24 agosto, 2007

 

Diana


Homenagem à princesa ( + 31-8-1997 )




http://pt.wikipedia.org/wiki/Diana,_Princesa_de_Gales

http://www.correiodamanha.pt/noticia.asp?id=256141&idselect=91&idCanal=91&p=200

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A PRINCESA QUE MUDOU A MONARQUIA BRITÂNICA

ABEL COELHO DE MORAIS

Diana abriu uma nova era na monarquia britânica. A rapariga simples, quase ingénua e insegura que protagonizou, em Fevereiro de 1981, o "casamento do século" com o príncipe Carlos, vai tornar-se um ícone dos média, senhora das suas acções, com uma agenda própria. Pelo caminho, protagonizou uma pequena revolução que mudou algumas regras da instituição real britânica assim como a atitude das suas principais figuras. A "shy Di" será, a partir da segunda metade dos anos 80, uma pessoa que abraçou causas, que encantou alta sociedade e meios populares. Os detractores sustentam que, por outro lado, Diana, a "princesa do povo" é, também, a "princesa da manipulação", que vive dos média como consente que estes vivam dela (ver caixa). Dez anos depois da sua trágica morte na capital francesa, passados os tempos da histeria de massas do Verão de 1997, forma-se hoje uma imagem mais real e talvez mais humana de Diana. A imagem da vida que lhe passou ao lado.

1 de Julho de 1961

Nasce Diana Frances Spencer, terceira filha de Lord Edward John Spencer, oitavo conde de Spencer, e de Frances Ruth Burke Roche, em Park House, na propriedade real de Sandringham (Norfolk). O pai de Diana é escudeiro da rainha Isabel II. Edward e Frances divorciam-se oito anos depois. No processo de divórcio, o pai ganha a custódia de Diana, das suas irmãs, Jane e Sarah, e do irmão. A partir de 1975, Diana assume o título de Lady. Vai conhecer o príncipe Carlos durante uma caçada em Novembro de 1977, num grupo em que está também uma das suas irmãs. Tem então 16 anos. Mais tarde, dirá que viu em Carlos "um homem tão triste". Ele, por sua vez, considerou-a "muito viva e divertida".

24 Fevereiro de 1981

É anunciado o casamento de Diana, de 19 anos, com o príncipe Carlos, de 32 anos. O casal começara a encontrar-se durante o Verão de 1980, depois de Diana se instalar em Londres num apartamento com mais três amigas. Na altura, a futura princesa trabalhava como ama numa escola de Pimlico, na capital britânica. Antes, Diana passou mais de um ano no Instituto Alpin, na Suíça, estabelecimento vocacionado para raparigas e para a sua formação de cultura geral e preparação para actividades sociais.

29 Julho 1981

Mais de meio milhão de pessoas espalha-se pelo trajecto entre o palácio de Buckingham e a catedral de St. Paul, em Londres, enquanto mais de 750 milhões de telespectadores seguem ao vivo pela televisão o "casamento do século" entre o herdeiro da coroa e a jovem que os media tratam como a "Shy Di". Pela primeira vez, em mais de três séculos, uma jovem que não é de uma família real europeia ou da alta nobreza britânica casa com o herdeiro do trono. Quando foi anunciado o noivado, Carlos oferecera a Diana um anel de ouro branco com uma safira oval no centro rodeada de 14 diamantes. Carlos e Diana surgem como o casal de sonho da monarquia britânica.

21 Junho 1982

Nasce no hospital de St. Mary, em Londres, o primeiro filho de Carlos e Diana e herdeiro do trono, príncipe William Arthur Philip Louis. Diana começa a assumir um papel mais activo, representando a casa real inglesa no funeral da princesa Grace, de Mónaco, em Setembro de 1982, naquela que é a sua primeira deslocação oficial ao estrangeiro. A 15 Setembro de 1984, nasce o segundo filho de Diana e Carlos, o príncipe Henry Charles Albert David, também no hospital de St. Mary, em Londres. É também neste período que, como se saberá mais tarde, se acentuam os problemas no casamento.

Outubro 1985

Diana começa a viajar sozinha numa clara demonstração do afastamento entre ela e o príncipe Carlos. Correm rumores de que teria tentado, em mais de uma ocasião, suicidar-se. Início da mudança de imagem de Diana. Abraça causas humanitárias, o que lhe confere grande visibilidade. Provoca grande celeuma ao visitar, em Abril de 1987, a primeira enfermaria dedicada a infectados com sida num hospital britânico, apertando a mão a alguns dos infectados sem usar luvas. Os conselheiros da rainha teriam tentado dissuadi-la de o fazer.

9 Novembro 1985

Visita de Diana e Carlos aos Estados Unidos. A deslocação ficará célebre por um baile de gala dado pelo presidente Ronald Reagan, que será considerado o acontecimento social do ano. O momento alto da noite, além de uma gaffe de Reagan, que esquece o nome de Diana, chamando-lhe "princesa David... Diane...", será a dança da princesa com John Travolta. Diana insiste na vertente humanitária, visitando vários hospitais e centros de apoio a doentes e infectados com sida. Por uma última vez, Diana e Carlos parecem constituir o casal perfeito, mas o casamento caminha para o fim.

Fevereiro 1992

Diana não se esquiva a mostrar que o seu casamento com Carlos está em crise. Durante uma visita do casal à Índia, posa sozinha defronte do Taj Mahal - numa demonstração poderosa de solidão. Em Junho é publicado o livro, A Verdadeira História de Diana, de Andrew Morton, com detalhes sobre a deterioração do casamento. Mais tarde, a princesa admitirá ter autorizado declarações de amigos próximos sobre a crise na sua relação com Carlos, os seus medos e as tentativas de suicídio que teria protagonizado. Em Agosto, o tablóide The Sun publica a transcrição de uma suposta conversa telefónica entre Diana e um seu antigo namorado, James Gilbey.

9 Dezembro 1992

O primeiro-ministro John Major anuncia a separação oficial de Carlos e Diana. No mês anterior, numa viagem à Coreia do Sul, nenhum dos dois se esforça por disfarçar a evidente crise no seu relacionamento. Nesta época, Diana é cada vez mais uma presença constante nos media, britânicos e internacionais, que lhe concedem um destaque ímpar. Ela é - cada vez mais - a "princesa dos média".

13 Janeiro 1993

É divulgada uma longa conversa telefónica entre Carlos e Camilla Parker-Bowles, sucedida três anos antes. Em Junho do ano seguinte, Carlos admite a relação com Camilla numa entrevista televisiva. Considera que o seu casamento com Diana estava terminado, por isso se aproximou de Camilla. Ao longo de 1984, a "guerra das revelações" prossegue com novos detalhes. É conhecido o caso de Diana com o seu guarda-costas e professor de equitação, James Hewitt.

24 Novembro 1995

Entrevista de Diana à BBC em que admite a relação com James Hewitt. Faz novas revelações sobre a crise psicológica que viveu durante o casamento com Carlos e correspondente doença psíquica, as tentativas de suicídio. Critica a família real e dá "o beijo de morte" a Carlos: duvida que alguma vez venha a ser rei, por não ter qualidades para isso. Em meados de Dezembro, a rainha Isabel II pede a Carlos e Diana que ponham fim ao casamento. Ele concorda de imediato; ela adia a decisão por três meses.

28 Fevereiro 1996

Diana anuncia, por fim, a sua concordância com o processo de divórcio. Inicia-se a negociação sobre os termos deste, que culminará com a declaração final a 28 de Agosto seguinte. Os príncipes William e Henry ficam sob a custódia conjunta de Diana e de Carlos.

15 Janeiro 1997

Diana visita Angola numa campanha pelo fim da utilização das minas terrestres. No início de Agosto estará na Bósnia numa missão com idêntica finalidade. Em Junho irá encontrar-se com Madre Teresa de Calcutá em Nova Iorque, no bairro de Bronx. Registam as notícias da época que, ao despedir-se da missionária, Diana acena à pequena multidão que se juntara junto à casa das Missionárias da Caridade, exibindo o seu "famoso sorriso". A morte das duas personalidades a menos de uma semana de distância, sempre foi cultivada pelos admiradores de Diana - num gesto de gosto duvidoso - como sinal de uma relação especial que existiria entre a missionária de Calcutá e a princesa de Gales.

31 Agosto 1997

Um acidente pouco depois da meia-noite num túnel de Paris provoca a morte do condutor do automóvel em que seguia Diana com Dodi al-Fayed. Este tem também morte imediata. A princesa é ainda transportada para um hospital da capital francesa, mas acabará por falecer vítima de hemorragias internas. Cinco dias depois, a rainha Isabel II fará a sua primeira intervenção directa pela televisão em 38 anos.

6 Setembro 1997

As exéquias de Diana mobilizam a atenção do mundo. São milhões a seguir pelas televisões o decorrer das cerimónias na Abadia de Westminster- marcadas por uma dura intervenção do irmão de Diana e pela actuação de Elton John. Diana ficará sepultada na residência dos Spencer, em Althorp.

DN, 22-8-2007
 
A novela da pessoa mais famosa do mundo

ANABELA MOTA RIBEIRO

Um pesado livro, de suculentas páginas e imagens inesquecíveis, narra a história de uma desditosa princesa. Tudo começa com um "Era uma vez". No fim, não aparece "E foram felizes para sempre". Nem "The End". As personagens são Diana, Carlos, Camilla, entidades concretas como a realeza, o povo, os media. A heroína morreu aos 36 anos, num túnel de Paris. Está sepultada em Althorp, propriedade da família, em Inglaterra. Dez anos depois da morte, as audiências continuam fascinadas com o que lhe sucedeu em vida. Foi, nesse tempo, a pessoa mais famosa do mundo.

A princesa no sofá da sala!

"Há [entre mim e o povo] um entendimento incrível. Top of the Pops, Coronation Street, todas as telenovelas. Diga uma... eu segui-a. A razão pela qual as vejo ainda, não é tanto pelo interesse nelas, mas é porque, se vou para fora, seja Birmingham, Liverpool ou Dorset, falo de um programa de televisão e estamos no mesmo nível. Decidi isto sozinha. Funciona tão bem! Toda a gente as vê. E se eu digo: 'Viu isto e aquilo?' Fico imediatamente ao mesmo nível. Não sou a princesa e eles o povo: é o mesmo nível". Diana podia ser "estúpida como uma porta", como ela mesma declarava para fazer charme e baixar as expectativas; mas era magistral na relação com os súbditos. Também com os media e com uma nova ideia de realeza que corporizou. Mas falemos dos súbditos.

Ela catapultava-os para um outro patamar. A humanização da realeza atribuída a Diana pode, grosseiramente, resumir-se nesta frase: uma princesa de verdade, de que a tiara é a prova evidente, sentou-se connosco no sofá da sala para seguir dramas de todos os dias. Uma como nós. Em todo o caso, especialmente distinta. As suas pernas eram altas e torneadas, a pele tinha um brilho acetinado, o cabelo exibia uma cor irrepreensível, os olhos tinham o azul das princesas dos contos de fadas.

As telenovelas. Tratavam, como tratam sempre, de dramas comuns. A sua vida confirmava o que ali se passava. A vida na realeza, afinal, também era feita de ciúme devastador, ambição desenfreada, de pequena e grande mentira, sofrimento, lamúria, jogo de enganos. Também de ostracismo, imaturidade, distúrbio alimentar, solidão. Para além dos ingredientes-base que funcionam como as batatas e a cebola numa sopa: as pedras preciosas, os vestidos que arrasam os demais, as viagens à volta do mundo, os palácios de cortar a respiração, os círculos onde poucos são admitidos. Mas, na caderneta em que a vida desta princesa se transformou, os cromos são impressos num papel excepcional, o brilho é refulgente. Não há camisolas puídas, os dentes nunca estão cariados. As fotografias são iluminadas a rigor e, por força da repetição, acreditamos naquilo que elas dizem.

O que dizem as fotografias...

Se acreditarmos nas fotografias, vemos uma mulher adorada, sorridente como o Sol, a apertar a mão a leprosos e doentes com sida. Uma Santa Diana do Ocidente. Se acreditarmos nas fotografias, descremos nas suas palavras, anos mais tarde, quando o conto de fadas estava em avançado estado de decomposição: "Atirei-me pelas escadas abaixo quando estava grávida de quatro meses do William, para tentar obter a atenção do meu marido."

Nas fotografias não lhe conhecemos os desaires, os casos adúlteros, as crises de choro - o marido, Carlos, lamentava a má sorte de ter uma mulher chorona; e queixava-se à mãe, Isabel, a Rainha, de que a bulimia estava a dar cabo do casamento... Nas fotografias não podemos perceber aquilo que ela mesma confessa ao biógrafo Morton: que a noiva que acena esfuziante no seu coche de Cinderela, descobrira dias antes que o marido tinha uma amante de nome Camilla. Alguém o suspeitou, quando a viu sorrir na varanda de Buckingham Palace? "O lado público era muito diferente do privado.".Como em todos nós. "No público, queriam a princesa encantada, que vinha, tocava-os, transformava tudo em ouro e fazia desaparecer as suas preocupações. Poucos compreendiam que o lado individual estava crucificado" (A Verdadeira História de Diana", de Andrew Morton).

Santa e pecadora

Em que ficamos? Na santificada vítima de uma instituição sufocante, ou na megera manipuladora que tudo fazia por um pedaço de atenção? Seria tola a ponto de não enxergar o desastre iminente? Ou seria a starlet que leu os romances de Barbara Cartland e transformou a vida num deles?

Nestes romances, as flores nunca chegam a murchar. Talvez sejam de plástico, porque na realidade não há flores eternas. Os romances de Cartland provocam congestão dos sentidos. No caso de Diana foi mais grave porque foram os únicos que leu! "Em Cartland encontrei todas as pessoas com quem sonhei, e tudo aquilo por que esperei", disse uma vez.

E aqui a tragédia junta-se à comédia: a incontestada rainha da literatura rosa era nada mais nada menos do que a mãe da madrasta de Diana! Uma madrasta freudianamente odiada, ou não estivéssemos em pleno conto da Cinderela. Raine não é uma mulher dispensável se queremos entender o fio desta trama. Raine é a bruxa má que roubou o coração do pai!

Era uma vez...

Muitos anos antes do "Era uma vez" que trouxe Diana às nossas vidas, ela viveu uma vida em que não era famosa. Estranho: houve um tempo em que também ela não foi famosa. Mais estranho ainda: ninguém podia prever que a mais nova e gorducha das irmãs Spencer, que não era especialmente boa em nada, se transformaria na pessoa mais famosa do mundo.

Nesse tempo, ela era apenas a filha adorada. A que consola o pai depois do abandono da mãe. A que faz de conta que não existe vergonha social perante um vulgaríssimo adultério. Diana aprendeu nesses anos a viver na duplicidade em que toda a sua vida assenta. Chorava com a mãe as intermináveis lágrimas de fim-de-semana, confortava o pai com sorrisos afectuosos durante a semana. Uma parecia saber pouco da outra. Em separado, ambas tinham uma prestação exemplar. Diana aprendeu a ser as duas. Numa só.

Afinal havia outra...

Rever Diana no "Panorama" da BBC, o celebérrimo programa em que confessa que o seu comportamento não é impoluto, é assistir a uma epifania: fica-se a conhecer uma nova mulher. Que usa olhos de carneiro mal morto. E os revira para nos contar da infelicidade em que vive submersa. Três, num casamento, são sempre uma multidão. Ela, Carlos e Camilla. Além de outra tríade poderosa: a família real, os media e os amantes de Diana. Duro, muito duro.

No princípio do "Era uma vez", Diana era a menina de boas famílias que imaginava, aos 14 anos, que o seu destino seria casar com alguém que tivesse exposição pública. Um diplomata, talvez. Ela era "virgem e sacrificial" (nas suas palavras), fácil de manobrar, e por isso foi escolhida para casar com o Príncipe Carlos.

O sacrifício era em prol do reino e o casamento de grande conveniência. A virgindade era uma espécie de assunto de Estado quando o que estava em causa era o corpo de onde nasceria o futuro rei de Inglaterra. É verdade que ela respondeu que sim, que of course estavam apaixonados, quando um jornalista lho perguntou no anúncio do noivado. Of course? Se exceptuarmos a virgem inocente, a ninguém mais ocorreria semelhante resposta. A própria avó de Diana, citada por Tina Brown, considerava disparatado falar de um grande amor. Não era disso que se tratava.

Caldo entornado

Casaram e não foram felizes para sempre. Contraria o conto de fadas, mas assenta bem no melodrama em que a vida de Diana se transformou. O mais espantoso é que são faces da mesma moeda. Da mesma Diana. Como a sua fraqueza é a sua força. É por causa do seu coração partido, da sua sorte desditosa que a identificação se faz, e transversalmente. É por causa da sua vocação mediática, do génio para lidar com os media que o mundo acompanhou os passos que deu. É por causa da sua proximidade com a gente comum e com os dramas infelizes que o recém-empossado Tony Blair inventou, sobre a notícia da sua morte, o cognome "Princesa do Povo".

A sua vida, e sobretudo a morte, atingiram audiências insuperáveis. Foi irrelevante que ao seu lado estivesse Dodi Al Fayed. Um playboy cocainómano de quinta categoria, não fosse o pai ser proprietário do Harrods. Mas a imagem final é resplandecente e foi tirada por Testino.

Livro aberto

Como passou de uma cara redonda e doce a uma imagem esculpida e "fosforescente" (Tina Brown)? Mais do que a mão, a cara por de mais fotografada de Diana funciona como mapa. Nela se lê tudo. Os seus passos, as suas quedas. É essencial para entender o fenómeno em que se transformou.

Não se pode compreender como uma mulher impreparada ascende a tal posição se não se compreender que todos nós vivemos melodramas como o seu. Todos saboreámos os detalhes comezinhos da sua vida e verificámos que no nosso quintal havia uns parecidos. Um "nós" colectivo amou-a como personagem de ficção, vibrou com a revolta e a subsequente vitória sobre os opressores. Repudiou a manipulação descarada, o calculismo, a estratégia, o cinismo. Apreciou os vestidos com redobrada volúpia. As gravidezes. As campanhas de solidariedade - a sua imagem em Angola, ao lado de um menino estropiado, é tão famosa quanto a de Armstrong a pisar a Lua... Ficámos amigos de Elton John, dançámos com John Travolta.

Como Marilyn ou Dean, morreu cedo. Ficou cristalizada num tempo, não foi sujeita à decadência, à velhice, à erosão. E com a morte, perdoámos tudo. Já passaram dez anos.

DN, 23-8-2007
 
"Princesa valia mais 150 mil vendas"

BRUNO PORTELA, Londres

Dez anos após a sua morte, a princesa Diana continua a fazer manchetes nos tablóides e a sua imagem a vender bem. A prová-lo está o filme que vai sair brevemente sobre a última hora da sua vida, mais de uma dúzia de livros a publicar nos próximos dias e o relançamento do tributo de Elton John.

Vários documentários foram produzidos para esta altura e os jornais voltam a examinar o percurso e as circunstâncias da morte de Diana. Os editores em 1997 dos tablóides News of the World, The Sun e Daily Mirror, assumiram pela primeira vez parte da culpa pela morte de Diana.

Phil Hall, editor do News of the World, o jornal com mais tiragem no Reino Unido, admitiu que a procura de fotografias criou um ambiente em que os paparazzi se descontrolaram ao perseguirem Diana há dez anos em Paris. Falando num documentário do canal ITV, Hall admitiu que "uma história sobre Diana podia acrescentar mais 150 mil vendas". O que é outra maneira de dizer que Diana era uma rainha indiscutível de popularidade. E continua a sê-lo, como o demonstram as iniciativas previstas para estes dias.

Há poucos meses um outro canal inglês, o Channel 4, transmitiu um documentário intitulado Diana: as Testemunhas do Túnel, mostrando imagens exclusivas da princesa a ser assistida no carro acidentado em Paris. De nada serviu o apelo dos príncipes William e Henry, que consideraram o documentário um "grave desrespeito" à memória da mãe.

Mas o nome de Diana vende milhões e vale milhões. O seu Fundo Memorial, criado após a morte para ajudar as causas associadas à princesa, deve gastar o total de fundos - cerca de 36 milhões de euros, em capital e dividendos - até 2012, altura em que deve cessar a existência.

Para assinalar os dez anos da morte da princesa, tenciona gastar 15 milhões de euros numa campanha para promover os direitos dos asilados e refugiados. A organização, liderada pela irmã mais velha de Diana, Sarah McCorquodale, quer exigir ao Governo que pare de prender as crianças deportadas. Uma porta-voz de William e Henry disse que os príncipes apoiavam a decisão porque a sua mãe pretendia "ajudar às pessoas mais vulneráveis e marginalizadas da sociedade". No entanto, surgiram de imediato os protestos de vários deputados, alegando que esta é uma causa política, existindo no Reino Unido assuntos mais importantes para gastar o dinheiro.

O Fundo envolveu-se ainda numa outra polémica, com uma empresa norte-americana de fabrico de bonecas e pratos de Diana. Esta demonstrou em tribunal que possuía licença para produzir esses produtos e o Fundo vai ter de a indemnizar em cerca 19 milhões de euros por, erradamente, ter alegado deter direitos sobre a imagem de Diana, que é considerada propriedade pública.

A imagem da princesa está ainda no centro de outras controvérsias. Recentemente, as lojas oficiais reais deixaram de vender postais seus, apesar de muito populares, por que "só podem ser vendidos postais de membros da família real vivos", segundo a explicação oficial.

Também as especulações sobre a sua morte vão continuar. Tanto mais que novas investigações vão começar em Outubro e que o facto de a Rainha e o príncipe Filipe não terem de responder às questões levantadas por Al Fayed por "não ser conveniente e necessário", segundo decisão judicial, não deixará de alimentar especulações. De acordo com o advogado de Al Fayed, a Rainha deveria ser inquirida sobre uma conversa que manteve com um mordomo onde referiu "outras forças, poderes que trabalham dentro do Estado", enquanto o príncipe Filipe deveria explicar certas cartas enviadas a Diana.

Até nas homenagens à memória da princesa surgem controvérsias. Como sucedeu com a construção de uma fonte artificial em Hyde Park. O seu custo ultrapassou o orçamentado e os problemas de manutenção levaram-na a ser considerada a quinta pior atracção turística de sempre em Londres, segundo um estudo feito entre turistas.

DN, 24-8-2007
 
E COMO TODOS OS DIAS MATAMOS DIANA ALEGREMENTE

Fernanda Câncio
jornalista
fernanda.m.cancio@dn.pt

Nunca me contei entre as fãs de Diana de Gales. Não me tocou a história da rapariga espigadota e tímida que casou com o príncipe muitos anos mais velho e que acabaria por se divorciar, dois herdeiros e ene peripécias pouco edificantes depois. Interessou-me, no entanto, a construção do mito - que precedeu a sua morte -, a forma como contribuiu para erodir de forma irreversível a imagem da monarquia e interessou-me a sua complexa relação com os media.

E, sobretudo, interessou-me a tragédia. Uma tragédia que parecia ter sido anunciada, de tão exacta no simbolismo. Lembro-me da manhã em que acordei para a notícia, de como estranhamente me comoveu, a mim que não sentia nada por Diana, de como me pareceu mentira de tão caricatural. Lembro-me também da longa discussão que se seguiu, ao longo de meses, sobre o papel dos media na morte de uma das suas maiores estrelas, das propostas, no Reino Unido, de um "código de conduta", dos protestos de que nada nunca mais seria igual, que nunca mais se perseguiria ou exploraria de modo tão cruel a imagem ou a vida privada de alguém.

Dez anos depois, aquilo que nos parecia, de Portugal, uma realidade distante e estrangeira - a proliferação do cor-de-rosa, a tabloidização de toda a informação - chegou em todo o seu esplendor. O "acordo de cavalheiros" que foi prometido no pós-Diana, a ideia piedosa da auto-regulação, o primado do bom senso e do respeito pelas pessoas, onde é que isso vai. O caso Maddie - que não por acaso foi comparado, no Reino Unido, em impacto e adesão popular, ao de Diana -, demonstra, caso houvesse dúvidas, a obscenidade da noção prevalecente do que faz sentido publicar. Durante meses, assistimos, nos media britânicos e portugueses, a uma histeria que, incrivelmente, subsiste. Todos os dias saem "notícias" contraditórias e infundamentadas que mais não são que palpites: o sangue é dela, não é dela, é de um homem, "afinal não se sabe". Ela morreu, foi raptada, foi drogada, houve um acidente, os pais estão inocentes, os pais estão metidos na marosca, o Murat é um malandro, o Murat é uma vítima, a PJ é óptima, a PJ não presta para nada. Anunciam-se "buscas" antes de ocorrerem, "prováveis detenções" que não acontecem, fritam-se hoje os mártires/heróis de ontem e vice-versa. Uma alegria. Interessa lá que estejam a decorrer investigações, interessa lá que esteja em causa uma criança de 4 anos, interessa lá que a publicação de tanta falsidade evidencie o quão afastados os media andam da sua suposta missão de informar e esclarecer, interessa lá que haja gente inocente a ser enxovalhada e perseguida, interessa lá que se destruam vidas. Não, nunca saímos do túnel de Alma. Ainda lá estamos, pé no acelerador, atrás de Diana, sempre com a bela desculpa de que se não formos nós, outros serão. Porque elas, as Dianas, "vendem". E toda a gente compra.

DN, 24-8-2007
 
"Não tenciono divorciar-me nunca"

Uma faceta até agora pouco investigada da vida de Diana tem sido a sua infância e juventude. Época discreta, se comparada com os anos de casamento e a época subsequente, está no centro de um trabalho da CNN, em que a televisão americana ouviu Mary Clarke, a primeira ama da princesa.

"Ela era uma criança normal, que gostava de brincar ao ar livre, um pouco uma maria-rapaz que gostava de subir às árvores e brincar com animais", afirma Mary Clarke. Esta recorda um episódio passado quando Diana tinha nove anos e era "uma jovem muito tímida". "Só quero casar com alguém que ame de verdade, ou então vamos acabar por nos divorciar e eu não tenciono divorciar-me nunca". Mais tarde, aos 13 anos, conta-se no documentário, Diana tinha o seu quarto cheio de fotos de Carlos.

Diana era uma "jovem muito tímida", que convivia com os príncipes André e Edward (os irmãos mais novos de Carlos), que se sentia diferente por ser filha de pais divorciados e que "durante a meninice só aspirava a ter um casamento feliz e uma grande família". O que nunca chegou a ter.

DN, 25-8-2007
 
"Um filme sobre Diana será um enorme sucesso"

Ficção e realidade continuam a misturar-se em torno de Diana uma década após a sua morte. Ao mesmo tempo que se anuncia para breve o início das filmagens da primeira longa-metragem sobre a vida da princesa, possivelmente com Keira Knightley como protagonista, estão previstos para os próximos dias nas televisões britânicas e americanas novos documentários sobre a vida da princesa.

Mas é em torno do filme com Keira Knightley, uma adaptação de Diana And The Paparazzi, de Glenn Harvey e Mark Saunders, que estão concentradas as maiores expectativas. Considerada pouca adequada a sua adaptação até agora, o décimo aniversário da morte de Diana surge como o pretexto adequado para passar ao grande ecrã uma "história que tem tudo: dimensão humana, tragédia, até comédia e aventura", afirmou o produtor cinematográfico Quentin Reynolds.

Depois do sucesso de o filme A Rainha, sobre Isabel II, tornava-se quase irresistível fazer algo equivalente com Diana. "Por cada libra ganha com o filme A Rainha, um sobre Diana conseguirá dez ou mais", afirmava há tempos um importante produtor de Hollywood a um jornal britânico.

Para os próximos dias estão previstas as exibições do documentário da CNN, Growing Up Diana, sobre a infância e juventude da princesa, Diana: In The Name of Love, da BBC, um inevitável Diana: Last Days of A Princess e novas exibições do controverso Diana: the Witness in the Tunnel, que levou os príncipes William e Henry a protestar em Maio pela inclusão de imagens da mãe entre os destroços do veículo na noite fatal.

A maioria destes títulos segue a linha de elogio estabelecida por um documentário de Richard Attenborough, Diana: Queen of Hearts (Diana: a Rainha de Corações), de 1998.

Algo diferente se anuncia The Murder of Princess Diana, um telefilme sobre as teorias da conspiração em torno da sua morte, que assume claro carácter ficcional.

A. C. M.

DN, 25-8-2007
 
A DANÇA DE DIANA COM A 'ALCATEIA' DOS MEDIA

FERNANDA CÂNCIO
MARTIN CLEAVER

É uma história sobre celulite. Não é decerto das histórias mais conhecidas de Diana. Não é decerto bonita, nem comovente, nem honrosa. Mas talvez seja a que melhor caracteriza a relação dos media com Diana e de Diana com os media, a dança cruel e obsessiva que durante 17 anos alimentou páginas e páginas de jornais, revistas e livros e "especiais" televisivos. Diana e celulite: glamour nenhum. Mas as fotos saíram nos tablóides, com aqueles círculos com zoom nas pernas da ex-mulher do príncipe (já era ex-mulher, nessa altura), apanhada à entrada do ginásio em calções, e aqueles títulos com muitos pontos de exclamação que fazem a delícia da imprensa amarela. "Ela tem celulite!!!" E ela passou-se.

Vejamos a coisa pelo lado dos tablóides: a bela princesa, a que esteve para ser rainha, considerada uma das mulheres mais atraentes do mundo, a tal de cujos gastos de várias centenas de milhar de libras anuais com cremes, cabeleireiros, exercício, massagens e terapias diversas o ex-marido se queixava amargamente (aos jornais, by the way), não escapava afinal, aos trinta e tal anos e com tantos cuidados, à maldição do seu sexo -- eis como os editores britânicos sabem da poda e de como agradar às suas leitoras. Elas e Diana, a mesma luta. Ela podia ter visto o lado bom disso, a meiga aproximação ao povo que sempre cultivara, em contraste com a distância e a seriedade imperiais da família do ex-marido, e que a levava, confessadamente, a assistir às novelas para poder mencioná-las nas conversas com os súbditos. Mas Diana só queria que pensassem que ela era como eles, não queria ser como eles. Queria ser bela e perfeita e desejável e para sempre princesa. Fez um comunicado. Um comunicado oficial, daqueles que saíam do palácio de Kensington, onde residia. Não, ela não tinha celulite. Nenhuma. "Era o efeito da sombra e do sol nas pernas".

"É um facto inegável que a princesa se entendia com os media e os explorava no seu próprio interesse, tanto como nós a explorávamos no nosso", disse David English, o já desaparecido presidente da associação dos jornais britânicos. Ela sabia o nome do jogo? Sabia, ó se sabia. Ela colaborava? Ó se colaborava. São dezenas os testemunhos de jornalistas, a maioria homens, que ela convidou para almoços e pequeno-almoços e lanches e confidências e conselhos, os olhos azuis em sedução oblíqua, a vulnerabilidade, real e encenada. Sim, ela tinha consciência do seu poder - a partir do momento em que poder houve. Imaginem-se, aos 19 anos, no lugar dela. Toda a gente queria saber quem ela era, toda a gente queria ver as fotos dela. Toda a gente a queria casar com Carlos, o herdeiro do trono. Toda a gente queria uma princesa assim, loira e suave, à imagem das histórias de encantar. E ela quis ser isso, mas não podia sê-lo sem os media: foram os media que a coroaram.

"Ela estava à frente dos seus contemporâneos ao adivinhar um mundo em que a celebridade é a moeda do reino. Sendo uma aristocrata, sabia que a aristocracia do nascimento se tornara irrelevante. A única coisa que contava agora era a aristocracia da exposição", escreve a jornalista Tina Brown no recente The Diana Chronicles. Sim, foi uma peculiar relação de dependência mútua, a de Diana e dos media. Mas "à medida que os imperativos incandescentes dos media foram assaltando a suave necessidade humana de privacidade, aguaceiros dispersos deram lugar a chuva intensa e finalmente a espectaculares e fatais furacões. Ela própria havia acelerado a mudança de clima que tornou a sua vida literalmente impossível", diz Tina Brown.

Houve quem chamasse aos tablóides "uma hidra de muitas cabeças", e aos media em geral (que tão pouco hoje se distinguem do espírito tablóide) "a besta". Diana crismou-os como "a alcateia". Foi assim desde cedo, desde as primeiras semanas em que, revelada por uma primeira página do The Sun como "o novo amor de Carlos", se viu perseguida por flashes e zooms em todos os seus passos. "Estou arrasada", confidenciou ao Daily Mail. "Onde quer que vá, há alguém à minha espera. É cansativo e dura há duas semanas, sem descanso". Sem descanso: seria assim nos 17 anos seguintes, uma dança de avanços e recuos, de fugas desesperadas e incursões determinadas no território do inimigo (como a célebre para todo o sempre entrevista ao Panorama da BBC, em que, ainda não divorciada, assumiu as suas relações extra-matrimoniais e acusou Camilla Parker-Bowles de ter destruído o seu casamento), de milhares de fotos de rosto tapado, de mãos levantadas contra as objectivas, de pedidos de clemência aos repórteres (como quando, de férias na neve com os filhos, avançou até às câmaras e lhes pediu que se retirassem), até ao Ritz e ao túnel de Paris onde pode ter guardado, como última imagem, o flash e a fúria das câmaras dos seus perseguidores. Os que, enquanto ela era levada para o hospital onde a sua morte seria decretada às 4 da manhã de 31 de Agosto de 1997, negociavam com os tablóides a venda das fotos da princesa no fundo do Mercedes, entre os cadáveres de Fayed e do motorista. Um editor do The Sun confessou a Tina Brown que já tinha assegurado, por 300 mil libras, o exclusivo de um dos paparazzi, antes ainda de ser conhecido o óbito. O espectáculo tinha de continuar - e continua até hoje, com livros, filmes, diários, revelações e gravações e especiais nos jornais. Diana viva vendia, morta e mitificada vende ainda mais. Uma foto dela na capa de uma revista a prometer mais um segredo ou uma imagem nova - a do acidente, por exemplo, publicada em 2006 em revistas italianas e espanholas e num jornal britânico - e é um tropel. Dez anos depois, estamos aqui para o provar.

Se dançares com o diabo, não mudas o diabo. Ele é que te muda a ti. O provérbio inglês poderia ser um mote para a tragédia de Diana de Gales, a rapariguinha com nome de deusa da caça que, como disse o irmão após a sua morte, acabaria por ser "a pessoa mais caçada da história". Um objecto de caça especialmente interessado em manter a perseguição, certo, e que nas semanas antes do acidente em Paris combinava novas entrevistas televisivas, uma das quais com a jornalista americana Barbara Walters, e tão depressa se enrolava em toalhas para impossibilitar fotos nas suas férias com o namorado Dodi Al-Fayed como, de fato de banho de leopardo, se dirigia, provocadora, aos fotógrafos, anunciando "novidades interessantes". A raposinha provocava a matilha, sim. Talvez não soubesse que havia outra maneira de viver sem ser assim. Talvez já não conseguisse parar. Ou talvez soubesse que sem a caça, Diana não era Diana.

DN, 26-8-2007
 
O código de conduta que não conseguiu travar os 'paparazzi'

A indignação pública com o papel dos media na morte (e, por decorrência, na vida) de Diana levaria a uma revisão do Código de Conduta dos jornalistas britânicos, criado em 1991.

A nova versão, de Janeiro de 1998, incluía o reforço das cláusulas de privacidade, incluindo a interdição de fotografar sem autorização em "locais públicos onde houvesse expectativa de privacidade", assim como a recusa de material obtido "através de perseguição persistente" (referência às teleobjectivas). Certo é que o Código voltaria a ser alterado. E a sua aplicação, fiscalizada por uma comissão criada em 1991 por consenso da "indústria" e por ela eleita e financiada, parece frequentemente letra morta. Onde estava o Código de Conduta quando Diana era perseguida sem tréguas?

E, recentemente, que código de conduta estariam a observar os fotógrafos que "apanharam" a modelo britânica Naomi Campbell à saída de uma reunião para toxicodependentes anónimos e os jornais e revistas que as publicaram? Este caso, em que um tribunal deu razão à modelo, assim como um acórdão recente do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos que considera procedente a queixa de Carolina do Mónaco contra os media alemães que publicaram fotos da sua família em férias, e a publicação, em 2006, de fotografias da própria Diana no carro acidentado, voltaram a agitar a polémica no Reino Unido sobre o comportamento dos media sobre a privacidade, o assédio e os limites da dita "liberdade de informar" - e a reforçar as críticas à comissão (a Press Complaints Authority, PCC, a Autoridade para as Queixas contra a Imprensa) que aprecia as alegadas violações do código. Sem poderes disciplinares ou sancionatórios, o papel da Comissão é apenas o de apreciar queixas e, caso estas sejam consideradas procedentes, tornar públicas as conclusões no meio "culpado". Há quem - caso da organização Presswise - considere que a PCC, composta por 16 comissários, sete dos quais com funções directivas nos media e os nove restantes, incluindo o presidente, independentes da "indústria", funciona apenas como um meio corporativo de defesa do sector, clamando por uma instância independente e com o poder de atingir os media onde, diz a Presswise, "lhes dói mais", impondo coimas.

Mas as críticas à PCC não vêm apenas "de fora". Também nos media há quem a considere "fraca". E a própria PCC reconhece não ter autoridade e recursos, a não ser aqueles concedidos pelos próprios media. Num relatório parlamentar sobre a PCC, datado de Junho de 2003, a questão fundamental era colocada com transparência: "O fundamento para a existência da PCC é que para manter a liberdade da imprensa - vital numa sociedade democrática -a indústria tem de se auto-regular; se não o fizer, abre a porta à intervenção governamental, à censura e até controlo. Ainda que estes medos sejam mais pressões negociais que autênticas possibilidades, a lógica é persuasiva. Mas para a auto-regulação funcionar tem de inspirar confiança a todos." Da imprensa, desde logo, já que, de outro modo, nem tem condições para funcionar, mas também, do Governo e do Parlamento e do público. Uma tarefa difícil, que corre o risco de deixar sempre alguém insatisfeito - e algumas vítimas pelo caminho. F.C.

DN, 26-8-2007
 
Entrevista a Tina Brown (ex-editora das revistas Tatler e Vanity Fair e jornalista): "Diana era uma figura atraente e profissional"

KENNETH WHITE*

Para mim, a revelação mais chocante no seu livro, 'As Crónicas de Diana ', é o facto de que me pareceu achar o príncipe Charles atraente.

Meu caro, eu simplesmente tentei dizer que entendo a razão pela qual as mulheres o acham sexy. Não é que eu o ache atraente.

Então, o que é?

É a combinação de um aspecto impecável, com maneiras de cavalheiro e uma mística monárquica. Sabe, quando se reúne estas três características em simultâneo, a pessoa torna-se extremamente atraente. Ele é um homem de maneiras cuidadas, tem um sentido de humor apurado, o que o torna muito apelativo, também. Ele tem uns olhos muito azuis e é milionário, tudo junto faziam dele uma pessoa deveras atraente - falo no passado, porque hoje está perto dos 60 anos.

Pelo que ouvi, Carlos teve muitos casos amorosos.

Sim, teve demasiada acção nesse campo.

Fiquei surpreendido com isso... Muitas mulheres, e não só mulheres solteiras, mas também casadas.

Sim, parece que as mulheres casadas o atraíam demasiado. De facto, na revista Private Eye - publicação satírica em Inglaterra - corria uma história nessa altura que contava que no White Club, o restaurante e clube da aristocracia inglesa, em que ele foi votado como o shit of the year (o pior do ano) pela forma como tratava as mulheres. Ele era uma espécie de conquistador.

Menciona que existe uma estranha tendência nos maridos britânicos.

Sim, extraordinário, não acha? É incrível que na maioria da aristocracia ainda dê estatuto, um símbolo, o facto de o futuro rei ter dormido com a sua própria mulher.

Diana entra aqui. Ela é uma mulher muito nova e de boas famílias, mas sem educação.

Ela foi enviada para uma escola onde nada fez além de se preparar para o casamento. Sabe, Diana era a filha de um conde que tinha todo o dinheiro do mundo e que a envia para uma escola donde ela sai aos 16 anos para cuidar de crianças. Isto era muito comum na altura. Nenhuma das suas irmãs foi educada, enquanto o irmão, Carlos, frequentou Eton e Oxford, as duas melhores escolas em Inglaterra.

Fiquei surpreendido pelo grau de envolvimento tanto da Rainha Mãe como do príncipe Filipe em unir Carlos e Diana.

Eu sei, eu própria também fiquei muito surpresa.

Como é que duas das pessoas mais capazes do mundo sobre o que é necessário para ser a futura mulher do Rei de Inglaterra - como é que puderam enganar-se a respeito de Diana?

Era muito complicado não haver engano. Diana era linda, jovem, fresca e inocente e vinha de uma linhagem impecável e além disso adorava o Carlos, e, como sabe, e como disse, ela era a última virgem livre em Inglaterra. Claro que se tornou mais e mais claro que a razão pela qual eles não foram felizes foi porque Carlos sempre esteve apaixonado pela Camilla Parker-Bowles. Por isso, a Rainha e o príncipe Filipe tornaram-se cada vez mas ansiosos e com receio de que este se tornasse num Eduardo VIII, que abdicou do trono. Eduardo VIII também teve aventuras com mulheres fantásticas e abdicou por amor a uma mulher casada. Havia receio de que Carlos insistisse em casar com Camilla, que teria de se divorciar.

Mas tornou-se muito claro que Carlos e Diana eram incompatíveis e a desilusão aumentou à medida que o tempo de casamento avançava.

Foram meses. Logo depois da lua-de-mel, em que Carlos já passava a vida a ler os diários de viagens de Laurens van der Post [considerado um dos mentores do príncipe], Diana tocava piano para estudantes. Ela não estava no comprimento de onda dele. Carlos comportava-se como um homem de 60 anos, incrivelmente mais velho para a idade que tinha na altura.

Qual é o acontecimento mais devastador do comportamento de Carlos para com Diana ?

Acho que ele não precisava de ter humilhado Diana publicamente como o fez. Acho que foi absolutamente desnecessário quando ele mudou, virtualmente, Camilla para Highgrove enquanto ainda estava casado e como o carro dela estacionado com frequência junto à casa do casal, quando Diana estava fora.

Mas Diana não está inocente em tudo isto. Qual é a grande mentira de Diana sobre Carlos?

Penso que uma mentira de Diana foi quando ela estava grávida de William e conta que se atirou pelas escadas abaixo para tentar o suicídio e Carlos apenas disse "Ó querida. Vê se melhoras. Eu vou caçar." De facto tudo não passou de uma ficção. Na verdade, Diana escorregou nas escadas, mas foi apenas uma queda. Houve um pouco de alarme, porque ela estava grávida, mas o médico visitou-a e garantiu que estava tudo bem.

O casamento tinha de falhar?

Não necessariamente. Penso que houve alturas, particularmente perto do fim, quando parecia haver o início de um possível entendimento, quando Diana já era uma mulher mais madura. Não era apenas uma princesa, uma estrela global e uma mãe com 21 anos de idade - o que é incrível, quando se pensa nisso -, ela também tentou resolver o problema tão complexo de um marido que tem uma amante. Nesta época, estava perto dos 30 anos, tinha amadurecido, tinha os seus casos amorosos e penso que estava perto de aceitar uma trégua. Mas, infelizmente, a presença de Camilla era demasiado forte. Sabe, Camilla lutou muito, era extremamente obstinada, nunca desistiu. Carlos também não queria que ela desistisse.

Toda a exposição pública da intimidade de Carlos com Camilla prejudicou o casamento?

Diana teve de lidar com uma situação de mentira. Sabe, ela era adorada, e Carlos mantinha uma relação escondida com uma mulher que ele apenas dizia ser uma amiga, e era óbvio que não era. As pessoas ficaram muito zangadas com ele por causa disso.

Descreve Dodi Al Fayed como um egípcio desleixado. O que descobriu sobre Dodi?

Apercebi-me simplesmente de como ele era manipulado pelo pai. Ele queria casar com outra rapariga, mas o pai disse-lhe que seria melhor mudar-se para o sul de França e levar Diana. Pensei que ele fosse mais independente, que arriscava mais, mas afinal não era.

Escreve muito sobre a noite do acidente.

Quis saber e escrever o mais que pude sobre o acidente. Havia três mitos sobre a morte de Diana. Um era: poderia ela ter sido assassinada? Outro era: será que se o tratamento médico tivesse sido melhor poderia ter sobrevivido? O terceiro era: a imprensa matou-a? Era importante saber se havia ou não a quem culpar. E cheguei à conclusão de que, se houve um culpado, este foi Dodi Al Fayed. Havia centenas de opções para evitar uma exposição pública nessa noite. Mas, em vez disso, eles foram do aeroporto para a Villa Windsor, depois para o apartamento e depois do apartamento para o Hotel Ritz. Dodi foi incrivelmente estúpido nessa noite ou, fora de juízo, apenas queria ser seguido, quem sabe? Podemos culpar os paparazzi num sentido amplo e, de facto, eles foram implacáveis e deviam tê-los deixado em paz, mas de facto o seu trabalho é perseguir figuras públicas e Dodi poderia ter evitado isso naquele dia fatídico.

Diana vai permanecer na História?

Isso é um dado certo. De facto, Diana suscitará cada vez mais interesse porque o seu filho William vai sentar-se no trono de Inglaterra. Ela foi a sua mãe, a mãe do futuro rei e penso que ele como Rei vai querer sempre honrá-la, o que já sucedeu com o concerto do passado 1 de Julho em Wembley.

Acabou de mencionar William. O que lhe parece a relação dele com Kate Middleton?

Fiquei fascinada porque pensei que a história de Diana se repetiria. Todos assumem que William terminou a relação com Kate Middleton, mas as minhas fontes dizem-me que Kate manteve-se afastada por uns tempos, porque começou a viver uma experiência semelhante à de Diana, isto é, à medida que se tornou mais procurada pela imprensa, a família real começou a mostrar o seu desagrado. Quem quer que case com William vai ter uma vida difícil, em especial se for uma mulher bonita. A minha esperança é que William case com uma feia, mas que faça um bom trabalho e que, esperançosamente, os media não tenham interesse por ela, o que permitirá que sejam felizes.

Qual a natureza da sua relação com Diana?

Almocei com ela antes de morrer. Mas não era uma amizade.

O que achou dela?

Bem, ela mudou imenso. A minha primeira conversa com Diana foi logo após o casamento e já nessa altura ela tinha charme, era querida, uma rapariga de grande afecto e algo de inocente, mas no fim tornou-se numa mulher sofisticada, poderosamente atraente, uma linda estrela de cinema. Ela tinha algo de poderosamente atractivo e algo de profissional também.

Mereceu ser a mulher mais famosa do mundo?

Sim, era muito mais bonita do que alguém possa imaginar. A combinação da sua altura, a figura e os incríveis olhos azul-cobalto, o seu traço britânico delicado, era absolutamente irresistível. Em segundo lugar, tinha um dom de fazer com que as pessoas doentes ou pobres, que ela visitava, se sentissem bem com a sua presença. As pessoas falavam sempre sobre a sua força, a energia que Diana lhes tinha transmitido. E isso, de facto, é um dom.

As pessoas falavam do facto de ela não poder estar à altura do seu papel, mas, em sua opinião, Diana tinha inteligência emocional?

Tinha uma inteligência emocional fantástica. Era impecável na forma como geria o seu papel como princesa de Gales. Mas fê-lo de forma instintiva, fê-lo com graça, com encanto, com profissionalismo. Trabalhou arduamente nisso, de facto. Ela foi muito útil à monarquia. Ela foi, como disse [o historiador e jornalista] Paul Johnson, a nossa maior figura real desde a rainha Vitória.

EXCLUSIVO 'Diário de notícias'

DN, 28-8-2007
 
De como limpava a casa de banho até à obsessão do peso

ISABEL LUCAS

A vasta biblioteca dedicada à princesa Diana, que inclui centenas de títulos produzidos ao longo da sua vida, mas sobretudo depois da sua morte no túnel de Alma, vai ter este ano um aumento substancial de volumes. O número redondo que assinala a data do acidente que a vitimou é pretexto para novas edições, reedições e originais que tentam explorar o pouco ou muito que ainda não se sabe sobre a mãe do herdeiro do trono britânico. Assim, ao longo de 2007, são publicados 12 novos títulos sobre aquela que foi Diana de Gales.

Entre as novidades, além do mediático Crónicas de Diana, de Tina Brown, está, por exemplo, Diana, The Intimate Portrait, de Judy Wade, onde os amigos descrevem pormenores da personalidade e da vida da princesa. Tão reveladores como o modo como limpava a sua casa de banho, como se preocupava obsessivamente com o peso, ou os preparativos do casamento real com Carlos, em 1981. Os amigos contam ainda que, pouco antes de morrer, terá tido uma violenta discussão com o namorado Dodi.

A literatura sobre Lady Di inclui ainda The Ancestry of Diana, Princess of Wales. No caso, o autor, Richard K. Evan, traça a genealogia da ex-celebridade e encontra ancestrais de Diana nas ilhas britânicas, Norte e Leste da Europa, mas também nos Estados Unidos e no Extremo Oriente.

Diana, an Amazing Life: The People Cover Stories, 1981-1997 pretende reconstituir a vida da princesa a partir da recolha de artigos publicados sobre ela na revista People. Sem sair da imprensa, Diana: The Portrait - Anniversary Edition é a recolha, da parte de Rosalind Coward, de mais de 200 entrevistas, ilustrada por mais de 400 fotografias. Compilado por Mem Mehmet, Diana in Art reproduz, por sua vez, retratos da princesa feitos por 150 artistas. Larry King - o próprio - assina The Peoples Princess, em que pessoas que conheceram Diana partilham os seus testemunhos sobre a própria. Diana Style, de Colin McDowell, é uma viagem pela moda segundo Lady Di. Em After Diana, Christopher Ander promete "revelações estarrecedoras" sobre, por exemplo, o relacionamento entre Diana, Camila, Carlos, e os príncipes William e Harry.

É uma Diana de múltipla oferta.

DN, 28-8-2007
 
Quando o 'casamento do século' se transformou em divórcio

BRUNO PORTELA Londres

Isabel II é criticada por não ter protegido Diana nos primeiros tempos
A presença de Camilla Parker-Bowles foi uma constante na relação entre Diana e Carlos. De tal modo, que a princesa dirá, mais tarde, que "havia mais alguém sempre presente".

Esse "alguém" era uma amiga de longa data de Carlos. Os dois partilhavam interesses comuns, como a paixão pelos cavalos, o interesse pelo pólo e a caça. Apesar de não ser muito bonita, Camilla exercia uma espécie de magnetismo sobre os homens e a sua grande autoconfiança parecia atrair Carlos, que a admirava e invejava ao mesmo tempo.

De acordo com o biógrafo de Camilla, Penny Júnior, "ela estava apaixonada e teria casado com ele, mas Carlos nunca lhe pediu. Só quando ela casou com um oficial da cavalaria, Andrew Parker-Bowles, é que Carlos percebeu o que tinha perdido".

Por outro lado, a jovem e ingénua Lady Diana Spencer era a resposta às preces da família real. Mas nunca ninguém disse que ela era a "mulher certa" para Carlos, mas, mais importante, que era "adequada" para um casamento real. Por isso, dizem os críticos da Rainha Isabel II não se perceber por que é que esta não apoiou Diana nos primeiros tempos nem mostrou preocupação em protegê-la das investidas dos media.

Desde muito cedo, Diana compreendeu "que havia mais alguém sempre presente. Nós ficávamos muito tempo em casa dos Parker-Bowles. Camilla sabia muito daquilo que se passava na nossa vida privada e acabei por entender o que se passava entre eles".

Diana garantiu mais tarde ter ouvido uma conversa telefónica entre o príncipe e Camilla em que ele dizia que "aconteça o que acontecer, hei-de amar-te sempre".

Acontecimentos como estes acenderam uma chama de ciúme e desconfiança em Diana. Mesmo o nascimento do príncipe William, em 1982, parecia ser uma alegria provisória. Carlos comprou uma casa de campo perto da casa dos ParkerBowles. Quando os príncipes, em Fevereiro de 1987, estiveram em Portugal, ficaram hospedados em quartos separados.

No livro A Verdadeira História de Diana, de 1992, Camilla é apontada pela primeira vez como a amante de Carlos. Precisam-se os contornos do Camillagate, que se torna centro de atenções em toda a imprensa. Cinco meses depois, o então primeiro-ministro britânico, John Major, anunciou a separação.

Em 1994, o príncipe Carlos deu um entrevista televisiva, onde admitiu ter sido infiel, mas só depois da sua relação "estar irreversivelmente condenada ao fracasso". Um ano mais tarde, Diana dará a sua versão dos acontecimentos: "Éramos três no casamento, por isso, acho que era uma multidão", disse numa entrevista concedida à BBC.

O divórcio foi oficializado em 1996. Um ano depois, Carlos dará uma festa para celebrar o 50.º aniversário de Camilla.

DN, 28-8-2007
 
A CONSPIRAÇÃO QUE NÃO MORRE

ANTÓNIO OLIVEIRA E SILVA, Paris

Teorias sobre morte provocada de Diana continuam a surgir
A morte da "princesa do povo"na noite de 30 para 31 de Agosto de 1997 em Paris abriu caminho à imediata santificação mediática, a que não faltaram sequer teorias da conspiração sobre o modo como veio a falecer.

Serviços secretos, interesses de Estado e da família real britânica, um possível filho de Dodi al-Fayed ou a conversão de Diana ao islão estão na base das principais teorias surgidas ao longo dos anos. Sucessivamente neutralizadas pelas conclusões dos inquéritos, ressurgem mais tarde com novos argumentos. As investigações em curso deverão alimentar novas especulações sobre os acontecimentos em Paris há uma década.

Os principais defensores de que Diana e Dodi foram assassinados são os pais deste e também os das outras vítimas.

Uma das principais teorias é a de que as amostras do sangue do motorista, Henri Paul, teriam sido manipuladas. As conclusões da primeira investigação francesa indicaram que Paul conduzia com um nível de álcool no sangue três vezes superior ao permitido pela lei. O resultado foi posto em causa por uma especialista britânica contratada pela família de al-Fayed. A resposta das autoridades francesas não se fez esperar e uma análise detalhada aos resultados foi levada a cabo. O novo teste confirmou o elevado grau de álcool no sangue do motorista, trazendo um novo dado para a investigação: este tomava anti-depressivos, o que potenciaria o efeito do álcool e tornaria a condução ainda mais perigosa.

Um outro dado: as amostras demonstravam a existência de elevados níveis de monóxido de carbono no corpo do motorista, suficientes para lhe neutralizar a capacidade de reacção.

Uma segunda tese é de que Diana teria sido assassinada pouco depois do acidente no túnel de Alma. Um dos grandes defensores desta teoria é o pai de Dodi al-Fayed. Para o proprietário dos armazéns Harrods, a princesa e o seu filho foram assassinados pelos serviços secretos britânicos, obedecendo a ordens do duque de Edimburgo, marido de Isabel II e pai do príncipe Carlos. Para al-Fayed, o duque de Edimburgo seria "suficientemente racista para não aceitar que os seus netos [os filhos de Diana] tivessem irmãos árabes ou de religião muçulmana".

Outras razões para o assassinato da princesa de Gales seriam o facto de que estaria grávida de Dodi, por um lado, e que tencionava casar-se com o suposto pai da criança, por outro. Diana tencionaria mesmo converter-se ao islão, segundo o pai de Dodi. Mas, segundo declarações do magistrado John Burton, "a autópsia ao corpo de Diana provou que não estava grávida no momento do acidente."

As teorias da conspiração, desautorizadas pelas conclusões dos inquéritos judiciais, ganharam novo fôlego, em 2004, quando a televisão norte-americana CBS mostrou uma reportagem em que se viam imagens da parte traseira do Mercedes completamente intacta, assim como o corpo de Diana deitado sobre os bancos traseiros do veículo.

A reportagem desencadeou uma viva reacção no Reino Unido, e permitiu que Mohammed al-Fayed conseguisse a reabertura do processo. Mas, uma vez mais, as investigações concluíram que Diana e Dodi morreram devido aos ferimentos provocados pelo acidente.

Teorias à parte, há algumas certezas. Todos os inquéritos concluíram que Paul Henri conduzia com um elevado nível de álcool no sangue. Por outro lado, Diana e Dodi não tinham colocado o cinto de segurança, ao contrário do guarda--costas de al-Fayed, Trevor Rees-Jones, que sobreviveu ao acidente.

DN, 29-8-2007
 
CERIMÓNIAS COM POLÉMICA

ABEL COELHO DE MORAIS

Figura de Diana está a ser alvo de reavaliação
A memória de Diana continua, dez anos após o trágico acidente de Paris, a gerar controvérsia, a alimentar elogios e a suscitar apreciações críticas.

Nem sequer a única cerimónia oficial - uma iniciativa de carácter restrito dos príncipes William e Henry - prevista para amanhã numa capela militar junto ao Palácio de Buckingham, escapou a esta atmosfera, ao saber-se que Camilla, mulher do príncipe Carlos, estaria presente. E que, noutro plano, o pai de Dodi al-Fayed, Mohammed al- -Fayed não fora convidado.

Outras figuras ligadas num momento ou outro à princesa e cujo nome não consta da lista de 500 convidados vieram alimentar a polémica das discriminações ordenadas pela família real, garantindo que o seu afastamento se devia ao facto de terem permanecido "fiéis" a Diana após o divórcio. Argumento aceitável em certos casos, mas que dificilmente colhe para Paul Burrell, o mordomo que mais aspectos da vida privada da princesa divulgou nos seus livros. Em muitos casos, com lamentável mau gosto.

Sarah Ferguson, a outra divorciada na família real, eliminou qualquer controvérsia ao anunciar que não estaria presente na cerimónia, que será transmitida em directo por algumas televisões britânicas.

Por outro lado, é a própria figura de Diana a ser alvo de reavaliação. Um editorial de ontem no The Daily Telegraph escrevia que "santa Diana dos desgraçadinhos ainda é capaz de causar perturbações de além túmulo".

A referência algo sarcástica do jornal "às perturbações" causadas por Diana, "que estava à hora errada no sítio errado com o homem errado", ligam-se à forma como "o seu legado emocional é glorificado de uma forma que não é realmente saudável". Uma referência indirecta à atitude das fileiras de admiradores e defensores da Princesa do Povo. Estes multiplicaram declarações públicas contra a presença de Camilla na cerimónia de sexta-feira, por vezes em tom contundente. Nos jornais britânicos chegaram a surgir notícias de ameaças e chamadas anónimas à duquesa da Cornualha depois de se saber do convite.

Assim, apesar da insistência de Carlos, de William e Henry, Camilla teve de recuar. A duquesa divulgou um comunicado explicando que a sua presença "poderia distrair as atenções do propósito da cerimónia" para justificar a ausência.

A escritora Germaine Greer, depois de declarações ácidas sobre a figura de Diana na passada semana, escreveu um artigo no The Sunday Times, em termos demolidores para a princesa. Greer chega a considerar que "tentar passar por um cordeiro sacrificial", como Diana se apresentou após a separação, "é ignorar que a sua família fazia parte da corte e que ela sabia o que a esperava". Aliás, se Diana soubesse história, "teria percebido, de imediato, que casar com um príncipe de Gales é caminho certo para a infelicidade (...), por isso, a sua irmã, Sarah, disse não a esse emprego, mas também Sarah sempre foi mais inteligente do que Diana."

DN, 30-8-2007
 
'NÃO VAMOS CELEBRAR OUTRA DATA DE DIANA'

BRUNO PORTELA, Londres

Entrevista com Joe Little, editor executivo da revista Majesty

Como definiria Diana?

Era uma personagem muito complexa. Quando estava numa função oficial, era muito profissional, sabia perfeitamente o que as pessoas esperavam dela. No entanto, para um observador mais atento, percebia-se que nem sempre ela estava no seu melhor. Mas em geral irradiava uma beleza e bondade que atraíam as pessoas, porque conseguia chegar a toda a gente, a todos os níveis. Diana tinha uma grande empatia por aqueles que passam mais dificuldades e isso tornou-a conhecida na altura, um reconhecimento que dura até aos dias de hoje.

Como é que ela mudou desde o casamento com Carlos até aos seus últimos dias?

Eles eram muito felizes juntos e foi só depois do nascimento do príncipe Henry, em 1984, que o casamento começou a desmoronar-se. Ela sabia que havia outra pessoa envolvida na relação, mas nunca deixou de amar Carlos. Só que esse amor transformou-se em algo diferente no final da vida dela: mais pareciam irmãos. Quando Diana entrou na família real era muito nova e talvez não tivesse tido a ajuda e o apoio necessários, mesmo para alguém com um passado aristocrático. Ela casou-se como uma menina e amadureceu, tornando-se ciente do seu próprio valor e lugar na sociedade. Diana podia ser manipuladora nos últimos anos da sua vida, porque sabia usar os media em seu proveito, para obter a máxima publicidade.

Foi uma escolha deliberada?

Foi algo que aprendeu com a experiência porque ela era muito ingénua e não fazia ideia de como iria ser popular. Pouco tempo depois, as pessoas estavam muito mais interessadas nela do que no marido. Diana eclipsou todos os outros membros da família real, por causa da sua juventude e beleza. Teve dois filhos e durante muito tempo a sua vida era considerada pelo público como um conto de fadas, algo que, sabemos agora, não correspondia verdadeiramente à realidade.

Porque é ainda tão popular?

Diana foi comparada muitas vezes a Marilyn Monroe, porque ambas morreram tragicamente novas. Foi a idade e a forma como morreu, assim como os dois filhos, que fazem com que ainda se fale de Diana. As cerimónias que marcam o 10.º aniversário do seu desaparecimento são únicas. Isto nunca tinha acontecido com nenhum outro membro da família real. As circunstâncias são especiais e é certamente o desejo de William e Henry que se assinale esta data. A rainha mãe morreu há pouco mais de cinco anos e não houve nenhum serviço religioso a marcar o 5.º aniversário da morte, assim como não irá haver no 10.º aniversário. Acho que não vamos celebrar mais nenhuma data da morte de Diana. Esta é a última cerimónia de um fenómeno muito raro.

Qual era a relação de Diana com a família real?

O príncipe Carlos pensou que Diana iria assumir um papel secundário e certamente não esperava que ela se tornasse tão popular. Aquilo que aborrecia a Rainha era o não cumprimento das regras e do protocolo da família real. Um bom exemplo aconteceu quando Diana levou o príncipe William, então um bebé, numa visita à Austrália, apesar de as regras dizerem que o filho deveria ter sido deixado no país. Após algum tempo, a Rainha deixou de saber lidar com Diana, e ela apercebeu-se de que nem sempre tinha de fazer tudo aquilo que Isabel II lhe dizia.

Qual a reacção do público às relações extraconjugais de Carlos e Diana?

As pessoas não compreendiam como é que Carlos poderia ter uma amante, quando tinha uma mulher tão bonita e jovem como Diana. Carlos foi o primeiro a admitir publicamente que cometera adultério, porque o seu casamento não estava a resultar. Um ano depois, foi Diana que fez a mesma coisa, o que levou a Rainha a pedir que o casal se divorciasse. Muita gente ainda vê Camilla como a terceira parte e acreditam que, se ela tivesse saído de cena, talvez o casamento tivesse resultado.

A família real deveria saber guardar melhor os seus segredos?

Quando Carlos chegar ao trono, vai haver muito menos respeito por ele do que havia pela mãe, quando ela se tornou Rainha, aos 26 anos. Na altura, sabíamos muito pouco sobre ela, situação que ainda agora se mantém, enquanto sabemos em demasia sobre o seu filho. Vivemos numa era muito diferente, o dinheiro pago pelos jornais torna muito difícil manter segredos, porque há muita gente que trabalha nos palácios reais, disposta a contar tudo o que sabe em troca de dinheiro.

Depois de Diana, o que mudou na relação dos media com a família real?

A imprensa foi culpabilizada pela morte de Diana, algo que a meu ver foi uma reacção extrema. Houve um acordo de princípio entre a imprensa, para que as fotografias dos paparazzi não fossem usadas e, em grande medida, William e Henry puderam continuar as suas vidas sem serem perturbados. No entanto, nos últimos dez anos a situação tem tendência a voltar a ser o que era. No início deste ano, a namorada de William, Kate Middleton, foi alvo de uma perseguição dos fotógrafos, comparável à de Diana antes de casar. Ainda há um preço muito alto a ser pago por uma fotografia de William e Kate. Vários tablóides ofereciam até há pouco tempo 75 mil euros por uma foto íntima do casal.

Acredita nas teorias da conspiração em torno do desaparecimento de Diana?

Não. Acredito que foi um acidente. Diana e Dodi iam num carro em excesso de velocidade, ela não pôs o cinto de segurança e isso custou-lhe a vida. Presumo que a perseguição dos paparazzi tenha contribuído, mas nada mais.

Se fosse viva, como estaria Diana?

Planeava ir viver para os Estados Unidos e é possível que tivesse voltado a casar. Talvez pudesse ter tido mais crianças, porque sempre sonhou ter uma menina. Talvez tivesse continuado o seu trabalho humanitário. Diana sabia como ninguém que a sua presença poderia ajudar as pessoas. Esse é o seu principal legado.

DN, 31-8-2007
 
DEPOIS DE DIANA

Sena Santos
jornalista

Dez anos depois, o que resta do mito Diana? "Percebe-se, como sugeriu Germaine Gerer, que chegou a hora de começar a demolir o mito" [La Repubblica]; "Lentamente, o tempo apaga a imagem da personagem que mais influenciou e acelerou a modernização do Reino Unido depois da II Guerra Mundial" [La Tribune]; "Diana desapare-ceu da paisagem, começa a aparecer a indiferença. A nação britânica está hoje embaraçada pela sua identificação com uma personagem é verdade que plena de compaixão, mas manipuladora, é verdade que vítima da monarquia, mas também da mania da perseguição"[Le Monde]; "agora, quem mais chora a sua falta são os tablóides e as revistas do coração" [El Universal].

The Independent: "Os 'paparazzi' são o lado negro da imprensa livre, mas não podemos impedi-los de actuar nos lugares públicos. A realeza e as estrelas devem saber viver com eles. Podemos detestá-los, mas eles uma realidade da vida."

O que mudou depois daquela intensa semana de há dez anos? "O grande cortejo da corte está agora aligeirado dos aspectos de que o povo menos gostava. O séquito está reduzido e a monarquia já se mistura com o povo. Os filhos de Diana foram cruciais para conter a baixa na popularidade da Rainha" [El País]; "a monarquia aprendeu a lição" [Los Angeles Times]; "Londres compreendeu que era preciso virar a página: mudar a relação da monarquia com o país e tratar de deixar que o pó cubra a memória de Diana" [The Boston Globe]; "Impôs-se mensagem de reconciliação entre a rainha e o povo" [Le Soir].

"Nos EUA, a cadeia de televisão MTV escolheu John Ashbery, poeta com 80 anos, para promover o grande concurso de poesia para universitários" [The New York Times];"A ideia faz ponte entre gerações. Os poemas de Ashbery transportados para vídeo ganham nova vida na MTV. A velha cultura pode não ficar perdida na era do iPod" [The Boston Globe].

DN, 31-8-2007
 
'ELA FOI A MELHOR MÃE DO MUNDO'

BRUNO PORTELA, Londres

Decorreram serviços memoriais em outras cidades do Reino Unido
Num discurso carregado de emoção e sentimento, o príncipe Henry, o filho mais novo de Diana, descreveu-a como a "melhor mãe do mundo", durante o serviço memorial do décimo aniversário da morte da princesa. Falando em seu nome e do irmão mais velho, William, o príncipe disse que a morte de Diana foi "indescritivelmente chocante e triste", mudando as suas vidas para sempre. "Quando estava viva, assumimos como garantido o seu amor pela vida, as suas gargalhadas, alegria e boa disposição", disse Henry (popularmente conhecido por Harry) e acrescentou que ela era "guardiã, amiga e protectora" de ambos.

O príncipe, que tinha 12 anos quando a mãe morreu, afirmou ainda que ele e o irmão pensam "nela todos os dias", falam sobre ela e riem "juntos das memórias dela". "Queremos que se lembrem de Diana como ela era: divertida, generosa e inteiramente genuína", disse Henry.

Os príncipes escolheram a Capela dos Guardas (Guards' Chapel) em Westminster, no centro da capital britânica. O sítio fica próximo da abadia de Westminster, onde se realizou o funeral de Diana, e do Palácio de Buckinhgham, onde a princesa beijou o príncipe Carlos no casamento real, presenciado por uma multidão em euforia. Após o discurso de Henry, que levou às lágrimas muitos dos presentes, o bispo de Londres, o reverendo Richard Chartres fez um discurso, no qual definiu a data como o "ponto em que Diana deve descansar em paz". A Rainha, o príncipe de Gales e a família de Diana, os Spencer, juntaram-se aos 500 convidados, para celebrar a existência da princesa, que perdeu a vida a 31 de Agosto de 1997. Depois da cerimónia, William e Henry acompanharam o pai, a Rainha e o duque de Edimburgo aos carros. No momento, presenciado por uma multidão, os príncipes despediram-se com boa disposição dos convidados à porta da capela e Henry terá mesmo trocado uma piada com as suas primas, as princesas Eugenie e Beatrice.

O dono dos armazéns Harrod's, Mohammed Al Fayed, pai de Dodi (que morreu com Diana em Paris), observou dois minutos de silêncio na sua loja. Al Fayed permaneceu em frente da estátua de bronze de Diana e de Dodi, acompanhado por clientes e funcionários. No final do tributo, Al Fayed, que mantém ter havido uma conspiração para matar os dois, foi aplaudido pelos presentes. Ele não foi convidado para o tributo oficial mas a sua filha Camilla representou a família.

No exterior do palácio de Kensington, última residência de Diana, milhares de pessoas passaram durante o dia para deixarem flores, postais e lembranças. Outro tributo foi realizado na residência da família Spencer em Althorp, a norte da capital, onde Diana está sepultada numa ilha. No resto do país, houve ainda serviços memoriais em muitas cidades.

1-9-2007
 
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