18 novembro, 2007

 

Boa comida


ainda se encontra?




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Bacalhau lidera o 'top' às sextas-feiras

No ranking dos pratos mais pedidos pelos clientes de restaurantes de Lisboa com preços até dez euros destacam-se o bacalhau com natas (cozido ou assado), arroz de pato, picanha, cozido à portuguesa, dourada e peixe-espada grelhado. Este é o panorama do Outono/Inverno, enquanto no Verão "desfilavam" pelas mesas muitas saladas frescas e levezinhas e sardinhas na grelha, disseram ao DN empresários da restauração.

No restaurante O Sinal, na Rua Camilo Castelo Branco, sucedem-se os pedidos de alheira de Mirandela, bacalhau com natas, picanha, cozido à portuguesa e feijoada à transmontana. Para trás fica o bitoque, que "algumas pessoas pedem a pensar que sai mais rápido, mas não é verdade. Os pratos do dia saem logo, porque já estão prontos e é só empratar", explicou um empregado de mesa.

Do outro lado da Avenida Duque de Loulé, O Cacho Dourado, na Rua Eça de Queirós, destaca o arroz de pato, lombo de porco no churrasco e pargo assado no forno. Manuel Cunha, responsável pelo restaurante, acrescenta à lista dos pratos mais pedidos o bacalhau assado à Cacho Dourado e o arroz de tamboril e de marisco. "No Verão não servimos feijoada à transmontana nem cozido à portuguesa, porque são pratos pesados e as hortaliças estragam-se mais com o tempo quente", esclarece o responsável.

Carlos Figueiredo, proprietário do restaurante Sabiá, na Rua Alexandre Herculano, conta ao DN que os pratos mais pedidos são o arroz de pato, cozido à portuguesa, feijoada à transmontana, rancho à antiga, arroz de polvo malandrinho e bifinhos de porco com cogumelos. Na sua opinião, "o bitoque já não faz parte das preferências dos clientes. Só se pede para substituir um prato do dia quando estes já se acabaram. Serve de alternativa".

Na Rua de Santa Marta, os clientes do restaurante O Carteiro preferem especialidades como filetes de polvo, arroz de pato, dourada e peixe-espada grelhado, língua de vitela estufada e plumas de porco grelhadas.

Um pouco mais abaixo, na mesma rua, Carlos Pereira, ao balcão do restaurante Chú-Chú, diz que "a especialidade da casa é o frango no churrasco, um dos pratos mais pedidos, tal como bacalhau e chocos à lagareiro, dourada grelhada, picanha e piano de porco preto".

No Solar de S. José, na Rua de S. José, os clientes encomendam principalmente carne de porco à alentejana, costeletas grelhadas, cozido à portuguesa, dourada grelhada e bacalhau cozido.

À sexta-feira muitos restaurantes têm na sua ementa o bacalhau como prato do dia. É uma questão de tradição. Isto porque, segundo as regras católicas, não se deve comer carne à sexta-feira. Como antigamente o peixe era considerado excessivamente caro, as pessoas optavam por comer bacalhau, que era mais barato.

DN, 12-11-2007
 
Ainda há quem sirva qualidade a bom preço

Para quem quer comer bem sem gastar muito, o Buraco é, na Baixa do Porto, um restaurante obrigatório. Manuel e Francisco abriram sociedade em 1970 e fizeram do Buraco um ponto de encontro de famílias e gente de classe média de áreas profissionais tão diversas como arquitectura, jornalismo, advocacia, teatro, artes plásticas, medicina ou design.

Com dois pisos, cada qual entregue a um patrão, que no atendimento às mesas se faz acompanhar de um empregado, é um restaurante acolhedor, familiar, de ambiente descontraído e sem fronteiras, tanto porque a cumplicidade entre a clientela salta à vista do mais distraído. Arroz de pato, filetes de cherne, empadão, pataniscas de bacalhau, são muitas as sugestões do chefe. "As pessoas sabem que é uma casa de qualidade. Conhecem os pratos e há quem venha de fora só para comer um ou outro, como o arroz de pato", diz o senhor Manuel, homem bem-disposto e paciente, uma máquina de trabalho. "E nós também compreendemos que os tempos estão maus", completa, mostrando sensibilidade pela bolsa do próximo.

O mesmo se passa no Antunes, restaurante de cozinha regional, ainda com forno a lenha e onde, segundo a proprietária, Maria Luísa, "não se gasta um quilo de pimenta por ano". Está bom de ver o alcance da confissão: a comida é "toda natural, caseira, saudável". Os restaurantes antigos, diz com pena, "vão acabando", mas ali os trunfos contra a erosão são, desde o início, há 42 anos, simples e eficazes: "Tudo, desde as matérias-primas à confecção, é de qualidade". A clientela não foge à regra. "Vêm cá muitas famílias, pessoas de respeito", refere, mas também há jovens, e é frequente ver por lá gente do futebol, a exemplo de Pinto da Costa. Sardinhas, fanecas, linguados, marmotas, todas estas opções de peixe ficam em conta, na linha dos seis euros, mas os pratos mais emblemáticos são o pernil à Antunes e os filetes de pescada.

Todo o tipo de cliente se senta à mesa do Zé Bota, Travessa do Carmo, restaurante onde o bem comer a bom preço é uma garantia. Nas mãos de Fernando e Lúcia há cerca de oito anos, goza de ambiente familiar, o que faz com que seja um local onde se volta sempre. Bacalhau na telha, grelhada mista ou rosbife são os pratos com mais saída, mas a lista é extensa e amiga da carteira: escolhas de 5,50 até cerca de 12 euros.

DN, 12-11-2007
 
GOSTAMOS DE VARIAR

Duarte Calvão
jornalista

É verdade que pode ser congelado ou de aquicultura. Ou então bacalhau curado. Mas o certo é que dificilmente se encontram na cozinha popular de outros países tantos pratos de peixe quanto em Portugal. Esta é uma das características que as reportagens do DN em Lisboa e no Porto confirmaram, ainda mais interessante se pensarmos que as perguntas incidiam sobre pratos a menos de dez euros.

A diversidade é, no entanto, a nota predominante. Há dourada grelhada (seguramente de aquicultura, por este preço), filetes de pescada, de polvo, provavelmente congelados, ou de "cherne", que deve ser perca-do-nilo. Várias receitas de bacalhau, que resistem a todas as modas e que apresentam na salga e na cura deste peixe pescado em mares longínquos o seu carácter nacional.

Nas carnes, a variedade continua no nosso fantástico arroz de pato, no porco do cozido, do pernil ou da feijoada , nos bifes de vaca. Aqui, de destacar a popularidade da sul-americana picanha, que se vulgarizou há uns anos, em plena crise das vacas loucas europeias.

A presença destes pratos no dia-a-dia dos portugueses mostra o lado positivo do nosso conservadorismo gastronómico. Mesmo pressionados por horas de almoço mais reduzidas, orçamentos apertados e ditames das inúmeras modas e dietas, muitos portugueses vão fazendo frente a hambúrgueres, quiches e saladas com milho. Não tantos quanto há uns anos, é certo, mas ainda assim em maior número do que outros povos europeus. A preocupação é agora, justificadamente, com as novas gerações, a quem nem sempre soubemos explicar as vantagens gastronómicas e dietéticas de comer em português.

Acostumados a vê-los por todo o lado, nem sempre damos o devido valor a esta diversidade de pratos, de ingredientes, de modos de cozinhar. Mas basta passarmos uns tempos noutro país para sentirmos saudades daqueles filetes com arroz de tomate que engolíamos à pressa no restaurante da esquina ou daquele prato de cozido que nos enchia de sentimentos de culpa.

Ninguém está a dizer que não há outras cozinhas interessantes no mundo para as quais devemos olhar. E é claro que a cozinha tem muitas vertentes (e preços) e um gastrónomo sem curiosidade e abertura a experiências não vale o que come. Mas também é certo que quem não se interessar pela lista dos "pratos do dia", não percebe o país em que vive.

DN, 12-11-2007
 
MESAS OLHAM MAIS À SAÚDE

DANIEL LAM, JOANA DE BELÉM e MARCOS CRUZ

O bitoque já passou à história nas preferências dos clientes dos restaurantes de nível médio da área de Lisboa. Contra o que se pensava, os consumidores já relegaram para segundo plano o bife com batatas fritas. Procuram cada vez mais os pratos do dia, bastante variados nos diversos restaurantes, e dão especial atenção a grelhados, principalmente ao peixe.

Em "digressão" por alguns restaurantes da capital - excluindo cozinha estrangeira e fast food -, a reportagem do DN concluiu que os hábitos dos consumidores estão mudados, havendo mais preocupações com a saúde. Para manter a linha ou evitar perdê-la, procuram mais peixe grelhado e saladas. Mas, depois do Verão e dos pratos mais levezinhos e frescos, voltam agora para a mesa as travessas "de peso", carregadas de cozido à portuguesa e feijoadas. Tudo para ajudar a "aquecer" os dias frios que se avizinham.

No Porto, o cenário é idêntico, com a ressalva de que nenhum "regime" resiste ao apelo de umas tripas ou de uma francesinha, pratos contra os quais não há moda que atente. Mas os filetes de pescada, ou a tradicional parelha robalo/dourada, que está para os peixes como o trio queijo/fiambre/mista para as sandes, tornaram-se cada vez mais requisitados, bem como os acompanhamentos de legumes e as saladas, sendo raro o restaurante de classe média que não sirva uma sopa de verduras. O vinho, esse, continua em alta, ainda que as bolsas obriguem o cliente a cingir-se, hoje mais do que ontem, à garrafa da casa. Mas o que se procura, isso sim, é a melhor relação qualidade/preço - e é aí que se erguem os principais trunfos de casas já com alguma história.

DN, 12-11-2007
 
Gastronomia: El Bulli é o melhor restaurante do mundo

O restaurante El Bulli, propriedade do famoso cozinheiro espanhol Ferran Adrià, foi eleito segunda-feira, pelo terceiro ano consecutivo, o melhor restaurante do mundo, numa gala organizada pela revista gastronómica britânica Restaurant.
Situado na localidade de Roses, na Costa Brava, em Barcelona, El Bulli (O Efervescente, em tradução livre) conseguiu, assim, manter a primeira posição na lista dos 50 melhores restaurantes do mundo elaborada pela prestigiada publicação.

Ferran Adrià, de 45 anos, é conhecido por ser o «alquimista da cozinha» devido à criatividade com que confecciona os pratos, experimentando novas tecnologias e inesperadas texturas e sabores.

O El Bulli fica aberto apenas de Abril a Setembro, já que Adrià passa os restantes meses a aperfeiçoar receitas no seu laboratório-oficina, «El Taller», em Barcelona.

Ferran Adrià começou a cozinhar há cerca de 30 anos quando ainda lavava pratos no Hotel Playafelds, em Ibiza, nas Ilhas Canárias.

Para a segunda e terceira posições, a revista Restaurant elegeu, respectivamente, o restaurante britânico The Fat Duck (O Pato Gordo) e o francês «Pierre Gagnaire».

Depois de França (10 restaurantes) e Estados Unidos (8), Espanha (7) é o país com mais estabelecimentos de alta cozinha no mundo.

No 40º lugar, o brasileiro DOM é o único restaurante latino-americano que figura na lista da publicação, que há sete anos atribui prémios aos melhores estabelecimentos de restauração do planeta.

A selecção dos «50 melhores» é feita por um jurado internacional formado por cerca de 700 chefes de cozinha, proprietários de restaurantes e críticos gastronómicos.

Pela primeira vez, os leitores da revista, fundada em Londres em 2001, puderam votar.

DD, 22-04-2008
 
'O Cozinheiro de D. João VI' entre iguarias e veneno letal

ALFREDO MENDES

Hélio Loureiro. Tempera a arte de bem comer com o escarafunchar da História. No intervalo das funções de chefe de cozinha do Porto Palácio Hotel e da selecção nacional de futebol escreveu um romance que tem um rei e um cozinheiro nos principais papéis

'O Cozinheiro de D. João VI' entre iguarias e veneno letal

Já o tínhamos visto deslumbrado no Palácio da Brejoeira, a ciceronear os chefes de cozinha das selecções de futebol do Europeu/2004. Familiar do Abade de Baçal - personagem fabulosa da etnografia transmontana - sensível a muitas expressões artísticas, o chefe Hélio Loureiro sempre encarou a arte de comer e beber como um estado de espírito. Assim é desde os dez anos, o tempo da sua tia Ludovina, de Bragança.

Consagrado pela Academia Portuguesa de Gastronomia, responsável pelas iguarias que ufanaram chefes de Estado, mentor da Confraria das Tripas, o tradicionalista da evolução deu agora à estampa o livro O Cozinheiro de D. João VI. Uma obra de 244 páginas com pitadas de verdades e ficções.

O monarca, que deixou Portugal instalando a corte no Brasil por ocasião do menu das invasões francesas, morreu envenenado, assegura Hélio. "As vísceras de D. João VI foram analisadas e provou-se que não resistiu ao arsénico. O que credibiliza a versão de que teria sido o cozinheiro Marcelo (António, no livro) quem o assassinou a mando de alguém."

Foi em Monção, no magnífico Palácio da Brejoeira, que nasceu a vontade de escrever este capítulo da História. A dona Ermínia Pais, de 92 anos, contava-lhe a vida do palácio quando Hélio Loureiro ficou cativo de um quadro de D. João VI que ali se encontra. Seguiu-se o estudo, a investigação, inclusive em terras do Brasil. O cozinheiro do monarca, o tal Marcelo, acabaria por matar-se, bem como os dois médicos da corte.

O autor cita requentadas tramas à mesa, vulgo envenenamento do Presidente da Ucrânia e do espião russo, em Inglaterra. Pela boca morre o peixe e... muito vulto graúdo.

Longe de se enganchar a estilos, o chefe de cozinha do reino dos afectos que desejou ser padre, acaso não existisse a tentação da carne, diz que tentou não ser maçador, nem assaz descritivo. A explorar, o sentido humano, sublinha.

Hélio fala de cozinheiros. Do marquês dos Banhos, cozinheiro de Henrique VIII, de Antonan Caremé, que consolava os palatos de Napoleão, do Czar da Rússia e de Jorge III, de Inglaterra. Isto é, o cozinheiro era entronizado na nobre sabença de elaborar comedorias. Pelo menos assim aconteceu até ao advento da República, acrescenta. Com os liberais e as invasões francesas "ridicularizou-se a figura do rei. Criaram a imagem de um D. João VI bonacheirão e alarve". Mais fama que proveito, o pançana.

Ora, ele apreciava galinha quadrada (pitéu no forno, depois de cozido), caça e doces, mas nem bebia vinho.

Hélio Loureiro descreve a partida "não precipitada para o Brasil. Até levaram 40 mil caixas". No séquito de D. João VI viajou o pessoal de serviço na cozinha. Já no Brasil, entre regalos e mistérios, a traição, o crime do homem de confiança do rei, o cozinheiro que também esticou o pernil.

DN, 3-5-2008
 
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