02 novembro, 2007

 

2 de Novembro


Dia dos fiéis defuntos




http://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_dos_fi%C3%A9is_defuntos

http://www.agencia.ecclesia.pt/ecclesiaout/liturgia/liturgia_site/santos/santos_ver.asp?cod_santo=186

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A morte saiu de casa

Hospitais substituíram as casas como lugar onde mais se morre

Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística confirmam que os portugueses morrem cada vez mais no hospital e cada vez menos nas suas casas. E a mudança preocupa religiosos e técnicos de saúde, por verem nela um paradigma da tendência actual de transformar a morte num fenómeno "asséptico", afastando-o da vista e do pensamento, evitando rituais ou ocultando manifestações naturais como o choro. Por consequência, alertam, o luto vai tornar-se cada vez mais doloroso. Em 2005, foram registados 107.839 óbitos, mas só 33.565 (31%) ocorreram num domicílio, contra 61.884 (57%) verificados em estabelecimento de saúde durante internamento. Apenas cinco anos antes, de um número total de 105.813 mortes, houve 36.486 pessoas (34%) que faleceram em casa, enquanto que 55.756 (52%) expiraram em ambiente hospitalar, quando estavam internadas.

"Se não queremos que as pessoas morram em casa, é sinal de que queremos afastar a morte da nossa vida", observa um dos dois capelões dos HUC, José António Pais, que presta apoio espiritual a doentes, familiares e funcionários. "Privatizámos a morte. Antigamente, era um acontecimento social, em que a comunidade inteira participava. Hoje, porque já não se vive esse processo e se quer julgar que não há doença nem morte, o luto aparece como algo muito difícil".

D. Albino Cleto observa mesmo a tentativa de "evitar que os jovens vejam os defuntos", e lança um aviso "Quando mais adiante tiverem de enfrentar a morte da mulher ou do marido, vão desorientar-se". De resto, o prelado teme que Portugal não resista por muito mais tempo à moda, que já testemunhou em Espanha, de o defunto permanecer no hospital as horas exigidas por lei e seguir directamente para o cemitério: "É uma fuga à realidade".

Ateu, o psiquiatra Pio Abreu também não tem dúvidas em afirmar que "o drama, hoje em dia, é a assepsia da morte". "É preciso chorar!", ilustra, numa mensagem que a psicóloga Ana Isabel Cruz reforça, quando sai em defesa do velório durante toda a noite, da missa de sétimo dia, até do fenómeno de catarse das carpideiras. "Quanto mais forte for o processo de consciencialização da morte, mais depressa se ultrapassa a difícil fase da negação", justifica esta mãe enlutada, que na juventude criticava quem se vestia de preto para cumprir o luto, mas mudou de ideias, em 2002, quando o filho morreu. Este ano, voltou a vestir o vermelho.

Nelson Morais

JN, 1-11-2007
 
leonel de castro

Hoje e amanhã, Dia de Todos os Santos e Dia de Finados, são momentos de regresso aos cemitérios para milhões. Mas há casos de retornos mais difíceis, relatados pela Igreja e por psiquiatras


Nelson Morais

"Por que estais a olhar para o céu a ver aquele que partiu?"


Uma mãe em luto e profundamente deprimida dorme o mais que consegue, só para poder sonhar com o filho e, depois de acordar, fazer o que ele lhe pediu nos sonhos. Outra enlutada anónima conserva as roupas do morto e cheira-as todas as noites. Numa casa igualmente tocada pela morte, há um prato no lugar vazio da mesa onde costumava tomar as refeições o familiar que partiu. O quarto onde dormia continua como antes, e nas paredes e móveis da casa multiplicam-se fotografias da vida que se perdeu.

O psiquiatra Pio Abreu relata estes casos e comportamentos de gente incapaz de ultrapassar a chamada "fase de negação do processo de luto", para mostrar como, "muitas vezes, as pessoas passam a viver com um fantasma". "E passam a viver mal", sublinha o médico, que tem dedicado especial atenção à problemática do luto patológico. Esta experiência não lhe autoriza estimativas sobre a prevalência do problema na população, mas permite-lhe fazer uma avaliação genérica, concluindo que muitos dos que visitam os cemitérios hoje (Dia de Todos os Santos) e amanhã (Dia de Finados) continuam a "viver com um fantasma".

Reuniões quebram silêncio

Ana Isabel Cruz, psicóloga de 46 anos que procurou ajuda na associação Apelo - Apoio à Pessoa em Luto - para ultrapassar o falecimento inesperado do filho, defende que a dimensão do problema é tanto mais desconhecida quanto maior é o tabu da morte nas sociedades modernas. "É uma temática muito pouco falada, e há pessoas que, ao fim de 20 anos, continuam a ter sintomatologia de luto patológico".

Para quebrar o silêncio, a Apelo promove sessões com o mesmo formato das reuniões dos Alcoólicos Anónimos. "Sou filha única, não tenho ninguém que converse comigo sobre a morte do meu pai e a Apelo é um espaço onde me ouvem. Tem sido uma ajuda, por me obrigar a encarar o luto como algo normal", conta Daniela Correia, 27 anos, assistente social. Ana Isabel Cruz acrescenta uma explicação "Tendemos a pensar que o nosso sofrimento é único, e como nos grupos há pessoas em fases diferentes do processo de luto, é bom que alguém diga, por exemplo, 'eu já passei por isso'. Trata-se de perceber que há um processo, com etapas, que é finito".

Pio Abreu subscreve e aponta a fase da negação (a seguir ao choque inicial e antes das fases da "agressividade" e da "reintegração"), como a mais difícil. "E se a pessoa não ultrapassa a fase da negação, as restantes não se sucedem", insiste. Neste contexto, o médico, ateu, reconhece que a promessa de "eternidade" das religiões pode ajudar "imenso", mas não deixa de lhe apontar um aspecto negativo "A religião fomenta a ideia de que o morto continua a ocupar as pessoas e retira-lhes liberdade de o substituir".

A morte não mata o amor

O bispo de Coimbra, D. Albino Cleto, alega que "a Igreja não cultiva isso, mas compreende-o". "Se morre uma pessoa que eu amei na vida, não digo que o amor terminou na hora em que o amado expirou. O amor é uma realidade muito forte, que a ausência não mata", explica. De resto, o prelado recorda que a Igreja Católica aceita que os viúvos voltem a casar, e cita uma mensagem, no Evangelho, de Jesus aos apóstolos "Por que estais a olhar para o céu a ver aquele que partiu? Ide por todo o mundo".

Pio Abreu acha esta passagem do Evangelho "óptima", mas não toca em crenças religiosas. É com "truques" da psiquiatria que procura ajudar os seus pacientes a alcançar a libertação "É preciso perceber quais são os sinais que fazem vivificar o morto e, depois, libertar-se desses sinais, oferecendo as suas roupas, ocultando ou mesmo destruindo as suas fotografias", aconselha Pio Abreu. O psiquiatra dos Hospitais da Universidade de Coimbra defende que "pode ser igualmente muito importante a trasladação dos ossos acontecer na presença da pessoa que sofre o luto patológico ou, por outro lado, ajudar esta a imaginar a degradação do cadáver".

Nas sessões de psicodrama, em que grupos de indivíduos improvisam cenas dramáticas sobre determinado tema, os métodos são mais elaborados, como exemplifica Pio Abreu "Podemos pôr a pessoa a escrever uma carta ao morto e, mais importante, pô-la a escrever a resposta do morto, onde este lhe dirá que não continue a sofrer por causa dele".

A mãe enlutada que dormia muito para sonhar com o filho não fez psicodrama, mas esteve internada nos HUC numa altura em que o próprio Pio Abreu acompanhava pacientes aos cemitérios, para os ajudar a convencerem-se de que a pessoa que os fazia sofrer "estava morta e não lhes restava senão os ossos". Hoje, não sabe do paradeiro daquela senhora, mas recorda-se de que "ela teve alta, ficou bem e pôde encarar de novo a vida".

JN, 1-11-2007
 
Activista da Associação Apelo

Vim para a associação Apelo (Apoio à Pessoa em Luto) por me ter apercebido das dificuldades que as outras pessoas tinham em falar comigo sobre a morte do meu filho. Perguntavam-me 'então, Ana, estás bem?', mas rezavam para que eu dissesse que sim...

Activista da Associação Apelo

Quando se perde um filho, toda a gente se afasta. Já passei por isto. Havia pessoas que não deixavam os filhos aproximarem-se dos meus, porque era traumatizante... Agora, tudo é traumatizante para as crianças. Os miúdos não aprendem a lidar com a morte.

JN, 1-11-2007
 
Halloween e Fiéis Defuntos

“Pão por Deus,
Fiel de Deus,
Bolinho no saco,
Andai com Deus.”

Ainda me lembro de andar com outros miúdos da minha
idade e um saquinho de pano colorido na mão, a pedir de
porta em porta o “pão por Deus”…
Passeávamos pela povoação durante a manhã e, quando
chegava a casa, era giro ver o resultado da colheita: castanhas,
nozes, guloseimas, uma ou outra romã e, às vezes,
até dinheiro!
Era um dia óptimo – até parecia que todos os santos estavam
do nosso lado!...
Mas isso era dantes, no Portugal cristão… Agora, os miúdos
festejam o “Halloween”. Vestem-se de bruxas ou de diabos,
para assinalar uma festa pagã dos antigos povos celtas,
famosa nos países anglo-saxónicos.
As escolas e centros comerciais estão decoradas com abóboras,
vassouras, forquilhas e até instituições ligadas à
Igreja organizam festas com “bruxas, vampiros, fantasmas”
porque – dizem os organizadores – “apesar de não ser
uma tradição nossa, tem crescido nos últimos anos e é
divertido”.
Resta-me deixar um alerta: como o calendário pagão dos
celtas festeja as bruxas até 2 de Novembro, um dia destes,
as bruxas também apagam em Portugal a tradição dos
fiéis defuntos.

Aura Miguel

RRP1, 2-11-2007
 
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