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Faça-se pedagogia

Graça Franco

O fanado é crime. Sabem o que é? O nome pelo qual é designada a prática absurda, desumana e bárbara da excisão genital feminina.
Uma das muitas práticas que persistem, numa pluralidade
de culturas, e que constituem uma violação grave contra o corpo e os direitos das mulheres.
Ao mutilarem, quase sempre a sangue frio e sem as mínimas
condições de assepsia, o corpo das meninas, num ritual de iniciação à vida adulta, incompreensível e desumano, algumas Comunidades continuam a perpetuar a
barbárie em pleno século XXI.
Contam para isso com a conivência da comunidade familiar
e a incrível cumplicidade das próprias mães que, assim, privam essas jovens do mais elementar direito à vivência plena da respectiva sexualidade. Existem actualmente 140 milhões de meninas e mulheres vítimas desta prática.

Mas mais criminosa do que a cumplicidade activa daquelas
que tendo sido vitimas de igual prática a prolongam nos tempos, vendo-a como uma espécie de castigo divino imposto à sua condição de mulheres, é o silêncio cúmplice dos que, sabendo que existe o crime, o escondem, o toleram ou o silenciam, sem coragem para a denunciar.

Em Portugal, o novo Código Penal considera esta prática
um crime gravíssimo, punido com pena de prisão de dois a
dez anos. No terreno, contudo, investigadores garantem
que ele continua a ser praticado, entre nós, impunemente,
em certas comunidades emigrantes. O respeito por outras culturas e pelas práticas e rituais dtos “religiosos” dos que escolhem a nossa sociedade para viver e trabalhar não pode, nem deve, ser entendido pela sociedade que os
acolhe como uma recusa de intervenção, ou uma inibição
da acção, contra aquilo que, face à nossa civilização ocidental
e aos seus valores sagrados, constitui uma indesculpável
violação dos direitos humanos.

Se é preciso fazer pedagogia, faça-se! Hoje, em todo o Mundo, é dia de lutar contra a excisão.

RRP1, 6-2-2008