08 novembro, 2007

 

Revolução de Outubro

90 anos feitos a 7 de Novembro?

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A REVOLUÇÃO QUE TROUXE O 'CÉU' À TERRA

ABEL COELHO DE MORAIS

"Ele tem os dias contados, ainda não percebeu que Lenine lhe vai cortar a cabeça e tudo estará perdido do dia para a noite."

Atribuída ao general Lavr Kornilov, que tentou um golpe em Agosto, a frase traduz o seu desespero ao perceber que o chefe do Governo provisório, Alexander Kerensky, temia mais as suas baionetas do que armar sectores da população controláveis pelos bolchevistas. Mas foi o que fez - a decisão custou o golpe a Kornilov; Governo a Kerensky cairia a 7 de Novembro (ou 24 de Outubro, segundo o calendário em vigor na Rússia). Estava aberto o caminho para o "revolucionário profissional" Vladimir Illich Lenine conquistar o poder.

A imagem de um Kerensky isolado no Palácio de Inverno, na hoje Sampetersburgo, rodeado por uns poucos ministros e por ainda menos soldados prontos a combater, é a imagem adequada para encerrar o processo iniciado em 1914, quando o czar Nicolau II passava em revista um exército de milhões, mas tão mal preparado e tão pouco motivado para combater como as unidades que abandonaram o palácio sede do Governo ao som das salvas de pólvora seca do cruzador Aurora.

A consolidação do novo regime far-se-à por etapas, e a partir das grandes cidades para o campo. Nos anos 30, o regime mantinha como preocupação o controlo dos centros urbanos, procedendo a cíclicas rusgas de elementos "anti-sociais", que expulsa para a Sibéria. A sociedade é o "inimigo" e o terror a arma de conquista. Um processo de hegemonização que a fragmentação dos adversários políticos e a limitada eficácia das unidades "brancas" - designação de todos os que enfrentaram o Exército Vermelho, conduzido pelo eficaz estratego que foi Leon Trotsky - tornaram inevitável. Por outro lado, a revolução não foi um processo homogéneo e centralizado: houve dezenas de revoluções, uma por cada grande cidade ou região. A promessa de uma nova vida para uma população que sofrera nas décadas anteriores a desagregação do regime czarista, era algo mobilizador. Como escreveu John Reed: "O povo russo, crente e devoto, já não precisava de sacerdotes para os levar até ao paraíso. Aqui, na terra, estavam a edificar um reino mais celestial do que qualquer céu que lhes pudessem oferecer".

DN, 7-11-2007
 
Rússia lembra Revolução em clima nacionalista

ABEL COELHO DE MORAIS
SERGEI ILNITSKY

As cerimónias oficiais dos 90 anos da Revolução de 1917 decorreram ontem em Moscovo num clima nacionalista e de exaltação do heroísmo das forças armadas soviéticas durante a II Guerra Mundial.

Na Praça Vermelha reconstituiu-se a parada militar de 7 de Novembro de 1941, cerimónia marcante pelo facto de as tropas presentes no desfile terem partido em seguida para a linha da frente para combater as forças alemães que se aproximavam da capital russa. O tom das cerimónias em Moscovo assentou na evocação desse momento e "da primeira e mais importante vitória" do regime soviético contra os planos de Hitler, lembrou o presidente da Câmara de Moscovo, Iuri Lujkov.

Elementos do exército russo, envergando uniformes dos anos 40, e cerca de nove mil estudantes de instituições militares marcharam na Praça Vermelha perante uma assistência composta essencialmente por convidados.

Ao início da tarde, foi a vez dos comunistas desfilarem no centro de Moscovo para assinalarem a data em que os bolchevistas tomaram o poder, dando origem à União Soviética em 1922.

A importância da data tem declinado desde o fim da URSS, em 1991, tendo Boris Ieltsin renomeado as celebrações como o Dia da Concórdia e Reconciliação, uma designação que em nada impediu os partidários do antigo regime de continuarem a celebrar a vitória bolchevista. Nos últimos anos, as manifestações comunistas ganharam um cunho de forte protesto contra o Presidente Vladimir Putin. Este, desde 2005, procurou antecipar as cerimónias criando um novo feriado, o 4 de Novembro. Apresentado como Dia da Unidade Nacional, celebra uma importante derrota das tropas polacas e cossacas, que são expulsas de Moscovo. O centro das atenções políticas transferiu-se para esta data, com grupos nacionalistas a protagonizarem uma polémica Marcha Russa, de tom xenófobo.

DN, 8-11-2007
 
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