19 fevereiro, 2008

 

Rockall

ou Rochol?

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Quatro países europeus disputam rochedo de 570 metros quadrados

CADI FERNANDES
Os britânicos têm uma queda por rochedos. Haverá neles tal soturnidade, tal melancolia que se afiguram irresistíveis aos olhos brumosos dos súbditos de Sua Majestade. Um, o principal, é Gibraltar, claro, sob soberania de Londres e encravado em território espanhol, aqui mesmo ao lado. Outro, muitíssimo menos conhecido, chama-se Rockall, e é o que resta de um vulcão extinto. Apesar de quase desconhecido, é, porém, "mais" cobiçado. Pelo menos, em número de países interessados: Gibraltar (Reino Unido e Espanha), Rockall (Reino Unido, Irlanda, Dinamarca e Islândia): 2-4. Como quem diz, rochedos pequeninos ou são desconhecidos ou são "dançarinos", ao som de músicas alheias. Como é o caso.

Hoje, em Dublim, decorre mais uma ronda de conversações quadripartidas (a anterior foi em Novembro de 2007, em Copenhaga, a primeira de todas em 2002) para decidir. O quê? Não o destino do rochedo desabitado, propriamente dito, que aquilo faz parte, desde 1997, da Zona Económica Exclusiva do Reino Unido, após ter sido anexado por Londres a 18 de Setembro de 1955, mas sim o destino do banco de Rockall, que é, acertou em cheio!, rico em petróleo e depósitos de gás. Um maná.

A plataforma de Rockall, calhau com 27 metros de diâmetro, 23 de altura e uma superfície de 570 metros quadrados, estende-se por cerca de 422 mil quilómetros quadrados (cinco vezes o tamanho da Irlanda). Localizado numa zona inóspita do Oceano Atlântico, o calhau, cujo "litoral" está cheio de inquilinos, como litorinas, fulmares e araus, é disputado por um motivo chão: a Organização das Nações Unidas aprovou um novo tratado que permitirá aos Estados membros reclamar maiores parcelas oceânicas, em profundidade, se comprovada a existência de uma ligação com os respectivos territórios. Mas o tempo urge. Terão de o fazer até ao fim de 2009.

Os direitos de exploração de hidrocarbonetos e minerais (como a novíssima bazirite, mistura de bário e zircónio, cuja fórmula química é BaZrSi3O9, descoberta em 1975 naquele pedaço europeu) justificam tal investida. Dublim, por exemplo, não está apenas interessada nas águas profundas de Rockall, que a zona de terra é britânica ao abrigo da Lei do Mar. Já apresentou, sem levantar muitas ondas, juntamente com Paris, Madrid e Londres, uma pretensão a 60 mil quilómetros quadrados entre o Golfo da Biscaia e o Mar Céltico.

"Rochol" português

Portugal - o contrário é que seria de admirar - também é indirectamente chamado para o enredo desta história: a primeira vez que cartografaram Rockall ("Rochol") foi num mapa português, corria 1550. Mapa que seria "burilado", em 1831, pelo capitão A. T. E. Vidal, ao serviço da Marinha Real britânica. Antes e depois desta data, houve vários naufrágios: a 22 de Agosto de 1868, morreram as 250 pessoas a bordo de um navio espanhol, que "embateu nas rochas"; a 28 de Junho de 1904, o SS Norge também "sucumbiu", morrendo 635 pessoas, na maioria emigrantes que demandavam Nova Iorque.

DN, 8-1-2008
 
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