10 julho, 2007

 

Touros


e touradas.



http://pt.wikipedia.org/wiki/Tourada



http://touros-e-touradas.blogs.sapo.pt/
http://touradas.no.sapo.pt/

http://grandestouradas.blogs.sapo.pt/

http://www.lpda.pt/01campanhas/touradas.htm
http://www.iwab.org/updatespor.html

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TOUROS VOLTAM HOJE A LISBOA

KÁTIA CATULO
GONÇALO FERNANDES SANTOS

Os aficionados esperaram o ano inteiro pela primeira quinta-feira de Julho. E o grande dia chegou finalmente hoje: às 22.00, na Praça de Touros do Campo Pequeno, em Lisboa, arranca a temporada de Verão. Trata-se da tradicional série de 12 nocturnas que se prolongará até 27 de Setembro. A 2ª Grande Corrida do jornal 24 Horas marca a noite de estreia que, segundo Rui Bento Vasques, director das actividades tauromáquicas do Campo Pequeno, conta com um "cartel de luxo".

Alexandre Pedro, popularmente conhecido por Pedrito de Portugal, será o primeiro a pisar a arena, mas outros grandes nomes vão participar neste espectáculo. "O matador espanhol Eduardo Gallo, o cavaleiro João Moura Júnior e os forcados de Amadores do Aposento da Chamusca são outras presenças", explica Bento Vasques, que já foi um matador de touros, mas hoje aos 42 anos, dedica os seus dias a organizar a programação do Campo Pequeno.

"Metade da praça já está vendida", avisa o responsável, adiantando que o recinto tem capacidade para receber sete mil espectadores. As entradas custam entre dez e 75 euros e a maioria das pessoas "espera pelo último minuto para comprar o bilhete".

Mas não é isso que impede a praça de encher. Segundo o director das actividades tauromáquicas, mais de 85 mil pessoas assistiram à série de 12 nocturnas do Verão de 2006. "Vieram pessoas do Alentejo, do Ribatejo, do Norte e Sul do País", conta o o ex-matador de touros, esclarecendo que a temporada passada marcou o regresso das touradas no edifício do Campo Pequeno, que esteve em obras durante seis anos.

E com a reabertura da arena da capital vieram também os mais jovens, diz Bento Vasques. A praça tornou-se em 2006 o ponto de encontro de várias gerações: "O mais surpreendente para nós, que andamos há vários anos nestas lides, foi constatar que os mais novos voltaram a entusiasmar-se com a tauromaquia." Mais do que isso, diz, a tourada na capital, voltou a ser um acontecimento social: "Os aficcionados vestem o seu fato ou vestido de gala e entram no Campo Pequeno para verem e serem vistos."

Até 27 de Setembro, portanto, milhares de aficcionados poderão exibir os seus melhores trajes de cerimónia. A próxima corrida, no dia 12, vai contar com as presenças dos cavaleiros João Moura, João Salgueiro e o espanhol Leonardo Hernandez. Na quinta-feira seguinte Joaquim Bastinhas e o mexicano Gaston Santos irão ser as principais estrelas da noite.

Rui Bento Vasques vai assistir a todas as nocturnas. O ex-matador começou há 25 anos a sua carreira na mesma praça onde hoje dirige as actividades tauromáquicas: "Fui o triunfador do concurso de novos toureiros do Campo Pequeno, em 1987." Até aos 32 anos viajou por Espanha, França ou Estados Unidos. Agora que se retirou das lides, regressou à sua primeira casa.

DN, 5-7-2007
 
"Profissionalismo marca êxito das corridas nos Açores"

PAULO FAUSTINO, Ponta Delgada

"As corridas de touros nas praças estão bem e recomendam-se nos Açores, mais até que no Continente". Esta é a opinião do director de corridas tauromáquicas na região, Carlos Ávila, que elogia o trabalho realizado nas ilhas ao nível da organização e do cumprimento dos pagamentos acordados entre os promotores dos espectáculos de praça e os toureiros, o que por vezes não sucede no resto do País.

"Aqui o toureiro recebe o cachet pela praça que o contacta. Lá fora, por vezes, não se paga e cancelam-se actuações à última hora. Honrámos os nossos compromissos e fazemos espectáculos tauromáquicos com seriedade", sublinhou ao DN.

A ilha Terceira é considerada a "catedral" taurina nos Açores - a tradição, embora com menor expressão, estende-se às ilhas de São Jorge e Graciosa -, onde há criações de gado bravo registado e quase todos os moradores se interessam pelo touro. Este animal, incontornável na história e cultura popular da ilha, constitui uma das diversões preferidas do povo, seja através da tourada de praça ou de corda.

A de praça, porém, vive piores dias do que a de corda. A explicação está no fim, imposto pelo Tribunal Constitucional, das touradas picadas na região, depois da Assembleia Legislativa Regional ter aprovado um diploma a legalizá-las nas ilhas.

Foi em 2002 que o ministro da República de então vetou a lei, por entender que a matéria versada no diploma - espectáculos tauromáquicos com uso de sorte de varas - não se revestia de interesse específico regional. Ainda hoje muitos terceirenses não esquecem, pela negativa, o acto de Sampaio da Nóvoa. Por sua causa terminou uma tradição de lide picada que testava a bravura dos touros e a selecção dos melhores animais para a arena e reprodução.

É essa bravura que os aficcionados açorianos temem estar a perder-se, com prejuízo, segundo Carlos Ávila, para o desenvolvimento da tauromaquia e turismo nos Açores: "Um toureio bom depende da sorte de varas e nos Açores temos iniciativas que, sendo engraçadas, por terem cavalos, touros e forcados, não são boas."

DN, 5-7-2007
 
Negócio "subsiste e envolve quase um milhão de pessoas"

DANIEL LAM
LEONARDO NEGRÃO

O negócio da tauromaquia "já não é tão rentável como antes, mas dá para ir subsistindo", diz ao DN o proprietário de uma ganadaria brava no Cartaxo, em Santarém, Pedro Santos Lima. Na sua opinião, "tudo depende se o povo tem dinheiro para ir ver as corridas, que são uma festa popular. Quando não há dinheiro, não vão".

Considera que "o número de corridas até tem aumentado desde há cinco anos, quando surgiram as praças desmontáveis, que vão em digressão pelas terras onde não há praça de touros. Há problema é na exportação, porque a doença da língua azul gerou contingências na venda. Em média, as ganadarias de Portugal vendem cerca de 600 touros por ano para Espanha e França".

Segundo referiu, "em Portugal há cerca de cem ganadarias, principalmente no Ribatejo e Alentejo, que, em média, produzem dois mil touros por ano para as corridas nacionais, normalmente seis animais para cada tourada".

"Crio os touros até aos quatro anos, em perfeita liberdade e nas melhores pastagens. Depois alugo-o à praça - em média por 1500 euros- , onde é toureado, só uma vez na vida. Depois o touro volta para mim. Se for muito bravo, passa a ser reprodutor e vai cobrir uma manada de 40 vacas, que também são minhas. Se não for bravo, acaba no matadouro e rende 500 euros", explicou.

O sector da tauromaquia "envolve cerca de um milhão de pessoas, entre ganadeiros, toureiros, criadores de cavalos, peões de brega, campinos, etc", diz Pedro Santos Lima, esclarecendo que "alguns toureiros vivem só do toureio. Têm de gerir bem o que ganham nas corridas de Verão para subsistir no resto do ano".

O alfaiate Manuel Marques, de 74 anos, que faz os trajes de toureio para "quase todos os cavaleiros portugueses", diz ao DN que tem "um número de clientes suficiente e estável. Não falta trabalho, mas antigamente produzia mais. É um negócio menos lucrativo do que as pessoas pensam".

Esclarece que "uma casaca é capaz de levar um mês a fazer e custa entre mil e 1500 euros".

DN, 5-7-2007
 
Barrancos quer cativar outra vez

HUGO TEIXEIRA, Portalegre
LEONARDO NEGRÃO

Em Portugal o único local onde se pratica legalmente a morte do touro na arena, desde 2002, é em Barrancos, durante as suas festas, que decorrem no largo central da vila alentejana, numa praça improvisada.

O regime de excepção que permitiu a sua legalização, constitui o principal atractivo das festas de Agosto. Apesar de andar longe das "enchentes" dos tempos da polémica quando as touradas de morte aconteciam à revelia da lei, muitos são ainda os aficcionados que se deslocam até Barrancos para apreciar a arte dos toureiros e assistir "ao grande momento da morte".

Para fazer face à queda de visitantes durante os dias de festa, a organização das touradas, após a legalização dos touros de morte, iniciou a contratação de toureiros de renome, de Portugal e Espanha, para atrair mais visitantes.

Em Reguengos, também no Alentejo, durante as festas, também se mata um touro numa arena improvisada no castelo. Mas aqui o touro é morto no final de uma garraiada por populares.

A morte de touros em Portugal é proibida por lei e as coimas para quem transgrida poderão chegar aos cem mil euros. Pedrito de Portugal foi condenado em tribunal a pagar uma coima de cem mil euros por ter morto um touro, na feira taurina da Moita, no dia 12 de Setembro de 2001.

Os matadores de touros e novilheiros portugueses, que gostariam de ver a lei alterada e consideram toda esta situação caricata, sustentando que não podem exercer no seu país a sua profissão, quando o próprio Estado lhes concede uma carteira profissional.

DN, 5-7-2007
 
Toureiros contra veto à transmissão de tourada

Tauromaquia. Tribunal quer emissão mais tarde devido à violência

Sector alega que justiça ignorou papel e acção de solidariedade

Toureiros e Justiça estão em pé de guerra. Em causa está uma decisão judicial que veio proibir a estação pública de transmitir em directo a corrida de touros da RTP, no domingo, em Santarém, antes das 22.30.

Indignados, várias associações de toureiros vieram ontem contestar a decisão judicial. Os toureiros contestaram hoje a decisão, alegando que "foi violentamente ignorada" a "acção de solidariedade e participação social" da corrida de touros e dos intervenientes numa tourada.

O Tribunal de Lisboa acaba de proibir a RTP de emitir antes das 22.30 a corrida de touros prevista para domingo às 17.00, por considerar que o programa é violento e susceptível de influenciar negativamente crianças e adolescentes.

A decisão foi tomada na sequência de uma providência cautelar interposta pela Associação Animal, que visava restringir a exibição televisiva de touradas pela televisão estatal.

O Sindicato Nacional dos Toureiros Portugueses, que é apoiado por estruturas de empresários, criadores e forcados, alega que a decisão judicial "poderá permitir que, em nome da boa formação das nossas crianças e jovens, argumentos ofensivos, sem fundamento e de má-fé venham substituir os exemplos de coragem, arte, destreza técnica e tradição, que são a base da tauromaquia".

"Com esta decisão foi violentamente ignorada a importante acção de solidariedade e participação social desempenhada, ao longo de muitos anos, pelos toureiros portugueses", adiantam os toureiros portugueses. O comunicado foi mesmo subscrito por muitas outras associações do sector. - I.D.B.

DN, 6-6-2008
 
Sampaio e Barroso acusados de maus tratos a touros

ISALTINA PADRÃO, em Genebra

Genebra. Tribunal dos Direitos dos Animais condena ainda Espanha e França

Pedida realização urgente de um referendo sobre as touradas

Acusados. Este foi o veredicto final dado ontem a Jorge Sampaio e a Durão Barroso (na altura Presidente da República e primeiro-ministro) por terem permitido atentados contra os direitos dos animais, nomeadamente dos touros de touradas. A par destes políticos, o Tribunal Internacional dos Direitos dos Animais, em Genebra (Suíça) - um órgão informal cujas penas são meramente simbólicas mas que têm força de lobby -, 'condenou' também o primeiro ministro espanhol, José Luis Zapatero, bem como o presidente e o primeiro ministro franceses, Nicolas Sarkozy e François Fillon.

Ao fim de quatro horas de audiência, o júri, presidido por Franz Weber - dono da fundação com o mesmo nome e promotora desta acção simbólica -, decidiu ainda solicitar ao Parlamento Europeu a organização urgente de um referendo que permita que "a maioria das pessoas anti-corrida se possa exprimir".

Entre as punições virtuais - os arguidos eram acusados de cometer cerca de 60 crimes contra os animais - o tribunal apelou ainda ao Papa Bento XVI "para dar força à bula De Salute Gregi Diminici du Pape Pie V, ainda em vigor e que condena, sem apelo, a tauromaquia". Ao Papa foram ainda pedidas directivas claras para os espectáculos "sangrentos e odiosos, que são as corridas, e devem ser condenados".

Entre as intervenções, desde a equivalente a uma procuradora do Ministério Público, à advogada francesa Caroline Lanty, passando pelos "advogados de acusação" dos três países da União Europeia onde são permitidas touradas - Portugal, Espanha e França - e pelo advogado de defesa, todos 'condenaram' os 'réus'.

Em tom irónico, o alemão Bernhard Fricke (da defesa) disse que tentou várias vezes falar com os seus clientes mas "estes senhores tinham sempre coisas mais importantes para fazer". Tentou assim fazer a defesa com base nos argumentos conhecidos. A saber: a corrida é uma herança cultural; serve para entretenimento do povo; cria uma sociedade mais pacífica; e é fundamental para a economia.

Num ápice, a defesa reduziu a zero os argumentos dos 'réus' representados neste tribunal por fotos. A concluir, Bernhard Fricke dirigiu-se ao júri: "Se considerarmos os meus mandatados culpados, então eu pediria que fossem submetidos a um estudo psiquiátrico que os levaria a passar um longo período num manicómio e privá-los-ia de exercer as suas importantes funções".

Sampaio e Durão Barroso foram ainda 'culpados' de "tirar uma satisfação evidente da tortura de touros; de ter abolido parcialmente a legislação de 1928 que protegia a morte dos touros nas arenas e de ter feito recuar Portugal em 80 anos em matéria de protecção animal; de retardar cientemente os avanços sociais e legislativos sobre protecção dos animais, fazendo de Portugal um País menos civilizado e mais retrógrado no plano humanitário". Os jornalistas viajaram a convite da Fundação Franz Weber

DN, 24-6-2008
 
Cada marca no corpo de José Luís tem uma história

Em cada 20 ou 30 centímetros de pele, José Luís Gomes tem uma marca. Há mais de 30 anos que pertence aos Forcados Amadores de Lisboa e, ao longo desse tempo, foi coleccionado as cicatrizes que os touros bravos deixaram por dentro e por fora do seu corpo. Costelas partidas, traumatismos, feridas no rosto, no peito e nas pernas ou outras lesões - que nem sempre se conseguem ver - são as "histórias" que ele guarda para contar à família e aos amigos. "Faz parte do ofício", esclarece o engenheiro agro-pecuário da Malveira, Mafra. O rasgão que um touro lhe fez no crânio há 11 anos é só um dos capítulos do seu percurso como forcado. José Luís lembra-se de ter encarado o touro nos olhos e de estar uma "eternidade" a lutar corpo a corpo com um animal em fúria. "Só quando cheguei às trincheiras é que percebi que a ferida que me rasgou a cabeça deveria ser grave." Mas mesmo assim, diz que ignorou as dores e regressou à arena para agradecer a ovação do público. Cumprido o ritual, abandonou a praça de Vila Franca de Xira com a camisa empapada de sangue e apanhou um táxi para o hospital. Os médicos cozeram-lhe o rasgão que descia quase até aos olhos e mandaram-no para casa. Em vez disso, José Luís mandou parar outro táxi e voltou para a praça para comandar o seu grupo e ainda receber o troféu da melhor pega da noite. "Quando um touro nos derruba temos ainda mais vontade de desafiá-lo." É uma questão de repor a honra, explica o forcado. Ninguém gosta de regressar a casa derrotado por um animal bravo. "Se voltasse atrás faria exactamente o mesmo." A mesma teimosia corre também nas veias dos três filhos, que seguiram as pisadas do pais: "Dois deles são forcados e o mais novo treina para ser matador."

DN, 5-7-2008
 
A FEBRE DOS TOUROS ESTÁ DE VOLTA

Katia Catulo

Reabertura do Campo Pequeno fez renascer a festa brava

À saída dos balneários do quartel dos bombeiros, José Luís Gomes aponta com o dedo quem são os eleitos. O grupo tem 40 rapazes, mas só metade é que pode participar na 12.ª corrida de Torres Vedras. Os convocados escondem o entusiasmo para não magoar os colegas e os que ficam de fora baixam a cabeça e vão para casa. É uma tarefa ingrata, mas o cabo dos forcados amadores de Lisboa não corre riscos desnecessários com os filhos dos outros: "A pior tragédia que podia acontecer é ter de dizer aos familiares que um dos miúdos ficou ferido." Por isso, na hora de enfrentar um animal com meia tonelada, José Luís avalia quem está preparado ou não para desafiar a morte. Qualquer um deles confessa sentir um "arrepio na espinha" quando encara o touro de frente, mas o medo não os impede de saírem das trincheiras e saltar para a arena. "Nunca como agora houve tanta malta nova a querer fazer parte da festa brava", conta José Luís Gomes.

As praças estão lotadas como antigamente, as garraiadas regressaram aos meios académicos e os adolescentes querem ser outra vez toureiros. E não é nada fácil entrar neste universo. Há muita informação para se digerir de uma só vez. O que é isso de colocar um touro na brega? Qual é a diferença entre uma pega à barbela e à córnea? E o que distingue um novilheiro de um matador? Para um estreante, decifrar os códigos, as técnicas, os rituais, as linhagens ou as hierarquias da tauromaquia será quase tão difícil como sair de um labirinto. Mas bastou reabrir a praça do Campo Pequeno, em Lisboa, para a febre dos touros em Portugal estar de volta. Em dois anos, a principal arena do País atraiu 200 mil espectadores e até contagiou os que nunca assistiram uma corrida de touros.

Seis anos de portas fechadas para obras de reabilitação foram suficientes para a festa brava mergulhar numa espécie de "marasmo", conta Rui Bento Vasques, director de corridas do Campo Pequeno. A capital deixou fugir sete temporadas tauromáquicas e isso foi como uma farpa que fez adormecer a aficción no resto do País. O Campo Pequeno sempre funcionou como uma referência porque é o "único espaço" com dimensão para projectar os toureiros e os cavaleiros a nível nacional e internacional: "Durante quase duas décadas, os cabeças-de-cartaz das corridas foram sempre os mesmos e os aficcionados acabaram por se cansar."

A tourada, no entanto, manteve-se viva nas festividades e romarias das aldeias portuguesas, mas é apenas um "privilégio" dos seus habitantes que ainda enchem as praças de touros. "A festa brava no interior do País não chama as grandes multidões que vivem sobretudo na região metropolitana de Lisboa e não têm dinheiro ou disponibilidade para fazer grandes deslocações", explica José Samuel Lupi. O cavaleiro de Alcochete, que há 36 anos detém o recorde de corridas em Portugal (124 actuações em 1972), está convencido de que a reabertura do Campo Pequeno em Lisboa foi a principal razão que aproximou os milhares de aficcionados do distrito de Lisboa e também do resto do País, que vieram à procura das "grandes figuras" do toureio.

Mais do que isso, a inauguração do Campo Pequeno lançou novos talentos, conta Rui Bento Vasques. E a última geração de toureiros como João Moura Filho, João Moura Caetano, Manuel Lupi ou João Ribeiro Telles trouxe consigo os espectadores mais jovens. E agora há duas categorias distintas de aficcionados - os que regressaram às touradas e os que descobriram recentemente a "arte de tourear"; os classicistas que estão treinados para distinguir um "bom espectáculo" e os que ainda não tiveram tempo para conseguir perceber se as técnicas dos toureiros são executadas na perfeição: "Há uma certa rivalidade entre os novos e os velhos aficcionados, mas qualquer uma destas formas de estar na tourada é positiva."

Augusto Melo é um destes caloiros. Estreou-se nas corridas no Campo Pequeno durante Verão do ano passado e é um daqueles "espectadores irritantes" que está sempre a fazer perguntas aos amigos do lado, confessa o estudante da Universidade Lusófona em Lisboa. "Nunca liguei muito às touradas, mas comecei a sentir um bichinho por isto a partir do momento em que assisti uma garraiada no parque de estacionamento da minha universidade", conta o aluno da faculdade de Direito. Ainda teve a tentação de saltar para a arena, mas os colegas avisaram que a ousadia não é coisa para novatos. "É mais ou menos assim que me sinto quando vou ao Campo Pequeno. Há detalhes que os aficcionados sabem ver e que me escapam." Augusto vai demorar o seu tempo a tornar-se num entendido na matéria, mas isso "é como tudo na vida".

A aficción não é um direito exclusivo dos que se sentam nas bancadas de uma praça. O entusiasmo chegou igualmente às trincheiras das arenas. Só que a adesão dos jovens também tem as suas desvantagens. "Neste momento até há grupos de forcados a mais", explica José Luís Gomes, que além de capitanear os Forcados Amadores de Lisboa, assume a vice-presidência da Associação Nacional dos Grupos de Forcados (ANGF). Os agrupamentos multiplicam-se e, neste momento, existem cerca de 40 pequenas organizações: "Não há espaço para todos e boa parte deles só faz uma corrida por temporada."

Criar um grupo de forcados não é tão fácil quanto aparenta. Primeiro que tudo é preciso passar pelo crivo da ANGF, que funciona como um tribunal para forcados. Ao longo de dois anos, um jurado avalia o comportamento dos candidatos nas praças onde actuam. Ser forcado implica seguir regras próprias e quem as transgredir é sancionado: "Em último grau é possível impedir os forcados de exercerem a sua actividade." O grupo pode até ignorar a sentença, mas não irá muito longe. "Ser houver um empresário que decida contratá-los apesar da nossa decisão, os outros grupos recusam-se trabalhar para ele",

DN, 5-7-2008
 
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