06 setembro, 2007

 

Luciano Pavarotti


6-9-2007




http://pt.wikipedia.org/wiki/Luciano_Pavarotti

http://www.lucianopavarotti.com/

Comments:
Calou-se a voz

Morreu Luciano Pavarotti. O tenor italiano, de71
anos, faleceu esta madrugada em sua casa, em Modena, Itália,
após uma longa luta contra um cancro.
Operado em Julho do ano passado a um tumor no pâncreas,
Pavarotti tinha sido hospitalizado em Agosto, mas nas últimas
semanas estava em sua casa, rodeado da família.
O agravamento súbito do estado de saúde do cantor lírico
tinha sido noticiado quarta-feira à noite pelos meios de
comunicação social italianos, alguns dos quais o classificavam
como “gravíssimo”.
Devido a um “estado
febril”, Pavarotti
tinha sido hospitalizado
em Modena a 8
de Agosto, regressando
a casa no dia 25
para aí prosseguir a
convalescença.
Uma operação às costas, no início do ano passado, seguida da
intervenção cirúrgica ao pâncreas em Julho, tinham obrigado
o tenor a cancelar uma digressão de despedida com 40 concertos
pelo mundo inteiro que havia iniciado em Maio de
2004.
Pavarotti não era visto em público há vários meses, embora,
depois da operação de Julho do ano passado, tivesse anunciado
a sua disposição de retomar a digressão de despedida,
no início deste ano,
mas não chegou a
concretizar o seu
desejo.
Em comunicado
divulgado quartafeira
de manhã pela
Ansa, Luciano Pavarotti
tinha manifestado
a sua “emoção”
pela criação em Itália
de um prémio de
“excelência cultural”, do qual foi o primeiro galardoado.
“Inclino-me, cheio de emoção e gratidão, pelo prémio que
acaba de me ser atribuído, porque me dá a oportunidade de
continuar a celebrar a magia de uma vida ao serviço da
arte”, afirmara Luciano Pavarotti no comunicado.

De Itália para o Mundo

Luciano Pavarotti era por muitos considerado “o maior tenor
do Mundo” desde o desaparecimento de Enrico Caruso, em
1921.
Dotado de uma voz excepcional, o italiano soube impor-se
nos palcos mais prestigiados - do Scala de Milão ao Metropolitan
Opera House de Nova Iorque.
Nascido a 12 de Outubro de 1935 em Modena (norte de Itália),
Luciano decidiu-se primeiro pelo ensino, mas optou definitivamente
pelo canto em 1961.
“La Bohéme” de Puccini - a sua ópera preferida - que interpretou
no palco da ópera de Reggio Emilia, trouxe-lhe um
êxito fulgurante, que depressa ultrapassou as fronteiras de
Itália e da Europa.
Donizetti (“A Filha do Regimento”), Bellini (“A Sonâmbula”),
Rossini (“Guilherme Tell”, Verdi (“Rigoletto”) estão presentes
em mais de 30 anos de digressões mundiais do tenor.
Amante de cavalos puro-sangue, das massas frescas e dos
bons vinhos, Pavarotti foi pai de quatro filhas e avô.
Capaz de cantar desde o clássico às variedades, passando
pelo canto napolitano, não hesitou, desprezando a fúria dos
críticos, em formar duetos com Sting, Joe Cocker, Bono Vox,
Eurythmics ou Mariah Carey para defender causas humanitárias.

Pavarotti visto de cá

Com a morte de Luciano Pavaroti desaparece um homem com
uma capacidade vocal única, explica o tenor português Carlos
Guilherme em declarações à Renascença: “Ele era único
na emissão vocal. Depois, a “tecitura” da voz, o alcance da
voz, que tornava os agudos (proibitivos para alguns) para ele
fáceis, tornavam-no um artista da voz que conseguia transmitir
sensações que empolgavam e que culminava muitas vezes
com esses agudos que captam assistências”,
Carlos Guilherme lembra de resto, a facilidade com que
interpretou as principais áreas.
O cantor lírico português recorda também um homem com
um grande sentido de humor, “próprio dos inteligentes”.
Pavarotti chamava sobre si as atenções também devido ao
seu físico imponente: “ele não era nenhum “tosco” em cena.
Muita gente olhava para ele e perguntava-se como é que ele
interpretaria esta ou aquela peça, se seria um tenor à velha
maneira… mas o que é certo é que ele se movimentava muito
bem, embora tivesse aquela figura… que, ao fim e ao cabo,
foi uma característica… porque transmitia um certo ar de
bonomia, de simpatia, era uma pessoa que irradiava bemestar
e isso sentia-se nos espectáculos, em ele surgia de sorriso
aberto e em que a comunicação era efectiva”.
Carlos Guilherme destaca, ainda, o papel que Pavarotti, juntamente
com cantores líricos espanhóis, Jose Carreras e Plácido
Domingo, tiveram na democratização da ópera.
“Els não se juntaram para fazer dinheiro. Eles juntaram-se
para uma propaganda dessa música menos ouvida e que tinha
todo o direito de chegar às camadas populares. De facto,
aquele espectáculo famoso em Carcala, foi o ponto de partida
para os “3 Tenores”, um marco histórico da ida da música
clássica para a rua”.

RRP1, 6-9-2007
 
O TENOR QUE LEVOU A ÓPERA A TODOS

ANA MARQUES GASTÃO

Cantava com o corpo, corpo enormíssimo de um homem que não se considerava músico: "O que interessa é ter a música na cabeça e cantá-la com o corpo." Chamava-se Luciano Pavarotti e morreu na sua terra natal, em Modena (Norte da Itália), na madrugada de ontem, vítima de cancro do pâncreas. Tinha 71 anos.

Como o seu pai, um padeiro amante de ópera e membro de um coro de Modena - de quem apenas recebeu felicitações depois de 13 anos de carreira -, aprendeu a cantar de forma instintiva. E assim se tornou no cantor mais popular da segunda metade do séc. XX. A carreira começou-a no Coro do Teatro da Comuna e no Coro Gioacchino Rossini, tendo recebido aulas de Canto de Arrigo Pola e Ettore Campogalliani. Antes de se dedicar à actividade operática, fez o Magistério Primário. Foi professor, também de Desporto, e vendedor de seguros.

Figura-chave da popularização da ópera, com a sua voz ágil, clara, apaixonada, mediatizou o belcanto, juntamente com Placido Domingo e José Carreras. Fã de futebol ( Juventus), apreciador incondicional de pasta e reincidente em projectos de beneficência e humanitários um pouco por todo o mundo, acusaram-no, muitas vezes, de falta de aprofundamento psicológico dos seus papéis, mas em contrapartida era senhor da graça e do fervor, da ternura e da melancolia, da ardência e da bravura.

Publicou duas autobiografias, escritas com William Wright. Em 2003, casou-se com Nicoletta Mantovani, de quem teve uma filha. A tournée de despedida foi em 2004, aos 69 anos, após quatro décadas de carreira, terminada no Met, em Nova Iorque (Tosca, de Puccini). Doze minutos de aplausos. Ainda cantou Nessun Dorma nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2006 (Turim). Vai a sepultar sábado, na Catedral de Modena.

DN, 7-9-2007
 
Segredos e trunfos de uma voz muito poderosa

BERNARDO MARIANO

Primeiro acaso: em 1955, com 19 anos, Luciano integra um coro de Modena num concurso no País de Gales. O grupo vence e o cantor vê nisso o sinal de que precisava: irá dedicar-se com seriedade ao canto. Segundo acaso: oito anos depois, Luciano é já um nome feito em Itália, mas falta-lhe dar o salto para conseguir idêntica visibilidade no estrangeiro. A oportunidade surge quando substitui Giuseppe di Stefano numa récita no Palladium, em Londres. Acontece que a récita era televisionada e milhões de pessoas ficaram, da noite para o dia, a conhecer aquela voz. A "explosão" internacional foi imediata e foi logo aí abordado pela Decca Records (fiel à Decca se manteria toda a sua carreira, apenas com episódicas aparições na EMI e DG).

E que voz era essa? Era um instrumento que parecia encerrar e concentrar em si todos os ideais sonoros e particularidades tímbricas associadas à voz de tenor lírico da ópera italiana, tal como começara a ser "explorada" desde o segundo quartel de Oitocentos.

A facilidade e homogeneidade desarmantes da emissão em qualquer região da tessitura (amplitude vocal), a clara e elegante dicção do italiano e a riqueza da paleta de cambiantes tímbricos. Mas também a espessura sempre na medida certa do corpo da voz, adquirindo embora sombras na região grave e fascinante cintilação nos agudos e sobre-agudos - mas isto sem alguma vez pôr em causa os outros ingredientes! Ainda a perfeição dos gradientes dinâmicos, percorrendo olimpicamente desde os pp mais imateriais até aos fortissimi mais dramáticos - Pavarotti era ainda um daqueles (raros) tenores capazes de se fazer ouvir bem na última fila da maior das salas ou dos teatros de ópera ou no mais afastado dos "galinheiros", sem que com isso a sua emissão perdesse algo da sua qualidade.

Depois, o nec plus ultra dos tenores líricos italianos: a impecável delicadeza do fraseio, o controlo da respiração e a agilidade. Nesta, Pavarotti passava cum laude: a generosa extensão da sua voz era coroada no topo por sobre-agudos (alcançando o lá!) que, fosse qual fosse o tipo de articulação ou o perfil melódico requerido (ou o critério escolhido por intérprete e maestro) soavam simplesmente... perfeitos e, invariavelmente, "deitavam a casa abaixo". Não espanta que tenha ficado conhecido como "o rei dos dós sobreagudos"...

Uma confluência de características que fez da sua uma das mais completas, belas e paradigmáticas vozes de tenor lírico do século XX. E que, pela particular cor que gerava, fez da voz de Pavarotti algo de imediatamente reconhecível e inconfundível. Numa palavra: uma voz (mesmo) única.

Se por um lado podemos louvar na sua carreira a inteligência que denotou ao praticar repertórios sempre adequados à sua tipologia (donde a longevidade vocal que alcançou), é por outro lícito lamentar os problemas de peso (e os ortopédicos daí derivados) que, desde final da década de 70, começaram a afectar a sua mobilidade e a regularidade das suas prestações.

Diz-se muito que Pavarotti não era um grande cantor-actor. O que é injusto, pela menos para uma parte da sua carreira. Não teria os dotes de Plácido Domingo nesse campo, mas, enquanto o corpo lhe permitiu, não comprometia o nível das suas performances. Mais do que ninguém, ele sabia o que valia a sua voz e, como divo que era, sabia o que antes de mais queria o público que enchia qualquer teatro onde cantasse. Por outro lado, Pavarotti ia buscar verdade interpretativa à sua mestria na dicção da língua italiana: sabia dizer muito bem o que cantava, variando articulação e intencionalidade.

Em retrospectiva, quase se pode afirmar que aquele salto para a notoriedade internacional, via televisão, em 1963, foi um sinal: mais que qualquer outro artista da área clássica, Pavarotti soube aproveitar a crescente mediatização das artes performativas e as possibilidades que a globalização lhe oferecia para se tornar num artista de facto universal, senhor de uma popula- ridade que lhe valeu recordes de audiência e de uma notoriedade que ia muito para além da sua profissão de cantor lírico.

DN, 7-9-2007
 
Os concertos em Lisboa e Faro ou a apoteose e o quase acidente

PAULA LOBO

Os bilhetes eram caríssimos: 45 contos para a plateia, 10 contos para a geral e sete contos e 500 para ficar de pé nas galerias. Ainda se falava em escudos nesse 13 de Janeiro de 1991. E o Coliseu esgotou completamente para assistir a "Uma Noite com Luciano Pavarotti". Era a primeira actuação do tenor em Portugal, a sua voz estava no auge e a sua fama tinha proporções planetárias desde o Nessun Dorma, de Turandot (Puccini), que cantou no Mundial de Futebol.

Trazido pela Tournée com patrocínio do Banco Totta & Açores, il divo foi aclamado em Lisboa como uma superestrela. Numa festa "popular", com "público diferente do da Gulbenkian ou do S.Carlos. Talvez mais interessado pelo fenómeno Pavarotti do que pela música que ele tão bem serve", escreveu no DN o crítico José Blanc de Portugal.

Embora com um ou outro desacerto no francês, o tenor cantou "ao vivo e sem amplificações", e enfeitiçou o público, que não se cansou de o aplaudir entre temas. A acompanhá-lo estavam a Orquestra do Porto, dirigida pelo maestro Leone Magiera, e o flautista Andrea Grimineli. Até Mário Soares, Presidente da República, se encontrava na sala.

Na primeira parte, Pavarotti revisitou árias famosas de Donizetti, Verdi e Massenet. Na segunda, cantou árias de A Tosca (Puccini), I Pagliaci (Leoncavallo ) e canções napolitanas.

O programa terminou "em beleza". Mas ninguém queria sair do Coliseu e o encore trouxe Addio, O Sole Mio e Ritorna a Sorriento. Mais palmas e muitos pés a bater no chão. E Pavarotti lá voltou para se despedir com Nessun Dorma, prometendo regressar.

O regresso atribulado

Foi preciso esperar até 21 de Junho de 2000 para o voltar a ter, pela segunda e última vez, em palcos nacionais. Um concerto no Estádio S.Luís, em Faro, promovido pela Região de Turismo do Algarve.

As coisas começaram mal. Entre Lisboa e Faro, partiu-se um vidro do jacto privado do cantor, a cabine despressurizou e o avião caiu mais de três mil metros. O tenor, o maestro Leone Magiera e a soprano Carmela Remigio não ganharam para o susto, contou o JN. "Desta vez safei--me", comentou Pavarotti ao chegar.

Depois, o dueto anunciado com o contratenor Nuno Guerreiro foi cancelado, por divergências entre os managers. Pavarotti nem conhecia a voz da Ala dos Namorados, a ideia tinha sido de Paulo Neves, presidente da região de turismo. Com uma otite e problemas nas cordas vocais, il divo ainda teve de receber tratamento numa clínica próxima de Faro.

Os bilhetes mais caros custavam 45 e 35 contos (havia nove mil à venda, no total) e o estádio quase encheu. Mas o concerto, com cenário do arquitecto Tomás Taveira, "começou morno", relatou Paula Martinheira, jornalista do DN. Acompanhado pela Orquestra Nacional do Norte, o programa incluía árias de Cilea, Puccini, Mascagni ou Verdi.

Salvaram a noite os duetos com Carmela Remigio e os três encores, muitíssimo aplaudidos, que passaram por Granada, O Barbeiro de Sevilha, O Sole Mio, e La Traviatta.

Não se sabe quanto ganhou Pavarotti. Mas a promotora do concerto de Lisboa garantiu que o seu cachet era "consentâneo com o tamanho do Coliseu". Ou seja, menor do que o habitualmente pago em grandes salas, ainda que os bilhetes tivessem custado três vezes mais do que os vendidos em Nova Iorque.

DN, 7-9-2007
 
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