01 novembro, 2007

 

1 de Novembro


Dia de todos os santos




http://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_de_Todos-os-Santos

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O MISTÉRIO DA MORTE E O SEU DEPOIS

Anselmo Borges
padre e professor de Filosofia

Neste domínio, há um pudor que nos habita. Peço, pois, a compreensão benevolente do leitor.

Quando os meus pais morreram, olhei - era o fim de um mundo! - e constatei que o que deles restava não eram eles e lembrei-me daquela pergunta lancinante que Tolstoi coloca na boca de Ivan Ilitch moribundo: onde é que eu estarei, quando cá já não estiver?

Sempre que passo pela terra que me viu nascer, faço uma visita ao cemitério e, ali, diante dos seus túmulos, ouço as palavras do anjo às mulheres diante do túmulo de Jesus : "Não está aqui!"

Diante da morte, fazemos a experiência do mistério pura e simplesmente. A morte é o absoluto, sem relação. O absoluto tem uma dupla face: a morte e Deus. Daí, tudo quanto dizemos sobre a morte e sobre Deus sentirmo-lo como nada que nos convoca para o silêncio, segundo o preceito de Wittgenstein: "Sobre aquilo de que se não pode falar deve-se calar."

Para onde vão os mortos? O que é morrer e o que é a morte? Depois, o quê?

Impressionou-me em extremo a declaração do teólogo J. I. González Faus sobre o pai, que lhe transmitiu a fé e que considera "uma grande personalidade": "Terminou a sua vida derrotado e duvidando de Deus como quase todos os humanos."

A morte e o seu depois constituem para nós uma tenaz: impensáveis que nos obrigam a pensar. Impensável que tudo acabe como impensável qualquer depois. Lá está Pascal: "Incompreensível que Deus exista, e incompreensível que não exista; que a alma seja com o corpo, que não tenhamos alma; que o mundo seja criado, que o não seja, etc."

O filósofo ateu E. Bloch é modelar nestas perplexidades. A mim perguntou-me ironicamente onde é que meteria tantos milhares de milhões de seres humanos, se houvesse ressurreição dos mortos. Um dia, em Viena, disse que, se houvesse ressurreição, as galinhas estoirariam a rir. Mas, na juventude, admitiu a reencarnação. Na maturidade, teorizou sobre "o núcleo do Humanum extraterritorial à morte".

Bloch casou com Else von Stritzky, uma cristã de Riga, e a relação que entre os dois cresceu foi a de um amor como há poucos. Ela morreu jovem, e o filósofo foi fixando no Diário a sua dor, aliviada pela esperança do reencontro "do Outro Lado" (Drüben), "no Além" (Jenseits).

O teólogo J. Moltmann contou-me que, poucos dias antes da morte, lhe perguntou como reagia a esse desafio, tendo ele respondido: "Estou curioso" - note-se, porém, a força da palavra alemã "neugierig", com o sentido de ansioso por novidades. Moltmann também escreveu que "na véspera de morrer, ao entardecer, ele escutou mais uma vez a sua música mais querida, a abertura de Fidelio, de Beethoven, com o sinal das trombetas para a libertação dos cativos no final". Essa passagem, que associava à Primeira Carta de São Paulo aos Tessalonicenses, 13, 16: "Quando for dado o sinal, à voz do arcanjo e ao som da trombeta de Deus, o mesmo Senhor descerá dos céus e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro", sempre o comovera. É que, como escreveu, "em Beethoven, pré-anuncia-se a chegada de um Messias. Erguem-se desde as masmorras sons de liberdade e de recordação utópica. O grande momento chegou, a estrela da esperança cumprida no aqui e agora".

Depois da morte, é a eternidade: a eternidade do nada ou eternidade de Deus. Mas não se tratará da dupla face da mesma eternidade, como diriam, no limite, os místicos? Não será a pergunta - para onde foram os mortos?, onde estão os mortos? - que é mal formulada? Porque os mortos não foram nem estão: a pessoa dos mortos é.

Por mim, nos dias 1 e 2 de Novembro - os dias em que as nossas sociedades científico- -técnicas, que fizeram da morte tabu, permitem a visita dos mortos -, coloco um CD com o Requiem Alemão de Brahms e outro com o Requiem de Mozart no leitor de CD, em homenagem aos meus pais, amigos e todos os mortos - poderão ser uns cem mil milhões. A música diz-nos o indizível: o que é existir simultaneamente no tempo e fora dele.

DN, 3-11-2007
 
D. Nuno Álvares Pereira é o novo santo português

JACINTA ROMÃO

O cardeal português José Saraiva Martins, prefeito da Causa dos Santos no Vaticano, assegurou aos bispos portugueses - em visita à Santa Sé até à próxima segunda-feira -, que "o processo do beato Nuno de Santa Maria é aquele que está mais avançado". Seria, segundo os dados actuais, o 11.º santo português, e como a maior parte, viveu na Idade Média, mas com a particularidade de ser um militar.

Ao contrário das afirmações que proferiu ao DN, publicadas no dia 13 do mês passado, o cardeal comunicou aos bispos, de acordo com a Agência Ecclesia, que o processo de canonização de Nuno Alvares "está no bom caminho", embora não avançasse uma data. Garantiu que "poderíamos ter, brevemente, algumas surpresas". Ao DN respondeu: "Ainda não se sabe" se o beato Nuno vai ser santo e que "os médicos analisaram o milagre", mas "as provas não são muito consistentes", concluindo quot;Há um presumível milagre."

O que há de novo sobre o beato Nuno, segundo Saraiva Martins, é que "já não aparece na lista dos processos que estão em curso" e isto significa, segundo diz, que "já está noutro nível". O cardeal aproveitou para pedir aos bispos que "ajudem na promoção da devoção a alguns beatos [8 conhecidos] e personalidades com processos em curso". No mesmo contexto se pronunciou o presidente da Conferência Episcopal, D. Jorge Ortiga, no discurso que fez aos prelados, durante a visita à congregação presidida por Saraiva Martins. "Exorto os meus irmãos bispos a porem em evidência , nas suas dioceses, os sinais de santidade que ainda se manifestam, especialmente quando se trata de fiéis leigos."

DN, 9-11-2007
 
"Missa de 7.º dia fora de moda por falta de padres"

JACINTA ROMÃO
NUNO BRITES

"Aqui isto já passou de moda porque não há padres" e a outra senhora que morreu no acidente também não teve missa do sétimo dia. O pároco das freguesias de Monte Redondo e Coimbrão, ordenado há 43 anos, responde desta forma desassombrada às críticas que apelida de "chatices" e "sarilhos", lançadas pela filha do casal Mira e irmã da outra vítima da praia do Pedrógão, trucidados pelo comboio no passado dia 11.

Maria de Fátima Botas afirma-se indignada porque o padre em causa não "quis" celebrar a missa do sétimo dia pelos seus familiares e acusa-o de só aceder "aos pedidos das pessoas ricas". Por tudo isso vão começar hoje a recolher assinaturas para entregar um abaixo-assinado ao bispo de Leiria/Fátima, D. António Marto. O padre Joaquim responde "à letra" a esta paroquiana, declarando que "ela é que anda muito preocupada em busca dos bens que os pais lhe deixam". Acrescenta que "está podre de rica e acha que não precisa do pároco para nada porque faz da riqueza o seu Deus".

Sobre a acusação de que também não deixou que o sacerdote da Vieira prestasse o serviço religioso, tem igualmente resposta. Declara-se soberano nas igrejas e nas capelas que estão ao seu cuidado - duas no Coimbrão e cinco em Monte Redondo - por isso telefonou ao padre Bertolino, da Vieira, para não rezar a missa na segunda-feira porque no Pedrógão estavam preparados para o maltratar e que devia ser solidário. Isto porque, depois de explicar que não deve, segundo as normas da Igreja Católica, celebrar mais de duas missas diárias ou três em casos excepcionais, havia acedido ao pedido.

Esta missa acabou por ser celebrada ontem em Vieira de Leiria, ao oitavo dia. Noutra paróquia, mesmo com os seus paroquianos, não se importa. E sobre o abaixo-assinado desafia os promotores a levar-lho, que também assina, "desde que seja para sair do Pedrógão", embora diga que tem lá "uma grande claque que o defende" e que "entre essas pessoas se encontram as irmãs do falecido".

Quanto à bondade de cada um contrapõe, com a obra do centro social que criou para ajuda aos mais carenciados, para o qual adiantou 103 mil euros e a paróquia o restante dinheiro de um custo total de 900 mil euros.

DN, 19-3-2008
 
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