30 dezembro, 2007

 

29 de Dezembro

Dia Internacional da Diversidade Biológica

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Produzir mais devagar mas com cheiro e sabor

RITA CARVALHO

Agricultura biológica. Já muito se faz no País e o sector tem vindo a expandir-se. Mas produzir respeitando os 'timings' da natureza e de forma sustentável tem riscos. Produtores criticam falta de visão do Governo e pouca credibilidade dada ao sector
Não se usam químicos nesta produção
"Aqui cuidamos da terra em vez de a estragar", diz a jovem Inês, colhendo as vagens de feijão-verde e pondo-as numa grade. Na estufa da Biofrade, cuidar implica plantar, apanhar ervas, podar e até enrolar o feijão para que cresça direito ao céu. Ou apanhar um tomate cherry, limpá-lo às calças e prová-lo para ver se já está maduro, como faz Rui Gomes, gestor desta empresa de agricultura biológica.

Os químicos não tocam estes alimentos, por isso pode- -se esticar a mão e comê-los directamente da fonte. Um dos princípios basilares da produção biológica é respeitar os ciclos da natureza, não acelerando a produtividade nem recorrendo a pesticidas para travar pragas. "Procura-se o equilíbrio do ecossistema", explica Rui Gomes, deixando a cada um a sua missão: pássaros, os chamados auxiliares - joaninhas, borboletas, vespas - e até ratos e cobras. Se for preciso, dá-se uma ajuda à mãe natureza, plantando sebes e árvores para haver flores e atrair os pássaros.

Assim é impossível fazer uma produção intensiva. As parcelas são pequenas e as culturas sofrem uma rotação permanente, de modo a que da terra não sejam absorvidos sempre os mesmos nutrientes. Os tratamentos são à base de produtos naturais.

A necessidade de muita mão-de-obra está subjacente a este tipo de produção e encarece o processo. Na estufa, mulheres empoleiradas num escadote vão enchendo caixas com feijão, num clima de descontracção e dedicação.

"Os herbicidas fazem tudo sozinhos", explica Inês, que aos 22 anos trocou a vida de Lisboa pelo trabalho nesta quinta na Lourinhã. "Cinco pessoas a trabalhar são um litro de herbicida", acrescenta Rui Gomes, também ele actor de uma mudança radical, ao deixar a gestão informática para se dedicar à terra.

Dos 30 hectares de produção da Biofrade sai batata, cebola, abóbora, couve, pimento, pepino, meloa, melancia, espinafre, melão, alho-francês, courgette, beterraba, manjericão e alcachofra para quase todas as cadeias de hipermercados do País. E até para o estrangeiro.

Esta empresa familiar lançou-se na agricultura biológica há 17 anos, na sequência do repto lançado por um professor a um dos irmãos da família que terminava o curso de Agronomia. Mas o que foi na altura um verdadeiro "tiro no escuro", pois ninguém conhecia o conceito nem a forma de produzir, acabou por se tornar, há poucos anos, num negócio profissionalizado.

A diferença entre o que aqui se produz e o que se faz de forma convencional não é perceptível apenas na hora de comer. Apesar de reconhecer que as pessoas procuram o biológico porque sabe melhor, Rui Gomes acredita que esta é a única produção sustentável, contribuindo para um mundo melhor. Respeita-se o ciclo natural da natureza, não acelerando a produtividade e mantendo o ecossistema equilibrado e saudável.

Os campos têm um aspecto e cheiro diferentes e as hortícolas têm um ar mais radioso. Vêem-se pássaros, flores, borboletas. E, num inte- rior desertificado, vê-se gente e não apenas máquinas a trabalhá-los.

DN, 22-6-2008
 
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