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ESCREVER DIREITO POR MÃO CANHOTA

CÉU NEVES

A 13 de Agosto de 1992, o clube britânico Left-Handers lançou o Dia Internacional dos Canhotos, numa forma de protesto contra a discriminação que sofrem os esquerdinos num mundo de destros. Na actualidade, os canhotos não sentem tanto o estigma de escrever com a mão esquerda, mas ainda têm dificuldade em encontrar objectos adaptados, em especial as carteiras da escola, a tesoura ou o abre-latas. Mas a verdade é que, em Portugal, este é um nicho de mercado pouco rentável.

O DN não conseguiu encontrar uma loja em Portugal que vendesse exclusivamente artigos para canhotos. A lacuna é colmatada pela Internet, onde se vende de tudo. E, por exemplo, uma tesoura para canhotos custa 5,19 euros na Manutan, empresa francesa de venda por catálogo. Um funcionário disse ao DN que estas tesouras têm procura.

Pedro Mexia diz não perceber a necessidade e o conceito daquelas lojas. Mas o crítico e escritor também aprendeu a adaptar-se ao mundo dos destros, o que faz com que use a tesoura na mão direita, por exemplo.

O guitarrista Flak, dos Rádio Macau, é que não pode prescindir da sua guitarra adaptada. "A escolha é muito menor, perde-se muito tempo a procurar e, por vezes, têm que ser pedida para o estrangeiro. E é complicado comprar uma guitarra sem a experimentar", contou ao DN. O facto de ser canhoto, além de diminuir substancialmente a possibilidade de opção, também encarece o valor dos instrumentos. Mais dez por cento do que uma guitarra profissional normal, que pode custar entre 1500 e 2000 euros.

Para algumas profissões, como a de futebolista, ser esquerdino é uma vantagem. Mas ajuda muito mais se o jogador também souber defender e rematar com a direita, diz Álvaro Magalhães, ex-defesa-esquerdo do Benfica e da selecção nacional e treinador do Olhanense. E há poucos jogadores esquerdinos que sejam canhotos. Mário Jorge, ex-jogador do Sporting e director-técnico do Estoril, é a excepção que confirma a regra. "Faço tudo com a mão esquerda. No futebol é uma vantagem porque há mais destros que canhotos. E o jogar de um esquerdino parece chamar mais a atenção", explica. O problema eram as bolas que surgiam da direita, aí a solução era aparar com a parte interior do pé esquerdo.

Pedro Mexia, Flak e Mário Jorge dizem nunca terem sido reprimidos em casa por usar a mão esquerda. Só sentiram que era um problema quando tiveram que usar determinados objectos, nomeadamente as carteiras escolares. E, de uma maneira geral, entortam-se todos para escreverem para conseguirem ver o que escrevem.

DN, 14-8-2007
 

Serão os esquerdinos mais rápidos que os destros?

Investigadores da Universidade de Oxford descobriram um gene nos esquerdinos que os torna mais propensos a sofrerem de esquizofrenia. Anteriormente, cientistas da Universidade Nacional Australiana tinham publicado um estudo a defender que os canhotos pensam mais rápido quando estão a praticar desportos, porque usam os dois lados do cérebro.

No caso dos indivíduos que escrevem com a mão direita, o lado esquerdo do cérebro controla o discurso e a linguagem e o direito coordena as emoções. No caso dos que escrevem com a esquerda, estas funções invertem-se. A culpa, dizem os cientistas britânicos, é do gene LRRTM1, que tanto controla a fala como as emoções. O estudo, publicado no jornal Molecular Psichiatry, revela que os indivíduos que possuem o LRRM1 têm mais probabilidades de sofrerem de esquizofrenia, doença ligada a desequilíbrios das funções cerebrais. Mas, apesar da descoberta, Clyde Francks, responsável pela investigação, tranquiliza os canhotos, dizendo que há muitos outros factores a ter em conta, além de que ainda não é possível conhecer em concreto o papel deste gene. "Há muitos factores que tornam os indivíduos propensos a desenvolver esquizofrenia, além de que a maioria dos esquerdinos nunca chegam a desenvolver nenhum problema", diz o cientista.

O estudo da Universidade Nacional Australiana também revela alterações nas funções cerebrais dos canhotos. Estes processam mais rapidamente a transferência de informação entre os hemisférios direito e esquerdo do cérebro. Daí que sejam mais rápidos em certas actividades, como certos desportos, jogar no computador e conduzir em estradas com muito trânsito.

Nick Cherbuin, investigador responsável pela pesquisa publicada na revista Neuropsychology, explica que as pessoas tendem a usar os dois lados do cérebro em tarefas muito rápidas ou muito difíceis. Com uma equipa de 80 voluntários, estabeleceu o tempo de transferência entre os dois lados do cérebro medindo os tempos de reacção a pontos brancos que piscavam dos lados esquerdo e direito de uma cruz. E, depois, comparou com a capacidade das pessoas em encontrar letras semelhantes nos campos visuais da esquerda e da direita e que os obrigava a usar os dois hemisférios em simultâneo. Repetiu os testes com 20 voluntários canhotos e descobriu que quanto maior era a tendência em usar a mão esquerda, melhor era em processar a informação pelos dois lados do cérebro.

Um outro projecto de investigação, este de uma equipa de Universidade de Birmingham, Grã-Bretanha, publicado na revista Nature Neurosciense, concluiu que os destros usam o hemisfério direito do cérebro para observar a totalidade de uma imagem, uma floresta, por exemplo. Mas quando querem ver pormenores (as árvores) usam o hemisfério esquerdo. Os canhotos fazem exactamente o contrário. Ou seja, destros e esquerdinos têm formas diferentes de entender a linguagem e a orientação espacial.

DN, 14-8-2007