18 novembro, 2007

 

17 de Novembro


Dia nacional do não fumador


http://web.rcts.pt/escolovar/cigarro.htm

http://www.minerva.uevora.pt/publicar/wq_fumar/

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Consultas para deixar de fumar duplicaram após a lei do tabaco

DIANA MENDES

Há cada vez mais pessoas a procurar as consultas de desabituação tabágica. Desde que a nova lei foi aprovada em Junho, "o número de pessoas a procurar as consultas duplicou", redisse ao DN Luís Rebelo, presidente da Confederação Portuguesa de Prevenção do Tabagismo.

Este é um sinal de que "as pessoas se estão a habituar à lei. Começam a perceber que vão surgir limitações ao fumo no trabalho e nos restaurantes". Além do Centro de Saúde de Alvalade, onde dá consulta, o médico refere que muitos profissionais estão a verificar a mesma tendência.

"Há pessoas que vêm ter connosco com casos importantes e necessidades claras. Temos uma professora que se sentia incapaz de dar aulas porque fumava três maços por dia", refere. A questão é relevante porque apenas 5% a 10% dos dois milhões de fumadores conseguem abandonar os cigarros sem ajuda de um médico, medicamentos ou a sua combinação.

"Dos 90% de fumadores que restam, 20% (360 mil) estão preparados para deixar de fumar, desde que tenham condições, ou seja, medicamentos, consultas ou terapias." Mais um argumento a favor do reforço do número de consultas.

A nova lei, que entra em vigor no dia 1 de Janeiro, prevê uma consulta em cada centro de saúde e hospital. Mas, por enquanto, existem apenas 147 consultas no País. De acordo com a Direcção-Geral da Saúde, há 187 consultas, mas a soma inclui as que ainda vão abrir no Norte. Sérgio Vinagre, o coordenador do Programa de Tabagismo da Região Norte, avança que "está prevista a abertura de 160 consultas, uma por cada dez médicos de família". O programa é mais ambicioso do que a lei, porque "há e haverá ainda mais procura", o que justifica, por vezes, três ou mais consultas por centro.

Mas nem todos os fumadores têm de ir à consulta especializada -"que chega a ter uma taxa de sucesso de 25%" -, que absorve apenas os casos mais complicados. O responsável frisa ainda que já estão formadas quase 90% das equipas necessárias para a abertura das consultas.

Luís Rebelo, ressalta que a procura é grande, mas que a cobertura ainda está "longe de ser suficiente. Na região de Lisboa apenas existem 28 consultas, no Algarve duas e no Alentejo só há quatro. O Centro está um pouco melhor, com 43 ao todo.

Os vários especialistas mostram grande preocupação com os mais jovens. "17% dos adolescentes fumam", diz Segorbe Luís, presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia. A solução passa "pela educação, intervenção dos pais, mas sobretudo pelo aumento do preço do tabaco". O aumento das consultas e administração de medicamentos, com taxas de sucesso entre 12% e 20% é fulcral. Além disso, "todos os médicos devem falar sistematicamente com os doentes fumadores. Há uma grande percentagem que não o faz", conclui .

DN, 15-11-2007
 
Apenas uma minoria recorre a médicos para deixar de fumar

DIANA MENDES

Desde que a Lei do Tabaco entrou em vigor, a 1 de Janeiro, o número de fumadores portugueses a recorrer às consultas para deixar de fumar duplicou. No entanto, os médicos dizem que apenas uma minoria tenta abandonar o vício com apoio médico. "Os fumadores ainda não pedem ajuda. Continuam a pensar que conseguem fazê-lo sozinhos", diz Sérgio Vinagre, coordenador do Programa de Tabagismo do Norte, calculando que o façam pouco mais de 10%.

A iniciativa própria é um bom sinal, indicador de uma motivação que é o principal segredo do sucesso. Mas sem sempre é a melhor opção. Sérgio Vinagre aconselha os potenciais ex-fumadores a consultar o médico de família, a quem deveria caber a responsabilidade de orientar os casos mais "fáceis". Os restantes devem ser conduzidos às consultas de cessação, onde os métodos a optar são ajustados ao nível de dependência e à motivação.

De acordo com o último eurobarómetro, publicado em Maio de 2007, apenas 14% dos portugueses recorrem a um médico para abandonar o vício. Nessa altura, os fumadores europeus recorriam aos inaladores, pastilhas e outros medicamentos que substituem a nicotina como segunda opção (26%). Terapias à base de ervas e a acupunctura eram usadas por apenas 3%.

Luís Rebelo, presidente da Confederação Portuguesa de Prevenção do Tabagismo, não hesita em afirmar que a procura das consultas "duplicou um pouco por todo o País". Actualmente, há mais de 210 consultas em território nacional, a maior parte das quais no Norte (89). O número de profissionais envolvidos é agora de quase 600. E há espaço para mais, especialmente em regiões como a de Lisboa, mais desfalcadas.

Sérgio Vinagre refere que ainda existem alguns problemas, como listas de espera em algumas regiões. Em muitos casos, porém, são os fumadores menos dependentes que recorrem às consultas especializadas, em vez de serem os casos mais complexos. Alertou ainda que "há algum tempo, os fármacos para deixar de fumar eram vendidos sem receita médica em 75% dos casos, o que significa que resistem a ir aos médicos".

A quebra no consumo de tabaco, bem patente nas vendas nacionais, está a revelar uma mudança de padrões negativa entre os jovens. Em várias cidades do País, o consumo de tabaco diminuiu, mas acabou por se reflectir no aumento do consumo de bebidas alcoólicas, refere um estudo do Instituto Europeu de Estudos na Prevenção, publicado na revista BMC Public Health.

Outro estudo, do PESCE, estimou que uma redução de 15% no consumo de tabaco em Portugal evitaria 400 mortes por ano em 2030, juntando-se a isso a redução de 2200 casos de outras patologias. Ganhos que se poderiam obter juntamente com uma poupança de 7,5 milhões de euros/ano por parte do Estado.

Qual o método de Sócrates

O primeiro-ministro, José Sócrates, revelou, sem ser obrigado a fazê-lo, que iria deixar de fumar. No dia seguinte queixou-se do "calvinismo moral" dos que o censuraram por dar maus exemplos fumando num sítio proibido - no caso, um avião, fretado pelo Governo, que o transportava, a ele e a uma vasta comitiva, para a Venezuela -, caso noticiado pela imprensa no primeiro dia da viagem.

Ontem, o DN interpelou um assessor do primeiro-ministro sobre se este usaria para deixar de fumar exclusivamente a sua força de vontade ou métodos medicinais auxiliares. "Isso é um assunto da vida privada", respondeu o assessor, escusando-se a entrar em pormenores.

Esta é pelo menos a segunda vez que Sócrates tenta deixar de fumar. Até 2005, esteve seis anos sem pegar num cigarro. Nessa altura, pressionado pelo stress da campanha eleitoral, voltou a fumar.

DN, 19-5-2008
 
Empresas ameaçam despedir trabalhadores fumadores

PEDRO VILELA MARQUES

Há empresas portuguesas a querer despedir trabalhadores por perderem muito tempo a fumar. Sindicalistas e especialistas da área dos direitos do trabalho contaram ontem ao DN que há casos de patrões que utilizam o argumento da quebra de produtividade provocada pelo tabaco para invocar os despedimentos com justa causa, "o que seria ilegal".

Confrontado com os dados avançados ontem à Lusa pela Associação Nacional de Pequenas e Médias Empresas - segundo a qual já está a acompanhar 12 processos disciplinares que visam despedimentos por justa causa tendo em conta quebras de produtividade acentuadas - Garcia Pereira, conhecido advogado em questões laborais, garantiu ao DN ainda não ter conhecimentos de processos em tribunal, mas sim de dois casos concretos de empresas que avançaram com ameaças nesse sentido. "O que é completamente ilegítimo", acrescenta.

No entanto, o especialista em Direito do Trabalho Fausto Leite, que já representou um trabalhador ameaçado de despedimento por saídas injustificadas da empresa para fumar, relata um episódio em que o patronato aproveitou as consequências da entrada em vigor da Lei do Tabaco para avançar mesmo com processos de despedimento. "Há um caso em que os trabalhadores saíam das instalações para fumar à porta da empresa e os patrões fingiam tolerar. Com má-fé, foram somando todos os minutos das pequenas ausências e quando esse tempo correspondeu a cinco dias úteis avançaram com um processo de despedimento por justa causa", lembrou o jurista, considerando que provar a "justa causa" em tribunal é complicado e o vício é "uma grande atenuante".

Garcia Pereira vai mais longe e defende que "é perfeitamente legal que os trabalhadores tenham pequenas pausas para descanso e satisfação de necessidades, inerentes à actividade humana", defende o especialistas, que lembra em jeito de exemplo a tentativa frustrada pelos tribunais de as empresas imporem cartões magnéticos para as idas dos funcionários à casa de banho.

Casos na hotelaria

Tal como Garcia Pereira, Rodolfo Caseiro, do Sindicato da Hotelaria da região Sul, também não tem conhecimento de nenhuma tentativa de despedimento que tenha avançado já para os tribunais, mas apresenta casos concretos de empresas que avisaram que podiam ir nesse sentido. "Já houve ameaças de abertura de processos disciplinares aos trabalhadores nos hotéis Tivoli e Marriott, em Lisboa. Mas nitidamente ainda não o fizeram por não haver suporte legal".

Na mesma ordem de pensamento, Garcia Pereira ironiza ao perguntar se a partir de agora "as empresas também vão contar os minutos que o empregado perde na casa de banho ou quando levanta os olhos do teclado". Segundo o advogado, o argumento das grandes perdas de produtividade só é utilizável para justificar despedimentos com justa causa quando o funcionário não quer manifestamente trabalhar. "Utilizar o tabaco como argumento não é tolerável à luz da justa causa", conclui Garcia Pereira.

DN, 31-5-2008
 
O universal e agora maldito orgulho de ser um fumador

FERNANDO MADAÍL

Para os fundamentalistas da campanha antinicotina, o livro de James Fitzgerald devia mesmo ser proibido. Para os não fumadores que respeitam os outros será uma obra divertida. Para os viciados desesperados pelo proibicionismo pode tornar-se quase numa bíblia. Para os restantes fumadores é, acima de tudo, um despertar de sorrisos cúmplices

Groucho Marx pedia, de forma educada: "Importa-se que não fume?"

Fernando Pessoa, se vivesse hoje, em vez de A Tabacaria, devia escrever um poema sobre O Ginásio. Qualquer fumador, perante a ofensiva dos puristas que agora também chegou a Portugal, começa a reagir desta forma. Há mais tempo sujeito a esta pressão social do politicamente (e sanitariamente) correcto, o americano James Fitzgerald escreveu o divertido livro O Prazer de Fumar Cigarros (ed. Guerra e Paz), que deve extremar posições entre os que o vão transformar numa Bbíblia de citações e os que esperam que o bom senso o atire para um index.

"[O meu pai e a minha mãe] faziam parte de toda aquela tribo de brancos americanos que parecia celebrar o fim da Segunda Guerra Mundial mudando-se para os subúrbios, adquirindo cães pastores e [automóveis] Chryslers, indo às compras em armazéns bem iluminados, bebendo gins tónicos no quintal enquanto os filhos viam televisão, lá dentro, e... todos fumavam cigarros. E porque não?"

A explicação de Fitzgerald, nestas páginas em que conta a sua vida - antes de se dedicar a temas verdadeiramente importantes, do género como fazer anéis de fumo ou qual é a verdadeira origem da superstição dos três cigarros acesos com o mesmo fósforo - é, afinal, bem simples.

"O fim da década de 1940 e a década de 1950 trouxeram uma quantidade de novas marcas e aromas: os Salem, como os grandes cigarros mentolados para fumar fora de casa, eram mentolados; os Herbert Tareyton sugeriam autoridade e a velha escola; os Parliament tinham os seus filtros embutidos; os Kent, que todos os jovens médicos de fresca data pareciam fumar, tinham filtros de micronite - a lista de opções parecia não ter fim. Cigarros suburbanos. E as pessoas fumavam em toda a parte e em qualquer altura."

Outros tempos, em que o Lucky Luke ainda não tinha trocado o cigarro por uma palhinha, havia um anúncio em Times Square com o "rosto de um fumador muito feliz a expelir anéis de fumo de um metro e vinte", o cowboy da Marlboro ainda não se queixava de cancro de pulmão e Joe Camel era um boneco mais popular entre as crianças que o Mickey.

"Grandes carros de rabo de peixe traziam cinzeiros enormes com isqueiros de carregar, tanto para os assentos da frente como para os de trás. (...) As pessoas fumavam na televisão, nos aviões, nos autocarros e nos comboios, nos bancos e nos supermercados, nos recintos desportivos, em toda a parte."

E, páginas adiante, lê-se que "os cigarros têm sido os melhores amigos dos soldados desde há muito, muito tempo" - pelo menos desde a Guerra da Crimeia (1853-1856), quando os espanhóis os deram a conhecer a franceses e ingleses. "Os cigarros que [os militares] fumavam eram fáceis de transportar, fáceis de acender e fáceis de fumar."

Depois, tudo mudou. E agora, quando já há quem queira cortar as cenas dos filmes clássicos em que o cigarro está associado ao charme, tirando-o dos lábios de Marlene Dietrich e Humphrey Bogart, de Marilyn Monroe e James Dean, até o candidato republicano à Casa Branca, John McCain, mesmo argumentando a seguir que era uma piada, disse que vender mais cigarros ao regime de Teerão podia ser "um boa forma de matar" os iranianos. E, se houvesse mais sentido de humor na velha Pérsia, poderia ter escutado, como réplica, duas frases de Mark Twain, o escritor que garantia que "é fácil deixar de fumar. Já o fiz centenas de vezes."

O livro de Fitzgerald é uma espécie de manual de argumentos para os fumadores, mas também um repositório de curiosidades e uma fonte de sorrisos para toda a gente. Além de se ficar a saber que Jacqueline Kennedy fumava L&M e que a idosa Golda Meir (primeiro-ministro de Israel entre 1969 e 1974) também fumava, que os cigarros de James Bond eram Duhnill e que o actor Bob Hope fazia campanha pelos Chesterfiel, que Roosevelt com a sua boquilha e Estaline que gostava dos cigarros Edgeworth tinham sido fumadores de cachimbo, que Picasso acendia Gauloises enquanto Norman Rockwell devia preferir um maço de Winston, também se aprendem coisas tão úteis como "o espírito índio" ou "fumar na Arábia", que Bob Marley apreciava o seu haxixe num cachimbo conhecido por spliff e que Jesus Cristo é uma das "boas pessoas que nunca fumaram cigarros".

Entre reproduções de quadros de Tom Wesselmann e referências a filmes (Café e Cigarros, de Jim Jamursch, Fumar e Não Fumar, diptico de Alain Resnais, Fumo, de Wayne Wang e Paul Auster, a lista é imensa), surgem os "malditos cigarros de chocolate" e a revelação que, na gíria dos cowboys, um livro de mortalhas era "a Bíblia", o famoso logotipo que Raymond Loewy concebeu para os maços de Lucky Strike e um friso com meia dúzia de banhistas na borda da piscina de cigarro na boca.

Nem sequer falta uma cronologia dos isqueiros BIC e as suas outras utilidades. "Além de acender cigarros, os BIC são óptimos para coisas como as chaves do carro perdidas num subterrâneo escuro ou para acompanhar a multidão numa qualquer homenagem a Jerry Garcia, em que, por qualquer razão, todos acendem os seus BIC e estão constantemente a olhar para o céu."

E, no fundo, qualquer fumador sugeriria que talvez fosse mais eficaz escrever os alertas naqueles rectângulos fúnebres que ornamentam os maços com alguma ironia. "Fumar prejudica gravemente a sua saúde. Divirta-se. Morra em paz. Que ninguém o chateie." Ou, na expressão de Groucho Marx: "Importa-se que não fume?"

DN, 19-7-2008
 
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