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O futuro do planeta

Os agricultores do Bangladesh ou os habitantes dos bairros
degradados do Haiti ficam ainda mais pobres cada vez que
um de nós decide ligar o ar condicionado ou circular de
automóvel na auto-estrada.
Esta é a verdade inconveniente que resulta da globalização
das consequências ambientais de muitos gestos que
marcam a rotina nos países industrializados.
Hábitos cujos efeitos perversos dão o mote ao relatório
apresentado, ontem, pela ONU, sobre o desenvolvimento
humano.
O texto visa alertar para o facto de serem os mais pobres
da actualidade e as gerações futuras os condenados a
pagar o preço das políticas irresponsáveis que continuam a
deteriorar a qualidade da atmosfera.
Se os nossos filhos e netos tivessem um lobby que defendesse
os seus interesses com a mesma eficácia do lobby
dos construtores automóveis, talvez fosse mais fácil inverter
a marcha. Mas eles, tal como os pobres, não têm quem
os defenda…
Até 2050, o aquecimento global é já irreversível e a temperatura
média do globo não vai parar de aumentar.
Se o mundo arrepiar caminho, chegaremos ao final deste
século com a temperatura do planeta dois graus acima da
registada na era pré-industrial, mas, se nada fizermos, a
subida pode atingir os 5 graus. O retrocesso do desenvolvimento
do planeta ocorrerá, então, em larga escala.
Londres e Los Angeles já estão a prevenir-se para o risco
de inundações. Todavia, em muitos países não há meios
para evitar a catástrofe anunciada.
Estamos a tempo de evitar que 600 milhões de pessoas
enfrentem a fome, daqui 70 anos, e outros 2 mil milhões
vivam à míngua de água.
É nesse mundo que vão viver os nossos netos. Na esperança
de que a China, a Índia ou a Rússia se desenvolvam sem
repetir os erros do nosso passado. Senão, nem nove planetas
chegarão… e só temos um!

Graça Franco

RRP1, 28-11-2007