17 fevereiro, 2008

 

2008

Será desta ?

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ALIMENTOS E GASOLINA MAIS CAROS EM 2008

PEDRO FERREIRA ESTEVES

É uma característica do novo milénio: nunca como nos últimos anos a vida dos consumidores foi tão afectada pelo que se passa nos mercados financeiros. O petróleo renova máximos, os custos energéticos sobem. A procura por bens agrícolas aumenta, e os preços dos alimentos dispara. As taxas Euribor reagem em alta aos problemas no mercado de crédito e as prestações para pagar a casa aumentam. O ano que agora termina foi marcado pela crise financeira, que começou nos EUA. Já 2008 deverá confirmar a trajectória de subida das matérias-primas, com o prolongamento da crise de liquidez a poder ter consequências graves para o crescimento económico mundial. No meio de tudo isto, a inflação crescente está a deixar os bancos centrais de mãos atadas para contrariar a força das tendências nos mercados financeiros.

O próximo ano está a ser dos mais difíceis de antecipar para os profissionais dos mercados financeiros. A incógnita tem a ver com as dificuldades de liquidez que os bancos estão a enfrentar. Mas uma coisa parece relativamente consensual: as matérias-primas não vão parar de subir, com reflexos nos bens de consumo correspondentes. O petróleo, o ouro, o cobre ou o ferro vão aumentar as despesas de consumidores e empresas. No entanto, é a subida dos bens agrícolas que promete penalizar ainda mais a vida dos consumidores.

"Os ciclos nas matérias-primas são muito longos, perto de 20 anos. No caso dos bens agrícolas, já vamos com quatro ou cinco anos de subidas, ainda falta muito até este ciclo terminar", explicou ao DN José Cantiga Esteves, analista da consultora Ephi - Ciência Financeira. "O trigo e o milho são os que mais potencial têm de subida, devido à forte procura não só no consumo primário, mas sobretudo na produção de biocombustíveis", acrescentou.

O crescimento das economias emergentes - China, Índia, Brasil ou Rússia - dá sinais de permanecer acelerado, motivando uma forte procura por matérias-primas que alimentem esse crescimento. Do outro lado, a produção continua limitada e demorará algum tempo a conseguir responder na plenitude à forte procura. "É inevitável que bens alimentares como o pão, o leite e outros sofram um aumento em 2008. E até espanta que a inflação não esteja já mais alta", resumiu.

DN, 27-12-2007
 
Recuperação mundial passa ao lado de Portugal

RUDOLFO REBÊLO

A economia portuguesa corre o risco de não acelerar em 2008. Os analistas prevêem uma expansão de 1,9% da actividade neste ano, mas a anemia do consumo das famílias, a lentidão no investimento, a contracção dos gastos do Estado e a desaceleração do comércio externo funcionam como ventos contrários à navegação económica.

Portugal deverá crescer em 2008 entre os 1,8% (segundo o Fundo Monetário Internacional- FMI) e os 2,2% estimados pelo Governo e Banco de Portugal. Bruxelas debita uma previsão de 2% e, pelo sétimo ano consecutivo, perde pontos na convergência real com a Zona Euro, ao mesmo tempo que o mundo deverá crescer 4,7%.

O motor da economia deverá estar na procura interna, com o investimento a assumir o papel de charneira. É que, com o Estado a cortar nas despesas, o crescimento do consumo das famílias está a abrandar. Na semana passada, os dados do Banco de Portugal indicavam que em Novembro, pelo quinto mês consecutivo, os gastos das famílias estavam em desaceleração. Pelo lado do investimento, as coisas não estão fáceis. É verdade que, pelo terceiro mês consecutivo, as vendas de cimento dispararam - interrompendo uma série de dez trimestres de quedas sucessivas -, mas as empresas portuguesas são das mais endividadas da OCDE. Acresce que as taxas de juro destinadas aos empresários aumentaram 9,6% entre Janeiro e Novembro deste ano.

O comércio externo "não deverá alavancar a economia portuguesa em 2008", dizem os economistas. "O contributo das exportações líquidas" para a expansão "será mais marginal, menor", afirma Rui Constantino, economista chefe do Banco Santander. É que o investimento vai aumentar as importações, mas a desaceleração das principais economias clientes de Portugal bem como a alta do euro face ao dólar - as vendas nacionais ficam mais caras - trava as exportações.

O comércio mundial (medido pelas importações) deverá crescer entre os 6,7% e os 8,1% (FMI) e, pelo quinto ano consecutivo, o mundo cresce a taxas próximas dos 5%.

Pela primeira vez na história, serão os países emergentes a liderar o comércio mundial. A China deverá registar uma expansão de dois dígitos (entre os 10% e os 10,7%); a Índia, 8,4%; e os países emergentes da Ásia vão carburar acima dos 8%. A economia americana deverá evitar a recessão. O consumo das famílias vai desacelerar, com os salários a crescer em linha com a inflação, mas a indústria - com o comércio mundial forte e o dólar a desvalorizar - deverá beneficiar com as exportações.

Na Europa, o consumo das famílias deverá continuar forte, o que compensará, dizem os economistas, uma eventual desaceleração do investimento e das exportações. O desemprego atingiu níveis mínimos históricos e a inflação deverá regressar aos 3% no segundo semestre, com o BCE a manter as taxas de juro inalteradas em 2008.

DN, 28-12-2007
 
Para Soares, 2008 "não parece ter bom auspício"

O ex-presidente da República vê sinais de crise internacional

Mário Soares afirmou, num artigo publicado na segunda-feira no diário espanhol El País, que o ano de 2007 "não deixa saudades" e que o de 2008 "não parece ter um bom auspício". Para o ex-presidente da República, é "difícil fazer previsões" para 2008, tendo em conta as guerras e os sinais preocupantes nas áreas institucional, económica e religiosa.

"O ano que se aproxima, 2008, não parece ter um bom auspício", admitiu, porque "os sinais de crise financeira que afecta as Bolsas mundiais podem conduzir, com certa probabilidade, a uma importante crise económica, com inevitáveis reflexos na Europa".

Mário Soares considera que "as desigualdades sociais são cada vez mais profundas, tanto nos países ricos como nos pobres", o que pode justificar a "crispação" e "importantes revoltas" populares numa altura em que o neoliberalismo "está em vias de esgotamento". Sobre o ano 2007, o ex-chefe de Estado disse que não vai deixar "saudades neste mundo tão inseguro, incerto e complexo".

Elogiou a presidência portuguesa da União Europeia, a qual cumpriu os seus objectivos com um "êxito evidente". "A União Europeia, uma vez assinado o Tratado de Lisboa, respirou de alívio, depois de uma situação de impasse que representou um grande desgaste", disse, chamando a atenção para a necessidade da ratificação do Tratado por parte dos Parlamentos nacionais dos países membros.

Mário Soares apelou a um esforço "para que não ocorra o pior", já que "seria fatal para o futuro colectivo da União Europeia e para a sua credibilidade exterior".

Em relação ao aquecimento do planeta e à poluição, o ex-presidente da República sublinhou a importância de os Estados Unidos, "o maior responsável da poluição mundial", aceitarem reduzir as emissões de gás com efeito de estufa, juntando-se à China e à Índia.

"Foi uma vitória da União Europeia e mais um sinal da mudança na política dos Estados Unidos em vésperas do final do mandato de Bush e num momento em que o candidato democrata Barack Obama parece estar lado a lado de Hillary Clinton na intenção de votos dos americanos", afirmou.

DN, 2-1-2008
 
PÉ DIREITO

António Vitorino
jurista

Existe um velho costume de recomendar que se entre no Ano Novo com o pé direito. Deixando agora de lado eventuais interpretações políticas do dito popular, ele significa no fundo desejar que se entre com sorte!

Ora, logo no primeiro dia útil do novo ano, o barril do petróleo em Nova Iorque ultrapassou a fasquia dos 100 dólares, registando assim um pico de que não há memória desde o início dos anos 80. Este valor representou uma subida de mais de 55 por cento apenas nos últimos meses.

Parafraseando um outro episódio da nossa vida pública, sabia-se há muito que o petróleo acabaria por ultrapassar a fasquia mágica dos 100 dólares, só não se sabia quando... O novo ano não se fez esperar.

A responsabilidade por este pico aparece imputada à instabilidade política em vários países do mundo (Nigéria, Paquistão, Quénia), ao aumento da refinação na China para responder a uma procura sempre crescente e a um risco de escassez de gasolina para distribuição, à divulgação dos dados referentes às reservas estratégicas de petróleo dos Estados Unidos abaixo do que eram as previsões.

A volatilidade dos factores que condicionam o preço do petróleo vai decerto repercutir-se na própria oscilação desse preço nos próximos meses em torno deste valor de referência dos 100 dólares. Mas a tendência mais provável é que, persistindo as causas, o curso do preço a prazo seja marcado por uma subida continuada.

São, sem dúvida, más notícias para a economia mundial e, em especial, para a daqueles países, como Portugal, que dependem largamente da importação de petróleo.

Para aliviar a nossa angústia, os especialistas dizem que este desfecho não é inevitável... se houver uma recessão mundial! E como exemplo avançam com as ondas de choque da crise do mercado hipotecário norte-americano e seus efeitos no sistema financeiro global que só agora começarão a produzir impacto na economia real, bem como com as previsões do sector industrial americano que são as mais baixas dos últimos cinco anos... com tudo o que significaria para o mundo inteiro uma recessão americana.

Faz lembrar aqueles médicos que nos explicam que se não morrermos do mal morreremos da cura...

Neste cenário pouco animador fica-nos a compensação de sermos parte da Zona Euro e assim beneficiarmos da solidez da moeda única europeia face ao dólar. Mas trata-se de uma mera compensação parcial, quer porque a evolução do câmbio não permite recuperar totalmente a diferença face ao aumento do preço do crude, quer porque ao mesmo tempo a apreciação da moeda europeia determina uma perda de competitividade das exportações europeias para o resto do mundo.

Já quanto aos Estados Unidos, este é um ano de eleições presidenciais marcado por uma elevada incerteza quanto ao possível vencedor. Ora estes períodos eleitorais diminuem a capacidade de intervenção do presidente cessante e não permitem grande clareza quanto ao rumo a seguir subsequentemente. Acresce que até este momento nenhum dos candidatos, sejam eles democratas ou republicanos, se distinguiu por apresentar um discurso económico claro e consistente que constitua um referencial para a orientação futura da principal economia mundial.

Este ano começa assim com sinais preocupantes e traz consigo a certeza de que alguns dos nossos hábitos de vida e de consumo terão de ser alterados. E já não se trata apenas da utilização individual do automóvel ou das escolhas sobre o sistema de aquecimento das nossas casas, mas antes de decisões colectivas e estratégicas sobre a sustentabilidade das nossas economias e dos nossos empregos. Decisões de que dependerá não apenas o nosso bem-estar no imediato, mas também as condições de vida que legarmos às gerações futuras.

Com que pé é que terá entrado este ano?

DN, 4-1-2008
 
ANO NOVO?

Alberto Gonçalves
sociólogo
albertog@netcabo.pt

Na mensagem de Ano Novo, Cavaco Silva aplaudiu o prestígio da presidência da UE, percebeu que ainda não somos dos países mais avançados da Europa, recordou o desemprego preocupante, lamentou os apertos de muitas famílias, pediu estabilidade e confiança, produtividade e inovação. Nos minutos que lhe restavam, apelou à construção de um futuro melhor, recomendou rigor e transparência na aplicação dos "fundos", sublinhou o papel da educação e exigiu mais eficiência da Justiça. Não satisfeito, constatou um "reavivar do espírito de voluntariado", mas inquietou-se com as desigualdades na distribuição do rendimento, a taxa de natalidade, o despovoamento do interior e os acidentes rodoviários. Antes de soar o hino, o PR aproveitou para cantarolar o refrão dos desafios, das dificuldades e da esperança.

Este amontoado de consensos, eventualmente inerentes ao cargo e certamente de uma infinita trivialidade, não deveria suscitar elogios, críticas ou sequer comentários. Por incrível que pareça, empurrou resmas de opinadores para uma análise frenética e microscópica do tom do PR, dos pressupostos velados do PR, das sílabas do PR. A cada ano e mensagem, repetem-se as interpretações e as suas dramáticas descobertas: este ano, avisos subtilíssimos ao Governo e cedências ao populismo. Provavelmente, temos de fingir que nos levamos a sério para nos levarmos a sério. O verdadeiro desafio é esse. Não sendo fácil, há que ter esperança.

DN, 6-1-2008
 
O ANO QUE COMEÇA

Maria José Nogueira Pinto
jurista

Sendo a América o poder deste mundo, o que nela acontece conta para todo o mundo. Pelo que faz sentido seguir - de perto e atentamente - a campanha presidencial de 2008.

Os sinais das "primárias" são ambíguos, mas deixam claras algumas linhas de análise: entre os democratas vai ser um duelo Obama vs. H. Clinton. Obama joga na novidade, no fresh look, num discurso que pretende ressuscitar a inclusão na Nova Fronteira de J. F. Kennedy, com o simbolismo do primeiro "negro" no primeiro lugar do mundo. Hillary, com a sua racionalidade fria, em ser "a primeira mulher" do mundo. Obama venceu no Iwoa, Clinton no New Hampshire. Equilibram-se; observam-se; atacam-se. Edwards só olha.

Entre os republicanos, a ausência do favorito Giuliani, permitiu o raid John McCain. McCain é um herói americano: piloto de guerra, prisioneiro de guerra, herói de guerra. Com experiência política, uper-class, mulher bilionária, sem histórias maçadoras. No Verão tinha as finanças da campanha em péssimo estado. Agora aparece melhor. Dos outros candidatos, Huckabee não tem audiência fora Chuck Norris e os evangélicos mais ortodoxos; e não sabe nada de política externa; Romney é ambíguo no que é importante; Guiliani snobou Iwoa e New Hampshire.

Mas a corrida está aberta e vai assim ficar até Super Tuesday, 5 de Fevereiro. Lá, sim, voltaremos a falar.

A decisão de não referendar o Tratado não surpreendeu. O argumento da promessa eleitoral do PS não era incontornável e há muito começaram a ouvir-se as vozes de uma versão "pronta a servir" com o fundamento de que um Tratado não é uma Constituição. Uma falácia, é certo, porque como todos sabem e confessam, a constituição passou a tratado para fugir ao risco do referendo, embora em substância mantenha, de modo simplificado, muito do que consagrava a malograda constituição. Valha-nos a semântica…

Também não se esperava dos decisores qualquer valorização da participação dos cidadãos. Noutros momentos, tanto ou mais relevantes, do processo de construção da União Europeia, PS, PSD e o actual Presidente da República dispensaram, por inútil, essa consulta. Por fim, a resistência dos parceiros europeus, temerosos de um mau desenlace, foi decisiva.

Contudo o referendo era importante. Primeiro, porque uma das maiores debilidades da UE tem sido o seu afastamento dos cidadãos, a ignorância e o desinteresse que estes revelam relativamente a um processo de que foram marginalizados pela soberba dos dirigentes e o desprezo dos euro-burocratas. Tornar os cidadãos parte deste processo num momento em que ele se revela tão problemático seria mais do que aconselhável, considerando as inevitáveis e crescentes dificuldades e ameaças na consolidação de uma UE, extemporaneamente alargada e que, apesar do Tratado, prosseguirá a duas velocidades.

Outro folhetim que ameaça prosseguir, sempre da pior forma, é o BCP. Vimos da incapacidade dos seus órgãos sociais e dos seus accionistas para prevenir, gerir e resolver uma profunda crise institucional. Vimos como essa crise se foi parecendo, cada vez mais, com uma crise política no pior sentido: as facções, o predomínio das questões pessoais, o excesso de mediatização, a falta de racionalidade, o vazio de liderança, a luta de protagonismos e a ausência de responsáveis. Vimos como questões menores minaram os pilares de uma instituição financeira, a confiança, a transparência e a estabilidade. Vimos aparecer uma segunda lista para, ao que parece, fazer face a uma presumível tentativa de governamentalização da crise do BCP, em vez de aparecer para fazer face à crise do BCP. Em suma, descobrimos, surpreendidos, que a tal economia de mercado, o tal sector privado que desejavelmente deveria libertar-se desse tal Estado, gordo e asfixiante, segundo a cartilha neoliberal, é capaz de não ser nem tão sólido nem tão eficiente como se supunha. Afinal, talvez o BCP tenha, apenas, reflectido as debilidades nacionais que se distribuem por todos os sectores da vida portuguesa, estando, agora, confinado a uma mera gestão de lucros cessantes e danos emergentes. Uma história sem precedentes mas que, temo, criou irremediavelmente um precedente terrível.

DN, 9,1-2008
 
NOTAS SOBRE 2008

Mário Soares

1 . 2008 vai ser um ano complexo e, sob alguns aspectos, muito difícil. Os Estados Unidos, motor do capitalismo financeiro, estão a dar sinais muito preocupantes. As bolsas estão descontroladas, contaminando o movimento bolsista internacional, de Frankfurt a Londres, de Tóquio a Singapura ou a Hong Kong; o valor do dólar não pára de descer; o déficit externo aumenta, com consequências negativas nos investimentos que vêm do exterior para a América; o preço do petróleo, ultrapassando os cem dólares por barril, não se sabe onde vai parar; o desemprego aumenta, criando uma crispação social de mau augúrio; bem como a inflação; o subprime deu origem a uma bolha imobiliária que condiciona negativamente todo o sistema.

Acrescente-se à recessão, que se adivinha, o descrédito internacional da política americana, as catástrofes anunciadas no Médio Oriente, do Iraque ao Afeganistão, do Paquistão ao Líbano, o agravamento do conflito israelo-palestiniano (a presença de Bush na região foi um não acontecimento), para não falar do "braço-de-ferro que se perpetua, com o Irão... Tudo isto, no pano de fundo das eleições presidenciais americanas, que se decidirão em Novembro próximo. Veremos se os americanos terão o bom senso de escolher uma mudança não retórica, que se traduza por uma ruptura a sério com o passado recente. É bem necessário que assim seja. Até pelas dificuldades que também atingem os países emergentes e o resto do mundo.

2. Será a União Europeia capaz de sair do impasse? A Presidência Portuguesa - devemos reconhecê- -lo - deu um bom impulso, com o apoio da Senhora Merkel. Mas o Tratado de Lisboa será mesmo ratificado, durante o ano em curso, pelos 27 Estados membros? Essa é a questão principal com que estamos confrontados. Houve um bom sintoma: a adesão de mais nove Estados ao Espaço Schengen, uma manifesta prova de confiança no rearranque da União.

Mas é preciso mais. A União deverá tornar-se protagonista principal e autónomo, na cena internacional, com um modelo social que seja exemplar, sendo um factor permanente de paz, de segurança, de solidariedade e dos valores humanistas. Isto é: um longo e decisivo caminho político a percorrer.

3. Em Portugal, discute-se ainda se a ratificação se deveria fazer por referendo ou no Parlamento. Nunca fui grande entusiasta de referendos, partidário acérrimo como sou da democracia representativa. Mas propu-lo à Assembleia, em 1992, quando foi aprovado o Tratado de Maastricht, porque modificou radicalmente as condições da nossa adesão, apontando o caminho para a União Política dos Estados europeus (com o que, aliás, em absoluto, concordo).

Agora, não. Portugal que saiu de uma Presidência que deu um impulso incontestável ao avanço da União, daria, promovendo um referendo, um mau exemplo aos outros países, entre os quais alguns que o não podem fazer, como a França, o Reino Unido, a Holanda e talvez a Polónia. Seria pôr uma bomba de retardador no Tratado de Lisboa. Exactamente o contrário do que a Presidência Portuguesa procurou fazer, para salvar o Tratado, apagando os fogos e esbatendo as divergências...

4. Foi criada, em Paris uma nova dupla de confusão política e ideológica, quando o que se impõe é clareza nas ideias e nos princípios: a dupla, Nicolas Sarkozy/Tony Blair, em nome da modernidade. Que modernidade? Obviamente a que agrada ao grande capital, que é velha e está muito desgastada pelas promessas não cumpridas. Os tempos agora são diferentes. Há clarificações que estão a ocorrer, por força das circunstâncias. Contudo, a dupla pode fazer alguns estragos. Blair, recém- -convertido ao catolicismo, consultor político do banco norte-americano J. P. Morgan, ainda fala da "terceira via", apesar de desacreditada. Espero que não consiga convencer nenhum socialista consciente. Depois do Iraque e da Cimeira dos Açores, o mundo está noutra...

DN, 15-1-2008
 
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