28 fevereiro, 2008

 

Fnac


Há 10 anos em Portugal


http://www.fnac.pt/pt/

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DEZ ANOS DE SUCESSO A VENDER CULTURA

TIAGO PEREIRA

Lojas apresentam programa cultural de aniversário

Com ideais marxistas como princípio filosófico, André Essel e Max Théret fundaram, em 1954, uma cooperativa para facilitar a compra de material cinematográfico e fotográfico aos trabalhadores das empresas associadas. A Fnac - Federation nationale d'achats des cadres - nasceu timidamente em Clichy, França. Hoje, é uma das mais importantes cadeias de lojas dedicadas ao lazer e à tecnologia. Amanhã cumpre dez anos de actividade em Portugal, com 12 lojas abertas e três que serão inauguradas ainda este ano. Recorda-se um percurso de sucesso, mesmo quando comparado com as filiais internacionais, graças a uma década que somou mais de 143 milhões de visitantes.

A primeira loja Fnac portuguesa foi inaugurada a 28 de Fevereiro de 1998, no então recém criado Centro Comercial Colombo (que cumpria na altura meros cinco meses de existência). Cedo se assumiu como um dos espaços mais concorridos daquela grande superfície, ameaçando lojas até então tidas como tradicionais no panorama cultural e de entretenimento. Ainda em 1998, a Fnac chegava ao Norte Shopping de Matosinhos, lançando uma política de abertura de lojas à média de uma por ano. Até 2011, o grupo quer ter instalado um total de 20 espaços Fnac em Portugal.

Confiando no modelo que era já aplicado nos países onde estava representada, a Fnac chegou a Portugal apresentando-se como ponto de encontro para as diferentes faces da indústria do lazer, anunciando remodelação nos preços e na oferta, além de confiar no atendimento de funcionários especializados. O director de Marketing e Comunicação, Viriato Filipe, fala-nos em "democratização da cultura e das novas tecnologias, para uma sociedade culta e não elitista". Para tal, a Fnac procura, desde a sua génese, "adaptar a oferta aos mais variados perfis sociais".

Vinte anos depois da sua criação, a Fnac estava já distante das suas origens. Rádios, gravadores, discos e livros integravam um catálogo que descobriria ainda receitas seguras no mercado do vídeo e, mais tarde, do disco compacto. O sucesso francês motivou a cobiça de grandes grupos económicos a partir de meados da década de 80 e contribuiu em definitivo para a expansão internacional: Bélgica, Grécia, Itália, Portugal, Espanha, Suíça, Brasil e Taiwan compõem hoje o quadro de um grupo que, desde 1996, integra a multinacional PPR (Pinault Printemp Redoute). Total actual: 69 pontos de venda em 56 cidades francesas e 41 outros espaços repartidos por oito países.

Portugal correspondeu em absoluto ao sucesso conquistado até 1998: em dez anos registam-se mais de 27 milhões de livros vendidos, 18,5 milhões de CD e 9,2 milhões de DVD. Em 2005, a Fnac portuguesa apresentava lucros de 220 milhões de euros, parte dos 4382 milhões facturados a nível global pela empresa líder europeia na sua área. Para lá dos lucros, Viriato Filipe lembra que "Portugal procurou sempre seguir as linhas de orientação que fizeram da Fnac uma marca de mérito." Entre estas características da está a política cultural, com a apresentação regular de concertos, filmes, lançamentos de livros ou debates nos fóruns instalados em cada uma das lojas.

O director de Marketing e Comunicação lembra os "mais de 15 mil eventos culturais que passaram pelos palcos dos fóruns Fnac ao longo de dez anos" como exemplo maior desta política. E recorda a criação do prémio Novos Talentos Fnac como símbolo da "dedicação aos artistas nacionais promissores". O princípio é, aliás, o mesmo que os fundadores Max Théret e André Essel, defenderam desde 1969, ano em que a Fnac de Paris se tornou a primeira empresa a integrar eventos culturais no dia-a-dia das suas lojas, procurando o equilíbrio entre "artistas consagrados e novos talentos". O mesmo princípio rege as comemorações deste 10º aniversário.

DN, 27-2-2008
 
Os dez anos de sucesso da actividade da Fnac em Portugal são reflexo do bom acolhimento dos consumidores nacionais a uma nova forma de vender cultura. A expressão "lazer cultural" ganhou forma concreta na rede de lojas que, desde 1998, o grupo francês foi abrindo, seguro pelo triunfo do modelo apresentado ao mercado (tanto que a Fnac Portugal é a mais rentável da Europa).

Mais que apenas a oferta (de livros, discos, filmes e material electrónico), foi a loja que eventualmente conquistou os 143 milhões de pessoas que, em dez anos, visitaram uma Fnac em Portugal. O café, o espaço Forum (com programação cultural regular), as zonas de leitura e escuta de música fazem das lojas um espaço habitável, informal, tranquilo.

As lojas Fnac obrigaram, assim, muitas concorrentes a rever a sua maneira de viver a consulta de produtos culturais e a própria forma de atrair clientes. Sem perder a sua primordial vocação comercial, sugeriu-se empatia e adesão por parte de nichos complementares. O pequeno culto ao lado do grande consumo. E ambos em mangas de camisa.

DN, 28-2-2008
 
DEZ ANOS QUE ME REVOLUCIONARAM A VIDA

Alberto Gonçalves
sociólogo
albertog@netcabo.pt

Eu sei que existem inúmeras livrarias muitíssimo superiores à Fnac. E que existem melhores lugares para comprar música, filmes, aparelhagens ou gadgets. E que existem conferências e lançamentos de obras mais relevantes. E funcionários mais esclarecidos. E espaços mais bonitos. E cafés mais aprazíveis. Ou seja, comparada à oferta vigente de Nova Iorque a Viena, a Fnac não é nada, nada, nada de especial. O que a torna do outro mundo é justamente o pormenor de ser literalmente deste. A Fnac não fica em Nova Iorque ou em Viena. A "minha" Fnac fica a cinco minutos de casa e, na impossibilidade de viajar ou na impaciência de aguardar as entregas da Amazon.com, é uma bênção sem preço (ou com descontos razoáveis).

Quando a empresa cumpre uma década em Portugal, talvez soe excessivo distinguir um país (no mínimo uma pequena parte dele) anterior à Fnac de um país posterior. Pessoalmente, não me custa nada distinguir entre a vida (no mínimo uma pequena parte dela) anterior à Fnac e a vida agora. Ou custa. Para ser franco, não me quero lembrar do tempo em que não havia Fnac. Se calhar, nem consigo. Adquirir um livro ou um disco às onze da noite tornou-se um hábito tão frequente que me é difícil acreditar que tem apenas dez anos. Ignoro quantas vezes lá fui nesse período, mas garanto que os 143 milhões que a Fnac diz terem visitado as suas lojas nacionais sofrem de enviesamento: desses, uns mil sou eu sozinho, que ali fiz incontáveis compras e horas.

É curioso que este recanto de civilização tenha sido ideia inicial de dois marxistas empenhados em fundar uma cooperativa. Não é curioso que o capitalismo lhes tenha subvertido os intentos. Para nosso bem.

DN, 2-3-2008
 
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