16 setembro, 2007

 

Agostinho da Silva


Um filósofo com poesia dentro




http://pt.wikipedia.org/wiki/Agostinho_da_Silva
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AGOSTINHO DA SILVA: DIÁLOGO TRANS-RELIGIOSO

Anselmo Borges
padre e professor de Filosofia

No termo das celebrações do centenário do seu nascimento, quereria deixar uma homenagem a Agostinho da Silva, filósofo, poeta, teólogo, fundador de universidades, místico, inspirador do diálogo intercultural e inter-religioso, sugerindo, numa primeira abordagem, a leitura de Agostinho da Silva. Uma Antologia, de Paulo Borges. Sublinho aqui o seu contributo para o diálogo inter e trans-religioso.

Agostinho da Silva era um homem marcadamente religioso, mas no sentido mais profundo de místico. A religião não tem, antes de mais, a ver com instituições religiosas ou mesmo teologia: "Se os homens acreditassem bastante em Deus não haveria tanta teologia, tanto rito, tanta disputa entre as várias crenças."

Na experiência mística, é-se encontrado pelo Absoluto. Ora, Deus enquanto Absoluto não é isto nem aquilo, é nada de todas as determinações finitas, e, assim, plenitude, "nada que é tudo". Sobre ele não há palavras, só o silêncio.

O melhor símbolo de Deus seria o do Espírito Santo, o centro donde irradiam e para onde convergem todas as religiões, como numa roda cujo eixo é imóvel: "Como o ponto importante e indispensável de uma roda é exactamente aquele que nela se não move, assim toda a actividade religiosa vem do Espírito, nenhuma religião é sem ele concebível e todas a ele se dirigem."

Quando se foi encontrado pelo Absoluto, então "repete o Espírito, absoluto de existência, que Deus tanto está na missa cristã como na ablução muçulmana, tanto se manifesta pelo orixá africano como pelo taoismo chinês, tanto resplandece nas danças do Xingu como nos mitos de Timor; repete, ao considerar os ateus, e não esquecendo que são ateus os budistas, ao considerar os agnósticos ou os que se dizem anti-religiosos, quando são apenas contra o explorar-se o que é religioso com objectivos que o não são, repete o Espírito que Deus brilha no reverso das medalhas exactamente como no anverso; e repete o Espírito que sendo obrigação essencial de cada um converter- -se à sua própria religião, numa vontade contínua de aperfeiçoamento seu e dela, nunca será plenamente religioso se não entender cada uma das outras religiões como se sua fosse".

"Quem tem não é", escreve de modo duro. Para sublinhar que a experiência mística da unidade cósmica e divina pressupõe o despojamento total de toda a propriedade - de coisas, de pessoas, do eu próprio. Só a nenhuma ideia de propriedade, capitalista ou socialista, está de acordo com o Espírito. De qualquer forma, Agostinho da Silva, pensador libertário, esperava a concretização da utopia de que pela automação se criasse uma economia de tal modo abundante e livre que fosse possível a concretização do Reino de Deus, um reino de homens livres, santos e criadores: "Um dia nada será de ninguém, pois todos acharão, por criadores, que têm tudo."

No quadro de um ecumenismo autenticamente católico, universal, inter e trans-religioso, exige-se das Igrejas que sejam "as destemidas naus dos grandes místicos, que nunca foram, em religião alguma, os indiferentes, os falhados ou os débeis mentais que fantasiam os críticos de pouco aviso e ainda muito menor erudição". Para isso, não podem elas ceder à tentação de interesses económicos ou políticos, "sempre tão ligados entre si", que as "capturem como escravas" - "escravidão que, parece, muito agrada a muitas".

Quando se experienciou que tudo é no Uno, passa-se "da província ao Universo" e o ecumenismo torna-se autenticamente católico. A Igreja não se importará então apenas com os cristãos, mas irá "aos muçulmanos, aos animistas, aos budistas ou aos xintoístas, e, ouso dizê-lo, aos agnósticos e aos ateus, ensinando a todos fé na vida, que Deus é, esperança no futuro, que Deus já é, só que ocultamente a nossos limitados olhos, e uma caridade que se debruce sobre os problemas espirituais do homem, compreendendo todas as angústias e amparando todos os desvios".

O caminho do Homem é religar-se ao abismo divino do Uno: "Crente é pouco/sê-te Deus/e para o nada que é tudo/inventa caminhos teus."

DN, 15-9-2007
 
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