rua.
O documento não ignora os clientes que se aproximam das
prostitutas e utilizam o veículo como local de comércio
sexual.
Em nome do respeito pela pessoa - lê-se - é preciso denunciar
esta cultura hedonista e mercantil que promove a exploração
da sexualidade induzindo raparigas muito jovens a cair
nos circuitos de corrupção e venda do corpo.
Trata-se de uma forma de escravatura, quer para as mulheres,
quer para os clientes, porque vender e comprar sexo
“não resolve os problemas de ninguém”.
Este documento apela a uma coordenação entre os organismos
da Igreja e instituições públicas para se encontrarem
soluções de recuperação com base no respeito pela dignidade
da pessoa.
O mesmo afirma para os meninos da rua e os sem-abrigo:
primeiro é preciso combater as causas do fenómeno, como a
desagregação da família, a violência, o desenraizamento e
emigração, a pobreza, o alcoolismo e a droga.

RRP1, 19-6-2007
 
Dez mandamentos

Aura Miguel

35 milhões morreram em acidentes no século XX. Feridos,
são mais de mil milhões. Só no ano 2000, as mortes na
estrada atingiram um milhão duzentas e sessenta mil vítimas…
Os números foram divulgados pela Santa Sé num documento
com orientações pastorais e um decálogo para quem
circula na estrada.
Vale a pena conhecer os dez mandamentos do condutor:
1º Não Matar
2º Que a estrada provoque a comunhão e não o dano
3º Sê correcto e prudente quando há imprevistos
4º Ajuda os outros, sobretudo nos acidentes
5º Que o teu automóvel não seja expressão de poder nem
ocasião de pecado
6º Convence os jovens e menos jovens a não conduzirem
se não estão em condições de o fazer
7º Ajuda as famílias das vítimas
8º Promove encontros para que a vítima e o automobilista
agressor experimentem o perdão
9º Na estrada, cuida dos mais fracos
10º Considera-te responsável pelos outros

RRP1, 22-6-2007
 
Seguro automóvel com direitos reforçados

PAULA CORDEIRO

A partir de 21 de Outubro, as regras no seguro automóvel vão mudar. A 5.ª Directiva Automóvel foi esta semana transposta para a legislação nacional (Decreto-Lei 291/2007) e apresenta, entre as principais novidades, um reforço dos capitais mínimos do seguro automóvel obrigatório de responsabilidade civil.

Assim, o montante de capital seguro passa dos actuais 600 mil euros (para danos materiais e corporais) para 1,8 milhões, repartidos da seguinte forma: 1,2 milhões de euros para cobertura de danos corporais e 600 mil para materiais. Estes valores aumentam de novo no final de 2009, passando para 2,5 milhões de euros no caso dos danos corporais e para 750 mil para os danos materiais.

Outra das novidades é uma maior disponibilidade de informação por parte das seguradoras junto dos seus clientes. Assim, estas companhias são obrigadas a prestar toda a informação relevante relativa aos procedimentos que adoptarão para a regularização dos sinistros antes de formalizado o contrato.

É igualmente suprimida qualquer franquia oponível à vítima, no caso de danos materiais provocados por veículos não seguros, no caso do seguro obrigatório, tendo a seguradora a obrigatoriedade de fornecer ao tomador de seguro, sempre que este o solicite e no prazo de 15 dias, o certificado de tarifação com o número de sinistros ocorridos nos últimos cinco anos.

Todas as seguradoras que prestem um mau serviço na regularização de sinistros e que sejam multadas, passam a integrar uma "lista negra" de consulta pública.

Cabe ao Instituto de Seguros de Portugal (ISP) disponibilizar para consulta pública a identificação das companhias de seguros que tenham sido objecto de aplicação de coimas, sendo divulgado o número de multas aplicadas, bem como as disposições legais que foram violadas pela seguradora em causa. Esta "lista negra" poderá ser consultada no site do ISP.

Os prazos para as peritagens dos veículos são igualmente encurtados, devendo estas ficar concluídas no prazo de oito dias úteis seguintes, após o primeiro contacto da companhia com o tomador do seguro, que deverá ocorrer no prazo de dois dias úteis a contar do sinistro.

No que respeita ao pagamento das indemnizações, a seguradora terá de o fazer no prazo de oito dias (se outro não for convencionado), a contar da data da assunção da responsabilidade. A companhia de seguros tem 30 dias para comunicar ao segurado e a terceiros lesados a assunção ou não da sua responsabilidade.

Com a introdução de todas estas alterações, nomeadamente nos capitais mínimos dos seguros, existe uma inevitabilidade para os consumidores: os preços dos seguros vão aumentar.

Apesar destes aumentos dependerem de cada seguradora e da sua política comercial, responsáveis da Associação Portuguesa de Seguradores (APS) já disseram publicamente que estas subidas não deverão ser significativas.

DN, 24-8-2007
 
53% dos acidentes com motos vitimam jovens entre 15 e 30 anos

RITA CARVALHO

Thomas Luthi tem apenas 21 anos, feitos na semana passada. Mas a sua destreza ao volante de uma moto já lhe valeu o título de campeão mundial na modalidade de 125cc. Ontem, na véspera de se lançar de novo à pista do Autódromo do Estoril para disputar mais uma etapa do Grande Prémio de Motociclismo, o jovem suíço visitou o Centro de Medicina e Reabilitação de Alcoitão, onde chegam anualmente dezenas de jovens vítimas de acidentes com motociclos.

Luthi nunca teve uma lesão grave em cima da sua moto. Ou pelo menos tão grave como a dos motociclistas que neste centro procuram transformar as perdas - de membros, de mobilidade ou de força de vontade - em ganhos e capacidades, através de várias técnicas de reabilitação. Mas o jovem talento do motociclismo sabe que a adrenalina cresce quando se acelera a fundo e que, muitas vezes, o entusiasmo apaga a noção do risco.

Em Alcoitão autografou um poster e falou da coragem e perseverança necessárias para ultrapassar momentos difíceis. E deixou uma mensagem: na pista de corrida ou na estrada, quando as regras de segurança não são cumpridas, os danos podem ser irreversíveis. Mais: "Se querem fazer corridas vão para um circuito, não as façam na estrada."

Nos motociclos, como nos automóveis, a condução perigosa está na origem de muitos acidentes. Só no ano passado, morreram 205 pessoas nos veículos de duas rodas. E, entre as muitas variáveis que explicam a sua origem, está a velocidade, afirmou José Trigoso, director da Prevenção Rodoviária Portuguesa.

Mas as lesões graves acontecem também porque as condições das infra-estruturas não são boas, os condutores e passageiros não se protegem devidamente com fatos de cabedal, capacetes e luvas e porque os veículos em que circulam não oferecem tanta segurança como deviam.

Em Portugal, o número de mortes devido a acidentes com veículos de duas rodas entre o total dos acidentes é maior do que na União Europeia. Se aí a média é de 18% , no nosso País 24% das vítimas mortais dos acidentes viajavam num motociclo. Outro dado preocupante prende-se com a idade dos sinistrados: 53% têm idade entre os 15 e os 30 anos.

No entanto, a sinistralidade nos motociclos tem diminuído bastante nos últimos anos. Se em 1991 morreram 891 condutores de motos, no ano passado o número ficou-se pelos 205. O número de feridos graves também baixou drasticamente. José Trigoso explica que para isto contribuíram a melhoria das condições de segurança das infra-estruturas, uma mudança de comportamentos na estrada e o incremento e rapidez do socorro prestado às vítimas, tanto na emergência como nos hospitais. O que, acrescentou Jorge Jacinto, assessor da direcção clínica do centro, se traduz num aumento de feridos graves que precisam de ser reabilitados.

14-9-2007
 
Andar de mota é a forma
mais perigosa de viajar

Os condutores de motociclos, de bicicletas e os peões
têm mais probabilidade de morrer durante uma deslocação,
comparando, por exemplo, com os utilizadores de autocarro
ou comboio.
De acordo com um estudo feito com dados recolhidos na altura
em que a UE era composta por 15 Estados, um motociclista
tem 220 vezes maior probabilidade de morrer do que o
passageiro de um autocarro ou de um comboio.
A segunda forma mais perigosa de deslocação é não recorrer
qualquer transporte e viajar a pé: a hipótese de morrer é
apenas seis vezes menor do que se fizer a deslocação de
mota, a forma mais mortal de viajar.
O estudo aponta o número de mortos por 100 milhões de passageiros
hora, indicando que perderão a vida na estrada 440
pessoas por cada 100 milhões de motociclistas que cumpram
uma viagem de uma hora.
Se a viagem for feita de autocarro ou de comboio (5.º e 8.º
lugares), morrerão apenas duas pessoas no mesmo universo
populacional.
O automóvel surge em quarto lugar, com 25 mortos por cada
100 milhões de passageiros que viagem uma hora naquele
transporte, 18 vezes menos que sucede com os utentes das
motas.
Em terceiro lugar, mas com o mesmo valor do automóvel,
surge a bicicleta, enquanto em sexto surge o barco (16 mortos)
e em sétimo o avião (oito mortos, 55 vezes menos do
que os motociclistas).
Um cenário negro, que pode, no entanto, ser alterado diz o
administrador da Prevenção Rodoviária Portuguesa. José
Manuel Trigoso considera que a redução do número de vítimas
entre os motociclistas poderá ser obtida como nos outros
transportes não exclusivamente profissionais: melhorando as
vias e outras infra-estruturas rodoviárias e apostando num
melhor desempenho dos condutores.
Já em relação á elevada taxa de morte entre peões, considera
que o álcool surge como explicação. Isto porque, acrescentou,
as taxas de alcoolemia entre peões que morrem atropelados
são idênticas às dos automobilistas vítimas em acidentes
enquanto conduzem alcoolizados.

RRP1, 18-9-2007
 
Sinistralidade rodoviária

Portugal com maus resultados
mas boa evolução

A Presidência Portuguesa da União Europeia associouse
hoje, em Bruxelas, a uma acção de divulgação dos números
da sinistralidade rodoviária no espaço comunitário, em
que Portugal aparece em destaque.
A divulgação dos dados foi feita com pompa e circunstância
pelo Conselho de Segurança do Transporte Europeu, organização
não-governamental que se ocupa da segurança nas
estradas da União.
A presidência portuguesa da UE associou-se à iniciativa e
patrocinou o evento – ou não fossem os dados apresentados
favoráveis a Portugal. O nosso país é referido como o terceiro
Estado-membro com melhores resultados na redução da mortalidade
rodoviária.
A notícia não é má, mas os elementos apresentados nada
trouxeram de novo, uma vez que não são diferentes dos já
divulgados pela Comissão Europeia, em Abril último.
De acordo com esses números, entre 2001 e 2006, Luxemburgo,
França e Portugal foram, por esta ordem, dos 27 países
da União em que a mortalidade rodoviária se reduziu de forma
acentuada.
Existe, porém, uma outra realidade escondida: Portugal continua
a ser dos países onde mais gente morre nas estradas,
com 96 mortos por milhão de habitantes em 2006.
Este dá ao nosso país, se excluirmos os 12 países que aderiram
ao bloco em 2004, o quarto pior resultado entre os 15
antigos Estados-membros.

RRP1, 10-10-2007
 
PSP treina brigadas para investigar crime na estrada

ANA MAFALDA INÁCIO

Sexta-feira. 2 de Novembro. 05.38. A chamada caiu via rádio na Secção de Investigação de Acidentes de Viação (SIAV) da PSP de Lisboa, em Benfica. Um despiste com provável vítima mortal ou ferido grave, no Terreiro do Paço. Duas equipas, de cinco elementos, partiram para o local numa viatura ligeira e numa carrinha. Dez minutos depois paravam junto a um veículo danificado. Lá dentro, um corpo já sem vida. Mas à medida que avançaram no terreno depararam com membros inferiores mutilados. Mais à frente, um outro cadáver. Por fim, alguém que ainda respirava, mas com lesões graves. Nada fazia supor um cenário daqueles. "A chamada falava em despiste. Nunca nos passou pela cabeça que fosse um atropelamento", contou ao DN um dos agentes.

A tragédia estava consumada. Havia que reagir e sossegar os que ali chegavam e eram surpreendidos pela imagem. De imediato, foram pedidos reforços para isolar o local. O INEM tratava de salvar quem ainda podia ter uma chance, enquanto a polícia começava a recolha de vestígios que poderão conduzir às causas de tão violento embate. Só depois foi possível a identificação dos corpos. Ninguém sabia quem era quem. Nem tão-pouco se algum daqueles pertencia a quem conduzia a viatura.

A tarefa não era fácil, mas é para este tipo de cenário que os homens da SIAV são preparados. E muitos confessam: "Quando chegamos ao local temos de nos abstrair de tudo. O importante é concentrarmo-nos no que há à volta e accionar todos os mecanismos necessários para prestar socorro a quem precisa e dar início à investigação, de forma a que os vestígios não sejam apagados."

Desde Maio de 2006, altura em que foi criada a secção, que é assim. Ali trabalham 41 elementos, em dois turnos de 12 horas, e divididos por equipas, de dois ou três agentes. Todos receberam formação específica para lidar com acidentes graves, nomeadamente os que envolvam mortos, feridos graves, atropelamentos, motociclos, transportes escolares e de matérias perigosas e ainda com viaturas do Estado. O Porto tem também uma secção de onze elementos.

Perspicácia, rapidez e rigor são três factores essenciais para quem está no local. "Uma recolha de vestígios bem sucedida é meio caminho andado para a investigação chegar à verdade", argumentaram ao DN. Por isso, "é importante que o agente que vai ao acidente seja o instrutor do processo. A visualização do cenário é essencial para a análise e avaliação dos elementos recolhidos", explicou o subcomissário João Pinheiro, comandante operacional da Divisão de Trânsito (DT) da PSP de Lisboa.

A experiência é uma mais-valia, mas cada acidente tem uma história. E muitas vezes o segredo da investigação está no facto de "do nada se conseguir fazer tudo", reforçou um dos elementos. Mas se hoje os homens da SIAV estão preparados para tal é porque o curso, que frequentaram antes de ingressar na secção, de Janeiro a Março, lhes deu técnicas de abordagem criminal e jurídica.

Aliás, era esta formação que fazia falta à polícia e que levou a instituição a investir na investigação do crime rodoviário. Até agora, só Lisboa e Porto têm secções específicas para a área. Contudo, o objectivo é ter em todos os comandos do País agentes formados na investigação de acidentes. De acordo com o comandante operacional da DT, duas razões sustentaram a criação da SIAV. Por um lado, as directrizes da UE que apontavam para a redução da sinistralidade em 50% até 2010. Por outro lado, o apoio à justiça, que se traduz pela necessidade de "dotar o Ministério Público de todos os elementos de prova que conduzam ao apuramento de responsabilidades".

Em 2006, foram participados à SIAV 1152 acidentes, de um total de mais de 12 mil. Destes, resultaram 40 inquéritos que seguiram para o Ministério Público, 35 por suspeita de crime de homicídio e onze por ofensa à integridade física. Este ano, a SIAV já recebeu quase 1300 participações, que originaram 38 processos, 12 por suspeita de homicídio e 16 por ofensa à integridade física. Conforme explicou ao DN o subcomissário Pinheiro, só uma percentagem muito reduzida (3,5%) dos acidentes com feridos graves é que chega a tribunal, "a maioria é resolvida através das companhias de seguro". O que não acontece com os que envolvem vítimas mortais que são considerados crime público. A procuradora responsável dos juízos criminais de Lisboa, Eliete Dias, onde estes casos são julgados, não tem dúvidas ao afirmar que "este investimento da polícia tem sido um apoio muito grande para a justiça. Trabalham de forma rigorosa e cumprindo os prazos".

A polícia portuguesa começa agora a dar os primeiros passos na investigação do crime rodoviário, embora esta designação ainda não faça parte do nosso Código Penal. Tal acontece quando em outros países, como a Espanha, a experiência adquirida tem 50 anos.

DN, 10-11-2007
 
Lisboa tem mais de 30 acidentes por dia

Até Novembro, Lisboa contabilizou 9482 acidentes, o que representa uma média de 31,6 por dia. Destes, 7198 registaram danos, a maioria foi por colisão. As vítimas mortais vão em 16, os feridos graves em 149 e os ligeiros em 2647. A polícia garante que tais números não são sinónimo de uma sinistralidade mais violenta. O subcomissário João Pinheiro, comandante operacional da Divisão de Trânsito da PSP, argumentou ao DN: "A sinistralidade em Lisboa não está mais violenta. Se estivesse, os números demonstravam-no, pois isso implicaria mais vítimas." O mesmo defendeu o professor do Instituto Superior Técnico (IST) João Dias: "Não acredito que esteja mais violenta, embora o atropelamento do Terreiro do Paço tenha sido brutal e um exemplo do extremo da velocidade que se atinge na cidade. Aliás, de todos os casos que já analisei, não recordo uma situação assim."

Dados policiais revelam que, a manter-se esta tendência, Lisboa "não atingirá nem o número de acidentes nem a mortalidade de 2006", disse o subcomissário. O mesmo admitiu que o primeiro semestre de 2007 registou "uma sinistralidade reduzida. Agosto não teve uma vítima, mas os últimos meses já foram mais violentos". Em 2006, houve 12 425 sinistros, 9634 com danos, que resultaram em 23 mortos, 292 feridos graves e 3192 ligeiros. À SIAV foram participados 1152. A experiência recolhida pelas equipas revelou que 98% foram provocados por erro humano. A maioria por "distracção e condução perigosa, como excesso de velocidade", explicou o comandante da DT. Por isso, a investigação é muito centrada no comportamento.

Mas Lisboa não foge à regra do resto do mundo. Em todo o lado, estudos científicos definem ser este o principal problema das estradas. Só que há algumas nuances. "Na Europa, a sinistralidade envolve sobretudo crianças e jovens. Em Lisboa, os mais afectados são os idosos, pela perda de capacidades sensoriais", sublinhou o professor do IST. A sinistralidade da capital é marcada pelos atropelamentos e acidentes com motociclos, mas, nos últimos anos, há a registar mais jovens como e intervenientes em acidentes. Antes, a faixa etária crítica ia dos 18 aos 24 anos. A tendência é para se estender até aos 30-35. Os jovens pecam pelo desrespeito das regras, inexperiência na condução, maior consumo de álcool e drogas e excessiva paixão pela velocidade.

DN, 10-11-2007
 
236 horas de curso para formar 36 agentes

Foram 236 horas de aulas durante dois meses, divididas entre teoria e prática, para abordar quatro áreas fundamentais na investigação de acidentes: criminal, jurídica, trânsito e informática. O segundo curso sobre este tema, que decorreu de 17 de Setembro até ontem, contou com 36 elementos de vários comandos do País, Lisboa, Porto, Leiria, Setúbal, Ponta Delgada, Angra do Heroísmo, Madeira, Coimbra, Aveiro, Santarém, Faro e Braga. Zonas marcadas pela sinistralidade.

A selecção dos candidatos, pelo menos na área da capital, teve por base o perfil e a experiência de cada um para esta área. Dos 90 agentes que já trabalhavam na investigação de sinistros nas várias esquadras, foram escolhidos dez. Do Porto, vieram seis, de Leiria e de Setúbal três e dos restantes apenas dois.

Nesta formação, há a registar a presença de duas mulheres, uma de Lisboa e outra de Leiria. No entanto, na SIAV não há uma única agente, já passaram por lá duas, mas, os turnos de 12 horas, essenciais para a área, não eram compatíveis com a vida familiar, contaram-nos. E o turno é inalterável. "O registo de um acidente pode demorar três, quatro ou mais horas. Isto era impossível em turnos de seis horas", explicaram ao DN.

A passagem de trabalho faz-se às 08.00 e às 20.00. A noite ou é calma ou marcada pelos embates mais violentos. Durante o dia, a média de saídas é de dez a 15. A maioria para atropelamentos. Há quem diga que mesmo sem folgar até ao Natal, não conseguiam acabar tudo o que têm por fazer. E quando ali entram, só têm uma certeza: a da hora de entrada.

DN, 10-11-2007
 
A emoção que fica para trás

O cheiro da morte pairava no ar e jamais o esquecerá. Os gritos eram de tal forma angustiantes que não conseguia perceber o que se passava. "Tudo aquilo não podia ser só pelo carro que se tinha despistado e estava atravessado à sua frente na estrada", explicou. Mas, em segundos, deparou com um corpo. Avisou os colegas via rádio que se encontravam do outro lado da via. Afinal, havia outro e mais outro. "O cenário era de horror."

Carlos Gonçalves é polícia há dez anos. Há vários que está na área do trânsito, em 2006 foi colocado na Secção de Investigação de Acidentes de Viação (SIAV), onde integra uma equipa. Há um ano, um sábado ao final da tarde, nos Olivais, pensava já ter visto o que a violência de um embate pode fazer ao ser humano, quando um casal foi atropelado no momento em que tirava as compras do carro com as filhas a assistir no passeio. Mas o atropelamento no Terreiro do Paço, na semana passada, que vitimou duas mulheres e atirou um ferido grave para o hospital, "ultrapassou tudo", mesmo assumindo que nem é dos mais impressionáveis na secção.

Carlos estava a trabalhar desde a tarde do dia anterior. A noite tinha sido calma e o turno acabava dentro de duas horas. A partir dali, tudo se abateu. Pela frente, teve mais um dia intenso de trabalho. Dias depois, faz um esforço para recordar as horas a que a chamada caiu na secção. Sabe que era noite, "estava uma escuridão..." Lembra-se de sentir frio, "bastante", mesmo quando a noite se tornou dia. No local, estavam cinco agentes da SIAV. Por segundos, confessou, quase que não tiveram a percepção do que fazer. Mas aprenderam que, em primeiro lugar, "é preciso controlar a situação". E "chamei reforços para isolar o local". Os corpos foram tapados para atenuar o choque de quem saía do barco. Só depois começaram a recolha dos vestígios - a identificação do ponto de embate, as medições das travagens, a posição das viaturas e dos corpos - que pudessem ajudar na elaboração do croqui. Procuraram testemunhas. As histórias coincidiam. Três mulheres estavam à hora errada no local errado. Mas só a investigação o confirmará. O ferido grave foi levado para São José. Depois, tratou-se das identificações. Os médicos do INEM tinham de passar os óbitos e avisar os familiares. "Havia muitos papéis no chão. Tivemos que andar à procura de documentação para confirmar as identidades pelas fotos", contou.

A limpeza do cenário levou horas. Depois, foi o regresso à secção para tratar da papelada. O dia parecia não ter fim, sobretudo por não conseguir apagar o que tinha ficado retido na memória. "Nunca mais se esquece", admitia. |

O pilar de ferro que cortava a parte da frente de uma carrinha de congelados denunciava a violência do embate e o estado do ferido que já tinha seguido para o hospital. O sangue espalhado pelos estofos e os vestígios de massa encefálica tiravam qualquer esperança ao motorista, de 40 anos, que apenas teve o azar de passar no local errado à hora errada na Ponte 25 de Abril. Eram quase 06.00 de uma terça-feira de Outubro. Um camião de pesados despista-se na saída do Eixo Norte-Sul para a ponte, bate no separador central, provoca a queda do pórtico do outro lado da via que atinge a carrinha que seguia em sentido contrário, em direcção a Lisboa. A equipa da Secção de Investigação de Acidentes de Viação (SIAV) é chamada para o local. À chegada, encontraram os médicos do INEM que tentavam a custo "compor o homem", confessa João Videira.

Há 13 anos na polícia, diz que tem muito que agradecer "à casa que me acolheu". Em 1997, foi parar à Divisão de Trânsito. Em Maio de 2006, ingressou na SIAV. E confidencia: "Às vezes, é mais fácil quando já encontramos vítimas sem vida. O sofrimento dos vivos mexe mais connosco". No local, e quando é ele a tratar do processo, sabe que tem que se abstrair e seguir em frente, mas, na secção, evita observar fotos tiradas pelos colegas em outros casos. A experiência diz-lhe que "um agente que esteja numa brigada de acidentes raramente terá um. O subconsciente empurra-nos para uma condução defensiva".

João Videira, 38 anos, nascido em Mirandela, tem uma certeza: para aquele trabalho nem todos têm perfil adequado. É preciso "perspicácia" e, acima de tudo, "não ser negligente na recolha de provas". Desta depende a verdade. Videira começou por fazer serviço na esquadra da Musgueira. Foi um dos que se ofereceu como voluntário, confessou. "Acreditava que podia mudar o mundo", afirmava. O bichinho da investigação que descobriu nos acidentes levaram-no ao curso de Direito, na Faculdade de Lisboa, onde frequenta o segundo o ano. Espera continuar na SIAV, mas "nada é definitivo na vida".

A.M.I.

DN, 10-11-2007
 
6 perguntas a ... João Dias (professor no Instituto Superior Técnico): Velocidade máxima nas zonas residenciais deveria ser de 30 km

O ensino da condução em Portugal está preparado para formar os condutores tendo em conta vias cada vez mais rápidas e a inovação tecnológica das viaturas?

Obviamente que o ensino da condução tem de ser melhorado. É preciso ensinar como se trava um veículo com ABS, o que faz o ABS, o controlo de estabilidade, em termos de segurança passiva, por exemplo, as limitações de um condutor ir mais depressa e se um pequeno aumento de velocidade pode anular as superiores características do automóvel. Mas não é o problema maior. Os jovens, quando tiram a carta e a aprendizagem está fresca, não têm muitos acidentes, nem graves. Passados três anos, estes disparam. E isso é uma questão cultural.

A prática cria maus hábitos?

Um jovem aprende que numa localidade não deve ultrapassar os 50 km/h, mas quando ele vai a esta velocidade e é ultrapassado por outros veículos, a regra é rapidamente esquecida. Agora, se se explicar ao aluno porque deve circular a 50 km/h e quais são as consequências de atropelar um peão a esta velocidade ou a 100 km/h é bem mais importante.

Quais são hoje os principais problemas da sinistralidade urbana?

Em Lisboa, o problema maior é a sinistralidade pedonal e a seguir a dos veículos de duas rodas. Lisboa é uma cidade cosmopolita. Há uma grande circulação de peões e, aliada a isso, a indisciplina destes, que atravessam em qualquer lado, com o vermelho e fora dos locais apropriados. Por outro lado, temos também a velocidade dos veículos dentro das localidades. E há que a actuar nestes dois níveis.

Como?

Sou defensor do limite de 30 km/h dentro da cidade e em zonas residenciais, naquelas vias que não são de circulação de tráfego. Isso permitiria reduzir drasticamente o risco. Mas tem de haver mais fiscalização. Porque uma coisa é haver um limite outra é respeitá-lo. A solução tem que ir pelas vias da penalização e da educação. Só uma não chega.

Quando se fala das estradas da morte fala-se das condições da via ou do comportamento humano?

A designação surge pelo facto de ocorrerem muitos acidentes com vítimas mortais. É claro que há defeitos na construção dessas vias, mas obviamente que, quando o condutor abusa e vai para os limites da estrada, estas tornam-se perigosas.

Como é que as leis da física são um apoio à investigação dos acidentes mais graves.

As leis da física estão na base da determinação das condições em que ocorrem os acidentes. São elas que me dão informação sobre se um peão atravessou na passadeira, através da forma como foi projectado e das lesões com que ficou. E isso é muito importante. As pessoas costumam dizer que há só uma maneira de ser apanhado em excesso de velocidade: por um radar da polícia. Eu digo que há outra: através da física. Se o veículo vai a determinada velocidade, tem determinada energia cinética e esta é dissipada de várias maneiras, por rastos de travagem, por exemplo, quando se envolve num acidente.

DN, 10-11-2007
 
Os mortos que não contam

Ernesto, 73 anos, saiu à rua há três semanas logo pela manhã. Um carro apanhou-o quando estava quase a chegar ao separador central de uma das avenidas novas de Lisboa. O INEM assistiu-o no local e transportou-o até ao Hospital de Santa Maria, onde morreu dias depois. Luís foi apanhado por um camião pesado à saída do Eixo Norte-Sul para a Ponte 25 de Abril. Ficou gravemente ferido, veio a morrer também numa unidade hospitalar da capital. Mas nem um nem outro serão contabilizados na estatística sobre a mortalidade nas estradas.

Portugal é o único País da União Europeia que usa como critério registar só as vítimas mortais no local. De tal forma, que a própria comissão penaliza os dados nacionais com uma taxa de 14%. Mas há especialistas que acreditam e defendem que esta percentagem é bem mais elevada. Segundo estes, o número de vítimas de acidentes a morrer nas unidades hospitalares do País deve rondar mais 30%, dos que têm morte imediata no local.

É assim há anos, mas as autoridades portuguesas teimam em não seguir os critérios de todos os outros países da UE. A França, por exemplo, "contabiliza todas as vítimas que morrem nas unidades de saúde até 30 dias após o acidente".

O professor do Instituto Superior Técnico (IST) disse ao DN que há muito se batalha por mais transparência na matéria e até agora não encontrou outra explicação para o facto senão "a falta de vontade política". João Dias sustenta que o Governo não pode argumentar que não corrige esta falha por não ter acesso à informação. "Quando uma pessoa morre no hospital há uma série de procedimentos que são realizados e a informação tem que chegar ao Ministério Público, para que se possa instaurar um inquérito. Portanto, a informação existe do ponto do vista legal. Só não é usada por falta de vontade política."

O engenheiro de mecânica e perito em acidentes acredita mesmo que a redução drástica da sinistralidade registada em 2005 para 2006, quer em vítimas mortais quer em feridos graves, também só tem uma explicação. "Penso que tal só foi conseguido por muitos dos acidentados terem vindo a morrer mais tarde nos hospitais", afirmou. Mas há ainda outro factor. Desde essa altura que o Instituto Nacional de Emergência Médica passou a centralizar os meios de socorro. A partir daqui, e como o INEM tem mais condições do que os bombeiros, "as vítimas passaram a ser estabilizadas no local e transportadas para as unidades de saúde. Só que não conseguem resistir aos ferimentos e morrem horas depois. Mas assim já não contam para a estatística", argumentou.

João Dias está convencido de que, quando for feita uma avaliação dos números, a mortalidade em estrada irá disparar. "Seria muito mais claro e transparente Portugal considerar a regra dos 30 dias", defendeu o especialista.

DN, 10-11-2007
 
Alegações finais de Nuno Salpico (PRES. DO OBSERVATÓRIO DE SEGURANÇA DAS ESTRADAS E CIDADES): "Há uma desconsideração total pelos peões"

SUSANA LEITÃO

Os peões são maltratados nas grandes cidades?

Há uma desconsideração total pelos peões. São um instrumento, um acessório. As pessoas são tratadas como peões, num jogo de xadrez.

Em Lisboa há bons exemplos de passadeiras bem construídas?

A Avenida da República é um bom exemplo. Os semáforos estão bem programados e controlam bem a velocidade, mas faltam guarda-corpos para impedir as pessoas de atravessarem em qualquer lado, já que se trata de uma avenida com muito trânsito.

A nível de cidades portuguesas há alguma que manifeste cuidado na colocação e construção das passadeiras?

Destaco Vila Real, Tomar e Moita. Em Tomar, por exemplo, há mais de 300 passadeiras elevadas. O pavimento em vários locais da cidade é diferente de forma a que os condutores se apercebam que estão a entrar num ambiente que não é o deles. No entanto, e infelizmente, as antigas passadeiras ficam na mesma, não há reabilitação.

Em relação à Europa quais os países mais preocupados com os peões?

Em primeiro lugar estão os países nórdicos, onde há um enorme respeito pelo peão e pela sua segurança. Depois temos Espanha. Aqui, até nas aldeias com menos pessoas se vê o cuidado com a segurança rodoviária. Em determinados locais houve alteração cromática do pavimento que antecede as passadeiras.

Há alguma lei que estabeleça as regras para a construção das passadeiras?

A lei é omissa em relação a esta matéria e o conhecimento técnico podia estar mais avançado do que está. Não tem havido formação nesta área. Outro dos problemas é o piso, que não é aderente. Por isso, quando um condutor tenta travar, o carro não obedece porque o pavimento está polido. Isto acontece porque junta calcário ao alcatrão, o que é expressamente proibido. Mas não há fiscalização...

As famílias das vítimas podem processar as autarquias por violação das regras de segurança nas estradas?

Podem, aliás, pedir indemnizações. A lei aqui é muito idêntica a quando acontecem acidentes de trabalho. Se houve violação das regras de segurança, há responsabilidades e indemnizações a atribuir. E quem constrói as estradas municipais e passadeiras são as autarquias.

Em média, as indemnizações são elevadas?

Posso adiantar que no caso da morte de uma criança, como a que aconteceu em Tires, a indemnização por parte da câmara pode ser de pelo menos 150 mil euros.

E porque não tem havido condenação das câmaras?

Porque os advogados não têm conhecimento que podem invocar este tipo de razões. É sempre mais fácil colocar o ónus da culpa no condutor ou no peão.

DN, 10-11-2007
 
Governo vai intensificar
fiscalização do seguro automóvel

O secretário de Estado da Protecção Civil, Ascenso
Simões, garante, em entrevista à Renascença, que o Governo
vai intensificar a fiscalização nos casos de condução sem o
obrigatório seguro automóvel.
Ascenso Simões promete a criação de novos mecanismos para
a detecção deste tipo de situações.
Nesta entrevista, a propósito da antecipação da operação
“Natal em Segurança”, Ascenso Simões revela que o excesso
de velocidade, a utilização de cintos de segurança e o controlo
do álcool serão alvo de particular atenção das forças de
segurança.
O secretário de Estado responde, ainda, às críticas da Associação
de Cidadãos Auto Mobilizados, para quem a antecipação
das campanhas de prevenção é um acto de desespero do
Governo.

Por Henrique Cunha

Rádio Renascença – A Associação de
Cidadãos Auto Mobilizados diz que a
antecipação da campanha é um sinal
de desespero do Governo para impedir que se ultrapasse, este ano, a barreira do milhar de mortos. Vamos ultrapassar os mil mortos nas estradas, este ano?

Ascenso Simões – Antes de mais, eu
gostaria de dizer o seguinte: nós não reagimos a atitudes de associações ou pseudo-associações da sociedade civil, que a única coisa que querem é desmerecer
o trabalho de muitos e muitos
cidadãos e de muitas entidades que
têm vindo a colocar a questão da sinistralidade rodoviária no centro das atenções políticas. E, portanto, o nosso objectivo é o de continuarmos a reduzir a
sinistralidade, atingindo os objectivos do programa do Governo que estão bem definidos, já há muito tempo: atingir, até ao final da legislatura, 50% da sinistralidade que tínhamos no início desta década. Esses continuam a ser os objectivos do Governo para a acção política concreta.

RR – E o objectivo de não ultrapassar os mil mortos, este ano, vai ser atingido?

AS – Nunca sabemos. Essa é uma área
em que todos os dias estamos a fazer tudo para não termos sequer um morto nas estradas. Cada morto, é um morto a mais. Mas eu estou confiante de que teremos uma sinistralidade rodoviária,
principalmente ao nível da sinistralidade mortal, muito abaixo dos mil mortos de que me fala.
Continuamos a diminuir muito consideravelmente o número de
feridos nas estradas portuguesas
- quer de feridos graves quer de feridos ligeiros - quando comparados com anos anteriores; e
o número de acidentes nas
estradas portuguesas é também muito menor, quando comparado com
igual período do ano passado.
Infelizmente, temos mais vítimas mortais do que no ano passado. Mas, só em três acidentes,
tivemos mais de vinte mortos e, portanto, temos que fazer uma análise clara e concreta desta sinistralidade mais recente. Até porque, até ao mês de Agosto, nós tínhamos uma sinistralidade
rodoviária sensivelmente idêntica
à do ano passado.

RR – Outra crítica é do Observatório das Estradas. Concorda com a ideia de que os deficientes traçados fazem aumentar os riscos da sinistralidade?
O que há a fazer nesta matéria?

AS – Eu quero também dar nota de que o país mudou muito nos últimos anos.
Todos os anos abrem centenas de quilómetros de auto-estradas. É claro que nós gostaríamos todos de andar mais rápido, mas não podemos desmerecer o trabalho que tem vindo a ser feito pela Estradas de Portugal, pelas Câmaras Municipais, pelos órgãos regionais nos Açores e na Madeira, no sentido de melhorar em muito as nossas vias. São vias muito mais seguras, com espaços de descanso, com curvas adequadas, com pisos adequados.
Por exemplo, se reparar, a abertura da A25, que liga a Guarda a Aveiro, reduziu muito a
sinistralidade rodoviária.
Portanto, nós temos de continuar a fazer um esforço no sentido de continuarmos a diminuir a
sinistralidade rodoviária.
Ainda hoje, de manhã, eu tive mais
uma reunião com a Associação Nacional de Municípios. Não uma reunião feita à pressa, mas uma reunião já calendarizada.
O trabalho que temos vindo a
desenvolver é um trabalho pensado,
planeado, onde apontamos mais um
conjunto de áreas de intervenção para desenvolvermos nos próximos meses de trabalho em conjunto.

RR – Um dado preocupante é revelado
esta manhã na imprensa. Nos primeiros seis meses deste ano, 49 pessoas morreram em acidentes com automóveis sem seguro obrigatório. É um sinal de alguma ineficácia da fiscalização…

AS – Se reparar, podemos identificar como acção deste Governo, pela primeira vez, a integração de sistemas
informáticos da antiga DGV com o Instituto de Seguros de Portugal. Uma decisão muito relevante para podermos cruzar informação e sabermos quem tem seguro e quem não tem seguro. Em segundo lugar, também das partes de força de segurança houve uma atenção
especial à condução sem seguro e sem inspecção, também condição essencial para aumentarmos a segurança nas nossas estradas. E está em desenvolvimento, um processo no âmbito das competências do Sr. secretário de Estado Adjunto e da Administração Interna, para aquisição de instrumentos de controle
de matrículas, que vão permitir a
fiscalização de automóveis sem seguro e sem inspecção. Portanto, as acções – duas delas - estão já desenvolvidas e uma terceira está em desenvolvimento neste momento.

RR – Nesta operação, que agora foi
antecipada, qual ou quais os aspectos que mais serão tidos em conta? Terá a ver com os limites de velocidade?...
Terá a ver com o excesso de álcool?...

AS – Os nossos três pontos, têm a ver com a velocidade excessiva, de acordo com as vias, de acordo com o tempo que nós encontrarmos; têm a ver com o cinto de segurança e com os instrumentos de retenção, garantindo que as pessoas todas circulem devidamente protegidas
e que as crianças circulem devidamente acauteladas; e têm a ver, também, com o controle feito quer no âmbito das substâncias psicotrópicas e no âmbito do álcool.

RR – Haverá tolerância zero nessas
áreas?

AS – São as três áreas onde as forças de segurança mais trabalharão neste período de mais de um mês, que vai desde o dia 25 de Novembro até ao dia 7 de Janeiro.

RR – Será tolerância zero?

AS – Estas acções terão em conta, com certeza, aquilo que é a realidade, no momento, a sinistralidade. Mas são
acções que têm vindo a ser desenvolvidas também ao longo
do ano. Quero dar-lhe nota de alguns exemplos: na Páscoa, com uma grande campanha de sensibilização, quer, posteriormente, na Semana Internacional da Segurança
Rodoviária, promovida pelas Nações Unidas, quer, depois, durante o Verão, com uma segunda campanha muito considerável de investimento no âmbito da segurança rodoviária e, depois, também, na comemoração do Dia da Memória, nós temos vindo a fazer ao longo do ano, um
conjunto de acções muito significativas em conjunto com as
autarquias, com a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária,
a Autoridade Nacional de Protecção
Civil, o INEM, as forças de segurança que têm aqui um
papel essencial. Uma verdadeira política de acção concreta no âmbito da segurança rodoviária.

Operação “Natal em Segurança” antecipada

A operação “Natal em Segurança” já está na estrada, depois do ministro da Administração
Interna ter antecipado, em duas semanas, o seu lançamento, face ao
número elevado de acidentes que se tem registado nos últimos tempos.
Os números oficiais da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária apontam para a existência - até meados deste mês de Novembro - de 750 mortes nas estradas
portuguesas, número que supera em 46 o registo de 2006.
Na análise da Associação de Cidadãos Auto Mobilizados (ACAM), esta decisão de antecipação constitui um sinal do desespero do Governo, para tentar diminuir os
números da sinistralidade. Manuel João Ramos, presidente da ACAM, diz que o executivo não vai conseguir atingir o objectivo de baixar da barreira do milhar no
número de mortos nas estradas, este ano.
Para Manuel João Ramos, é necessário que o Governo enfrente a questão da sinistralidade
com maior abrangência e, nesse sentido, a ACAM defende que a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária fique na dependência directa do Conselho de Ministros.
Do ponto de vista do Observatório das Estradas Portuguesas, o problema está nas estradas e nos seus traçados, como disse à Renascença o seu principal dirigente, Nuno Salpico.
Na opinião de José Miguel Trigoso, da Prevenção Rodoviária Portuguesa, este tipo de campanhas deveria prolongar-se por todo o ano.
depois, também, na comemoração do
Dia da Memória, nós temos vindo a fazer ao longo do ano, um
conjunto de acções muito significativas em conjunto com as
autarquias, com a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária,
a Autoridade Nacional de Protecção
Civil, o INEM, as forças de segurança que têm aqui um
papel essencial. Uma verdadeira política de acção concreta no âmbito da segurança rodoviária.

RRP1, 26-11-2007
 
Portugal regista melhoria

Morrem nas autoestradas
portuguesas 6,76 pessoas por cada mil milhões de quilómetros percorridos, revela um estudo do Conselho Europeu da Segurança nos
Transportes relativo a 2006.
A média dos 19 países europeus, de acordo com o documento divulgado hoje, em Bruxelas, é de 3,65 mortes.
A Eslovénia, com 8,68 mortes por mil milhões de quilómetros
de auto-estrada percorridos, e a Hungria (8,84) são os países
com os piores resultados do estudo, enquanto a Suíça (1,41)
e a Dinamarca (1,5) apresentam os melhores números.
O estudo revela ainda que o risco de morte nas auto-estradas
portuguesas diminuiu 8,5% de 1997 para 2006, acima da média de 5,7 de redução.
A Noruega (menos 20%) e a Suíça (menos 10%) são os países que apresentam as maiores reduções do risco de mortes por mil milhões de quilómetros de auto-estrada percorridos e o Reino Unido (menos 0,7) e a Suécia (menos 4,3) as menores.
Mais de 3.200 pessoas morrem por ano nas auto-estradas da União Europeia, número que representa 0,8% do número total de mortes rodoviárias.

RRP1, 19-1-2008
 
Mortos na estrada caem para metade em seis anos

Melhores vias, inspecções e coimas explicam redução

De 2000 a 2006 houve também um decréscimo de 30% dos acidentes

Em seis anos, caiu para metade o número de mortos e feridos graves registados nas estradas. Os dados da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) reportam-se ao período de 2000 a 2006 e levaram o Conselho Europeu de Segurança Rodoviária a distinguir o País pelos bons resultados.

Desde o ano 2000 que os números trágicos da sinistralidade têm vindo a cair, e apesar de alguns anos antes o País registar os piores resultados da União Europeia, em 2006 a média portuguesa distava apenas 6% da registada na Europa a 25. Portugal fica, assim, entre os países que mais conseguiram reduzir os números trágicos nas vias rodoviárias.

Para além da diminuição dos feridos e mortos, entre 2000 e 2006, houve também um decréscimo de 30% no número de acidentes. De acordo com a ANSR, em 2000 ocorreram 44 159 acidentes com vítimas, de que resultaram 1629 mortos e 6918 feridos graves. Entre estes mortos, 634 verificaram-se em acidentes dentro das localidades, 275 fora das povoações, 337 em peões e 383 em desastres com veículos de duas rodas.

Em 2006 registaram-se 35 680 acidentes, que causaram 850 mortos, dos quais 115 foram acidentes fora das localidades, 393 nas povoações, 137 com peões e 205 com veículos de duas rodas, e 3483 feridos graves. Entre 1975 e 2000, Portugal tinha os piores indicadores de sinistralidade da União Europeia, tendo ficado marcado o ano de 1991, quando ocorreram 48 953 acidentes que causaram 2475 mortos e 12 548 feridos graves.

Em entrevista à Agência Lusa, o presidente da Autoridade Rodoviária, Paulo Marques, atribuiu os avanços positivos à melhoria da rede viária, à introdução de medidas de acalmia de tráfego urbano, às inspecções periódicas, ao aumento do valor das coimas e ainda à obrigatoriedade dos condutores dos veículos pesados usarem cintos de segurança.

A tendência de redução do problema que tem ocorrido nos últimos anos permanece este ano, acrescenta o responsável da Autoridade Rodoviária. Desde o início do ano até ao dia 21 de Junho, morreram 327 pessoas, menos 43 do que em igual período de 2007. O número de feridos graves também diminuiu no mesmo período, durante o qual se registaram 1078, menos 315 do que em período homólogo de 2007.

Cassação da carta facilitada

O presidente da ANSR lembrou também que agora as regras para a cassação da carta de condução são mais claras e vão permitir uma maior aplicação das contra-ordenações graves e muito graves. O processamento administrativo foi simplificado, pois todo o processo será registado em suporte informático, podendo recorrer-se, por exemplo, à assinatura electrónica.

DN, 7-7-2008
 
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