05 outubro, 2007

 

5 de Outubro


Início ( 1143 ) e fim da monarquia ( 1910 )...




http://pt.wikipedia.org/wiki/Rep%C3%BAblica

A propósito.
Petição de "Homenagem a S.M.F. o Rei Dom Carlos I e a S.A.R o Príncipe Dom Luís Filipe", a subscrever com urgência...

http://www.PetitionOnline.com/1fev2008/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Monarquia

Comments:
Cavaco fala de educação no discurso da República

O Presidente da República escolheu a escola e a comunidade para tema central do seu discurso do 5 de Outubro hoje nos Paços do Concelho, em Lisboa, anunciou fonte oficial da Presidência. No ano passado, Cavaco Silva tinha centrado as suas palavras comemorativas da implantação da República no necessário combate à corrupção, que considerou ser uma das pechas da democracia portuguesa. Nesse ano inaugurou esta modalidade de celebração ao ar livre, capaz de chamar à Praça do Município os lisboetas.

Hoje, o chefe do Estado volta a outra das bandeiras do seu mandato. Desde que tomou posse, em Março de 2006, Cavaco Silva lançou um Roteiro para a Inclusão e tem vindo a defender o empenho de todos na "batalha pela qualificação dos recursos humanos", fundamental para "vencer os desafios do desenvolvimento e da globalização".

Criada em Setembro de 2006 em resposta ao apelo lançado pelo presidente da República para um compromisso cívico para a inclusão social, a associação Empresários pela Inclusão Social (EIS), cujos 120 associados correspondem a 35 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), centra a sua acção no combate ao insucesso e abandono escolares. Em Junho último, numa visita a Vila Verde, distrito de Braga, o Presidente apelou às famílias portuguesas para que "não deixem que os filhos abandonem a escola, pelo menos antes de terminarem o ensino básico ou secundário".

"É um erro dramático tirar os filhos da escola", alertou, lembrando que os estudos demonstram que os jovens que concluem o ensino secundário têm 60 por cento mais de hipóteses de encontrar emprego.

Há um ano, na sua estreia nos discursos do 5 de Outubro, Cavaco Silva apelou a todos os portugueses para se empenharem na luta contra a corrupção e na moralização da vida pública, sublinhando que esta é uma tarefa que cabe "em primeira linha" aos políticos.

DN, 5-10-2007
 
in Editorial

Discursos na Câmara Municipal de Lisboa (de cuja varanda foi proclamada a República), hastear da bandeira, parada militar. Uma vez mais, o aniversário da Revolução de 5 de Outubro de 1910 vai ser, sobretudo, um conjunto de iniciativas oficiais.

A nível popular, porém, a participação deve ser restrita aos que gostam de assistir a paradas militares. Nada de minimamente comparável ao que fazem os americanos no seu 4 de Julho, o dia da independência dos EUA, ou os franceses a 14 de Julho, data da tomada da Bastilha.

Nem o 5 de Outubro nem o 10 de Junho conseguiram impor-se como festa nacional. E o mesmo acontece já com o 25 de Abril, depois dos anos iniciais de grande participação popular.

Mas este aparente desinteresse pelo simbolismo das datas não é sinal de fraqueza do País. Pelo contrário. Uma nação com oito séculos é inquestionável. Ninguém sente necessidade de celebrar a condição de português (excepto no futebol).

Mas este desinteresse também devia servir para reflexão. Para se pensar como aproximar o regime dos cidadãos. Como renovar a Assembleia da República para a tornar mais representativa. Como mudar as eleições para as tornar mais poderosas. Para que a Res Publica faça verdadeiramente sentido.

DN, 5-10-2007
 
Heróis passados e heróis futuros

FERNANDO MADAÍL

"Nove horas da noite. Vindos dos sítios dos Anjos dispomo-nos a atravessar a Baixa e a observar tanto quanto possível a situação geral. Logo ali no Intendente começam as pessoas a agrupar-se discutindo os acontecimentos. Aparecem os primeiros jornais da noite [O Liberal, O País, Correio da Noite, Imparcial] que os varinos vendem em grande quantidade, apesar de exigirem um vintém [20 réis, quando o DN, por exemplo, custava metade] por cada um. Coitados: aproveitam a ocasião, mas arriscam-se, passando ao alcance das bocas de fogo para levarem os jornais aos moradores do lado oriental da cidade." O redactor que, na edição de 5 de Outubro de 1910, escreveu esta parte da primeira página é o que tinha o melhor estilo de escrita, embora fosse um relato pouco jornalístico.

"Olhando para o Rossio apenas se deparava com um ponto escuro, profundamente escuro. Lá nas embocaduras das ruas do Ouro, Augusta, do Carmo, etc., movem-se sombras e divisam-se pequenos pontos luminosos. São os soldados que estão nos seus postos, guarnecendo as metralhadoras e fumando para passar o tempo", acrescentava o jornalista que descrevia parte da evolução da revolta (o subtítulo indicava que era "durante a noite, atravessando a Baixa - trevas e tiros ") que iria depor a Monarquia.

Apesar das limitações técnicas da altura - difíceis de perceber para quem vive entre telemóveis, televisões e computadores -, é possível reconstituir os diversos momentos da implantação da República. Antes, porém, o desabafo de quem viu o que não gosta. "Há momentos em que o cérebro mais bem organizado, o espírito mais lúcido, a orientação mais precisa, não pode deixar sobre o papel uma impressão exacta do que vê e do que sente", sublinhava um outro redactor do Diário de Notícias.

"A cidade de Lisboa, esta bela e querida terra, de tradições tão pacíficas [em 1908 tinha sido palco do regicídio de D. Carlos] , foi espectáculo da mais desoladora, da mais dolorosa cena, em que se derramou desde segunda-feira até à hora em que escrevemos: - muito sangue português, só português - sangue de irmãos, sangue de heróis passados e de heróis futuros na senda do progresso e da conquista da paz."

Após esta introdução, sigamos a descrição dos "acontecimentos de hontem." Na época escrevia-se signal e Hespanha. A 15 de Fevereiro de 1911 seria constituída uma comissão (Aniceto dos Reis Gonçalves Viana, Carolina Michaëlis de Vasconcelos, Cândido de Figueiredo, Adolfo Coelho e Leite de Vasconcelos) para se aproximar mais a ortografia da fonética.

Para já, o que interessa ao leitor daquela quarta-feira de 1910 é a cronologia das informações. Primeiro, "no acampamento dos revoltosos, em terra - durante a madrugada". Antes de se dar conta das situações de "vivo tiroteio e algumas detonações que pareciam ser de artilharia", dos "tiros de metralhadora e descargas de fuzilaria", dos "populares armados de espada e revólver e carabinas Mauser", explica-se: "Eis as informações de um dos nossos repórteres, que seguiu, desde a 1 hora e três quartos da madrugada de terça-feira, o movimento."

Depois, "às 7 horas e um quarto da manhã", dá-se um aspecto de Lisboa. "Quando o Diário de Notícias começava a circular, a cidade tinha um aspecto singular. Em quasi todas as janelas se viam rostos inquietos, comentando os acontecimentos da noite e procurando informar-se do andamento dos mesmos."

Ao longo das horas vão sendo relatados recontros entre revoltosos e forças fiéis, entre homens da cavalaria e marinheiros, originando longas listas de mortos e feridos - incluindo uma senhora atingida enquanto cosia à máquina em casa e um cidadão quando estava a descer do eléctrico. Numa dessas listas surge o nome do vice-almirante Cândido dos Reis, que se suicidou quando se convenceu que a revolta falhara, mas isso parece ter passado despercebido na redacção. Continuando a ler surge a notícia do boato que corria acerca do desaparecimento daquele republicano. Umas linhas adiante, confirma-se que morrera mesmo.

Entretanto, há repórteres a cruzar todos os pontos importantes. Afinal, o maior argumento dos revoltosos está no Tejo, onde se fundearam os cruzadores D. Carlos ("neste vaso de guerra os oficiais conseguiram fechar o armamento e as munições nos respectivos quartéis. A guarnição, porém, está com os revoltosos"), que não participará nas acções bélicas, Adamastor e Rafael. Às 10 e um quarto começa, finalmente, o bombardeamento do Paço das Necessidade, onde está D. Manuel, "entrando uma bala no quarto do chefe de Estado".

O jornal ainda se refere, de forma deferente, a "El-Rei". "O Sr. D. Manuel esteve no paço até ontem, saindo dali, a horas que não podemos precisar, escoltado por uma força de lanceiros e, ao chegar à Rua Ferreira Borges, foi disparado um tiro de peça [de artilharia], matando um soldado. Um pouco mais tarde viram-se três cavalos sem cavaleiros correndo em direcção às cavalariças, o que faz supor que houve tiroteio e mataram ou feriram outras praças, que teriam caído das montadas." O monarca fugia para Mafra, embarcando depois, na Ericeira, para Gibraltar, rumo a Inglaterra, onde chegaria no dia 12.

Para um leitor actual é curioso notar como, na mesma coluna, se vão sucedendo registos de escrita diferentes e também distintos estados de alma. "Como complemento dos acontecimentos que a seguir noticiamos e acompanhámos até às 6 horas da manhã na última edição deste jornal devemos dizer que os vencedores foram muito vitoriados pelo povo e procederam com a máxima urbanidade procurando evitar mais derramamento de sangue." Na mesma página: "Não, não pode o nosso espírito, dolorosamente impressionado, descrever o que foi o memorável dia 4 de Outubro de 1910."

DN, 6-10-2007
 
Comissão vai definir
comemorações do centenário

As comemorações do centenário da República vão
decorrer entre 31 de Janeiro e 5 de Outubro de 2010, baseadas
num programa a elaborar por uma Comissão Nacional
criada pelo Governo.
De acordo com um diploma hoje publicado em “Diário da
República”, as comemorações deverão ter uma "extensão
verdadeiramente nacional", envolvendo as Regiões Autónomas,
as autarquias locais e as Comunidades portuguesas.
Evocar historicamente os acontecimentos de 1910 e honrar a
memória dos que se entregaram à causa da República são os
principais objectivos das comemorações.
A celebração do primeiro centenário da República deverá
incluir manifestações culturais e festivas, com as escolas de
todos os níveis de ensino a assumirem um papel activo.
As comemorações devem ainda "deixar uma marca física para
o futuro", como por exemplo com intervenções que visem a
requalificação urbana e a valorização de elementos arquitectónicos
que são um testemunho da herança republicana.
O presidente e vogais da Comissão Nacional para as Comemorações
são nomeados por proposta do Governo e, até três
meses depois da nomeação da Comissão, deverá ser aprovado
o Programa das Comemorações, em Conselho de Ministros.

RRP1, 30-1-2008
 
CEM ANOS DE SERENA REPÚBLICA

João César das Neves
professor universitário
naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt

Acaba de ser nomeada a Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República. Apesar dos problemas e percalços, o nosso regime merece celebrar cem anos com festejos serenos e elevados. Afinal a nossa é a República mais longa da Europa depois das pioneiras mundiais, a "mui serena República de San Marino" com 1700 anos e a Suíça de 700 anos. As demais, ou começaram depois ou foram interrompidas entretanto.

Só graças à revolução de 1974 é possível celebrar condignamente a revolução de 1910. A turbulência inicial e a ditadura seguinte puseram-no em risco, mas a actual democracia olha com confiança o passado e esperança o futuro. Os festejos devem marcar essa tranquilidade. Só questões de regime e religião a poderiam ensombrar, mas sem razões para tal.

Celebrações da República serão sempre dolorosas para os monárquicos. Mas o seu patriotismo deve regozijar-se com a paz que hoje rodeia a questão do regime. O século XIX viveu em permanente sobressalto, entre absolutistas e liberais, monárquicos e republicanos. Ganhamos muito por, mal ou bem, a questão ser agora pacífica.

Quanto ao tema religioso vivemos duas gerações após Afonso Costa dizer no Grémio Lusitano a 26 de Março de 1911 que "em duas gerações terá eliminado completamente o catolicismo" (O Tempo, 27 de Março de 1911). A verdade é que a Igreja viveu melhor nos cem anos da República que nos dois séculos anteriores.

Muitos esquecem como o abraço sufocante do absolutismo e o estrangulamento cínico do liberalismo foram terríveis para a fé. É verdade que se pode dizer que Afonso Costa fez pior que o Mata-Frades e Salazar instrumentalizou mais que Pombal. Pode falar-se dos problemas da actual Concordata e dos obstáculos tolos à acção da Igreja. Apesar disso, nos últimos 300 anos só a nossa República viveu verdadeira liberdade religiosa.

Celebra-se, não a violência cruel e tonta, mas o espírito cristão com que foi suportada. Prova-o logo a Pastoral Colectiva do Episcopado português de 24 de Dezembro de 1910, com que os bispos reagiram à terrível perseguição (agora republicada em Síntese - revista de actualidades eclesiais de D. Serafim Ferreira e Silva, n.º 188-190, Jan.-Jun./2008).

No documento os prelados começam por dizer-se "acusados por vezes de demasiada prudência e longanimidade" (I) e até afirmam que "nos é agradável aplaudir algumas medidas do Governo Provisório" (III). Mas asseguram que "angustiosa, gravíssima é a crise por que está passando a nossa pátria sob o aspecto religioso" (I). Citando autores tão variados como Pasteur e Bismarck, Montesquieu e Gambetta, os bispos fazem profunda análise e cuidada fundamentação, tratando serenamente os terríveis estragos na educação e saúde, pobreza e aldeias, colónias e famílias.

A conclusão é clara: "Em face das instituições actuais qual é o dever dos católicos portugueses? Acatá-las, sem pensamento reservado" (III). Os padres devem "tomar sumamente a peito os interesses do povo, particularmente os dos operários e dos jornaleiros agrícolas" (IV). O texto quase considera a perseguição como normal: "Devemos porventura estranhar que assim suceda? Poderá a luta actual causar-nos surpresa? (...) [A Igreja] desde que nasceu, não conheceu tréguas (...) E venceu! Como? Resistindo? Revoltando-se? ... Não! Sofrendo" (I).

O nosso tempo precisa de novo desta verdadeira atitude cristã. Lisboa tem dela um símbolo insólito mas evidente. A Igreja de S. Domingos ao Rossio é das mais movimentadas do País, com milhares de pessoas diárias. Mas o templo é uma triste ruína por um incêndio fortuito em Agosto de 1959. As paredes mostram ainda a horrível destruição, com lampejos da antiga magnificência. O fausto ardeu; ficou o labor e o fervor. Sob as horríveis cicatrizes da catástrofe, a vida de fé continua impassível. Esta é a grandeza da Igreja, sucessivamente demolida e sempre renascida. O sacrário de S. Domingos é de um dourado esplendoroso circundado por anjos desfigurados e mutilados. Os fiéis não olham nem o ouro nem o destroço, mas dentro.

DN, 9-6-2008
 
Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?