01 julho, 2007

 

1 de Julho


Dia das bibliotecas


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O QUE FAZER COM ESTA MINHA BIBLIOTECA?

Eurico de Barros
jornalista

A Leonardo, revista online de filosofia portuguesa (www.leonardo.com.pt/revista1/), publica uma carta de João Bigotte Chorão dedicada a Luís Forjaz Trigueiros, em que manifesta a sua mágoa pela dispersão aos quatro ventos, num leilão, da rica biblioteca do escritor, crítico, ensaísta e jornalista. E dá conta do seu "desconforto" perante o espectáculo de pessoas a licitar obras da biblioteca de Forjaz Trigueiros, não "pelo amor ao livro, o livro como instrumento de cultura", mas apenas por o encararem "como 'mercadoria' valiosa, se tem boas gravuras, encadernações de luxo ou é de uma tiragem especial, em melhor papel, numerada e rubricada".

Este desgosto sentido por Bigotte Chorão, com que se identificarão todos aqueles para quem uma biblioteca particular não é uma simples acumulação de livros, antes um bem e um património intelectual, cultural e afectivo, de incomensurável valor pessoal, recordou-me a história da biblioteca do senhor C., que em vida foi um dos mais ávidos leitores e coleccionadores de livros de ficção científica.

Isto passa-se no tempo em que ainda não existiam Internet, nem Amazon, nem FNAC, e não havia muitas livrarias em Lisboa que vendessem livros americanos e ingleses de ficção científica. O senhor C. comprava tudo, mas tudo, o que aparecia deste género, porque tinha muito dinheiro. Isso permitia-lhe não só levar para casa o triplo, o quádruplo e até às vezes o décuplo dos livros do que os menos abonados, como também garantir que os empregados das livrarias lhos guardavam debaixo do balcão, assim que chegavam do estrangeiro. Um dos funcionários de uma das então maiores livrarias de Lisboa chegou a trocar de carro graças a um generoso empréstimo do senhor C. Os outros fanáticos de ficção científica, que no máximo tinham dinheiro para comprar uma bicicleta, ficavam a ver e a rosnar contra tal imbatível poder de compra.

Anos depois, o senhor C. adoeceu. E morreu. Um dia, a sua monumental biblioteca de ficção científica apareceu ingloriamente espalhada por várias livrarias e alfarrabistas da Baixa lisboeta. A família do senhor C. não lhe tinha a mesma estima que ele, e tratou de despachar a livralhada o mais depressa possível, vendendo-a a peso. No seu túmulo frio, o pobre senhor C. deve ter dado um triplo mortal encarpado com duplo Nelson lateral.

A questão é esta: se há descendência e essa descendência foi criada e educada no gosto pelos livros e pela leitura, a nossa biblioteca fica em mãos seguras quando nos finarmos. Se não há descendência, ou a descendência não tem o menor interesse em livros, é o diabo.

Eu já decidi. Quero ter o equivalente bibliófilo de um funeral viking. Os livros todos muito bem empilhados, eu esticado lá no topo da pilha, e toca a pegar-lhe o fogo e deixar arder até só haver cinzas.

DN, 16-2-2008
 
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