19 setembro, 2007

 

Aquilino Ribeiro


Panteão Nacional, a despropósito.

A notícia:

http://videos.sapo.pt/voBA5ylUsl9LVladD6ze

http://www.correiodamanha.pt/noticia.asp?id=258570&idselect=13&idCanal=13&p=200


O honrado:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Aquilino_Ribeiro


A escrita(?):

"O VAGANAU

Quando, nesse dia, a grande zorata se escabajou, fachona e esampada, lastraram-se os macanjos, não os mais coitanaxes, mas os futres. As récegas, ainda mal forjicadas por uns chambris sem galilé, experluxavam todas murzangas e resulhas, debaixo do mesoneiro.
Perto, esbagoavam-se as caiporas no seu ousio brês e solerte, empanzinando o mandil das chedas mais cainhas, enquanto o bom do gerifalte, cada dia mais zambro e somítego, estroncava zarcamente o bajoujo.
Onde se entroncava a sancadilha, onde? Empanizava ela com os pegamaços ainda cóscoros, ou alapardava-se nos pelouzanos do galaroz? Malditas búseras, a que nem os piores malcatrefes refertavam. O jagodes choutou novamente as rópias de seu já velho taró e engabelou-se no ralão de codeço.
Nunca mais se eslavoiraram as lagóias. E desde esse dia a calhatroz esmoeu toda a sirga que matejara nos olharapos ladravazes da pandorga.

Este texto foi composto com vocábulos retirados de obras ficcionais de Aquilino Ribeiro."

in
http://aspirinab.weblog.com.pt/2007/09/


O monumento:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Pante%C3%A3o_Nacional

Comments:
Aquilino Ribeiro no Panteão

Por decisão do Parlamento, os restos mortais do escritor
foram trasladados do cemitério dos Prazeres para o Panteão
Nacional, com honras de Estado.
Aquilino Ribeiro tornou-se o 10.º português a ser aí sepultado.
À cerimónia, assistiram o Presidente da República, Cavaco
Silva, o Primeiro-ministro,
José Sócrates, e o presidente da Assembleia da República,
Jaime Gama, além dos familiares do homenageado e outros
convidados.
A Renascença conversou com Urbano Tavares Rodrigues, amigo
e contemporâneo de Aquilino, que recorda a vida atribulada
do escritor, nomeadamente um episódio com polícia, em
1959, quando foi alvo de um processo.
No mesmo ano, Aquilino escrevia “O Romance da Raposa”,
mas para trás ficava um estudante que abandonou o curso de
Teologia, um homem que esteve na cadeia várias vezes, da
qual fugiu frequentemente, e é mesmo suspeito de participação
no regicídio de D.Carlos e do príncipe.
Militante da candidatura de Humberto Delgado, sobre ele,
Salazar terá dito que “era contra o regime, mas um grande
escritor”.
Uma vida cheia e frenética que o levou a publicar 69 livros
em vida.
A urna chegou às 11h00 ao Panteão, onde foi recebida por
uma guarda de honra da Guarda Nacional Republicana, ao
som do hino nacional interpretado pela Banda da GNR.
A parte musical esteve a cargo da Orquestra Metropolitana
de Lisboa (OML), que interpretou, sob a direcção do maestro
Cesário Costa, composições de Luís de Freitas Branco, autor
contemporâneo de Aquilino.
Esta trasladação não foi consensual. Carlos Reis, ex-director
da Biblioteca Nacional, questiona esta decisão e pergunta por
que não foi homenageado da mesma forma o escritor Eça de
Queirós.

RRP1, 19-9-2007
 
AQUILINO CHEGA HOJE AO PANTEÃO NACIONAL

ANA MARQUES GASTÃO

Autor peninsular, Aquilino pertence agora à História
Prosador dos mais virtuosos da língua portuguesa, com uma concepção épica da terra e do ser humano que o conduzirá, nas palavras de Vitorino Nemésio, "ao surto épico do estilo", Aquilino Ribeiro (1885-1963) chega hoje ao Panteão Nacional de Santa Engrácia.

Os restos mortais do autor d' OMalhadinhas (disponível também a partir de hoje nas livrarias numa reedição da Bertrand, que lançou recentemente A Casa Grande de Romarigães) saem, às 10.00, da capela do Cemitério dos Prazeres, em cortejo automóvel. A entrada far-se-á pelo Campo de Santa Clara, do lado nascente de Santa Engrácia, monumento do Barroco Português.

À cerimónia assistirão o presidente da República, Cavaco Silva, o primeiro-ministro, José Sócrates, o presidente da Assembleia da República (AR), Jaime Gama, para além de representantes dos outros orgãos de soberania, Supremo Tribunal de Justiça e Tribunal Constitucional, e ainda familiares do homenageado e outros convidados.

Sessenta e nove livros publicados, entre os quais 17 são romances, Aquilino Ribeiro é escritor de diversos géneros, da biografia à polémica, das memórias ao jornalismo, da crónica à literatura infantil. Herdeiro do cepticismo de Voltaire e do epicurismo de Anatole France, o autor de Quando os Lobos Uivam - que lhe valeu um processo-crime por delito de opinião, e provocou sérios engulhos ao regime de Salazar (ler prefácio de Mário Soares ao livro Em Defesa de Aquilino, de Alfredo Caldeira e Diana Andringa, editado pela Terramar) -, é um beirão das terras do Demo, tão manso quanto bárbaro, terno quanto feroz, fradesco, libertário, rústico e citadino. A sua obra condensa, de facto, todo um material linguístico vigoroso, pícaro, bem fiel ao espírito peninsular e aberto ainda, como salienta Urbano Tavares Rodrigues, ao canto panteísta.

Muitas objecções se lhe levantaram por ser um escritor difícil e não é coisa dos novos tempos. Óscar Lopes, historiador da literatura e ensaísta, diz, porém, que, apesar da frasealogia correntia, Aquilino só se pode ler de dicionário ao lado: "Há, é verdade, nele, a fuga ao termo e ao giro frásico já muito impressos," o que não impede que "se não estivermos divorciados do povo rural", meçamos o alcance do vocabulário.

Helena Buescu, catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa - que hoje falará, a partir das 18.00, na AR, sobre O Malhadilhas -, sublinha que "a sua vastíssima obra, que em mais do que um aspecto podemos aproximar da de Camilo, permite-nos ver passar à nossa frente um mundo que se foi perdendo, porque pertencia ao nosso passado pré-moderno, mas por outro lado permanece em muitos dos resíduos do nosso dia-a-dia."

Para o escritor Gonçalo M. Tavares, Aquilino "talvez seja um autor não muito lido actualmente". Mas, a seu ver, "a literatura não existe sem o que está para trás", fazendo-se esta de relações, mesmo se são marcadas por desvios, afastamentos ou confrontos. Se um escritor se afasta de algo é porque esse algo existe - e tem importância.

Falhado o Nobel - nessa corrida estiveram também Torga e Ferreira de Castro - a partir de hoje ninguém poderá mais colocar Aquilino na retaguarda da história.

DN, 19-9-2007
 
Cavaco elogia Aquilino
como “grande prosador”

O Presidente da República definiu hoje Aquilino Ribeiro
como "um dos grandes prosadores da literatura portuguesa
do séc. XXI", sem fazer qualquer referência ao seu percurso
político, republicano e opositor do Estado Novo.
"Ler Aquilino Ribeiro é ler um certo Portugal, mas é também
ler o mundo", afirmou o Presidente da República nas cerimónias
de trasladação dos restos mortais do escritor para o Panteão
Nacional.
Perante familiares do autor de "O Malhadinhas" e altos dignitários
do Estado, Cavaco afirmou que esta homenagem a
Aquilino é "um acto de homenagem à cultura portuguesa"
centrou o seu discurso na obra de Aquilino, que "é o universo
português".
"Deleitamo-nos com os seus arcaísmos e os seus regionalismos
porque nos revemos neles. E porque, apesar do decurso do
tempo, continuamos a encontrar o homem português em
cada página dos grandes livros de Mestre Aquilino. No fundo,
porque ainda nos encontramos a nós próprios em obras imortais
como «A Casa Grande de Romarigães» ou «Quando os
Lobos Uivam»”, afirmou.
Para o chefe de Estado, a "vasta obra romanesca de Aquilino
Ribeiro, que retrata o mundo rural português de uma forma
ímpar", continua actual, "mesmo que desse mundo restem
apenas escassos vestígios".
No seu discurso, Cavaco Silva afirmou esperar que a sua obra
"continue a ser lida e acarinhada pelas gerações futuras".
Com a trasladação para o Panteão Nacional, Aquilino Ribeiro
junta-se aos escritores João de Deus, Almeida Garrett e
Guerra Junqueiro, aos Presidentes da República Manuel de
Arriaga, Teófilo Braga, Sidónio Pais e Óscar Carmona, a Humberto
Delgado e à fadista Amália Rodrigues.
Cerca de 500 pessoas assistiram hoje à trasladação dos restos
mortais do escritor para o Panteão Nacional, em Lisboa,
numa cerimónia pautada por discursos elogiosos à sua vida e
obra.

RRP1, 19-9-2007
 
Um grande escritor chegou ao seu lugar

Aquilino Ribeiro no Panteão, ontem, foi um momento solene e deu azo a polémica. Cavaco Silva chamou-lhe "um dos grandes prosadores da literatura portuguesa do século XX". Falava como Presidente de Portugal, que é, e não como crítico literário, que não é. Um crítico pode questionar o valor literário de qualquer escritor, mas Portugal tem de reconhecer que Aquilino é um "grande", como bem disse o Presidente. Que se defina grande: aquele patamar onde estão os outros escritores do Panteão, como Almeida Garrett, Guerra Junqueiro, João de Deus e Teófilo Braga. Nesse patamar está certamente o autor de O Romance da Raposa, O Malhadinhas e A Casa Grande de Romarigães. Mais alto, no Panteão, só Luís de Camões (que tem lá um monumento fúnebre, embora sem corpo).

Foi nessa condição, a de grande escritor, que Aquilino Ribeiro ganhou o Panteão. A polémica procurou-lhe, porém, outra condição. Aquilino é acusado de ter participado no atentado de que foi vítima o rei D. Carlos. Se é certo que o escritor esteve ligado aos meios antimonárquicos, nunca foi feita a prova da sua ligação ao regicídio de 1908. Fica o seu militantismo antimonárquico, que não pode ser argumento para lhe negar o Panteão que acolhe portugueses de afirmação partidária tão convicta como Garrett, Humberto Delgado, Óscar Carmona e Sidónio Pais.

DN, 20-9-2007
 
Apelo à leitura marca homenagem a Aquilino

"Porquê Aquilino e não Sophia ou Torga?", ouviu-se
Quem lê hoje Aquilino Ribeiro? O que sabem as novas gerações sobre o autor de A Casa Grande de Romarigães, O Malhadinhas ou Quando os Lobos Uivam? Não houve respostas, nem sequer foram feitas as perguntas. No entanto elas estiveram subjacentes em quase todas as intervenções oficiais que marcaram, ontem, a trasladação dos restos mortais do escritor para o Panteão Nacional.

A relação entre Aquilino Ribeiro e as gerações mais novas foi mesmo uma das ideias base no discurso de Cavaco Silva. Considerando-o um "escritor do Mundo", o presidente da República classificou-o como "um dos grandes prosadores da literatura portuguesa do século XX" e apelou a que a sua obra "continue a ser lida e acarinhada pelas gerações futuras". Ao contrário do que acontece, por exemplo, com Almeida Garrett - outro dos escritores que está no Panteão -, nenhum dos livros de Aquilino Ribeiro é obrigatório nos manuais de português.

O acto oficial foi marcado por discursos elogiosos ao autor de A Casa Grande de Romarigães. "Deleitamo--nos com os seus arcaísmos e os seus regionalismos porque nos revemos neles. E porque, apesar do decurso do tempo, continuamos a encontrar o homem português em cada página dos grandes livros de Mestre Aquilino", afirmou Cavaco Silva. António Valdemar, o jornalista que leu o elogio fúnebre, preferiu destacar a faceta política do escritor: "Aquilino fez da escrita um espelho do mundo e uma arma de intervenção. Foi (e é) exemplo de fidelidade à terra, de fidelidade à língua portuguesa, de fidelidade à República e à liberdade."

Intervenções elogiosas na cerimónia oficial que contrastam com algumas denúncias. Nomeadamente de Diogo Castro Mendes. O professor de filosofia aponta o nome do escritor como um dos que estiveram envolvidos na morte do rei D. Carlos. Aos microfones da TSF , o catedrático questionou mesmo a razão da trasladação de Aquilino Ribeiro para o Panteão Nacional, "honra" que não foi dada a autores como Sophia de Mello Breyner ou Miguel Torga.

O alegado envolvimento do escritor no regicídio de 1908 está denunciado num duro comunicado enviado às redacções pela Aliança Internacional Monárquica Portuguesa. Condenando a homenagem prestada ontem pelo Estado a Aquilino Ribeiro, o texto acusa o escritor de ter sido "um criminoso terrorista" devido a actividades que consideram como "subversivas contra o Estado Português".

DN, 20-9-2007
 
O PANTEÃO DA MEMÓRIA

Vasco Graça Moura
escritor

Num tempo e num lugar de descasos sucessivos e clamorosos em relação à cultura, justifica-se plenamente tudo quanto contribua, mesmo que a título póstumo, para chamar a atenção para uma obra de importância cultural inegável. A trasladação de Aquilino Ribeiro para o Panteão Nacional não é todavia a melhor homenagem que se poderia ter-lhe prestado e o autor de O Malhadinhas não ficou a ganhar muito com isso. Não é de crer que a pompa cívica dos rituais de Estado lhe tenha trazido mais leitores e essa é que seria a consagração essencial.

É-me indiferente que Aquilino tenha ou não pertencido à Carbonária, ou tenha ou não participado no Regicídio. Cita-se o que escreveu em Um Escritor Confessa-se, mas as especulações podem também prender-se com a interpretação excessiva de uma página do cap. XIII de Lápides Partidas em que o narrador reconhece ter desejado a morte de D. Carlos. E só neste sentido é que ele diz "que ninguém o saiba, mas eu ajudei a matar o rei, confesso-o aqui à mesa da consciência".

O que não me é absolutamente nada indiferente é que ele tenha sido um grande escritor da nossa língua. Se há aspectos mais frágeis na sua obra (e ocorrem sobretudo quando ele trata a burguesia urbana), há nela também muitos momentos verdadeiramente geniais: Aquilino inventou prodigiosamente a Natureza e o mundo da província, os homens e os bichos, as paisagens e as plantas, as vistas, os sons, os cheiros, os sabores e as texturas da ruralidade profunda de um pequeno país chamado Portugal.

O panteão para os grandes criadores da cultura é o da memória. É nele que está Luís de Camões, cujas ossadas só muito improvavelmente se encontram nos Jerónimos por tudo levar a crer que houve um equívoco quanto ao lugar de onde foram exumadas no século XIX. Camões figura nesse panteão da memória (onde também quem não o leu ajudou a colocá-lo...) não apenas por quanto escreveu, mas ainda por ter acedido ao estatuto muito mais complexo de verdadeiro mito identitário. E é na memória que quase todos os vultos maiores da cultura portuguesa (e afinal não são muitos) lhe fazem companhia. Suprema e póstuma ironia, os restos mortais de Pessoa, também nos Jerónimos, começaram por não caber na urna que tinha sido destinada para o efeito...

Recentemente, António Lobo Antunes publicou na Visão uma crónica extraordinária e comovente sobre Miguel Torga. É um dos melhores textos que eu já li sobre Torga e, para o que estou a dizer, creio que se trata de um bom study case. Lobo Antunes fala da sua própria experiência vivida, das marcas que lhe ficaram das suas juvenis incursões torguianas e do inevitável distanciamento que, enquanto escritor, veio a ganhar quanto à obra dele. Mas o seu funcionamento da memória envolve o autor de A Criação do Mundo numa manifestação de afectuoso respeito e de gratidão plenamente assumida pelo enriquecimento que a sua obra lhe tinha proporcionado e pela sua profunda e honrada ligação a Portugal.

O panteão da memória é exactamente assim, interactivo com o que somos. Vai-se lá parar por um juízo que a sociedade e o tempo filtraram selectivamente. Funciona, disponível e fecundo, como condição de identidade e de consistência. Dá- -nos uma razão de ser. E requer menos pompas oficiais do que bons programas escolares.

Ora acontece que os programas escolares têm vindo a esvaziar, intencional, equívoca, progressiva e metodicamente, o panteão da memória. Não falam nem querem que se fale de quem o ocupa de pleno direito. Não apetrecham os seus destinatários com os instrumentos mínimos necessários para que eles compreendam a obra de quem lá está. Apostam no esquecimento e agora, potenciados com o novo-riquismo dos recursos da tecnologia, é de recear que apostem ainda mais.

A 5 de Outubro, o Presidente da República recordou o ideal educativo do regime iniciado em 1910, apontou a escola como base da verdadeira inclusão social e do desenvolvimento e sublinhou as responsabilidades, tanto do Estado como da sociedade civil, no tocante à Educação.

O panteão da memória é uma pedra angular desse sistema em que todos somos responsáveis. A escola não pode ser transformada em panteão da... desmemória!

DN, 10-10-2007
 
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