20 fevereiro, 2008

 

Bolsa


em crise?



http://pt.wikipedia.org/wiki/Bolsa_de_valores

http://www.nextbolsa.com/
http://www.agenciafinanceira.iol.pt/bolsas.php?cod_bolsa=LS&codigo_lista=6

http://pt.ac-markets.com/
https://www.gobulling.com/ljc/col/public/ComissaoZero.tea?gclid=CMKDi9HYppQCFQyN1QodKlfEtA

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Como navegar na Bolsa em plena crise

PEDRO FERREIRA ESTEVES

Os analistas já não conseguem disfarçar o nervosismo: os mercados accionistas estão a passar um dos piores momentos dos últimos anos, desde que o rebentamento da "bolha" especulativa das tecnológicas iniciou uma espiral de perdas que culminou no crash do pós-11 de Setembro. O cenário não é tão negativo, nem se adivinham períodos tão prolongados de quedas. Mas com a perspectiva de uma recessão nos EUA, o DN procurou perceber quais as acções, na Bolsa de Lisboa, que podem servir de refúgio. Para os menos experientes, o melhor mesmo talvez seja estar pouco exposto às oscilações arriscadas das bolsas.

As grandes empresas são a melhor opção para os investidores que querem continuar presentes no mercado accionista. Em Lisboa, existem alguns exemplos que têm em comum o facto de a sua maior dimensão permitir-lhes estar menos expostos aos soluços financeiros que o abrandamento económico provoca.

As características que definem a maior segurança destes títulos passam pelos menores volumes de endividamento - importante numa altura em que o sector financeiro está a atravessar uma crise de liquidez e confiança. Mas também estão relacionadas com a capacidade que estas empresas têm de gerar capitais próprios de forma mais ou menos independente da evolução da economia. Neste caso, encontram-se as acções dos sectores das telecomunicações, as empresas que gerem serviços de natureza pública (utilities) ou as farmacêuticas (inexistentes na bolsa de Lisboa).

Para os mais arrojados, a aposta noutro tipo de títulos que possam ter ficado com preços atractivos depois da recente desvalorização - o PSI-20 já perdeu 7,7% em 2008, qualquer coisa como 2,8 mil milhões de euros, e está no mínimo desde Setembro último - deve ser feita com critério e acompanhada por profissionais. Segundo explicou ao DN, o gestor de fundos de acções portuguesas do Millennium bcp, Pedro Pintassilgo, "é verdade que existem alguns títulos com um preço muito abaixo do valor que os analistas atribuem às respectivas empresas. Mas, nestes momentos de pessimismo, ninguém quer entrar em nenhum título com força. Não só porque não se sabe bem o que irá acontecer em termos económicos, mas porque os investidores acreditam que as acções ainda poderão descer mais, tornando a recuperação que se segue mais atractiva para o investimento".

Recorde-se que a actual crise começou quando, no Verão passado, foi conhecida a extensão à Europa dos problemas no mercado de crédito hipotecário de alto risco nos EUA (subprime).

Rapidamente se percebeu que a generalidade das instituições financeiras estava exposta a este segmento praticamente falido através de produtos financeiros complexos, que logo perderam uma parte significativa do seu valor. Os bancos ficaram mais cautelosos na concessão de crédito entre si, obrigando os bancos centrais a injectarem liquidez no mercado. Na Zona Euro, as taxas Euribor dispararam, dificultando ainda mais a vida dos consumidores. Nos EUA, o abrandamento que já se verificava - marcado pelo dólar fraco, pelo petróleo caro e pela natureza dos ciclos económicos- acentuou-se. A confiança dos agentes económicos está a cair, acompanhada por uma crise forte no imobiliário.

A profundidade do abrandamento económico norte-americano ainda está por perceber, mas são já vários os analistas que dão uma probabilidade de 50% de se verificar uma recessão nos Estados Unidos. Imitando o que prognosticou o antigo presidente da Reserva Federal, Alan Greenspan, há alguns meses atrás. Tendo em conta a globalização da economia, uma recessão nos EUA terá consequências negativas para todo o mundo, em particular para a Europa. Os sectores financeiro e retalhista serão dos mais abalados.

DN, 14-1-2008
 
EDP Renováveis entra em bolsa a 8 euros e com 158 mil accionistas

PEDRO FERREIRA ESTEVES

"Queremos uma relação de longo prazo com accionistas", diz Mexia
Numa altura em que o País vive uma crise económica cujos contornos e gravidade ainda não se conhecem na totalidade, a sessão especial de bolsa, ontem, da EDP Renováveis foi uma excepção na actualidade dominada pelas consequências dessa crise. Todos os intervenientes na operação consideraram-na um "sucesso" e sublinharam o facto de se tratar da maior estreia em bolsa da Europa em 2008. Quem investiu em acções da EDP Renováveis vai recebê-las a um preço que, segundo os analistas, é atractivo. A elevada procura baixou consideravelmente o número de acções distribuídas pelos accionistas, mas abre espaço para uma valorização nos primeiros dias.

Os títulos da Renováveis entram amanhã em bolsa a oito euros, um valor que fica na parte mais baixa do intervalo de avaliações entre 7,40 e 8,90 euros. A operação cativou 158 503 accionistas particulares, dos quais 38 mil já detinham capital da EDP. Cerca de 3800 trabalhadores da eléctrica vão, também, receber acções da empresa que actua na área das energias renováveis.

Nos pequenos investidores, quem deu ordem máxima de compra (30 mil acções) ficará apenas com pouco mais de 300 títulos (se a ordem tiver sido dada na primeira semana) ou metade (ordens na segunda semana). Os trabalhadores e accionistas da EDP recebem as acções que pediram. Os trabalhadores da EDP recebem os títulos com um desconto de 5% (7,60 euros), mas só as poderão negociar a partir de 17 de Julho.

A operação foi marcada por uma forte procura. No caso dos pequenos investidores, a procura superou em 104 vezes a oferta, o que vale por dizer que para os 38 milhões de acções disponíveis verificaram-se ofertas na ordem de quatro mil milhões. No caso dos grandes investidores institucionais, a procura superou em mais de oito vezes a oferta. Este segmento foi determinante na fixação do preço - controlam 16,7% do capital - e na garantia de 80% do encaixe de 1,8 mil milhões de euros que a EDP irá utilizar para reduzir a dívida das Renováveis e financiar o seu crescimento.

Segundo o presidente da EDP, "podíamos ter fixado o preço no nível mais alto, mas queremos uma relação de longo prazo com os novos accionistas". Questionado sobre se acredita numa estreia positiva, amanhã, da empresa em bolsa, António Mexia sublinhou que "a este preço [oito euros] a procura superou em seis vezes a oferta, o que significa que quem não ficou com acções participará na operação através do mercado. As pessoas podem tirar as conclusões" sobre o efeito que essa procura terá no preço. Mexia adiantou ainda que "a empresa não regressará ao mercado", ficando assim com apenas 25% do capital disperso.

DN, 3-6-2008
 
Bolsa de Lisboa vive pior semana desde atentados de 11 de Setembro

PEDRO FERREIRA ESTEVES

PSI-20 perdeu 21,1% nas últimas sete semanas (todas negativas)
Em 2008, o mercado já acumula queda de 31%, a maior em toda a Europa

A última semana já entrou na história da Bolsa de Lisboa. E pelas piores razões. Uma observação do passado permite contextualizar aquele que já é um dos períodos mais negativos de sempre para as acções portuguesas. O PSI-20 registou, nos últimos cinco dias, uma desvalorização de 6,8%, a pior queda semanal desde os atentados de 11 de Setembro de 2001 em Nova Iorque. Aliás, esta semana foi mesmo a sétima pior desde o lançamento do índice em 1993. E a Bolsa caiu 21% nas últimas sete semanas (sempre negativas), a série semanal mais penalizadora desde o período de pânico que seguiu aos referidos atentados às Torres Gémeas de Nova Iorque. Só em 2008, o PSI-20 está a cair 31%, o pior desempenho em toda a Europa e apenas ultrapassado, no mundo, por alguns mercados asiáticos. Em valor, a perda já ascende a 44, 4 mil milhões de euros.

Os números não deixam, portanto, margem para muitas dúvidas. Os investidores internacionais decidiram desfazer-se das suas posições de risco, num cenário de crise económica global de gravidade ainda desconhecida. E a Bolsa de Lisboa está na prioridade das decisões de venda por um conjunto de razões muito específicas de Portugal.

A economia portuguesa regista o ritmo de crescimento mais baixo da União Europeia (UE), excluindo os países do alargamento (e, mesmo nesse caso, apenas a Estónia cresce menos que Portugal). E, pior na óptica dos investidores, tem características que a tornam mais vulnerável ao cocktail de factores que estão a limitar a actividade económica global.

O petróleo voltou a atingir um recorde, desta vez nos 142 dólares por barril, aumentando consideravelmente o custo dos combustíveis nacionais. Portugal é dos países mais vulneráveis à subida da factura energética, já que tem a maior dependência das importações provenientes do exterior na UE.

Por outro lado, o elevado endividamento da generalidade das empresas e famílias portuguesas torna-as particularmente susceptíveis à escalada das taxas de juro que, no caso das Euribor, encontram-se já estabilizadas acima dos 5%. E prometem novas subidas devido ao anunciado aumento dos juros pelo Banco Central Europeu para controlar o aumento da inflação.

A outra razão que está a impulsionar as taxas Euribor é a crise no sector financeiro, onde os bancos continuam a anunciar os danos provocados pelos efeitos da crise do crédito hipotecário de alto risco nos EUA (subprime). Dado o peso dos cinco grandes bancos portugueses na economia nacional, as consequências do aperto da concessão de crédito às empresas já se está a fazer sentir.

O euro continua, por seu turno, a subir e reaproxima-se do recorde dos 1,60 dólares. Um entrave ao trabalho das empresas exportadoras portuguesas e que já retirou esta componente do topo da lista dos motores da economia portuguesa. O próprio modelo de desenvolvimento económico de Portugal levanta muitas dúvidas aos grandes investidores na bolsa, devido à predominância das infra-estruturas assentes no lançamento de obras públicas.

A Bolsa portuguesa está ainda a pagar a factura de ter sido a que mais cresceu, na Europa, entre 2004 e 2006. Por outro lado, o Euronext Lisboa tem uma dimensão muito reduzida, que se traduz numa baixa liquidez disponível para alimentar os movimentos de saída e reentrada dos investidores.

Outro dos factores que explica a queda de 31% em 2008 do PSI-20 tem a ver com o elevado peso de poucos títulos e com a limitada diversificação do índice.

DN, 28-6-2008
 
Jardim Gonçalves investigado por Maria José Morgado

RUDOLFO REBÊLO

Investigação da PGR começou em 2007

Jardim Gonçalves investigado por Maria José Morgado

Denuncias de Joe Berardo na origem das investigações do DIAP
Maria José Morgado está a investigar as denuncias do empresário madeirense Joe Berardo relativas à administração do BCP presidida por Jardim Gonçalves, num processo que remonta a meados de 2007, enquanto Pinto Monteiro, procurador-geral da República (PGR), está ainda a analisar o dossier remetido esta semana por Carlos Tavares, presidente da Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

"Manipulação de mercados", durante aumentos de capital social do BCP, entre 2001 e 2003, favorecimentos a accionistas e familiares nas concessões de empréstimos, rendimentos indevidos atribuídos a ex-administradores do banco, fazem parte das investigações conduzidas por Maria José Morgado, magistrada da Direcção de Investigação e Acção Penal (DIAP), que entre outros processos coordena também o "Apito Dourado", envolvendo dirigentes e árbitros do futebol português.

As suspeitas em relação a algumas transacções do BCP foram relatadas ao Ministério Público pelo empresário e um dos principais accionistas do BCP, Joe Berardo, que, com Paulo Teixeira Pinto, manteve com Jardim Gonçalves - carismático fundador do banco - um longo diferendo pelo controlo do banco. De imediato, Pinto Monteiro "adjudicou" ao DIAP a competência para investigar eventuais ilícitos.

Para o DIAP deverá também seguir, nos próximos dias, o dossier da CMVM, entregue esta semana na Procuradoria. Trata-se, diz um comunicado da "polícia" da bolsa portuguesa, de "um conjunto de factos suspeitos de poderem configurar a prática de crimes contra o mercado".

Entre estas práticas avaliadas pela CMVM estão "a realização de transacções de acções do Banco Comercial Português" no mercado nacional e a coberto de offshores. No âmbito das investigações ao banco agora liderado por Carlos Santos Ferreira, a CMVM instaurou quatro processos de contra-ordenação, dos quais dois já estão dados como concluídos.

Também o Banco de Portugal já concluiu inquéritos ao grupo BCP, tendo aplicado coimas - por irregularidades - no montante de cerca de 760 mil euros. Mas, neste caso, o BCP recorreu para o Tribunal de Pequena Instância Criminal de Lisboa, contestando a decisão do banco central.

DN, 29-6-2008
 
Bolsa já perdeu 50 mil milhões este ano

PEDRO FERREIRA ESTEVES

A fuga continua e ganha contornos de alguma gravidade. O PSI-20 caiu ontem 4,7%, acumulando este ano perdas de 35%, o pior arranque de sempre. Os investidores adivinham, normalmente, a evolução económica. E, neste momento, a recessão é o cenário antecipado pela falta de confiança geral
Desaparecem 11 milhões por hora na Bolsa portuguesa
O medo de uma grave crise económica nos países mais desenvolvidos continua a motivar as decisões dos investidores financeiros. Com maior impacto nos mercados mais vulneráveis como o português. O resultado está à vista. A Bolsa de Lisboa lidera as perdas em todo o mundo desenvolvido, com o PSI-20 a perder 35% desde o início do ano. Só ontem caiu mais 4,7%. Nenhuma empresa cotada escapa à falta de confiança dos investidores, assustados com o cocktail de ameaças às economias: petróleo a bater máximos consecutivos, inflação recorde e taxas de juro a subir, "paralisando" a actividade financeira.

A perda de valor do mercado português já atingiu, só este ano, 50,1 mil milhões de euros, que se traduz no desaparecimento de 11 milhões por hora. Isto, tendo em conta todo o mercado regulamentado do Euronext Lisboa. No PSI-20, as perdas são de 33 mil milhões de euros, com todas as empresas a apresentarem saldos anuais negativos (ver infografia em baixo). O índice está já no valor mais baixo (8486,91 pontos) desde Dezembro de 2005. Na Europa, as perdas variam entre os 20% e 25% (ver página 38) e nos EUA ultrapassam os 10%, depois de um 2007 já negativo. Mas a aversão ao risco atinge praticamente todos os índices mundiais e até os emergentes como o Brasil ou a China.

"Existe um receio de recessão económica nos próximos meses. Pode não ser uma recessão muito forte, mas esse cenário já está a ser descontado pelos investidores", explicou ao DN Carlos Bastardo, director do private banking do BPN. "No caso da Europa, se a inflação continuar a subir e o Banco Central Europeu tiver de subir mais as taxas de juro, o sentimento dos consumidores europeus vai demorar a recuperar", acrescentou.

A falta de confiança dos investidores está a penalizar adicionalmente Lisboa, depois de um 2007 mais positivo que os pares. E o relativo pânico dos investidores - que se refugiam em activos como o petróleo, metais, matérias-primas agrícolas, liquidez ou em alguns mercados emergentes - é acentuado por uma crise financeira grave que está a bloquear o recurso à dívida pública ou privada.

Mínimos para todos os gostos

As fortíssimas perdas no valor das cotadas portuguesas já colocaram alguns títulos em valores historicamente baixos. A banca é o exemplo de maior gravidade, já que os três bancos do PSI-20 (BCP, BPI e BES) negoceiam em valores só vistos em 2003. A Zon Multimédia (antiga PTM) está no mínimo desde o final de 2002, a Sonaecom caiu para o preço mais baixo desde Outubro de 2003. Estes são os casos mais graves, mas dos 20 títulos cotados no índice, 14 estão em mínimos superiores a um ano.

Estes registos tornam muitas das empresas cotadas atractivas do ponto de vista de investimento. Ou seja, já há oportunidades para regressar ao mercado. O problema agora é a recuperação da confiança. "Para que volte a haver confiança é preciso que as condições de crédito estabilizem, que a inflação deixe de ser o tema dominante", esclareceu Carlos Bastardo. Mas para que se verifique esse cenário, o petróleo terá de atenuar a pressão, algo que parece longe de se concretizar.

DN, 2-7-2008
 
A BOLSA AINDA VAI BAIXAR MAIS

Rita Silva

A subida do PSI-20 na quarta-feira foi apenas uma correcção - a Bolsa portuguesa vai cair mais. O sector financeiro deverá ser o mais penalizado pela fuga dos investidores

Esta foi uma das semanas mais negras na Bolsa de Lisboa dos últimos anos. As cotações já bateram no fundo?

A subida de quarta-feira foi um movimento de correcção integrado numa tendência de queda. O PSI-20 acumula perdas de 25% desde os máximos atingidos no último mês de Maio e seria necessário vermos mais do que uma sessão positiva para podermos falar de uma inversão. Não quer isto dizer que não venhamos a assistir a novos movimentos de recuperação, uma vez que existem muitos títulos nacionais que se encontram subavaliados.

A Bolsa limita-se a reflectir um movimento de fora- ampliado pela pequena dimensão do mercado - ou é sinal de que os investidores estão pouco confiantes na economia portuguesa?

Julgamos que a influência externa sobre a Bolsa portuguesa foi/é determinante, existindo uma correlação importante sobre os dois mercados ao longo dos anos (interessante notar que os retornos num período alargado são muito semelhantes). Nota-se, no entanto, que os movimentos de subida ou descida são geralmente ampliados, ou seja, o investimento em Portugal comporta um nível de volatilidade acrescido, o que é razoável na medida que o risco especifico do PSI-20 é bastante superior a um índice da Zona Euro mais geral. Parece-nos ainda que o crescimento modesto em Portugal, sendo um factor negativo, não é novo, na medida que há seis ou sete anos que isso acontece.

Com a apresentação dos resultados semestrais são de esperar revisões em baixa das perspectivas de crescimento? Em que sectores?

Ao observar as expectativas que os analistas têm para os resultados das empresas que constituem o Euro Stoxx, índice de referência europeu, vemos que o consenso aponta para um pessimismo cada vez maior para 2008. Este índice transacciona também com o PER (rácio entre preço e resultados) mais baixo dos últimos dez anos, o que significa que os investidores continuam a acreditar que os resultados das empresas europeias sejam piores que o estimado actualmente pelos analistas, mesmo depois das fortes revisões em baixa. Para este ano, os sectores com maior crescimento de resultados deverão ser o energético, a reflectir a escalada do preço do petróleo, e o tecnológico. Por outro lado, o sector financeiro deverá ser bastante penalizado pela crise dos mercados financeiros, a par do segurador.

DN, 4-7-2008
 
CMVM preocupada com ignorância do investidor

PEDRO FERREIRA ESTEVES

Em plena crise bolsista, o quadro traçado pelo regulador sobre o tipo de investidor português assume particular relevância pela identificada iliteracia financeira e comportamentos de risco. Uma retrato preocupante que ajuda a explicar o baixo grau de desenvolvimento da bolsa nacional

Um terço dos portugueses que investe em mercados financeiros é reformado ou desempregado, só tem a 4ª classe ou menos e admite que tem pouco conhecimento sobre a bolsa. Cerca de 25% investiu com o mercado em alta, a maioria depende da informação prestada pelos bancos, tem carteiras de risco e pouco diversificadas e quase só compra acções em Portugal. Uma fotografia feita pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) no Relatório Anual de 2007, publicado este mês, e que ganha maior relevância em plena crise bolsista.

Os dados do inquérito realizado em 2006 numa amostra de 15 149 famílias confirmam que a poupança em Portugal é dominada por depósitos a prazo (21,1%) e certificados de aforro (3,9%). No resto, apenas 2,7% dos contactados têm acções, 6,5% investem em planos poupança reforma (PPR), 1,8% em obrigações e 0,7% em fundos de investimento. E são as características dos que detêm valores mobiliários (8,9%) - os investidores - que deixa apreensiva a entidade liderada por Carlos Tavares.

Em termos de escolaridade, três em cada 10 investidores concluíram quatro ou menos anos na escola. Um dado que, para o regulador, "levanta algumas preocupações com o nível de literacia financeira de um número muito significativo de investidores, tanto mais que é geralmente reconhecido que um elevado nível de cultura financeira diminui os (...) erros de comportamento". Só 24% concluíram um curso médio ou superior.

Associada a esta característica, um em cada quatro investidores entrou no mercado há menos de três anos, quando a bolsa estava a subir. "Atendendo a que em geral investidores com menos conhecimentos (...) têm maior probabilidade de negociar títulos apenas quando o mercado está tendencialmente em alta, a juventude destes investidores pode materializar-se em enviesamentos ou erros de comportamento (...), particularmente em períodos de tendência negativa do mercado como aquele que se vive actualmente". O que se traduz numa "dificuldade em aceitar uma perda" e numa resistência a vender que penaliza adicionalmente o investimento. Quando essa venda passa a ser forçada pela dimensão da perda, "a consciência do falhanço leva o investidor a abandonar o mercado". O que explica, em parte, que Portugal acabe por ter uma das mais reduzidas percentagens de investimento em bolsa na Europa desenvolvida, com inúmeras desistências após experiências mal sucedidas.

Dependência dos bancos

A falta de informação é outro ponto "negro" do inquérito. Apenas 20% informa-se diariamente sobre a actualidade bolsista e, em média, os investidores dizem possuir um conhecimento insuficiente sobre o assunto (auto-avaliação média de 33% em 100). Por outro lado, a esmagadora maioria depende dos conselhos dos gestores de conta/bancários (vulneráveis às opções comerciais), 28% usa crédito para investir e, dentro do universo de investidores, são mais aqueles que têm acções (60%) do que os que detêm depósitos (54%). E é maior o número dos que apostam em produtos complexos e arriscados (11%) do que os que aplicam em fundos de investimento (7,4%).

"Estas percentagens encerram alguma preocupação. (...) Se os investidores particulares (...) reconhecem possuir conhecimentos insuficientes (...), não é imediatamente perceptível porque investem em produtos de maior complexidade", conclui, surpreendida, a CMVM.

DN, 14-7-2008
 
BCP no mínimo histórico leva Bolsa a cair ainda mais fundo

PEDRO FERREIRA ESTEVES

Mercados. Banco já só vale 4905 milhões de euros

PSI-20 voltou a afundar (-3,75%) e já está no mínimo desde 2005

Já está muito longe a "linha da vida" que, em Março de 2006, o então presidente Paulo Teixeira Pinto fixou em 10 mil milhões de euros como patamar mínimo para o BCP sobreviver sozinho. E ainda mais longe está o valor justo calculado pelos analistas do Citigroup nos 3,47 euros, implícito no rácio de troca da proposta de fusão lançada pelo BPI e recusada pela administração do BCP, liderada por Filipe Pinhal. As acções do BCP negociaram, ontem, nos 1,025 euros, o valor mais baixo de sempre. Tendo em conta o fecho nos 1,045 euros, o banco está avaliado em cerca de 4900 milhões de euros, extremamente longe dos 15 mil milhões que chegou a valer há apenas dois anos, na ressaca da oferta pública de aquisição (OPA) lançada sobre o BPI.

"Há no mercado um grande receio de que se concretize uma recessão económica. E, no caso dos bancos, teme-se que os balanços não estejam tão sólidos como se esperava", explicou ao DN um analista que pediu para não ser identificado.

O BCP é, devido ao seu peso no índice e à desaceleração de 24% sofrida só em Julho, um dos principais motores da queda do PSI-20. Em 2008, as acções já perderam 60%, um desempenho negativo só ultrapassado pelo grupo Sonae. O mínimo histórico ganha relevância simbólica por ter sido atingido seis meses depois do dia em que o novo presidente, Carlos Santos Ferreira, assumiu a presidência do banco. Desde então, os títulos caíram 53% e estão do topo das perdas no PSI-20.

Mas o BCP não está sozinho. O BPI caiu 5% e vale apenas 2,23 euros. Muito longe dos sete euros por acção oferecidos na recusada OPA de Teixeira Pinto. Em 2008, está a perder 57% e os títulos estão no valor mais baixo desde Março de 2003. Quanto ao BES, a sua perda no ano é menor (-43,5%) mas o preço de 8,47 euros das acções representa um mínimo desde Outubro de 2002.

"Estamos em plena bolha depressiva, há uma grande desconfiança sobre os activos dos bancos e deverão estar a surgir revisões violentas dos lucros trimestrais", completou o mesmo perito. Recorde-se que o BCP, BPI e BES apresentam contas na próxima semana.

Os analistas afastam, contudo, o risco de um choque sistémico que ponha em causa a própria actividade central dos bancos, obrigando à intervenção estatal. O facto de o sector imobiliário português não estar numa crise tão grave como, por exemplo, em Espanha ou no Reino Unido, é um dos factores que impede, para já, esse cenário.

Banca mundial em crise

Embora as perdas dos bancos portugueses sejam superiores às dos pares europeus - devido ao efeito periférico da economia portuguesa -, a realidade é que o sentimento geral em relação ao sector é depressivo. A recente ajuda das autoridades federais às duas maiores empresas de crédito hipotecário dos EUA juntaram-se aos graves danos já provocados pela crise do subprime nas contas da banca norte-americana. Um exemplo da gravidade do actual problema do sector - traduzido no receio dos investidores sobre o eventual surgimento de novas falências - é a queda das acções do Citigroup para o valor mais baixo de sempre.

Na Europa, o índice que agrupa os maiores bancos da região está a cair 40% em 2008 e encontra-se no mínimo desde Abril de 2003.

DN, 16-7-2008
 
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