27 setembro, 2007

 

27 de setembro


Vulcão dos Capelinhos





http://pt.wikipedia.org/wiki/Vulc%C3%A3o_dos_Capelinhos

http://www.vulcaodoscapelinhos.org/

Comments:
Filho de baleeiro ainda sente remorsos

JOÃO FERREIRA, Boston

Não fosse o vulcão dos Capelinhos, João Carlos Pinheiro acha que teria acabado na guerra do Ultramar, em Angola. A erupção trocou-lhe o destino. De caras com um futuro incerto no Faial, os pais tiraram partido da legislação que permitiu a muitos faialenses emigrar para os EUA. Com apenas 17 anos, foi contrariado para os EUA em 1959. "Eu chorei muito quando saí do Faial. Tinha os meus amigos, velejava." Pinheiro, residente em New Bedford, Massachusetts, a sul de Boston, é hoje proprietário de uma grande oficina de bate-chapas na cidade baleeira e muito conhecido no seio da comunidade portuguesa da zona. Mas aos 17 anos, como estudante no quinto ano do Liceu da Horta, aspirava completar os estudos e ingressar na carreira militar. O vulcão alterou tudo. O pai era baleeiro no Capelo, e a erupção cobriu de cinza o porto da localidade, inviabilizando a ancestral arte açoriana. "Cá dentro sinto um remorso, já que fui obrigado a abandonar a ilha que adorava, onde nasci", diz agora.

DN, 27-9-2007
 
3 perguntas a... Teresa Ferreira (COORDENADORA DO OBS. VULCANOLÓGICO E SISMOLÓGICO DA UNIV. DOS AÇORES):

"Voltará a haver erupções nos Açores"


Hoje, uma erupção como a dos Capelinhos seria previsível, pelo menos horas antes?

Há cerca de dez anos que o Centro de Vulcanologia e Avaliação de Riscos Geológicos da Universidade dos Açores tem vindo a instalar aqui várias redes de monitorização para vigilância sismovulcânica. A actividade sísmica é dos principais indicadores de alterações dos sistemas vulcânicos e a informação acumulada nestes anos já nos permite ter algum conhecimento sobre o comportamento dos vários sistemas vulcânicos. O registo de qualquer anomalia é alvo de atenção redobrada para se identificarem sinais de reactivação do sistema vulcânico. É com base nessa informação que se emitem avisos para o Serviço Regional de Protecção Civil, bombeiros e população. Mas o tempo entre os primeiros sinais de reactivação e a ocorrência de erupções é muito variável para cada vulcão, de horas até anos. E nem sempre a reactivação de um sistema vulcânico resulta em erupção.

É uma certeza que voltará a haver novas erupções nos Açores?

Existem aqui vários vulcões activos que poderão entrar de novo em erupção. Contrariamente a outros vulcões como o Etna, na Itália, que frequentemente entram em actividade, nos Açores os vulcões activos encontram-se num estado dormente sendo as suas erupções na maior parte dos casos intervaladas de centenas de anos. Sabe-se quais são os sistemas vulcânicos que poderão entrar em erupção e a probabilidade de isso suceder, mas não é possível afirmar qual dos vulcões activos será o próximo a entrar em erupção. É fundamental continuar a melhoria das redes de monitorização para tornar possível antecipar uma ocorrência.

Que tipo de monitorização é feita?

Há duas abordagens distintas: conhecer o comportamento do vulcão no passado e fazer a sua vigilância através da monitorização, com diferentes tipos de sensores no terreno em contínuo. São usadas técnicas no domínio da geofísica, da geodesia (deformação crustal) e geoquímica, das quais a mais conhecida é a monitorização sísmica. O desenvolvimento tecnológico dos últimos anos, com novas técnicas de monitorização e sistemas de transmissão de dados, possibilita aceder a mais informação em tempo real, o que é essencial para uma resposta mais eficiente em situação de crise.

DN, 27-9-2007
 
TERROR DO PASSADO ALIMENTA TURISMO

PAULO FAUSTINO, Ponta Delgada
Pelas 06.45 do dia 27 de Setembro de 1957, o violento despertar do vulcão expeliu para o ar, a partir do mar (a 300 metros da ponta dos Capelinhos), uma sucessão de bombas de lava e de cinzas que fez com que parte dos 30 mil habitantes da ilha ficasse com casa soterrada e ainda visse alguns dos seus campos de cultivo destruídos. Sem haveres e dominados pela sensação de terror que parecia nunca mais ter fim - o vulcão manteve-se activo durante os 13 meses seguintes - não lhes restou outra alternativa: a emigração, em vagas de milhares, para a América do Norte. O vulcão dos Capelinhos foi o responsável pela maior onda de emigração nos Açores, sobretudo com destino aos Estados Unidos da América. Hoje assinala-se o 50.º aniversário sobre a erupção vulcânica dos Capelinhos.

O traumático fenómeno causou uma "sangria" na população, ainda visível neste momento quando se constata que a população faialense é cerca de metade da existente há meio século. Passaram-se os anos e o que antes era a angústia generalizada passou a ser hoje um sentimento, também ele generalizado, de oportunidade. Os responsáveis, sobretudo do Governo Regional, Câmara Municipal da Horta e agentes económicos, não escondem mesmo o "esfregar de mãos" pelos proveitos económicos que a erupção pode e já está a gerar.

É por isso que as comemorações do 50.º aniversário do vulcão dos Capelinhos valorizam os aspectos socioeconómicos da erupção e a sua componente ambiental e turística. Afinal, a actividade vulcânica submarina, única no mundo das ciências vulcanológicas por ter sido fotografada, observada, estudada e interpretada desde o início até ao seu adormecimento, formou uma pequena ilha que se ligou à do Faial. Pela sua complexidade geológica, até porque foi declarada área de paisagem protegida de elevado interesse biológico e geológico, tem motivado a realização de excursões científicas (regionais, nacionais e internacionais) ao local. Isto para não falar das romarias turísticas ao longo do ano.

Para a população da Horta, o vulcão dos Capelinhos é um símbolo histórico, paisagístico e ambiental inalienável. Que, fundamentalmente, perpetua a memória colectiva da ilha e do próprio arquipélago.

DN, 27-9-2007
 
Emigrantes 'melhoraram a vida com o vulcão'

Acabada de completar o magistério primário e com emprego seguro no vale encantado das Setes Cidades, em São Miguel, Maria Lindia nunca pensou em emigrar. Mas a erupção já havia obrigado os pais a trocarem o epicentro do vulcão, a freguesia do Capelo no Faial, por East Providence, Rhode Island. Em 1962, incitada pelos pais, Lindia decidiu visitá-los. "Cheguei a Boston e tive a sensação de que queria ficar cá," recorda Lindia, de 62 anos. "Não queria saber da América para nada e fui talvez uma das pessoas que se dedicou mais à vida americana."

Lindia diz isto porque não baixou os braços depois de chegar aos EUA, apesar de ter trabalhado na fábrica de brinquedos da Hasbro nos primeiros tempos. Cedo aprendeu a dominar o inglês e fez o ensino superior, tendo-se tornado professora secundária. Casou, teve dois filhos e hoje trabalha para o estado de Rhode Island, no Ministério da Educação. "Foi uma catástrofe, mas, como dizemos, os males vêm por bem. Quase todos melhoraram a sua vida em resultado do vulcão".

DN, 27-9-2007
 
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