12 julho, 2007

 

Torre do Tombo


Repositório de história


http://pt.wikipedia.org/wiki/Torre_do_Tombo

http://ttonline.iantt.pt/

http://www.iantt.pt/

http://www.aatt.org/

Comments:
Papéis da Inquisição na Net com apoio de mecenas

PAULA LOBO
GISELA PISSARRA

Garcia de Orta foi acusado de heresia. O Padre António Vieira, pelas suas prédicas, "impressão clandestina e posse de livros proibidos". E o poeta Bocage, pelos escritos e atitudes, enfrentou a acusação de "pedreiro-livre". Três portugueses famosos entre os muitos que caíram nas malhas da Inquisição, e cujos processos integram o acervo que - ao abrigo de um protocolo mecenático a firmar hoje em Lisboa - será disponibilizado na Internet até 2010.

A REN-Rede Eléctrica Nacional apoiará com 600 mil euros o estudo, restauro e digitalização destes documentos, que desde 1825 se encontram depositados na Torre do Tombo (TT). Um contributo de peso num projecto de um milhão de euros, 400 mil dos quais a suportar pela Direcção-Geral dos Arquivos/TT (que, ao contrário de outras entidades tuteladas pelo MC-Ministério da Cultura, não tem mecenas institucional).

Esta acção permitirá preservar e colocar online "cerca de 5000 processos e 800 livros, num total estimado em cinco milhões de imagens", conta ao DN Silvestre Lacerda, director-geral da DGARQ. Provenientes do Tribunal de Lisboa, estes documentos pertencem ao vasto fundo do Santo Ofício (que inclui os tribunais de Coimbra, Évora e Porto) e a sua escolha prende-se com o facto de serem "os mais consultados da casa".

As condições de conservação influenciaram igualmente a decisão. A Inquisição foi instituída em Portugal em 1536, por pressão de D. João III e com bula do Papa Paulo III, e foi extinta em 1821 pelas Cortes Gerais Constituintes. Desde então, a par da deterioração própria do tempo, perderam-se muitos documentos em virtude do "Terramoto [de 1755], das vicissitudes dos arquivos e das lutas liberais", recorda Silvestre Lacerda.

Na cerimónia do acordo entre a REN e a DGARQ, a presidir pela ministra da Cultura, serão apresentadas cinco espécies de documentos, já tratados e por tratar: um Livro de Denúncias e Visitações de 1586-1618; um Caderno do Promotor com anotações de 1541-90 e os processos do prior João Gonçalves (acusado de heresia em 1564), padre Gabriel Malagrida (acusado em 1761 de ser "falso profeta") e João Soares Brandão (por "perguntas desnecessárias durante a confissão", em 1756).

Mecenas para o património

Apesar de a REN ser já mecenas do Teatro Nacional de S. João, a ministra Isabel Pires de Lima congratula-se com a escolha da Torre do Tombo. "Este protocolo tem grande importância porque normalmente os mecenas não valorizam tanto os projectos de recuperação patrimonial. É uma área muito invisível e que não tem o mesmo retorno mediático que a produção artística", refere ao DN.

Este projecto é o primeiro fruto do jantar, em Novembro passado, no qual o Governo apresentou aos mecenas projectos candidatos a apoio nas mais diversas áreas. Segundo a ministra, aqueles que são financeiramente mais avultados dizem respeito ao património histórico -"prioridade" da tutela.

Isabel Pires de Lima salienta a riqueza e importância deste fundo objecto de protocolo, bem como da Torre do Tombo face a outros arquivos europeus. "A digitalização do espólio e a sua colocação online é a linha prioritária da política arquivística do MC, uma vez que potenciamos o número de visitantes e diminuímos o número dos que o manuseiam. Vamos inclusive promover um seminário técnico, no âmbito da presidência portuguesa da União Europeia, sobre digitalização do património e direitos de autor".

DN, 12-7-2007
 
Tratado que dividiu o mundo
pode ser visto em Lisboa

A partir de hoje, a Torre do Tombo expõe pela primeira
vez ao público o Tratado de Tordesilhas, assinado
entre Portugal e Espanha em 1492.
O documento foi recentemente declarado pela UNESCO
(Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e
Cultura) como “Memória do Mundo”, assim como o Corpo
Cronológico, um fundo que agrupa documentos do século XII
a XVIII.
A exposição do Tratado e de cinco dos mais de 83.000 documentos
do Corpo Cronológico assinalam a assinatura de um
protocolo de cooperação entre a Direcção-geral de Arquivos
(DGA) e a Rede Eléctrica Nacional (REN) que permitirá o tratamento
e digitalização de documentação relativa à Inquisição
de Lisboa.
Os termos do protocolo estabelecem um apoio mecenático no
valor de 600.000 euros pela REN à DGA, explicou a ministra
da Cultura à Renascença.
O dinheiro será disponibilizado ao longo de três anos, tendo
sido escolhida a documentação da Inquisição “por ser a mais
procurada, tanto por nacionais como por estrangeiros”.
Além da conservação, restauro e descrição, todos os documentos
estão digitalizados e disponibilizados gratuitamente
na Internet através do site da DGA.
Esta é apenas uma gota de água no vasto oceano de arquivos
que há a recuperar, diz Isabel Pires de Lima, que destaca os
documentos esquecidos nos espólios dos ministérios.

RRP1, 12-7-2007
 
UM TRATADO DE VALOR INCALCULÁVEL

ANA MARQUES GASTÃO

São aos milhões, uns mais relevantes que outros. Tratados são acordos, acordos são cedências, negociações, cartas de dar e tirar. O Tratado de Tordesilhas (1494), que em definitivo dividiu em zonas de influência o vasto mundo que no séc. XV se abriu à expansão de Portugal e de Castela, está desde ontem exposto na Torre do Tombo. Até 15 de Agosto.

Veio, trazido pela mão, das gavetas da Torre do Tombo, mais precisamente da n.º 17 (maço 2, documento 4) com todos os cuidados. E é lá que está guardado há muito séculos, depois de ter sido, em primeiro lugar, albergado no Arquivo da Casa da Coroa. O manuscrito em pergaminho faz, portanto, parte da história do Arquivo Nacional da Torre do Tombo (esta remonta à Idade Média) e a sua sobrevivência tem dependido dos técnicos da casa.

Que pode, afinal, o visitante encontrar nesta exposição? Exactamente a ratificação por parte dos Reis Católicos do Tratado, celebrado a 7 de Junho de 1494 entre os reis Fernando II de Aragão e Isabel I de Castela, e, por outra parte, D. João II de Portugal. O tratado tinha como propósito fixar uma linha de demarcação das terras além-mar a descobrir pelas coroas ibéricas.

De acordo com o texto do mesmo documento, pertenceriam à Coroa de Portugal todas as terras a oriente de um meridiano traçado a 370 léguas (1184 milhas) a Oeste de Cabo Verde, e todas as terras a ocidente do mesmo meridiano pertenceriam à Coroa de Castela. Negociado em Tordesilhas, o tratado foi ratificado pelos reis católicos, em Arévalo, a 2 de Julho de 1494, e por João II de Portugal, em Setúbal, a 5 de Setembro de 1494.

"O seu valor é considerado incalculável", diz ao DN Maria de Lurdes Henriques, coordenadora do Gabinete de Relações Externas e Cooperação (GREC), Direcção-Geral de Arquivos (ex-Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo), sublinhando, por outro lado, a sua "crescente importância histórica e documental".

O Tratado de Tordesilhas já foi, entretanto, exposto, pelo menos três vezes, duas em Lisboa e uma no estrangeiro: na exposição O Testamento de Adão, organizada pela Comissão dos Descobrimentos (1996), na mostra A Torre do Tombo na Viragem do Milénio (2000), ambas realizadas na Torre do Tombo, bem como em Sevilha, na Expo'92. Não é, no entanto, frequente que tal aconteça, por razões que se prendem com a salvaguarda de um documento único, segundo explica Miguel Veloso, do mesmo Gabinete, ao DN.

Mas não só o Tratado de Tordesilhas está exposto na Torre do Tombo, com ele convivem documentos recentemente consagrados pela UNESCO como "Memória do Mundo", desde Junho de 2007, oito dos quais pertencem ao corpo cronológico um fundo referente ao período entre os séculos XII e XVIII, com particular incidência nos séculos XV e XVI, sobre os Descobrimentos Portugueses.

Todos eles foram levados ou à mão ou em carrinho dos locais onde estão habitualmente guardados na Torre do Tombo e colocados nas vitrinas, sobretudo os da Inquisição, entre os quais se destacam o Processo de Padre Gabriel Malagrida, padre missionário da Companhia de Jesus acusado de ser um falso profeta, ou o Livro das Denúncias e das Visitações que o Santo Ofício realizou à Sé da cidade de Lisboa nos anos de 1586 e 1618. Para as abrir foram precisas várias pessoas, tendo em conta que, por razões de segurança, o vidro está fixo em sítios diferentes.

Entre os documentos, encontra-se o manuscrito autógrafo da Carta de Pêro Vaz de Caminha - Auto do Descobrimento do Brasil e da sua Posse en nome de Cristo, pela Coroa Portuguesa. O escrivão da frota comandada por Pedro Álvares Cabral, que aportou à Terra de Vera Cruz (Brasil), escreveu este texto, enviado ao Rei D. Manuel I, numa das embarcações que prosseguiu viagem até à Índia. A carta dá conta da viagem de Cabral, embora tenha a forma de uma inquirição régia.

DN, 13-7-2007
 
Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?