19 novembro, 2007

 

Da remuneração


do trabalho



http://pt.wikipedia.org/wiki/Trabalho_%28economia%29


http://www.correiodamanha.pt/noticia.asp?id=265519&idselect=9&idCanal=9&p=200

Comments:
Trabalhadores à procura de emprego em níveis históricos

MANUEL ESTEVES

Número de insatisfeitos com actual emprego duplicou face a 2000
No 3.º trimestre de 2007 havia 145 mil trabalhadores à procura de outro emprego, ou seja, 2,8% da população empregada, revelam dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). Em termos homólogos, este é o número mais elevado desde 1998 e reflecte a crise em que o mercado de trabalho mergulhou desde 2001.

Com efeito, o número de insatisfeitos com o seu emprego tende a acompanhar a evolução do desemprego. Desde 2000, o universo de desempregados disparou 115% para 444 mil, enquanto o número de pessoas empregadas que pretende obter novo emprego cresceu 104%.

Melhores condições de trabalho constituem o principal motivo que leva os trabalhadores a procurarem um novo emprego. A segunda razão mais apontada prende-se com o carácter provisório do actual emprego, geralmente associado à precariedade do vínculo laboral. Outros trabalhadores procuram um novo emprego sem que tencionem abandonar o actual. No fundo, precisam de uma segunda fonte de rendimentos. Menos frequente, mas ainda assim referenciado no inquérito, são as situações de trabalhadores que estão a tempo parcial contra a sua vontade e que gostariam de trabalhar mais horas. Porém, o contrário também acontece, ou seja, pessoas que gostariam de encontrar um emprego com um horário laboral menos pesado.

A taxa de desemprego situava-se, no terceiro trimestre deste ano, nos 7,9%, mais 0,5 pontos percentuais do que no mesmo período do ano anterior. Esta taxa é mais elevada para os trabalhadores mais jovens, chegando aos 16% para os menores de 25 anos (20% no segmento feminino). Em termos de escolaridade, a percentagem de desempregados é ligeiramente mais elevada entre os licenciados, o que se explica por ser esta uma franja da população mais jovem do que a média. No entanto, quase todos os indicadores revelam que os licenciados conseguem desempenhos mais satisfatórios no mercado de trabalho do que os restantes trabalhadores.

DN, 14-12-2007
 
Só o salário dos chefes cresceu em 2007

MANUEL ESTEVES

Nas empresas de maior dimensão e mais modernas, as políticas de remuneração levadas a cabo em 2007 beneficiaram mais os dirigentes do que os empregados. Esta é uma das conclusões que se pode retirar dos dados apurados pela consultora Watson Wyatt a partir de uma amostra de 141 empresas, a maioria das quais filiais de multinacionais.

Em 2007, os dirigentes de topo e as chefias intermédias viram os respectivos salários de base crescer 4,5% e 7% face ao ano precedente. Porém, as remunerações de base dos técnicos (essencialmente licenciados, cuja funções são desempenhadas com significativa autonomia) decaíram 3,1% no mesmo período, ao passo que os administrativos (que basicamente suportam o trabalho de outros colegas) perderam 0,2% da sua remuneração. Em qualquer dos casos, as evoluções salariais não levam em conta a inflação.

Claro que, pelas limitações da própria amostra, estas conclusões não podem ser generalizadas ao conjunto das empresas. Aliás, as remunerações declaradas por estas à Segurança Social apontam para que, em média, os salários tenham crescido 3,7% em 2007.

Quanto ganha cada um

Em termos absolutos, os dirigentes de topo recebem remunerações de base (que excluem subsídios e outras prestações pecuniárias habituais em muitas empresas) anuais entre 67,9 mil e 95,2 mil euros, o que em termos mensais corresponde a 4851 e 6800 euros. Já as chefias intermédias, têm salários de base situados entre 3000 e 4000 euros. Os técnicos recebem entre 2051 e 2921 euros, enquanto os administrativos auferem mais de 1330 e menos 1950 euros.

Os números da Watson Wyatt revelam uma disparidade significativa entre os ordenados mínimos e máximos praticados no conjunto de 141 empresas. Para as várias categorias profissionais, o salário supera entre 33% e 47% o mínimo.

Outra comparação interessante faz-se entre os ordenados das diferentes categorias. Baseando-nos uma vez mais nos níveis mínimos por categoria, os dirigentes de primeira linha recebem mais 62% do que os chefes intermédios e mais 264% do que os administrativos.

DN, 6-2-2008
 
Presidente critica altos salários dos gestores

PAULA SÁ

Cavaco pede diálogo para reduzir "tensões"

A mensagem de Ano Novo do Presidente da República deu um "suficiente" ao trabalho do Governo de José Sócrates. Cavaco Silva mostrou-se parcialmente satisfeito com a resposta dada os desafios lançados no ano anterior e eram eles o desenvolvimento económico do País, e as reformas da Educação e da Justiça. Conjugou sempre estas áreas com um "mas", ou seja com a necessidade de aprofundar o caminho trilhado. Sobretudo no combate aos "níveis preocupantes de desemprego", "às bolsas de pobreza" e a uma justiça que continua a ser "um obstáculo ao progresso económico e social do País".

Palavras criticas deixou-as para os "altos dirigentes de empresas" que, na sua opinião, auferem rendimentos "injustificados e desproporcionados" face aos salários médios dos seus trabalhadores. À preocupação com o acentuar das desigualdades sociais, o chefe do Estado adicionou o acesso aos cuidados de saúde. Os portugueses, disse "não estão seguros de que os utentes, principalmente os de recursos mais baixos ocupam, como deve ser, uma posição central nas reformas que são inevitáveis para assegurar a sustentabilidade financeira do Serviço Nacional de Saúde. E num recado directo ao ministro da pasta, Correia de Campos, numa altura em que fecham novos serviços de urgência, sublinhou: "Seria importante que percebessem para onde vai o País em matéria de cuidados de saúde".

Cavaco reconheceu melhoria do crescimento da economia e progressos no controlo das finanças públicas. E lá estava o "mas". "Sei que ano que terminou não foi fácil para muitos portugueses. Todos gostaríamos que a evolução da situação económica e social do País tivesse sido mais positiva e que os sinais de recuperação fossem agora mais fortes". Mostrou-se, no entanto crédulo, no ultrapassar das dificuldades. "Será que Portugal pode vencer? Estou convencido que sim."

Apelou a mais e bom investimento, ao contributo das PME e lembrou que em 2008 começarão a chegar ao País novos apoios comunitários, que devem ser "aplicados com verdadeiro sentido estratégico e geridos com eficácia e transparência."

O Presidente deu um aval de confiança à titular da Educação considerando "sinais positivos" o aumento do número de alunos no ensino secundário e superior e a redução do insucesso e abandonos escolares, e pediu ainda um esforço no sentido de "melhorar o clima de confiança entre todos os intervenientes no processo educativo".

O funcionamento do sistema de justiça ainda é, sublinhou, "um obstáculo ao progresso económico e social do País", se bem que foram aprovadas "importantes reformas legislativas".

Cavaco Silva pediu o aprofundamento do diálogo e concertação sociais entre os agentes políticos, os poderes públicos e os grupos e parceiros sociais para "reduzir a conflitualidade e as tensões" e para enfrentar as dificuldades que subsistem, particularmente as bolsas de pobreza. "Para os problemas da inclusão social, obtive respostas que me encheram de alegria", disse o Presidente. E citou algumas: reavivar do espírito de voluntariado, maior sensibilidade das empresas para a responsabilidade social e mais solidariedade.

Neste Novo Ano, Cavaco pediu a atenção dos portugueses e do Governo para dois "problemas graves": a baixíssima taxa de natalidade e a sinistralidade. A que juntou o despovoamento e o envelhecimento das populações do interior.

Só a presidência portuguesa mereceu a nota mais alta: "Portugal saiu prestigiado do exercício da presidência."

DN, 2-1-2008
 
Banca oferece aumento salarial de 1,5%, sindicatos querem 4%

PAULA CORDEIRO

Bancos justificam propostas com perda de margem e novas regras
Banca e sindicatos vão voltar à mesa de negociações na próxima terça-feira, para discutir o aumento salarial para o sector a aplicar em 2008. Mais uma vez, as propostas dos dois lados apresentam valores díspares, que as conversações vão agora aproximar.

Os sindicatos - as três estruturas verticais, os sindicatos dos Bancários do Sul e Ilhas (SBSI), do Centro e do Norte - reivindicam um aumento salarial de 4% para o corrente ano. O patronato responde - através do grupo negociador da Associação Portuguesa de Bancos (APB), presidida por João Salgueiro - contrapondo um aumento de 1,5%, confirmou ao DN o presidente do SBSI, Delmiro Carreira.

De acordo com a revista do SBSI, O Bancário, o grupo negociador da banca justifica a sua proposta pelo "fraco nível da actividade económica do País, a formação de resultados do sector (perda gradual da margem financeira, alegam os bancos), a crise do subprime e as exigências legais em matéria de regulação".

"As condições do negócio bancário têm sido também afectadas pela pressão exercida pelas organizações de consumidores", segundo os representantes do patronato. No ano passado, a banca obteve lucros recordes superiores a dois mil milhões de euros, um crescimento de 30% face ao ano anterior.

Os banqueiros reconhecem, contudo, a "evolução positiva" da produtividade do sector, mas atribuem esta melhoria à "concretização de significativos programas de reformas antecipadas" e aos "avultados investimentos em novas tecnologias".

Para os sindicatos, o aumento de 1,5% proposto pela patronato é "miserável". As direcções dos três sindicatos verticais vão em breve tomar posição conjunta sobre a proposta avançada pela banca. No ano passado, as duas partes partiram para a negociação com propostas idênticas às agora avançadas, tendo sido possível acordar um aumento de 2,75%.

As negociações entre sindicatos e banca poderão ser alargadas a outros domínios, além da questão salarial, adiantou Delmiro Carreira.

Entre estes, poderá ser de novo abordada a questão da integração dos novos bancários do regime geral da Segurança Social, um tema que os sindicatos há muito querem ver resolvido.

DN, 3-1-2008
 
Chanceler Merkel critica salários de executivos

CARLA GUERRA

Na Alemanha, os ganhos dos gestores atingem foros de escândalo
O Presidente alemão, Horst Köhler, e a chanceler Angela Merkel criticaram duramente os altos salários dos executivos alemães, mas não tencionam colocar limites legais ou impor restrições aos rendimentos dos gestores. É que, alegam, isso é função das empresas e dos respectivos conselhos de administração.

À semelhança do que sucede em Portugal, também na Alemanha, as remunerações salariais dos gestores de topo estão na ordem do dia, com a imprensa a colocar o assunto nas primeiras páginas. O tema assume foros de escândalo obrigando os partidos políticos a pronunciarem-se.

Para os social-democratas (SPD), o pagamento destes valores milionários, a titulo de salários, fere o sentimento de justiça. O SPD não propõe limites legais aos salários, mas quer agora avaliar as consequências fiscais em caso de indemnizações por "despedimentos" de gestores de topo. É que, na Alemanha as grandes empresas podem descontar as indemnizações nos impostos a pagar, o que leva os analistas e contribuintes a criticarem a legislação fiscal. Para os analistas, o executivo alemão deveria limitar as deduções fiscais das indemnizações já que esta possibilidade, "não faz parte do livre mercado na afixação dos rendimentos". O factor fiscal poderia levar as empresas a moderarem os salários dos seus gestores.

Uma sondagem publicada pelo jornal Bild am Sonntag mostrou que 65% dos entrevistados são a favor de um limite legal para os salários dos executivos. O presidente da Igreja Evangélica de Confissão Luterana na Alemanha (EKD), bispo Wolfgang Huber, também criticou os altos salários dos executivos. "Quando o salário de uma pessoa é suficiente para financiar mais de cem postos de trabalho e ao mesmo tempo os empregos são eliminados para cortar gastos, isso acaba com toda noção de justiça", afirmou ao mesmo jornal.

O economista Georg Schreyögg, da Universidade Livre de Berlim, diz que a limitação dos salários seria contrária ao "princípio da liberdade de contrato" vigente na Alemanha já que este é "um dos pilares da economia de mercado".

A lista dos 10 gestores mais bem pagos na Alemanha termina nos 4,5 milhões de euros anuais, precisamente o que aufere Karl Ludwig Kley, presidente da farmacêutica Merck. O lugar cimeiro do ranking é ocupado pelo o presidente da Porsche, mas entre os mais bem remunerados encontram-se ainda os líderes da Daimler, da seguradora Allianz e do gigante da informática SAP.

DN, 5-1-2008
 
OS 'GÉNIOS' E OS OUTROS

Baptista-Bastos
escritor e jornalista
b.bastos@netcabo.pt

As afrontosas injustiças sociais conduzem as pessoas a um cada vez maior afastamento do acto cívico e ao desprezo repugnante pelos políticos. As estatísticas são reveladoras. Nunca será de mais referir as evidências. Está em marcha uma espécie de "mexicanização" do regime, em que apenas o PS e o PSD estão dotados da autoridade do poder. A tentativa de se amordaçar a voz dos pequenos partidos destrói a tese segundo a qual, em democracia, as singularidades devem ser afirmadas, reivindicadas e, inclusive, estimuladas. Aos homens da minha geração e àqueles que se nos seguiram causa calafrios a doutrina de que os "outros" não dispõem de bons argumentos.

Temos, talvez, "excesso de memória", como disse a investigadora Irene Pimentel: possuímos o lastro de uma História cuja linguagem se choca com esta realidade, que serve de ligação a versões turvas da liberdade, da equanimidade e da justiça.

As perversões bradam aos céus. Vão-se conhecendo as "reformas obscenas" [expressão de Bagão Félix] atribuídas a "gestores" de instituições públicas; os salários indecorosos; os privilégios e os prémios; as mordomias e as sinecuras. A soma das iniquidades causa ressentimento num país com dois milhões de pobres, elevadas taxas de desemprego, velhos a morrer nos jardins, jovens perplexos com o futuro.

A revista Visão publicou [10 de Janeiro, p.p.] um documento impressionante, no qual são reveladas as diferenças das folhas de ordenado em 25 grandes empresas. Os números são revoltantes. Henrique Granadeiro, administrador-mor da Portugal Telecom, aufere, mensalmente, 185 590 euros [cerca de 37 500 contos], ou seja: 128 vezes mais do que a empresa gasta com 128 trabalhadores, na base de que cada um destes recebe 1449 euros [cerca de 300 contos] mensais. O rol de disparidades não se limita a este caso. E um tal Rui Luz, "perito" em recursos humanos, sustenta a indecência com a frase: "A escassez de talento justifica os salários de directores de primeira linha." Na interpretação deste cavalheiro, estamos perante Einsteins, Oppenheimers, seres incomuns, com elevados graus de genialidade. Não é assim. Conheço alguns dos indicados, cujas meninges deixam apreensivos todos aqueles que não escrevem samarra com cê de cedilha e polícia com U.

Mas este é o discurso do poder e os seus ecos mais condenáveis. Perdeu-se o sentido das proporções, e a ética foi torpedeada por uma democracia administrativa que protege e premeia quem a defende e vitupera e persegue quem a critica. Não há grande variação das formas da palavra. Entre os que decidem, os que se submetem e os que reivindicam existe o domínio de classe que tende a confundir a generalidade e o interesse geral.

Quem nos acode?

DN, 16-1-2008
 
Salários com perdas

RUDOLFO REBÊLO

Em dez anos, os ganhos salariais dos portugueses foram apenas de 6,5%. Mas o valor dos salários dos funcionários públicos caiu 6,2%, de acordo com dados oficiais disponíveis para a economia portuguesa. Para a contratação colectiva, os ganhos reais dos trabalhadores - os aumentos salariais, descontada a inflação - desde 1998 foram apenas de 1,8%.

Os funcionários públicos - a quem corresponde a um agregado familiar de pelo menos 2,2 milhões de pessoas - estão a perder poder de compra desde 2000, quando registaram aumentos salariais de 2,5%. Mas a inflação, ao situar-se em 2,9%, acabou por prejudicar os bolsos da função pública. As perdas salariais podem ser mais elevadas se se considerar que no aumento de 2007 (1,5%) foram subtraídos 0,5 pontos a título de descontos sociais. No cômputo geral, a corrosão salarial pública está concentrada nos anos de 2003 e 2006, quando - por motivos orçamentais, explicado por cortes na despesa corrente - os aumentos salariais foram apenas metade do referencial de preços. Considerando o total da economia, os portugueses estão a perder poder de compra desde 2000. A travagem nos ganhos salariais foi notória a partir de 2003, quando os aumentos salariais foram de 2,2%, com a inflação a fazer desaparecer 1,1% do valor salarial.

Um novo ataque à carteira dos portugueses registou-se em 2006. Nesse ano, os preços ao subirem 3,1% acabaram por anular os aumentos salariais de 2,4%.

Em 2008, poderá ocorrer nova perda salarial, já que o Executivo orientou os aumentos da função pública para os 2,1%, em linha com a inflação.

DN, 18-1-2008
 
PODER DE COMPRA CRESCE HÁ 12 ANOS SEGUIDOS

MANUEL ESTEVES

Chefes ganham cada vez mais do que subordinados
Pode não parecer, mas é isso que dizem as estatísticas oficiais: desde 1996 que os salários têm vindo a crescer acima da inflação. Dito de outro modo, há 12 anos consecutivos que os trabalhadores estão a ganhar poder de compra em Portugal. E, se recuarmos a 1991, só encontramos um ano (1995) em que os preços médios subiram acima dos ordenados.

Os dados são do Ministério do Trabalho e constam dos Quadros de Pessoal, que é uma das mais completas bases de dados (mesmo nos padrões internacionais) que reflecte a informação prestada obrigatoriamente pelas empresas portuguesas, todos os anos, sobre os seus trabalhadores. De fora ficam só os funcionários públicos em regime de nomeação definitiva (os contratados também são contabilizados).

Entre 1996 e 2005, as remunerações de base médias mensais dos trabalhadores, apuradas pelos Quadros de Pessoal, cresceram sempre acima da taxa da inflação registada pelo Banco de Portugal. Esta base de dados não dispõe de números sobre os dois últimos anos, mas a informação prestada pela Segurança Social (baseada nas remunerações declaradas) mostra que os salários cresceram, em 2006 e 2007, 3,5% e 3,7% acima da inflação registada. Assim, entre 1991 e 2007, as taxas de variação anual dos ordenados oscilaram entre 2,5% e 5,9%, enquanto a inflação ficou, em média, ligeiramente abaixo dos 3%.

Claro que os salários não evoluem de forma homogénea e são notórias divergências relacionadas com o tipo de funções desempenhadas pelo trabalhador. A questão foi, aliás, sublinhada pelo próprio Presidente da República, Cavaco Silva, que, no seu discurso de fim de ano, alertou para a desproporção dos salários dos dirigentes face ao dos restantes trabalhadores. Também questões como o sexo, a localização geográfica ou a dimensão da empresa interferem nas remunerações.

Mulheres continuam a perder

É verdade que os salários mudaram muito desde 1991, mas em termos estruturais não houve grandes alterações. As mulheres, por exemplo, continuam a ser mais mal pagas do que os homens. Segundo os Quadros de Pessoal, em 2005 os homens tinham uma remuneração de base média de 835,6 euros, mais 24% do que as mulheres. Se a comparação se fizer entre os ganhos (que incluem subsídios, prémios e outras prestações), o diferencial sobe para 29%.

Apesar disso, em termos relativos, regista-se uma diminuição do hiato salarial entre os dois sexos. Em 1991, os homens ganhavam mais 32% do que as mulheres e agora a diferença é de apenas 24%. Porém, dado o aumento do valor dos salários, o diferencial em termos absolutos também se dilatou, passando de 93 para 161,5 euros.

Lisboa paga mais

Outro traço estrutural do mercado de trabalho é o geográfico. O distrito de Lisboa tem salários muito mais elevados do que as restantes regiões. Enquanto em Lisboa as remunerações superam em 32% a média nacional, as restantes regiões têm ordenados que, em média, são 15% inferiores ao padrão nacional. Setúbal é o segundo distrito com remunerações mais altas, seguido pelo Porto e Coimbra.

Diga-se, no entanto, que o facto de os salários serem superiores nas grandes cidades não significa que o poder de compra dos trabalhadores seja maior. Com efeito, os custos de vida são também mais elevados nas metrópoles.

Quanto maior, melhor

Outro factor decisivo para a fixação dos salários é a dimensão da empresa. Segundo os Quadros de Pessoal de 2004, as empresas com menos de cinco trabalhadores pagam, em média, salários base de 554 euros. Nas empresas com mais de 50 e menos de 250 trabalhadores, o ordenado passa para o dobro, 1017,5 euros. Nas empresas com mais de 500 trabalhadores, a remuneração de base média é de 1266 euros, ou seja, 128% acima daquela que é paga nas empresas com menos de cinco trabalhadores.

DN, 1-2-2008
 
Quando umas 'Adidas' custam um mês de salário...

ILÍDIA PINTO

Entrevistas em quatro países da Ásia mostram que as violações dos direitos humanos são norma

"Já estou morta de cansaço... ninguém tem tempo para ir à casa de banho ou beber água. Mesmo assim trabalhamos sem descanso e sempre com medo de não estarmos a ser suficientemente rápidas para irmos entregar as solas na próxima linha de produção. Os supervisores estão sempre a pressionar-nos e a incomodar-nos. Terminamos cansadas e sujas. Trabalhamos sem parar e só recebemos críticas". Este é o relato de uma trabalhadora de uma linha de produção de sapatos da marca desportiva New Balance, em Dunhuang, na China. Consta de um relatório recente da Fair Play 2008, organização criada pela Clean Clothes Campaign, pela Confederação Internacional de Sindicatos (ITUC) e pela Federação Internacional dos Trabalhadores das Indústrias Têxtil, Vestuário e Calçado (ITGLWF).

O relatório, intitulado "Ultrapassando as barreiras", analisa a indústria dos artigos desportivos através de entrevistas a mais de 320 trabalhadores na China, Índia, Indonésia e Tailândia. Os investigadores da Fair Play não só relatam que os trabalhadores de multinacionais como a Nike, Adidas, Converse, Puma, Reebok ou New Balance ganham salários miseráveis não obstante o crescendo de lucros que estas empresas registam, na ordem das centenas de milhões de dólares. Mais grave ainda, os investigadores concluem que "as substanciais violações dos direitos dos trabalhadores que foram identificadas estão ainda a ser a norma na indústria do vestuário e calçado desportivo".

O certo é que, mais de 15 anos depois da maioria das grandes empresas terem adoptado códigos de conduta nas suas empresas-mãe, os trabalhadores que, na Ásia, produzem os artigos para estas marcas são sujeitos a "pressão extrema para satisfazer quotas, horas extraordinárias excessivas não registadas e não remuneradas, abusos verbais, ameaças para a saúde decorrentes de serem a horários excessivos ou a exposição a substâncias químicas tóxicas". Tudo isto, sublinha ainda o relatório, "sem programas de saúde ou outras formas de seguro exigidas por lei, e sem liberdade sindical para poder negociar colectivamente salários e condições de trabalho".

O objectivo da Fair Play 2008 é obter do Comité Olímpico Internacional, bem como dos comités e governos de cada país, um compromisso concreto de que serão tomadas medidas para eliminar a exploração e o abuso dos trabalhadores na indústria de desporto a nível global. Razão porque abre o relatório com a dimensão económica do evento. Pequim deverá receber 800 mil estrangeiros, além de um milhão de visitantes de outros pontos da China. "Um ano depois das últimas Olimpíadas estimava-se que o mercado mundial de calçado, roupa e acessórios desportivos valia cerca de 74 mil milhões de dólares", refere o documento.

São estas as empresas que pagam, na Ásia, salários inferiores ao mínimo local, apesar dos horários de trabalho de 12 e 13 horas diárias, recebendo 1,25 euros por dia para fazer calçado e 30 cêntimos por cada bola cozida à mão. Na China, um par de Adidas custa entre 55 e 110 euros, ou seja, quase o salário mensal do trabalhador que a produziu, enquanto na Índia ele recebe entre 0,25 e 0,55 por cozer uma bola, o que pode levar entre duas a quatro horas. No Paquistão, os salários estão congelados há seis anos, mas o índice dos preços ao consumidor aumentou 40%, e no Bangladesh, um trabalhador recebe um salário mínimo de 24,30 euros, cujo valor real é inferior ao de 1995 e não permite suportar as três refeições diárias.

A Fair Play não quer "compromissos vagos" e desafia o Comité Olímpico a agir a tempo das próximas Olimpíadas com "acções e objectivos específicos" .

DN, 12-5-2008
 
PR pede intervenção no rendimento dos gestores

Os elevados rendimentos "desproporcionados" auferidos por altos dirigentes de empresas perante os salários médios dos seus trabalhadores voltou ontem a ser criticado pelo Presidente da República. "Este problema não diz apenas respeito ao mercado como alguns pretenderam aqui insistir no nosso País".

Ou seja, Cavaco Silva dava a indicação clara ao Governo que entende serem necessárias medidas capazes de pôr cobro a este problema para o qual já tinha alertado no seu discurso do 25 de Abril. Nessa altura chamou a atenção para as desigualdades sociais e lançou o roteiro sobre a exclusão social para mobilizar a sociedade e os poderes públicos para o combate a este fenómeno.

O chefe do Estado, que falava à margem do Congresso Internacional de Inovação Social, considerou que "neste momento este tema é uma preocupação quase generalizada dos países europeus, como disse o Presidente da Alemanha, porque as grandes desproporções entre rendimentos dos gestores e dos seus trabalhadores põem em causa a paz e a coesão social", declarou.

Para Cavaco Silva, sendo a coesão social uma preocupação dos Estados, então os governos devem tudo fazer pra evitar essas situações de crispação social.

"Anteontem, o Presidente do Banco Central Europeu falou de remunerações escandalosas de alguns gestores na Europa e pediu auto-contenção", disse, acrescentando que "outros tem vindo a defender tributações penalizadoras dos prémios dos gestores".

O gabinete do primeiro-ministro não quis comentar as palavras de Cavaco Silva. "Nunca fazemos comentários ao senhor Presidente", disse ao DN um dos assessores de José Sócrates. Tal como não houve qualquer reacção ao facto do Presidente ter afirmado que Portugal é "identificado como uma sociedade de profundas desigualdades sociais".

Considerou como "experiência inesquecível" a sua participação nas jornadas do Roteiro para a Inclusão Social e que serviu para alertar a sociedade portuguesa para as "situações de pobreza e exclusão social que ainda abundam no País e que a todos devem envergonhar".

Cavaco falou igualmente sobre o envelhecimento associado à pressão para a inactividade precoce, em especial a resultante do "recurso a reformas antecipadas ou desemprego de milhares de trabalhadores que não são muito novos para serem aposentados, mas já demasiado idosos para retomarem uma actividade profissional".

"O desperdício de capital humano é manifesto, mas a indignidade e a falta de respeito pela pessoa humana que ele revela torna-se intolerável", comentou o chefe do Estado.

DN, 31-5-2008
 
Portugal é o país da "Europa rica" com mais desigualdades salariais

MANUEL ESTEVES

Os gestores ganham em média 4,4 vezes mais do que os seus empregados de escritório, revela um estudo da consultora Hay Group. Este hiato salarial coloca Portugal, a par da Grécia, como o país onde as diferenças nas retribuições entre trabalhadores "intelectuais" são mais elevadas
Numa lista de 61 países, Portugal ocupa a 39.ª posição
Já se sabia que Portugal tem uma das maiores divergências salariais da União Europeia a Quinze (UE15). Porém, um relatório da consultora Hay Group, baseado numa enorme base de dados com 12 milhões de empregados, revela que esta desigualdade também é significativa entre os trabalhadores por conta de outrem com funções intelectuais (deixando de fora o trabalho braçal).

Em Portugal, um gestor recebe em média 4,4 vezes mais do que um trabalhador de escritório. Ou seja, um funcionário que receba um ordenado mensal de mil euros terá chefes que ganham em média 4400 euros. Na UE 15, Portugal disputa com a Grécia o lugar cimeiro no ranking dos mais desiguais. Em 2006, o nosso país levou a melhor, situando-se na 38.ª posição, numa lista de 61 economias. Em 2007, os gregos superaram-nos, apresentando um diferencial de 4,6, tendo Portugal passado para o 39.º lugar, ombreando com o Botswana - um caso de estudo no continente africano.

Conforme refere o relatório Global pay gaps report, "a Europa é um microcosmo da disparidade que existe entre as economias estabilizadas e as emergentes, com contrastes significativos entre a Europa Ocidental e a do Leste". Com efeito, dos dez países com mais baixos diferenciais remuneratórios, nove são da "Europa rica". No extremo oposto, entre os dez Estados onde existem mais divergências salariais, figuram dois países da Europa do Leste - Roménia e Polónia.

Motivos para as desigualdades

O hiato salarial entre gestores e funcionários de escritório está relacionado com a lei da oferta e da procura. A oferta diz respeito aos níveis de qualificação dos empregados por conta de outrem, enquanto a procura está sobretudo dependente do ritmo de crescimento económico. Como pano de fundo, está a globalização, que levou à criação de um mercado internacional de trabalhadores altamente qualificados.

"Os dados reflectem a crescente globalização do mercado dos trabalhadores altamente especializados, o que leva a que mesmo as empresas nos países em desenvolvimento precisem de pagar um 'salário internacional' para atrair os gestores de topo", explica Gavin Brown, da filial britânica do Hay Group, citado no relatório. O mesmo já não se passa com os trabalhadores de escritório, que desempenham funções menos qualificadas e relativamente indiferenciadas. "Os trabalhadores de escritório estão imunes ao mercado global do 'talento' e são menos propensos à mobilidade internacional e, por isso, tendem a ser pagos mais em função da evolução dos custos de vida", acrescenta o mesmo responsável britânico. Ora, nos países onde o custo de vida é especialmente baixo, como sucede nas economias emergentes e em desenvolvimento, as diferenças face aos "salários internacionais" tendem a ser maiores.

Os níveis de instrução são fundamentais nesta equação salarial. Como explica Charlotte Park, do Hay Group, "quanto maior for a população bem instruída e com altos níveis de formação profissional, mais pequena é a disparidade remuneratória". É o caso de Singapura, onde os trabalhadores conseguem, em média, alcançar significativos ganhos salariais nos primeiros anos de carreira. Segundo o mesmo responsável, os empregados registam, em média, aumentos de 24% dos seus salários nos dois primeiros anos de trabalho.

DN, 4-7-2008
 
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