25 janeiro, 2008

 

Da confiança


dos portugueses


http://www.sedes.pt/

http://www.rr.pt/PopUpMedia.Aspx?&FileTypeId=1&FileId=404254&contentid=237685

http://www.tsf.pt/online/vida/interior.asp?id_artigo=TSF188658

Comments:
Portugueses confiam nos
professores e chumbam políticos

Os professores são os profissionais em que os portugueses
mais confiam e, também, a quem confiariam mais
poder no país. Já os políticos são “os menos fiáveis”.
A conclusão é de uma sondagem mundial efectuada pela Gallup
para o Fórum Económico Mundial.
Os docentes merecem a confiança de 42% dos portugueses,
muito acima dos 24% que confiam nos líderes militares e da
polícia, dos 20% que dão a sua confiança aos jornalistas e dos
18% que acreditam nos líderes religiosos.
Os políticos são a quem os portugueses dão menos crédito,
recebendo apenas 7%.
Quanto à questão sobre quais as profissões a que dariam mais
poder no seu país, os portugueses privilegiaram os professores
(32%), os intelectuais (28%) e os dirigentes militares e
policiais (21%), surgindo em último lugar, com 6%, as estrelas
desportivas ou de cinema.
A confiança dos portugueses por profissões não se afasta dos
resultados médios para a Europa Ocidental. Os advogados,
que em Portugal apenas têm a confiança de 14% dos inquiridos,
vêm em terceiro lugar na Europa Ocidental.
A nível mundial, os professores são também os que merecem
maior confiança (34%) dos inquiridos, seguindo-se os líderes
religiosos (27%) e os dirigentes militares e da polícia (18%).
Os políticos surgem, uma vez mais, na cauda, com apenas 8%
dos 61.600 inquiridos pela Gallup, em 60 países, a daremlhes
a sua confiança.
Os docentes apenas perdem o primeiro lugar para os líderes
religiosos em África, que têm a confiança de 70% dos inquiridos.
A Europa Ocidental daria mais poder aos intelectuais (30%) e
professores (29%). A nível mundial voltam a predominar os
professores (28%) e os intelectuais (25%), seguidos dos líderes
religiosos (21%).

Portugueses preocupados com o futuro

Os portugueses admitem que as próximas gerações viverão
num mundo menos seguro, mas também com menor prosperidade
económica, segundo o mesmo inquérito internacional.
O estudo indica que 71% dos portugueses pensa que as gerações
futuras viverão num mundo menos seguro, 12% acredita
num nível de segurança semelhante e 12% esperam maior
segurança.
Relativamente à prosperidade económica, 44% dos 500 inquiridos
em Portugal afirmam que “será menor para as próximas
gerações”, 26% que “será igual” e 20% que “será maior”.
Os portugueses estão mais pessimistas em relação à segurança
do que a média dos 17 países da Europa Ocidental onde o
inquérito foi realizado, mas mais confiantes em relação à
prosperidade futura.
Relativamente à segurança para as próximas gerações, 69%
dos europeus ocidentais dizem que será menor, 18% que será
igual e 11% que será maior, enquanto sobre a prosperidade
económica 54% afirmam que deverá diminuir, 23% que ficará
igual e 19% que vai melhorar.
Em média dos 61.600 inquiridos a nível mundial, um quarto
espera que as gerações futuras vivam num mundo mais seguro,
48% prevêem um mundo menos seguro e 21% não antevêem
alterações.
Quanto à prosperidade económica, um terço espera um
aumento, 36% uma diminuição e 22% uma estabilização.
A Africa é o Continente que vê o futuro das próximas gerações
com maior optimismo, com 71% a aguardar maior prosperidade
económica e 68% mais segurança.
No outro extremo está a Europa Ocidental, com 69% a esperar
que as próximas gerações enfrentem uma redução da
segurança e 54% a antever uma perda de prosperidade económica.

RRP1, 25-1-2008
 
Portugueses casam menos
e mais tarde

Famílias com menos filhos, mais população idosa, mais imigrantes e casamentos mais tardios e em menor
numero. Estes são os factos mais relevantes de um conjunto de dados divulgado hoje num relatório do Instituto Nacional de Estatística (INE)
O estudo do INE abrangeu o período 2000-2006 e conclui que o número de famílias portuguesas com filhos continua a diminuir.
Neste lapso de seis anos, aumentou em cerca de 3% o número de casais sem filhos, aumentaram ligeiramente os que têm apenas uma criança, mas diminuíram, em cerca de 2%, os pais que têm três filhos ou mais.
O número de idosos em Portugal, entretanto, aumentou. Em 2006, havia 112 idosos por cada centena de jovens, enquanto em 2000 eram 102.
O relatório do INE diz no entanto, que a população residente em Portugal aumentou, neste período, em 3,3%, muito por causa dos imigrantes, que agora já não vêm apenas de países africanos mas também da América central, do sul e da Ásia.
Os casamentos acontecem em menor quantidade e numa altura em que homens e mulheres têm mais idade. A idade média de casamento dos homens passou dos 27 para os 29 e
nas mulheres dos 25 para os 27 anos.
Em matéria de escolaridade, as mulheres permanecem mais tempo na escola. Verificou-se um aumento de 43,2% para 49,6% de pessoas que completaram o Ensino Secundário.
No Ensino Superior, o número de matriculas no ano lectivo de
2005/2006 diminuiu, mas, por outro lado, aumentaram as inscrições no Ensino Especializado, em Mestrados e Doutoramentos, formações que, em primeiro lugar, estão ligadas às
Ciências Sociais e Humanas e, em segundo, às Engenharias e
Tecnologias.
Crise económica e crise de valores
Para o presidente da Associação Portuguesa de Demografia, a
reduzida natalidade está associada não só à crise económica mas também a uma crise de valores na sociedade.
Ouvido pela Renascença, Mário Leston Bandeira alerta, também,
para o processo de desertificação que se verifica no interior do país, acrescentando que as medidas do Governo são insuficientes. O tema foi hoje debatido no parlamento por iniciativa do CDS.

RRP1, 12-1-2008
 
"Privados podiam fazer mais pela economia"

ILÍDIA PINTO (Texto)

Se os portugueses não fossem tão deprimidos, arriscassem e trabalhassem um pouco mais, a situação do País seria bem melhor, diz Carlos Martins, presidente da Martifer. O Governo tem feito "o possível", defende
Como vê a performance da economia nacional versus a europeia? Não nos temos conseguido portar muito bem.

Eu acredito que o Governo escolheu o caminho estrutural certo. De apertar o cinto, deixar a economia funcionar, estimular as exportações. Dá resultados a médio prazo. O Governo fez o possível, o ministro da Economia tem governado, assinou contratos. A questão é que estivemos em tempo de apertar o cinto. Sem obras públicas, a economia ressente-se.

Não culpa o Governo então...

Acho que Portugal vai começar a crescer agora. Com imensa dificuldade é certo. Não nos esqueçamos que esta crise do subprime nos EUA veio retirar dinheiro aos bancos. E não nos esqueçamos que o barril do crude está a 100 dólares. Não podemos culpar o Governo de não estarmos mais além. Os privados têm a maior parte da responsabilidade. A economia podia estar melhor se os privados não chorassem tanto, tentassem arriscar e trabalhar um pouco mais.

Deviam investir mais?

Deveríamos ter uma classe empresarial com mentalidade de risco, mais aberta e preparada para criar riqueza cá dentro, nem que para isso tivesse que suportar investimentos que também fossem feitos lá fora. Os portugueses já deveriam ter pensado, há 10 anos, que o mercado natural era a Península Ibérica e hoje estar a operar, pelo menos, à escala europeia.

Estamos com um atraso de mais de uma década?

Estamos com muitas dificuldades em trabalhar fora de Portugal. Os nossos empresários deveriam estar mais abertos à internacionalização.

Não concorda, então, quando Miguel Cadilhe dizia que a contenção da despesa por causa do défice servia para ampliar a crise.

Concordo com o dr. Miguel Cadilhe quando se opôs ao aumento do IVA e defendeu um regime fiscal igual ao espanhol. Quase de certeza que o aumento da receita não é assim tão importante comparativamente a uma economia que está a morrer. O Interior está a desaparecer. O desemprego que se está a gerar, principalmente no Interior, tem de ser só visto sobretudo no médio prazo. Foi um erro.

O ministro das Finanças mostrou-se convicto que os efeitos da crise do subprime nos EUA não se sentiriam cá. Concorda?

Já se estão a fazer sentir. O banco é o melhor parceiro que a actividade económica pode ter. E os bancos estão a sentir essa dificuldade, o que já está a causar grande dificuldade ao desenvolvimento da economia. Só não vai ser a maior crise de sempre porque o mercado do Brasil, da Índia, da China e da Rússia vão equilibrar alguma desgraça que possa vir dos EUA. Mas se estas economias não estivessem na sua força máxima, a crescer aos 10% ao ano, estaríamos se calhar envolvidos na maior crise desde a II Guerra Mundial.

O Banco Central Europeu tem actuado bem?

É difícil avaliar. O grande problema é que a inflação na Zona Euro está a subir. É verdade que o euro está demasiado forte relativamente ao dólar. Acho que estamos no limite do que se pode subir a taxa de juro. Por outro lado, sem uma inflação controlada, é impossível ter uma economia forte. Isto não é muito fácil. A minha opinião é que o euro vai continuar a valorizar-se.

Acha que ainda há grande capacidade de resistência?

Sou um optimista, acredito que no segundo semestre de 2008 a economia vai dar sinais agradáveis de recuperação.

Infelizmente, os níveis de confiança em Portugal são dos mais baixos de sempre.

Nós somos um povo naturalmente deprimido. Uma das dificuldades da nossa economia é que tudo serve para justificar uma má performance. Era bom que essa mentalidade mudasse um bocadinho.

Como é que isso se muda?

É uma questão de cultura e, hoje, à velocidade que a informação se move, os jornalistas e os opinion makers têm aí um papel relevante. Uma parte importante de isto não estar a correr bem deve-se à iniciativa privada. As empresas estão sempre a queixar-se das dificuldades. Vão para Espanha e queixam-se. Mas as espanholas vêm para cá e ninguém as ouve. Ainda bem que é difícil trabalhar em Espanha porque se aprende a trabalhar no meio da dificuldade. Quem consegue trabalhar em Espanha vai ter acesso a outro lado qualquer. É um bom teste. Quais são as construtoras espanholas que têm verdadeiro sucesso em Portugal? A Iberdrola? A Endesa? Não estou a ver. É difícil para todos.

Elogiou há pouco a actuação do ministro Manuel Pinho...

Porque colocou o País na rota do turismo de qualidade e como referência ao nível das energias renováveis. Se não foi ele, pelo menos deu continuidade a um programa. A dificuldade maior é na atracção do investimento estrangeiro, mas não se faz por decreto. Temos um défice de formação e isso dificulta a captação do investimento. E melhorar o nível médio de formação não se faz de um dia para o outro. Pode-se gostar ou não do estilo do ministro, ou achar que falta este ou aquele apoio. Eu acho que deveria haver mais apoios à internacionalização das empresas. De resto, não vejo aqui grandes opções.

E de José Sócrates o que acha?

Um bom primeiro-ministro. Do que ouvi dizer, estou convencido que fez a melhor presidência portuguesa e uma das melhores de sempre da União Europeia. É muito trabalhador e acredito que a partir de 1 de Janeiro se vai voltar cá para dentro. O que eu gostava era que, pelo facto de termos eleições daqui a um ano, não cedesse e se mantivesse na linha que traçou. É duro agora mas vai dar resultados a médio prazo.

Não ceder a eleitoralismos.

Sim, como aconteceu há duas semanas que o povo exigiu a linha de muito alta tensão e conseguiu a linha de muito alta tensão. Não é só porque o povo quer que se deve fazer. Acho que se abriu um precedente que não se devia ter aberto. A firmeza é premiada. Sempre que tivemos primeiro-ministros duros, com ideias fortes, claramente seguros, eles foram sempre premiados.

Os portugueses gostam de líderes duros?

As pessoas gostam de investir. Saber que estão a passar uma dificuldade hoje na certeza de um amanhã melhor. E gostam de líderes que dêem o exemplo.

E Cavaco Silva?

Daquilo que a lei lhe permite, como Presidente da República, acho que está a fazer um bom trabalho. Ele não governa. É o chairman, e nessa qualidade está a fazer um excelente trabalho.

Momentos como a presidência portuguesa são positivos para a imagem de Portugal no exterior?

Claramente positivos. Hoje somos olhados de forma diferente de há dez anos. E isso é importante. É tempo de elegermos um novo desígnio nacional. As mentalidades estão a mudar e temos de deixar a eterna competição. Cá dentro está tudo feito. Há que juntar o que temos de melhor e marcarmos posições lá fora nos sítios onde as coisas ainda não estão feitas. Parceria e sinergia eram palavras que não existiam na mentalidade empresarial há cinco anos. Hoje, todos os dias temos pessoas a bater- -nos à porta a propor-nos projectos.

Há algum outro ministério que queira destacar, pela positiva ou negativa?

Acho que a Agricultura melhorou um bocadinho. As Finanças correu mais ou menos bem. Não fui a favor do aumento do IVA. De resto, acho que o ministro das Finanças dá credibilidade e apoia bem o primeiro-ministro.

E o IRC?

Não considero que seja um entrave à economia. A dificuldade está do lado do consumo e, sobretudo, pela diferença face a Espanha. De resto, acho que a equipa da Segurança Social é muito boa. Faço um balanço positivo do Governo. É normal mexer nas equipas e eu mexeria em duas ou três pastas para lhes dar nova dinâmica.

Na Saúde e na Educação?

Não vou falar sobre isso, como deve calcular.

A fuga ao fisco representa em Portugal cerca de 28% do PIB. Os impostos são demasiado caros ou os portugueses são incumpridores por natureza?

Sou um acérrimo defensor do combate à fraude e à evasão fiscal e acho que o Governo também melhorou muito nessa matéria. E deve continuar. A economia paralela não é boa para ninguém. Esse dinheiro faz falta ao País e prejudica os melhores. É concorrência desleal.

Como vê a crise do BCP?

Com muita preocupação. Tenho pena que a fusão com o BPI não tenha ido em frente. Portugal é uma economia pequena, precisa de bancos fortes e, em teoria, um e outro estão menos fortes do que estavam há um ano. Se a fusão tivesse avançado, ficávamos com um banco mais forte e competitivo e dávamos a possibilidade a uma série de bancos mais pequenos de crescerem e ocuparem o espaço deixado livre pelo BCP e BPI.

DN, 27-12-2007
 
SEDES alerta para “mal-estar generalizado”

A Associação para o desenvolvimento Económico e Social (SEDES) alerta para uma crise social de contornos imprevisíveis, consequência de “um mal-estar difuso que alastra".
Se continuar a espiral descendente em que o regime parece ter mergulhado, sublinha a SEDES em comunicado, a "consequência inevitável será o seu bloqueamento".
Luís Campos e Cunha é um dos signatários do documento da
SEDES, uma das mais antigas e prestigiadas associações cívicas
de Portugal. O ex-ministro da Economia do actual Governo
diz que estamos em risco de enfrentar uma crise social
complicada: “Mas o que é importante notar é que isto não é
um manifesto contra os partidos. Pelo contrário. É chamar a atenção que os partidos são o pilar da democracia e que a qualidade dos partidos é uma medida da qualidade da nossa democracia”.
Uma qualidade que, segundo Luís Campos e Cunha, tem vindo a degradar-se. É a própria coesão nacional que está em causa se não forem tomadas medidas. O ex-ministro da economia admite que nem toda a dimensão do problema tem
sido contrariada pelo actual Governo.
Vítor Bento, presidente da SEDES, alerta que o risco de uma crise social de contornos imprevisíveis pode traduzir-se em fenómenos de violência. Vítor Bento sublinha que os alertas da associação pretendem, sobretudo, conduzir a uma reflexão, para que se evitem tais cenários: “Convém ter presente
que, quando se fala em perigos e quando se fala que o caminho
pode conduzir a um dado destino, isso não quer dizer que esse destino esteja ao virar da esquina. Quer dizer que, se continuarmos por este caminho, o resultado será, provavelmente
este”.
Numa primeira reacção, o porta-voz do PS, Vitalino Canas, diz que as conclusões a que chegou a SEDES são "um pouco tremendistas".
O deputado socialista atribui as conclusões do relatório ao
momento de “reformas intensas” que o país atravessa “em vários sectores, e que tem impactos na vida das pessoas, mas também tem resultados”.
O PSD, pela voz de Patinha Antão, vice-presidente da bancada
parlamentar, diz que o Governo tem sido parte do problema, e não da solução.

RRP1, 22-2-2008
 
Marcelo aponta riscos da crise de confiança

Marcelo Rebelo de Sousa considera preocupante o facto de hoje, em Portugal, ninguém confiar em ninguém – políticos e instituições.
No seu habitual espaço de comentário das noites de domingo,
na RTP, Marcelo levantou algumas questões: “Quais são as instituições que hoje merecem respeito e que merecem confiança dos portugueses? Não são as polícias que estão como estão, não são os tribunais que estão como estão, não é o fisco que está como está, não é o Parlamento porque
vemos as sondagens, não são os governantes. Há aqui qualquer
coisa que começa a ser grave na relação entre governados e governantes. Respeita-se o quê? Acredita-se em quê? Confia-se em quem? Em ninguém”. O antigo dirigente social-democrata acrescenta que “não há estado democrático que possa aguentar isto duradouramente”.
Na sua análise semanal, Marcelo Rebelo de Sousa referiu-se, ainda, às declarações do secretário de Estado da Educação, Valter Lemos, da última sexta-feira, na Renascença.
Lemos criticou duramente a socialista Ana Benavente, responsável pelo sector em Governos de António Guterres, facto
que, do ponto de vista de Marcelo o Primeiro-ministro não deveria tolerar.

RRP1, 3-3-2007
 
Presença do Estado na sociedade
é asfixiante

O presidente da Associação para o Desenvolvimento Económico e Social (SEDES), Vítor Bento, acusa o Estado de ter uma presença asfixiante sobre a sociedade e de exercer retaliação sobre quem o contesta.
Convidado, esta semana, do “Diga Lá, Excelência!...”, da
Renascença e jornal “Público”, Vítor Bento diz que “o Estado
tem uma presença asfixiante sobre a sociedade – independentemente
do Governo que lá estiver. Isto é comum a quem está no poder”.
O entrevistado lembra que, no nosso país, “quase toda a gente
depende do Estado, que tem o poder de retaliação”, pelo que o próprio Estado deveria ter mecanismos independentes que prevenissem a sua utilização para represálias.
É por isso que a Democracia tem de ter regras e mediadores, defende Bento, acrescentando que esse papel cabe aos partidos:
“Quando estes ficam desacreditados as pessoas começam a procurar as confianças em pessoas
individuais”, diz, citando exemplos das últimas autárquicas: Fátima Felgueiras, Valentim Loureiro e Isaltino Morais.

Deveres de lealdade na função pública

O presidente da Associação para o Desenvolvimento Económico e Social (SEDES), que esta semana divulgou um relatório em que alerta para a possibilidade de Portugal estar à beira de uma crise social grave, está contra os lugares de confiança
política na administração pública.
“O que nós deveríamos esperar é que as pessoas que fossem
dirigentes do Estado tivessem deveres de lealdade. (…) Nunca
percebi a prática de pôr o lugar à disposição quando o ministro muda”, diz, justificando que ao fazê-lo está a assumir que não é suficientemente competente.
Quanto ao sector da Educação, Vítor Bento considera que uma das razões para o abandono escolar é a falta de ambição.
“Muitos jovens chegam ao 9º ano e acham que se forem ganhar 60 ou 80 contos – na moeda antiga - é suficiente e deixam de ter a ambição de se valorizar para subir na vida”.

RRP1, 3-3-2008
 
"Os portugueses são gente triste"

ANA MARQUES GASTÃO

Entrevista com António Borges Coelho, historiador

Fernão Lopes (FL) é, a seu ver, o fundador da prosa portuguesa. Escreveu-o na introdução da antologia das crónicas que acaba de organizar. Vê-se de que modo a si próprio: como um historiador-escritor, cultor da beleza da forma?

Julgo que sim. A forma é essencial para vazar o nosso pensamento, quer se ligue ao quotidiano, à teoria sobre o mundo ou às coisas. Desde criança, sou um apaixonado pelas palavras. Em Fernão Lopes, o estilo é inconfundível. A prosa histórica pode ser tabeliónica, e ele foi tabelião, mas conseguiu ir muito mais longe. Usando uma linguagem literária, não ajeitou facetas, sabendo que não há palavras unívocas, tendo a consciência do seu sentido contraditório. Também as palavras têm história. Do ponto de vista da escrita, Fernão Lopes e Oliveira Martins são os meus modelos.

Um mais rigoroso que outro...

Oliveira Martins menos rigoroso, mas espectacular na forma. Um grande cultor da prosa portuguesa. A escrita rica e dúctil não é inimiga da tarefa do historiador.

Que é, afinal, um historiador?

Um manipulador do tempo. O que vem às suas mãos são os factos históricos com os quais tem de construir um tecido obedecendo às informações, escritas ou não. Tem de as organizar, de as concatenar, criando uma estrutura teórica e de prosa que dê autenticidade ao presente e ao passado. Deve ser atento, observador, um homem da imaginação, mas não pode inventar factos como o romancista, nem usá-los a seu bel-prazer.

É um viajante do tempo, o historiador?

Sempre. A paisagem que vê é, muitas vezes, apaixonada ou sombria.

Aí entra o poeta (e ficcionista), que Borges Coelho também é?

Esse não adormece nunca, vai aparecendo em sonhos.

Segundo Fernão Lopes, a história fala-nos dos de cima. Na sua opinião, o cronista abriu janelas para os de baixo, concepção que tem sido derrotada e reconquistada ao longo dos tempos. Como a vê à luz dos nossos dias?

Os de baixo ocupam hoje o seu papel na história, mas o olhar principal está voltado para os de cima porque têm as alavancas do poder, a possibilidade de conduzir o dia-a-dia. A capacidade de transformar a realidade provém, todavia, das labaredas, das convulsões que vêm de baixo.

E no tempo de Fernão Lopes?

FL tornou Lisboa na sua personagem quando reis e senhores eram os actores principais. Esse turbilhão de gente - a arraia-miúda, os fidalgos, os honrados - surge na sua narrativa.

João de Barros fala da crueza do retrato que Fernão Lopes faz dos reis, visão contrastante com a de Herculano, que distinguia menos bem a parte política da social...

João de Barros - que viveu num tempo em que a coroa tinha um papel fundamental na condução dos acontecimentos - gostava mais de Zurara. Quanto a Herculano, era excepcional, apesar das tiradas moralistas. Diz, por exemplo, que aconteceu mal a um rei para castigo dos seus pecados. Rasgou, no entanto, caminhos para a história social. Os últimos volumes da História de Portugal continuam a ser peças fundamentais para o estudo da Idade Média.

Um retratista, Fernão Lopes?

Sim, nos antípodas de qualquer cronista até ao século XIX. Lembre-se a descrição que faz da gaguez de D. Pedro ou o episódio de D. João I, que, para exemplo de um amigo a morrer com uma seta envenenada, bebe uma tigela de urina que, segundo lhe tinham dito, anularia o efeito do mal. Pergunto: a figura fica diminuída? Não, para mim, mais humana. Por outro lado, os de cima gastam fortunas com a propaganda pessoal, com o protocolo. Fernão Lopes não os destrói, mas brinca com eles.

Borges Coelho também é irónico...

O passado tem valores que, muitas vezes, não são coincidentes com os de hoje. Ao reproduzi-los, sem o riso irónico, está a fazer-se propaganda. Uns são válidos, outros caducos. O historiador tem de ter consciência disso e transmitir esse estremecimento ao leitor, dando-lhe a conhecer que houve evolução - para a frente ou para trás - ou estagnação. Passei boa parte da minha vida na Idade Média, nos séculos XV, XVI e XVII. E já cheguei ao século XXI. Milhares de páginas, de notas, de apontamentos.

Acha que o cronista trouxe consigo uma nova arte de historiar?

O prólogo da Crónica d'El Rei Dom João I de Boa Memória aborda a forma de fazer história. Aí se fala de uma maneira moderna de historiar, baseada no uso dos documentos, por vezes na íntegra, na confrontação das fontes. A primeira parte desse texto incomoda, ainda hoje, os estômagos mais sensíveis porque trata de uma revolução com a agravante de que FL não usa imprecações contra os homens que se manifestavam na rua e tomaram o poder. Esse é um problema-chave para certos autores que consideram mais relevante a Crónica de Dom Fernando que, de uma forma esplendorosa, conta como o Infante Dom João se casou secretamente e possuiu a irmã de Leonor de Teles, matando-a depois.

Como vê a Crónica de Dom João?

É a história de um movimento de massas. Fernão Lopes podia dizer que Lisboa estava angustiada com Aljubarrota em marcha, mas não, conta uma narrativa que sente de perto a gente de onde viemos. Há gente de cima magnificente e gente de baixo deplorável e vice-versa.

Há quem "relativize a verdade" de Fernão Lopes, questão que o historiador António José Saraiva aborda, argumentando com o seu comprometimento com a Casa de Avis.

É evidente que ele toma partido. Não há história neutra, nem jornalismo neutro. O historiador não inventa factos, porém. Duvido dos que não tomam, nem intimamente, posição. Fernão Lopes é um servidor da Casa de Avis, mas ama Lisboa, considera-a a mãe que alterou o rumo da história: na altura, era a união de Portugal com Castela.

FL era a favor de Portugal...

E eu não o critico por isso. Muitos argumentam pondo em xeque a "verdade" de FL, mas não o conseguem: ele baseia-se em testemunhos e documentos da época e não hesita em contar histórias não favoráveis à sua causa. No tempo em que o cronista escreve, estão no poder os filhos de alguns dos principais nobres, que combateram por Castela. FL não deixa de referir os nomes dos pais que estiveram do outro lado. Não estou a dizer que era imortal, cometeu erros, mas ultrapassou a frieza dos acontecimentos, sabendo que eles são quentes, por vezes escaldam.

Todo o historiador é um ensaísta?

Mal do historiador que não pensa a história, que não a interpela, que não a questiona. Os factos requerem sempre uma interpretação.

FL era um retratista?

O retrato de Leonor Teles é extraordinário. FL diz que foi ela quem ensinou as mulheres a tratarem com os seus maridos. Muitas vezes utiliza o lugar da arraia-miúda para apontar o dedo à rainha, não deixando de realçar a sua beleza e coragem. Quando D. João lhe pede perdão por ter matado o Andeiro, ela pergunta-lhe por que razão está ele a pedir-lhe uma coisa que ele tem, assumindo, ironicamente, que não tem força para o castigar. Ele tinha o poder, ela jamais poderia perdoá-lo. É difícil encontrar mulher mais forte na história portuguesa do que Leonor Teles.

Prefere deixar a sua impressão digital na sua obra histórica, mesmo correndo o risco de se contradizer, a seguir um caminho de síntese?

Embora prossiga com o máximo rigor, erro mesmo assim. O que me entusiasma é questionar, discutir ideias. Alguns dos textos de que mais gosto foram dedicados a escritores: Fernão Mendes Pinto, Padre António Vieira, Manuel Fernando Vila Real, Herculano. Fizeram-me entrar no campo da teoria da história mais a fundo.

Considera-se cidadão do mundo?

Não me sinto um cidadão ocidental, mas, brincando, um pouco, como a Igreja nos seus tempos ecuménicos, sinto-me um homem do planeta, atento às questões que envolvem os humanos: a desigualdade continental, a pilhagem das matérias-primas pelos países mais desenvolvidos mascaradas por batalhas pela democracia e os direitos humanos.

Acusam-no de nacionalista...

Se sentir na minha pele as fragas de Trás-os-Montes e a luz de Lisboa, é ser nacionalista, não repudio essa identificação.

Vê como o Portugal de hoje?

Demasiado amarrado aos compromissos europeus. Preocupa-me a perda acentuada daquilo que se conquistou na Europa ao longo de quase dois séculos. É preciso dar a volta.

E o cidadão português comum?

Quando existia o MFA, reivindicava, agora mete-se em casa, vê televisão. Esta é a imagem de um povo acomodado, demasiado acomodado. Os franceses descreviam-nos alegres. Hoje somos gente triste.

Trinta empregos, professor particular sem o aval da PIDE, desemprego. Seis anos e meio preso: Peniche, Aljube, Caxias, Porto. Meio ano nos curros. Dava umas Memórias do Cárcere...

Não me quero lembrar. E ainda cinco anos de colégio interno. Gostaria que o projecto do Museu da Resistência, no Aljube, avançasse e conservasse a memória de todos aqueles que lá sofreram e penaram. Aflorei esse tempo, ao de leve, numa novela. Como professor universitário, sou filho da revolução, integrado em 1974. Antes, apesar da ditadura, respirava-se um ar de confiança e esperança no futuro, hoje sinto-lhe a falta. Não acho que seja uma questão de geração.

DN, 19-1-2008
 
Confiança não recupera

O indicador de confiança dos consumidores continuou a diminuir em Março, mas o clima económico melhorou.
Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), a
confiança dos empresários da construção e obras pública, do
comércio e dos serviços recuperou em Março, sentimento que fez melhorar o indicador de clima económico (0,9 pontos em Março, contra 0,8 em Janeiro e Fevereiro).
Só na indústria transformadora é que o indicador se agravou
devido à diminuição do saldo das respostas extremas das opiniões
sobre a procura global, interrompendo o movimento
ligeiramente ascendente dos dois primeiros meses do ano.
Em Março, o indicador de confiança dos consumidores manteve a tendência descendente devido ao contributo negativo das componentes de expectativas sobre a evolução da situação económica do país e financeira das famílias - passou para os 42,9 pontos negativos, face aos 42,5 de Fevereiro.
As expectativas sobre a evolução da situação financeira do
agregado familiar atingiram em Março um novo mínimo histórico
para a série iniciada em Junho de 1986.
Pelo contrário, as perspectivas sobre a evolução do desemprego
recuperaram, depois de se terem agravado continuamente entre Julho e Fevereiro Casa pesa cada vez mais
Entretanto, dados do Instituto Nacional de Estatística sobre os
orçamentos familiares de Outubro de
2005 a Outubro de 2006 mostram que os portugueses estão a cortar nas despesas com alimentação e gastam mais com a casa.
Em média, cada família portuguesa gasta por ano 17600 euros.
Nos últimos cinco anos as despesas com produtos alimentares e bebidas não alcoólicas desceram de 18,7 para 15.5%. Os gastos com habitação, água, electricidade e gás pesam cada vez mais no orçamento familiar, consumindo agora mais de um quarto do dinheiro disponível (26,6%), quando antes representavam apenas 19,8% do bolo mensal.
A terceira grande conta do orçamento é a dos transportes,
que absorve 12,9% do dinheiro disponível, menos 2.1 pontos
percentuais do que há cinco anos.
Destaque ainda para as despesas com calçado e vestuário,
que também têm vindo a perder importância face aos restantes
gastos assim como os móveis e equipamentos domésticos, as bebidas alcoólicas, o tabaco e as comunicações.
A aumentar de peso e importância na estrutura das despesas das famílias estão as contas com ensino, saúde, lazer, hotéis
e restaurantes, distracção e cultura.
Por ano, cada família portuguesa gasta em média 17 mil 607
euros, em bens e serviços. Cada português despende quase sete mil euros.
Valores que sofrem grandes variações, dependendo da região, Lisboa e Algarve ficam acima da média nacional. Lisboa é a região mais cara, aqui cada português gasta em média quase nove mil euros por ano. No outro extremo está a Madeira, onde a conta passa para pouco mais de 5 mil euros.
As despesas em bens alimentares e saúde são "mais relevantes" nas áreas rurais.

RRP1, 31-3-2008
 
E NO ENTANTO... ELE MEXE-SE!

António Perez Metelo
Redactor principal

Nada do que citarei em seguida tem tido eco no debate político, dentro ou fora da Assembleia da República. Mas a realidade, que uma bateria de indicadores tecnológicos procura descrever e caracterizar, está a crescer em Portugal e marcará cada vez mais o futuro colectivo dos portugueses:

1. 18,5% dos inquiridos que acedem à Internet declararam fazê-lo em casa há um ano ou menos. 9,8% dos inquiridos pelo Observatório da Comunicação (um salto para mais do dobro) fazem chamadas via Internet.

2. Portugal sobe sete lugares, entre 130 países, situando-se na 15.ª posição no Índice de Competitividade de Viagens e Turismo 2008. Na UE-27, ocupa o 9.º lugar (sobe quatro lugares face a 2007), situando-se à frente, entre outros, da Holanda, da Irlanda, da Itália e da Grécia. O principal impulso veio do progresso nos recursos humanos, culturais e naturais do País, que registou um salto de 19 posições.

3. Na avaliação da Comissão Europeia quanto à implementação da Agenda de Lisboa (Country Reports 2007), a melhoria do desempenho de Portugal permitiu que ingressasse no grupo (com Chipre, Alemanha, Itália, Lituânia, Malta, Bélgica, Eslovénia e Espanha) que regista "bons" progressos. Acima deste grupo, com "muito bons" progressos, só mais seis países: Dinamarca, Finlândia, Estónia, Irlanda, Luxemburgo e Suécia.

4. No European Innovation Scoreboard (EIS 2007), Portugal regista o 7.º maior progresso relativo no campo da inovação, colocando-se no grupo de países em recuperação. Comparando com o mesmo número de países de um ano atrás, Portugal sobe da 28.ª para a 27.ª posição, entre 34 países avançados. A entrada na lista de três novos membros (Austrália, Canadá e Israel), todos com desempenhos superiores ao português, atira-nos para o 30.º lugar em 37.

5. Portugal foi o país que mais cresceu nos últimos três anos em número de marcas comunitárias por habitante, tendo já ultrapassado a França. Este é um indicador de agressividade comercial e de afirmação em mercados exigentes e sofisticados. O número de patentes europeias registadas passou de 40, em 2003, para 88, em 2006. Este é um sinal de subida tecnológica da estrutura produtiva do País (a meta estabelecida no Plano Tecnológico é 120).

6. Segundo a Inform Telecoms & Media, Portugal está um ano à frente dos maiores países europeus em banda larga móvel, graças à utilização dos telemóveis de 3.ª geração. O número de utilizadores cresceu 110%, entre o 1.º e o 4.º trimestre de 2007, e o tráfego gerado aumentou 168%.

7. Um relatório do Eurostat constata que, entre 2001 e 2006, Portugal apresenta o 4.º maior crescimento em recursos humanos entre 45 e 64 anos, na área da ciência e tecnologia.

Partimos de baixo, é certo. Mas o País está mexer... mesmo!

DN, 4-4-2008
 
Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?