04 outubro, 2007

 

4 de Outubro


Dia mundial do animal




http://pt.wikipedia.org/wiki/Animalia

http://www.sosanimal.com/
http://www.lpda.pt/index2.htm
http://adopcaodosanimais.blogs.sapo.pt/287669.html
http://www.animal.org.pt/
http://www.accaoanimal.com/site/

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NOVAS REGRAS PARA FOTOGRAFAR ANIMAIS

João Lopes
Crítico

São muitas as imagens contemporâneas marcadas pelos valores da ecologia. Por exemplo, fotografar paisagens ameaçadas, mais do que uma atitude estética, é algo que envolve de imediato alguma consciência política e, em última instância, o convite a novas formas de consciencialização política. Por extensão, fotografar animais selvagens cuja sobrevivência está posta em causa pelo "progresso" (e pelas suas "conquistas") tornou-se mesmo um género da fotografia contemporânea: mostrar esses animais no seu habitat natural é também uma maneira de dizer que importa preservar o ambiente que os faz viver (ou sobreviver).

De forma algo insólita, mas absolutamente fascinante, o fotógrafo e activista ecológico Joseph Zammit-Lucia propõe uma aproximação diferente da mesma questão básica: como fotografar animais selvagens? Assim, Zammit-Lucia (que doa todos os lucros gerados pelas suas imagens a organizações que trabalham na defesa do ambiente) considera mesmo que importa deslocar os animais do seu habitat e tentar vê-los, não como exemplos abstractos de uma espécie, mas como indivíduos. Como? Fotografando-os como seres únicos, autonomizados de qualquer contexto detectável, por assim dizer "reduzidos" ao esplendor da sua identidade.

Na sua edição de Janeiro/Fevereiro, a revista norte-americana Camera Arts dedica algumas páginas aos tigres, macacos e ursos fotografados por Zammit-Lucia, curiosamente apresentados através de um dispositivo jornalístico pouco comum e, por assim dizer, "à maneira de" Woody Allen: trata-se de uma "auto-entrevista" em que o fotógrafo responde às perguntas que também formulou.

E o resultado não poderia ser mais esclarecedor. Assim, Zammit-Lucia não tem problemas em recusar a sua inscrição nos valores correntes da "fotografia da vida selvagem". Para ele, o objectivo não poderia ser mais transparente: "O que tento fazer é aplicar aos animais os princípios do retrato humano." E não há equívocos sobre o seu tremendo cepticismo moral: "Considero que, como animais humanos, temos enorme desprezo pelos outros animais. E não me estou a referir apenas aos maus tratos generalizados a que sujeitamos os animais, mas também ao facto de estarmos a conduzir muitos animais à extinção, ao mesmo tempo que desfrutamos de um estilo de vida feito de excessos sem controlo."

Não admira que Zammit-Lucia já tenha sido considerado um herdeiro directo do universo de Richard Avedon (1923-2004). Os protagonistas, convenhamos, são bem diversos. Na verdade, fotografando modelos anónimos ou figuras lendárias do star system, Avedon foi sempre um apaixonado da pluralidade da dimensão humana e, por assim dizer, da fotogenia dos seus enigmas. Ora, que faz Zammit-Lucia? Será que ele, pura e simplesmente, se limita a seguir o caminho fácil da "humanização" dos seus animais? Sim, mas só até certo ponto. O objectivo é, de facto, reconhecer-lhes o direito a uma identidade própria, mas por uma espécie de nostalgia sem recurso: como se perante o fundo negro das imagens, fora das marcas do seu habitat, cada um deles não pudesse deixar de revelar a intensidade tocante de uma solidão radical. E isso, ironicamente, volta a ser muito humano.

DN, 23-3-2008
 
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