28 outubro, 2007

 

Graffiti


Mais que uma mera arte urbana




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http://cartelurbe.blogspot.com/2008/02/dirio-de-noticias-grande-reportagem.html

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Fachadas do Bairro Alto estão cheias de 'rabiscos'

António Larguesa Rui Coutinho

As "assinaturas de rua" nas paredes, conhecidas no mundo do graffiti como tags, estão a alterar as características estéticas do histórico Bairro Alto, sendo que alguns edifícios apresentam já uma afectação ao nível do primeiro andar. Moradores, comerciantes e junta de freguesia classificam esta prática relativamente recente como "actos de vandalismo". Os autores das assinaturas dizem que o fenómeno é inevitável, por o bairro ser um "ponto de passagem e de diversão nocturna".

Maria Muller tem 86 anos e vive desde os 17 no Bairro Alto. A porta da sua casa está há muito pintada com spray. "É uma porcaria, mas não tenho idade para limpar aquilo", afirma resignada. A idosa já se habituou ao que considera "uma pouca vergonha". "Se viesse cá o Salazar dava-lhe um ataque de coração", graceja.

Os comerciantes, que são obrigados a trabalhos de limpeza nas fachadas, também estão incomodados com o cenário. Só este ano, Dora Mauaie já pintou por três vezes as paredes da farmácia, enquanto Paulo Pirra limpa a fachada do restaurante "sensivelmente de 15 em 15 dias". Rakesh, proprietário de uma velha mercearia, considera as acções "normais para a rapaziada de agora" e define o fenómeno como um "problema geracional". O filho de sete anos até já lhe pediu um spray "por influência das telenovelas", conta.

Perante os turistas, continua Rakesh, é que a zona "fica mal vista". Cary Fritz, uma alemã que almoçava ao sol numa esplanada do bairro, confirma não gostar do que vê: "Os edifícios até são bonitos, mas parecem sujos."

"Queremos mostrar a 'crew'"

O DN falou com alguns graffiters que não quiseram ser identificados, mas reconheceram escrever tags. "Também contribuímos para aquilo, é uma forma de publicidade à crew", conta um deles. Mesmo entre os graffiters, as opiniões sobre os tags são distintas. "Eu percebo as queixas, isto fica feio", confessa um outro. Todos concordam que o Bairro Alto vai ser "para sempre um alvo privilegiado" destas expressões. E explicam porquê: "Isto já não tem retorno, o bairro é um ponto de passagem, sobretudo à noite, e vai ser sempre pintado." "Noutros sítios o problema é ter marcas de bala, se aqui o problema deles é esse...", concluiu, com ironia, o graffiter mais rebelde.

DN, 6-6-2006
 
Arte e poluição visual nas paredes do Seixal

Cláudia Monteiro Almada

Os 250 metros do muro da antiga fábrica da Mundet terão uma nova cara amanhã ao fim do dia. São cinco writers (indivíduos que pintam graffitis) pré-seleccionados e alguns convidados que grafitam a partir de hoje este espaço, naquela que é a terceira edição do Seixal Graffiti, uma iniciativa da autarquia com o objectivo de "divulgar o graffiti como arte urbana, dissociando-o do vandalismo", disse ao DN a vereadora da Juventude, Paula Santos.

Uma iniciativa com a qual os moradores da zona até concordam, uma vez que é "num espaço autorizado" e que acaba por "enfeitar o local". Por outro lado, a revolta é geral contra os graffitis e tags (assinaturas) que proliferam pelas ruas, prédios, paredes e estabelecimentos do concelho do Seixal, uma forma de "vandalismo e não de arte".

"Quero proibir isto", afirma Romão Correia, dono de um restaurante em que "nem o toldo ou a ementa afixada na rua se safaram aos rabiscos". Há quatro anos no local, o comerciante diz já ter pintado a fachada duas vezes, mas de nada servir "porque eles rascunham por cima outra vez, a câmara é que devia fazer qualquer coisa", critica.

Para Noémia Morgado, que vê o seu prédio "todo sujo dois anos depois de ter sido pintado", devia "ser tudo limpo, fiscalizar-se e aplicar coimas aos que pintam os prédios". Exalta-se: "Se os apanho a rabiscar, arreio-lhes". Também Eduardo Marques diz "não gostar de nada" do que vê, referindo-se aos prédios e até carros em redor repletos de tags e graffitis, "é um abuso da juventude", considera. Como solução propõe que "se evite a venda das tintas a qualquer pessoa", reconhecendo que "não resolveria, mas ajudava".

Tem de haver regras

Os writers, bombers, graffiters, alguns dos nomes que classificam os que pintam paredes por todo o País, "não podem pintar em qualquer lado, tem de haver regras", considera Paula Santos. Para a vereadora, a acção destes jovens "é também uma intervenção social e não apenas um acto de sujar e estragar", mas que "deve respeitar algumas regras, como a propriedade alheia".

Mas, "mais importante do que pensar em punição, é pensar em integrar estes jovens na sociedade", passando uma possível solução pela "criação de espaços próprios para pintarem, evitando a degradação de outros espaços, que está em estudo".

Como exemplos, além da Mundet, existem no Seixal o Mercado da Cruz de Pau e uma rotunda na zona da Amora onde esta arte urbana coexiste com o envolvente e "convive com regras", pinturas estas que agradam aos moradores, que as descrevem como "uma coisa de artista". Quanto aos prédios e património indevidamente grafitado "não existe projecto de limpeza, cada um resolve o seu caso", diz Paula Santos.

No entanto, Gonçalo Ribeiro, writer há nove anos, diz que "não se pode dissociar o tag do graffiti", que "vai estar sempre ligado ao vandalismo". Para o dirigente da Associação Spread, que desenvolve o Seixal Graffiti com a autarquia e o Seixal Surffing Club, os tags "são uma forma de afirmação e de ganhar notoriedade" e que "não vai sair das ruas e dos prédios". É pelo lado marginal do tag que passa a afirmação.

Existem vários tipos de graffitis (ver caixa), uma forma de expressão que surgiu nos guetos americanos há mais de três décadas como forma de contestação, revolta e contracultura, pelo que "dificilmente se dissociará disto", afiança. Gonçalo, ou Mar, como é conhecido no meio, diz concordar com os graffitis que se vêem nos prédios e outros locais proibidos, desde que sejam "pensados e integrados", embora confesse "não pintar prédios", porque não gostava que pintassem o seu, procurando "sítios abandonados".


DN, 14-10-2006
 
vandalismo

Incontrolável invasão de 'graffiti'

Borrões, rabiscadas e 'tags' estão a inundar o Bairro Alto. Polícia tem as mãos atadas

manuel neto

Uma coisa são graffiti - uma expressão artística, de indesmentível qualidade, que não tem lugar nas galerias de arte convencionais e que, assim, vive nas ruas - e outra são os tags, símbolos, códigos, borrões, rabiscadas e sujidades que se espalham um pouco por todo o lado, sem critério nem respeito, a conspurcar fachadas de prédios, muitas vezes acabados de pintar de fresco. É, no mínimo, uma atitude intolerável, demonstrativa do desleixo e do podre que vai na alma dos seus irresponsáveis autores, os quais nada têm a ver com os geniais writers, esses sim, agentes de surpreendentes graffiti.

Susan Phillips, investigadora da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA)1 , define o graffiti como uma transmissão de mensagens de carácter «secreto» ou «oculto» - dirigidas a uma comunidade já familiarizada com os seus códigos e símbolos estéticos próprios - e considera-o uma forma de arte pelo facto de possuir cargas simbólicas e formas estéticas baseadas num código de grupo que ultrapassam temporalmente a existência do próprio grupo ou dos indivíduos a ele ligados. Nesse sentido também, o graffiti não deve ser entendido isoladamente mas sim como parte integrante de uma cultura de rua mais vasta que inclui música - hip hop e rap - e dança -- breakdance.

PRAGA DOS «TAGS». Durante a noite, jovens pintam os seus «nomes de guerra» nas paredes de nossas casas. Os tags, como são deno- minados, mancham a paisagem urbana, não podendo ser considerados arte, mas vandalismo e delinquência.

Quem ainda não tem, na parede de sua casa, um rabisco pintado a spray? A proliferação de tags (assinaturas) está a vandalizar a nossa paisagem urbana, como se pode constatar no Bairro Alto, a par de outras zonas da capital. O pior é que se trata de um fenómeno só solucionável pela via da cultura cívica.

Os jovens que se dedicam a esta imbecil actividade têm idades compreendidas entre os 16 e os 24 anos e são, na maioria dos casos, estudantes ou (des)empregados. No que respeita à origem social, encontram-se desde filhos de operários industriais a filhos de psicólogos. Em relação ao mapa étnico, o writing é partilhado, em Portugal, por brancos e negros. De acordo com representantes da principal marca de tinta utilizada pelos writers, a média mensal de latas vendidas na região de Lisboa oscila entre as mil e as mil e quinhentas.

Agora que o Bairro Alto tem conhecido várias obras de remodelação e embelezamento dos seus prédios, é lamentável ver-se um prédio acabado de pintar de uma cor forte para no dia seguinte estar já coberto dos mais aberrantes e sinistros tags ( por exemplo: Ratos).

São gangs ou grupos (crew ou krú) que habitualmente se dedicam, de forma gratuita e cobardola, a este tipo de actividades, perante a impotência das autoridades em pôr fim a tão inconcebível vandalismo.

Será que não haverá uma forma de as autoridades camarárias ou policiais porem cobro a tamanho vandalismo?

Para o chefe Carvalho, comandante da esquadra do Bairro Alto, «o dano é sempre uma possibilidade a ter em conta, e a sua gravidade depende do edifício em causa, ou seja, se é ou não imóvel de interesse público». Mas adverte: «Seja como for, para haver crime de danos materiais tem de haver queixa.»

Estamos, pois, perante um fenómeno de difícil combate pela via da repressão. Este é um daqueles casos que exige uma clara aposta na prevenção, ou seja, no desenvolvimento de uma cultura cívica por parte dos cidadãos.

DN, 28-11-2004
 
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