21 fevereiro, 2008

 

Começar

de novo


http://www.correiodamanha.pt/noticia.asp?id=278709&idselect=11&idCanal=11&p=200

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A chicana política e o futuro do BCP

A crise no BCP deixou de ser um tema económico e tornou-se um assunto político. Ou melhor, uma chicana entre a oposição e o Governo: com aproveitamento desmesurado por parte do PSD (que se colocou em bicos de pés na questão das nomeações partidárias, esquecendo o passado e o facto de nenhum partido ter o cadastro limpo nessa área) e respostas perfeitamente a destempo por parte de ministros do Governo (como a metáfora dos polícias e dos ladrões de Teixeira dos Santos e, ontem, a resposta de Santos Silva à presença de Bagão Félix nas jornadas parlamentares do PSD).

Aos sociais-democratas interessou fazer passar a ideia de que a escolha de Santos Ferreira para liderar uma lista de consenso, saindo do maior banco público para liderar o maior banco privado português, tinha mão do Governo. Aos socialistas interessou manter a imagem de que a direita defende a banca e os grandes banqueiros do País. Só neste cenário se pode compreender a histeria política dos últimos dias em redor de um caso económico-financeiro que hoje terá - espera-se - o princípio do fim.

Porque os factos são simples: são os accionistas quem vai decidir o futuro do BCP, elegendo um novo presidente e determinando o futuro dos seus investimentos.

Quanto ao passado, só uma investigação séria e eficaz poderá trazer respostas. Que limpará ou trará graves prejuízos para a imagem dos visados.

DN, 15-1-2008
 
BCP envolto em conversas de "sarjeta"

JOÃO PEDRO HENRIQUES

Pressão sobre Vítor Constâncio já chegou ao PS

Se ilusões houvessem, ontem desapareceram. Na véspera da assembleia geral que vai eleger uma nova administração do BCP, o diálogo entre a lista de Miguel Cadilhe e o Governo atingiu o ponto de ruptura absoluta.

Ao fim da manhã, Augusto Santos Silva, ministro dos Assuntos Parlamentares, deu uma conferência de imprensa, na qualidade de dirigente nacional do PS, onde se referiu à presença de um dos membros da lista de Cadilhe numa iniciativa do PSD: "Não critico Bagão Félix por participar nas jornadas parlamentares do PSD, porque, obviamente, essa participação está no seu pleno direito de cidadania. Mas sublinho politicamente que a campanha despudorada que o PSD tem feito a favor de uma das listas concorrentes tem agora um clímax nas jornadas parlamentares que este partido realizará hoje [ontem], visto que um dos candidatos de uma das listas participará nessas jornadas."

Para Augusto Santos Silva, as jornadas parlamentares do PSD com a presença de Bagão representariam assim uma espécie de "comício de encerramento" da campanha interna no maior banco português.

Bagão Félix, falando com jornalistas à margem das jornadas do PSD, reagiu com extrema violência: "Já não tenho pachorra para este tipo de declarações, acho que a política não se faz assim, a política é a procura do bem comum e não insinuações torpes." "Eu queria dizer ao ministro Santos Silva que tanto falou de jornalismo de sarjeta que de facto lamento que ele esteja a fazer política de sarjeta", acrescentou o ex-ministro das Finanças de Santana Lopes.

Mas o ataque do PS ao PSD teve uma outra frente: a pressão que os sociais-democratas estão a fazer sobre Vítor Constâncio, governador do Banco de Portugal, para que este deponha sobre o "caso BCP" na comissão parlamentar de Orçamento e Finanças o mais brevemente possível. O que está em causa, disse Santos Silva, é uma "tentativa de condicionamento das instituições de supervisão e de regulação do sistema financeiro".

Vitorino aconselha

Nessa altura, quando fez essas declarações, já Pedro Santana Lopes, líder parlamentar do PSD, tinha anunciado oficialmente ter entregue um requerimento na comissão parlamentar tentando forçar para esta semana a audição de Constâncio: "Esta semana o senhor governador tem mesmo de fazer o favor de ir à Assembleia."

O PSD pressiona Constâncio mas não só. Na RTP, um peso-pesado do PS, António Vitorino também deu o seu conselho: "Quanto mais depressa o governador esvaziar este balão, melhor." Vitorino criticou no entanto o PSD por este ter começado por exigir que a audiência antecedesse a assembleia geral de hoje.

A pressão é enorme mas Constâncio tem o regimento da Assembleia da República a seu favor. Em bom rigor, pode até nem ir ao Parlamento, nada o obriga. Está politicamente obrigado - e irá dia 24 - mas legalmente não.

Aliás, respondendo ao requerimento do PSD, a deputada Helena Venda (PS), vice-presidente da comissão, disse que o "exercício do direito potestativo" usado pelo PSD "garante a audição mas não determina a fixação de forma unilateral de uma data". Esta é feita "no respeito pela agenda de todos os intervenientes".

DN, 15-1-2008
 
Ontem iniciou-se a pacificação no BCP

Se não há desonra em perder uma disputa eleitoral, já pode havê-la quando são postos em causa princípios fundamentais do funcionamento democrático das instituições. O lançamento da candidatura encabeçada por Miguel Cadilhe estribou-se nestes princípios: as actuações do Governo e do governador do Banco de Portugal seriam de tal forma censuráveis que essa candidatura declarou ter-se formado em nome do direito à indignação.

Contados os votos dos accionistas presentes, representando mais de 71% do capital total do BCP, em cada 100, Carlos Santos Ferreira obtém 98 e Miguel Cadilhe fica-se por 2. Perante tão esmagadora derrota, cabe perguntar: quais os princípios que poderão, nas palavras do derrotado, ter saído vitoriosos? A indignação de Cadilhe parece não ter perturbado o sono da generalidade dos accionistas do BCP, nem os ter contagiado com o sentimento de terem sido vítimas de manipulação insidiosa.

A quase unanimidade do voto accionista contra o fogo de barragem lançado contra a lista de Santos Ferreira - sobretudo pelo centro-direita - simboliza uma forte vontade de pacificação entre os donos do banco e de apoio à nova liderança.

O novo chefe executivo do BCP não poderia pedir mais. Agora, é preciso construir de novo e esperar calmamente que as autoridades de supervisão façam, também elas, o seu trabalho bem feito. Porque esta escolha representa também um voto de confiança em Vítor Constâncio. O melhor recomeço.

DN, 16-1-2008
 
O BCP COMO O FCP: SEM OPOSIÇÃO

Ferreira Fernandes

Admirou-me a cabazada: 98 a 2! Um resultado que só acontece de millennium em millennium. Eu e todos os taxistas estávamos convencidos de que a coisa seria renhida. O último com quem falei até me fez calar quando entrei no táxi. Apontou-me a rádio sintonizada na TSF: "Estão a dar o resultado. " Fiquei, não o escondo, orgulhoso por pertencer ao único país do mundo - com excepção, talvez, do paraíso fiscal das ilhas Caimão - onde o povo segue com interesse os jogos de cadeiras nos conselhos de administração. Se o capitalismo popular não é isto, onde está o capitalismo popular? Mas, repito, desiludiu-me o final: 98 a 2 não é resultado que se apresente. O treinador de bancada da equipa perdedora, aquele senhor de Gaia, mais valia estar calado. E o treinador principal, o mister Cadilhe - especialista de números, aposta em 51% e leva só 2 para casa -, esse, teve a chicotada psicológica merecida. Não devia estar sentado no banquinho quanto mais no maior dos bancos.

DN, 16-1-2008
 
'A VIDA INSPIRA-NOS' É O 'SLOGAN' DO BCP QUE ENCAIXA NO GESTOR

ALFREDO MENDES

Ascensão política começou na rude terra transmontana

Ele é a personificação da subida a pulso, do rural que soube encastelar-se no poder da capital e... do capital. Ele é a imagem do político hábil e empenhado, avaro em palavras e amável no trato. Durante semanas debaixo de fogo cerrado, não escasseia quem desça a terreiro terçar armas por Armando António Martins Vara.

No epicentro da batalha pela conquista do maior banco privado português, o percurso de Armando Vara parece encaixar-se no slogan da instituição financeira: "A vida inspira-nos." Falta saber, agora, se irá encontrar outra máxima do banco: "Aqui vou ser feliz."

O contacto profissional com os algarismos iniciou-se numa oficina de reparação de automóveis, em Bragança. Jovem ainda, revelava competência para as contas, ainda que, dada a verdura da idade, recorda o sócio-gerente da empresa, chegasse tarde ao emprego, por motivo de noitadas com os amigos. Mas... nada de preocupações, Vara desenvolvia o serviço com rapidez e segurança.

Nascido no lugar de Lagarelhos, freguesia de Vilar de Ossos, concelho de Vinhais, Trás-os-Montes, o socialista começou na banca como funcionário de balcão na dependência da Caixa Geral de Depósitos (CGD) na vila de Mogadouro, terra de Trindade Coelho.

Admirador de Mário Soares, após a revolução inscreveu-se no PS, tornando-se o dinamizador do partido em Bragança. Ajudou a fundar o jornal A Voz do Nordeste, mesmo com apoio do partido. E nas páginas dessa publicação projectaria o seu perfil político. Momentos altos, com a vitória socialista de dez das 12 câmaras do distrito. O final da experiência traria, porém, amargos de boca.

Coordenou e liderou a federação da capital do distrito transmontano e, aos 30 anos, Vara ocupava o lugar de deputado na Assembleia da República. Inclusive, chegou a vice-presidente do grupo parlamentar, deixando de concluir o curso de Filosofia.

Durante várias legislaturas aprofundou contactos, concitou simpatias. Próximo de Jaime Gama, já vereador na Câmara da Amadora, Vara aproximar-se-ia de Guterres, enquanto, em 1990, fundava uma empresa com o amigo José Sócrates, destinada à venda de combustíveis. Ao integrar o "governo-sombra" do PS nas áreas das Obras Públicas e Transportes, fácil era vaticinar-lhe promissor devir. Com o triunfo de Guterres, Armando Vara seria secretário de Estado da Administração Interna (1995-97) e, de 1997 a 99, secretário de Estado adjunto do ministro da Administração Interna.

Obstinado, com excelente círculo de conhecimentos, mesmo fora da órbita partidária, regressou à governação após a segunda vitória de Guterres, então nas funções de ministro adjunto do primeiro-ministro (1999-2000), com os pelouros da juventude, toxicodependência e comunicação social.

Ainda em 2000 tomou posse como ministro da Juventude e Desporto. Alegria efémera, porquanto, não tinha terminado o ano, teve de se demitir devido a alegadas irregularidades cometidas pela Fundação para a Prevenção e Segurança, que fundara em 1999. Rude tempo.

Dada a falta de provas, em 2005 a Procuradoria-Geral da República arquivou o processo, afirmando que Vara não tinha violado a lei. Todavia, diz-se que o ex-ministro nunca perdoou ao então presidente da República, Jorge Sampaio, a pressão que terá exercido sobre Guterres para o demitir. E primou pela ausência na cerimónia em que o chefe do Estado condecorou os responsáveis pela organização do Euro 2004.

Este foi um processo polémico, num momento penoso do Governo. Há até quem relacione o episódio visando chamuscar Vara com Fernando Gomes, actual administrador da Galp Energia. Incólume a tal enredo político-partidário ficou o amigo e ex-ministro do Ambiente, José Sócrates, o futuro primeiro-ministro eleito do PS com maioria absoluta.

Então, em 2005, por determinação do ministro Teixeira dos Santos, Armando Vara regressa à banca. Mais. À CGD que conheceu desde os tempos de balcão na dependência de Mogadouro. Só que, desta vez, o ex-ministro entraria pela porta principal, indo ocupar o lugar de administrador e, posteriormente, o de vice-presidente.

Nessa instituição financeira demonstraria uma prodigiosa capacidade de trabalho, diz quem com ele trabalhou, o que, obviamente, não deixaria indiferente o presidente da CGD, Santos Ferreira. O esforço de Vara na banca chega a ser realçado, até, por elementos do PSD, ainda que lhe atribuam o papel recomendado por Sócrates em impedir a OPA da Sonae sobre a PT. A Caixa, recorde-se, seria um opositor decisivo da operação que tantos engulhos provocou a Belmiro de Azevedo.

Armando Vara, sócio do Benfica e do Clube Desportivo de Bragança, contam ainda colaboradores próximos na CGD, "é de uma competência e capacidade física de causar inveja a muitos atletas". Trabalhava cerca de 12 horas por dia, revelou propensão para decidir, foi interventivo, não lhe escapando qualquer detalhe.

Acresce, entre outras características realçadas, que gosta de mobilizar as equipas, estimulando-as e exigindo eficácia. Resultado dessa forma de ser e de agir está o cumprimento dos objectivos da rede comercial de Lisboa e Zona Sul da CGD e do funcionamento da marca Caixa.

O número dois do Millennium bcp, "arma de arremesso contra o presidente Santos Ferreira", comenta-se, dedica o tempo disponível aos três filhos, a caminhadas e a evocar e reviver as suas raízes, Vinhais, onde a irmã Lena gere um negócio de flores simbolizado por... uma rosa.

Armando Vara orgulha-se de provir de uma família humilde, de lavradores. Diz um amigo: "Só queques, preconceituosos ou frustrados falam do empregado do balcão com desprezo."

DN, 19-1-2008
 
"Calma, só se perde dinheiro quando se vende"

PEDRO FERREIRA ESTEVES
Joe Berardo, EMPRESÁRIO E INVESTIDOR

Está preocupado com estas quedas nas bolsas?

Eu já ando nisto há muito tempo, já passei por quedas deste tipo nas bolsas mundiais umas dez vezes. Por isso, não estou muito preocupado. Mas é claro que não é bom para os mercados internacionais, nem para os pequenos, nem para os grandes investidores.

O que aconselha os investidores a fazer?

As pessoas têm de ter calma, só se perde dinheiro na bolsa no momento em que se vende. Quem não tiver calma agora pode perder muito. Até porque ainda não se percebeu muito bem para onde é que vai a economia mundial. Mas parece-me que as bases da economia ainda estão bem.

Mas como se explica esta reacção de pânico dos investidores a nível global?

A reacção é mais um problema de confiança que outra coisa. Há grandes fundos de investimento internacionais que têm decisões automáticas. Quando os preços descem abaixo de determinado nível, as ordens de venda saem automaticamente e provocam um efeito de "bola de neve". Vamos ter de sobreviver a isso. É preciso ter muito sangue-frio.

A recessão na economia dos Estados Unidos justifica o actual sentimento dos mercados?

A economia norte-americana ainda não está em recessão. O que está a provocar isto é mais a incerteza em relação às eleições presidenciais. Mas daqui a um mês, mais ou menos, haverá uma maior definição entre uma ou duas pessoas. Agora ainda são oito candidatos. Depois, vai perceber-se melhor quem poderá vir a ser o líder dos Estados Unidos. E a confiança dos investidores pode regressar aos mercados.

A crise do crédito hipotecário de alto risco nos EUA (subprime) não o preocupa?

Mais ou menos. O que aconteceu foi que os bancos deram empréstimos a quem não deviam dar. Mas acho que grande parte do efeito já foi descontado pelos maiores bancos. Há quem calcule esse impacto em mais de 500 mil milhões de dólares (345,7 mil milhões de euros). É muito dinheiro. Mas esses bancos também ganham muito.

Tenciona vender alguma das participações que tem na bolsa portuguesa, por causa destas quedas?

Não vejo no mercado português nenhuma instituição que me preocupe. A nossa economia tem aguentado bem. O importante é manter a confiança.

Com estas quedas, as empresas estão mais baratas. Parece-lhe uma boa altura para investir em alguma empresa em particular?

Há sempre boas oportunidades para investir. Com estas perdas, baixou o preço médio das cotações. Por isso, já há boas oportunidades.

DN, 22-1-2008
 
OS MILAGRES DO BCP

João Miguel Tavares
jornalista
jmtavares@dn.pt

Paulo Teixeira Pinto saiu do BCP com dez milhões de euros e 35 mil euros por mês, 14 meses por ano, durante os anos que lhe restarem (e, só tendo 47, esperemos que sejam muitos). É bom saber que o banco não é só generoso para aqueles que lá estão. É também generoso - e muito - para aqueles que se vão embora. Estando até há pouco tempo o seu conselho de administração tão bem representado por membros do Opus Dei, toda esta generosidade é não só natural como biblicamente recomendada. Em verdade, em verdade vos digo: se me dessem tamanho pecúlio para não fazer nada até ao fim dos meus dias muito aumentaria a minha fé em Deus. Haverá ainda por lá alguém que me queira converter?

DN, 22-1-2008
 
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