02 novembro, 2007

 

2 de Novembro

Dia dos finados

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"A morte aproxima as pessoas da religião"

D. Albino Cleto

Numa longa conversa aqui resumida, Albino Cleto diz que a morte não se explica "como um teorema de matemática", mas desafia a ciência a atenuar o sofrimento...

JN|O que significa o Dia dos Mortos?

Albino Cleto | A intenção é pensar nos que vão a caminho do céu, um dia depois de celebrar os que já lá estão. Aqueles são os irmãos do purgatório, que estão ainda a ser purificados por Deus e pelas nossas orações.

Os católicos de hoje sentem o Dia dos Mortos?

Muito. E estamos atentos, para que isso não se perca. Sabendo que a cremação leva muitos a não terem já sepultura, procuramos que a intercessão dos mortos não dependa da visita ao cemitério. Procuramos fazê-la com oração colectiva e particular e com a prática da esmola. Inculcamos o bom costume de dar aos pobres ofertas pelos que partiram, para ajudar estes a purificarem-se das suas faltas e a estarem no céu. .

É uma estratégia nova para contornar fenómenos emergentes como a cremação?

São rituais antigos, e tentamos que não se percam. Tem sido conseguido, com sentimentalismo e convicções. Os sociólogos da religião dizem que o ultimo traço de uma convicção religiosa está ligado à morte. As populações e até os indivíduos mantêm ritos religiosos ligados à morte, mesmo quando já não tem praticas de fé.

A morte aproxima as pessoas da religião...

Absolutamente! Essa não é a perspectiva cristã, mas é um facto que a morte aproxima as pessoas da religião, porque lhes levanta uma interrogação fundamental o que é a vida? Por que é que a vida acaba? Acaba mesmo, ou prolonga-se para lá da morte? São interrogações que qualquer um põe a si próprio.

Então aproximam-se da religião por desespero?

Uns sim, outros não.

E como podem as orações e a esmola atenuar o sofrimento de uma pessoa enlutada?

Na medida em que há, em todos esses gestos, uma palavra de esperança. Compreendemos as lágrimas, o luto, mas procuramos uma mensagem de esperança.

O que é a esperança?

Há uma continuação da vida para lá da morte. Não experimentámos ainda em que condições, mas a ressurreição de Jesus Cristo e as palavras que ele tinha dito são o fundamento dessa esperança.Não pretendemos explicar o mistério da morte como se explica um teorema de matemática. Ela tem um mistério, e aí entra o conceito de espírito, de alma. Segundo ponto alguém tem a chave deste mistério. Nas primeiras páginas da Bíblia, a morte aparece como castigo. Ora, se é castigo, significa que deveria haver situações sem castigo. E aí, sim, a teologia cristã diz que a morte é o castigo do pecado.

Mas ouvimos frequentemente dizer de alguém que morreu 'Ah, coitado, não merecia!'

É um dualismo. Na igreja, ao domingo, expressamo-nos em termos de fé. No dia-a-dia, parece que esquecemos a fé... Há mortes que têm um sabor de injustiça, mas essa injustiça está mais ligada ao comportamento humano do que ao de Deus. Crianças que morrem atropeladas, batidas pelos pais. De quem é a injustiça? Foi nossa, da sociedade.

Podemos contrapor com causas mais aleatórias.

Por isso comecei por dizer que a morte é sempre mistério. Vêm-me dizer 'Como é que você explica a morte de milhares num tsunami?' Não sei. Acredito que Deus tem, para lá desta vida, maneira de garantir felicidade a quem não teve culpa. E aceito a evolução da ciência. A pessoa aparece com cancro e dizemos que não tem solução, mas, quando era miúdo, dizia-se o mesmo da tuberculose. Hoje, ela cura-se. Tenho esperança de que o cancro se curará e os tsunamis serão previsíveis.

Isso não é a ciência a desafiar o "mistério da morte"?

É. E a fé a pedir à ciência que o estude e atenue o sofrimento.

JN, 1-11-2007
 
Cremação é novo ritual

"A mentalidade das pessoas está a mudar" e por isso a cremação é cada vez mais prática recorrente, explica Sérgio Braz, da Associação Nacional de Empresas Lutuosas. A falta de espaço nos cemitérios, os ritmos de vida e a permissão da Igreja Católica também podem justificar o aumento dos actos crematórios, disse à Lusa o responsável. O fenómeno é mais visível nas grandes cidades, pois no interior ainda resistem os moldes tradicionais do ritual. Ainda assim, Portugal está muito aquém dos restantes países da Europa, onde a média de cremações ronda os 25 %, contra os 4% nacionais, refere Paulo Carreira, da agência funerária Servilusa.Um funeral com cremação pode custar entre os 1100 e os 4655 euros, dependendo da urna e dos carros funerários. Em Lisboa, 43,8 % dos funerais até Setembro foram cremações, tendo vindo a subir nos últimos anos. Os dois fornos crematórios da cidade são já insuficientes.

JN, 1-11-2007
 
Finados: Romagens aos cemitérios ameaçadas pelas cremações

Hoje é Dia de Finados, uma data em que tradicionalmente as pessoas se deslocam aos cemitérios para visitar as sepulturas e os jazigos dos seus familiares ou amigos já desaparecidos.

Uma vez que o Dia de Finados, 02 de Novembro, é um dia de semana, as romagens aos cemitérios são normalmente antecipadas para o feriado de Todos os Santos ou, como este ano, adiadas para o fim-de-semana.

A data, uma festividade da Igreja Católica, pretende celebrar a memória dos que já morreram e através dela testemunhar a sua fé numa vida para além da morte.

O Dia de Finados e sobretudo o feriado de Todos os Santos são aproveitados para visitas aos cemitérios, com limpeza e colocação de flores nas campas e nos jazigos, uma tradição que começa a ser ameaçada pelo número crescente de cremações, sobretudo em Lisboa.

As cremações representam já quase metade dos funerais realizados em Lisboa, uma prática que mais que quadruplicou na última década, segundo dados avançados à agência Lusa pela Câmara de Lisboa.

«A opção pela cremação, enquanto prática funerária, tornou-se uma alternativa em crescente expansão quanto ao destino dos restos mortais, quer se trate de cadáveres quer de ossadas», disse à Lusa uma fonte da Divisão de Gestão Cemiterial.

Os dados indicam que dos 4.769 funerais realizados até Setembro deste ano, 2.089 foram cremações (43,8 por cento).

Em 1997 foram realizados em Lisboa 9.355 funerais, dos quais 846 (9 por cento) foram cremações, um número que subiu, em 2006, para 3.570, representando 40,6 por cento do total das 8.791 inumações realizadas nesse ano.

Para Sérgio Braz, da Associação Nacional de Empresas Lutuosas (ANEL), o aumento da cremação, não apenas em Lisboa, mas também a nível nacional, deve-se à «mudança de mentalidades».

«A mentalidade das pessoas está a mudar e as novas gerações recorrem mais a esta prática», adiantou Sérgio Braz.

A falta de espaço cemiterial, os ritmos de vida, e a permissão da Igreja para esta prática também poderão ter contribuído para a subida da cremação, acrescentou.

Para a socióloga Isabel Moço «os ritmos de vida actuais implicaram algumas alterações nos ritos e isso teve implicações no próprio imaginário das pessoas e na forma como encaram a morte», principalmente nas grandes cidades.

«No interior do país os rituais mudam com menos frequência e há alguma tendência para a continuação dos moldes tradicionais do ritual», adiantou à Lusa a socióloga, lembrando que a cremação foi rejeitada como opção durante muito tempo na sociedade portuguesa.

Actualmente, há uma tendência para fazer um afastamento mais rápido dos mortos e a cremação, sendo opção da família de ficar com as cinzas ou de as depositar num local próprio, é uma forma de desmaterializar uma relação, sustentou.

Diário Digital / Lusa 02-11-2007
 
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