19 março, 2008
19 de Março
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Portugal no topo
do consumo na UE
Portugal ocupa o segundo lugar no ranking da União Europeia relativo ao consumo de álcool per capita em indivíduos com mais de 15 anos, com um registo de 10,8 litros.
Os números são lembrados neste Dia Nacional dos Alcoólicos Anónimos, pela Associação Alcoólicos Anónimos (AA), que funciona há 12 anos em Portugal e tem, nesta altura, 90 grupos espalhados pelo país, prestando ajuda diariamente mais de mil pessoas.
A batalha contra a bebida é diária e vontade de vencer o vício leva cada um a aceitar o seu passado e adoptar uma nova atitude. Todos os dias, homens e mulheres procuram
ajuda nesta organização. Um dos seus membros garante que cada vez os alcoólicos são mais ovens: “Antigamente as pessoas
começavam a beber no final do liceu ou na tropa chegando à associação por volta dos quarenta e tal anos. Hoje, estamos a ver muita gente a chegar por volta dos 30 anos, alguns nem isso”, refere um dirigente da AA à Renascença.
Esta realidade “dá a ideia que os nossos companheiros começam a beber mais cedo ou então, como a informação chega mais rápido às pessoas e evitam que tenham um percurso de destruição”.
Este responsável sublinha que o anonimato é o principal responsável
pelo sucesso dos AA: “O álcool e uma doença tão democrática que atinge todas as classes sociais”, diz, pelo que se torna “ fundamental para a vida dessas pessoas e, devido ao estigmas que perseguem a doença, não divulgar
que são membros dos Alcoólicos Anónimos.
Aprender uma nova filosofia de vida através da partilha de
experiencias é um trabalho de cada dia para muitos portugueses
com problemas de alcoolismo.
RRP1, 19-3-2008
do consumo na UE
Portugal ocupa o segundo lugar no ranking da União Europeia relativo ao consumo de álcool per capita em indivíduos com mais de 15 anos, com um registo de 10,8 litros.
Os números são lembrados neste Dia Nacional dos Alcoólicos Anónimos, pela Associação Alcoólicos Anónimos (AA), que funciona há 12 anos em Portugal e tem, nesta altura, 90 grupos espalhados pelo país, prestando ajuda diariamente mais de mil pessoas.
A batalha contra a bebida é diária e vontade de vencer o vício leva cada um a aceitar o seu passado e adoptar uma nova atitude. Todos os dias, homens e mulheres procuram
ajuda nesta organização. Um dos seus membros garante que cada vez os alcoólicos são mais ovens: “Antigamente as pessoas
começavam a beber no final do liceu ou na tropa chegando à associação por volta dos quarenta e tal anos. Hoje, estamos a ver muita gente a chegar por volta dos 30 anos, alguns nem isso”, refere um dirigente da AA à Renascença.
Esta realidade “dá a ideia que os nossos companheiros começam a beber mais cedo ou então, como a informação chega mais rápido às pessoas e evitam que tenham um percurso de destruição”.
Este responsável sublinha que o anonimato é o principal responsável
pelo sucesso dos AA: “O álcool e uma doença tão democrática que atinge todas as classes sociais”, diz, pelo que se torna “ fundamental para a vida dessas pessoas e, devido ao estigmas que perseguem a doença, não divulgar
que são membros dos Alcoólicos Anónimos.
Aprender uma nova filosofia de vida através da partilha de
experiencias é um trabalho de cada dia para muitos portugueses
com problemas de alcoolismo.
RRP1, 19-3-2008
Três em quatro membros dos AA são homens
AMIN CHAAR
Os reformados e os operários são quem mais adere aos Alcoólicos Anónimos (AA), onde os membros têm uma média de idades de 47 anos, segundo uma sondagem de Janeiro daquela organização que apoia na recuperação do alcoolismo.
O inquérito revela que 13% dos frequentadores são reformados, 12,8% operários, 9,2% são técnicos, 8,7% desempregados, 7,3% exercem profissões liberais e mais de 6,0% ocupam cargos de chefia. Com menos relevo surgem os agricultores, incapacitados, estudantes, trabalhadores domésticos, professores, profissionais de saúde, administrativos e empresários.
Em declarações à Lusa, um elemento da AA que participou na elaboração do inquérito explicou que muitos dos reformados que constam nas estatísticas são pessoas "que apresentam sequelas mentais causadas pelo álcool" e mesmo problemas físicos. Por isso mesmo - explicou o mesmo elemento (que de acordo com as regras dos AA apenas se identifica pelo primeiro nome, Agostinho) - são pessoas que se "reformaram de forma antecipada", em muitos casos "compulsivamente".
Segundo a sondagem, que será apresentada amanhã no Bombarral (Leiria), no Dia Nacional dos Alcoólicos Anónimos, três em cada quatro membros são do sexo masculino e a média de idades é de 47 anos. Menos de 2,0% dos frequentadores têm abaixo de 30 anos e só 9,0% têm mais de 60 anos.
A faixa etária mais referida situa-se entre os 41 e os 50 anos (36,8%), seguida dos 31 aos 40 (24,5%). A maioria (55%) dos membros dos AA é casada, seguindo-se os divorciados (mais de 23%) e os solteiros (13%).
Outros dados da sondagem, baseada em inquéritos realizados no final do ano passado, indicam que mais de 75% dos médicos pessoais dos frequentadores sabem da sua participação na associação.
Com a frequência dos AA, mais de 70% dos inquiridos referiam melhorias na estabilidade emocional e familiar e mais de 40% assinalaram benefícios na reinserção social e a nível profissional.
O inquérito serviu também para perceber há quanto tempo os membros dos AA estão sem beber , sendo que grande parte (43%) se apresenta sóbria há mais de um ano e menos de cinco anos.
Estão sem consumir há menos de um ano outros 22,7% dos membros, enquanto 21,3% afirmam estar sóbrios há mais de cinco anos e menos de 10. Com mais de 10 anos sem beber álcool encontram-se apenas 13% dos inquiridos.
Responderam ao inquérito 437 membros dos AA, não sendo possível estimar a representatividade, porque a associação não tem registos dos frequentadores.
DN, 19-3-2008
AMIN CHAAR
Os reformados e os operários são quem mais adere aos Alcoólicos Anónimos (AA), onde os membros têm uma média de idades de 47 anos, segundo uma sondagem de Janeiro daquela organização que apoia na recuperação do alcoolismo.
O inquérito revela que 13% dos frequentadores são reformados, 12,8% operários, 9,2% são técnicos, 8,7% desempregados, 7,3% exercem profissões liberais e mais de 6,0% ocupam cargos de chefia. Com menos relevo surgem os agricultores, incapacitados, estudantes, trabalhadores domésticos, professores, profissionais de saúde, administrativos e empresários.
Em declarações à Lusa, um elemento da AA que participou na elaboração do inquérito explicou que muitos dos reformados que constam nas estatísticas são pessoas "que apresentam sequelas mentais causadas pelo álcool" e mesmo problemas físicos. Por isso mesmo - explicou o mesmo elemento (que de acordo com as regras dos AA apenas se identifica pelo primeiro nome, Agostinho) - são pessoas que se "reformaram de forma antecipada", em muitos casos "compulsivamente".
Segundo a sondagem, que será apresentada amanhã no Bombarral (Leiria), no Dia Nacional dos Alcoólicos Anónimos, três em cada quatro membros são do sexo masculino e a média de idades é de 47 anos. Menos de 2,0% dos frequentadores têm abaixo de 30 anos e só 9,0% têm mais de 60 anos.
A faixa etária mais referida situa-se entre os 41 e os 50 anos (36,8%), seguida dos 31 aos 40 (24,5%). A maioria (55%) dos membros dos AA é casada, seguindo-se os divorciados (mais de 23%) e os solteiros (13%).
Outros dados da sondagem, baseada em inquéritos realizados no final do ano passado, indicam que mais de 75% dos médicos pessoais dos frequentadores sabem da sua participação na associação.
Com a frequência dos AA, mais de 70% dos inquiridos referiam melhorias na estabilidade emocional e familiar e mais de 40% assinalaram benefícios na reinserção social e a nível profissional.
O inquérito serviu também para perceber há quanto tempo os membros dos AA estão sem beber , sendo que grande parte (43%) se apresenta sóbria há mais de um ano e menos de cinco anos.
Estão sem consumir há menos de um ano outros 22,7% dos membros, enquanto 21,3% afirmam estar sóbrios há mais de cinco anos e menos de 10. Com mais de 10 anos sem beber álcool encontram-se apenas 13% dos inquiridos.
Responderam ao inquérito 437 membros dos AA, não sendo possível estimar a representatividade, porque a associação não tem registos dos frequentadores.
DN, 19-3-2008
"Há crianças de 7 anos em coma alcoólico"
ANA BELA FERREIRA
Alerta foi lançado ontem pela própria ministra da Saúde
"Primeiro contacto com o álcool é cada vez mais cedo", admite pediatra
"Não é raro" chegarem aos hospitais, nesta altura do ano, crianças com sete, oito ou nove anos em coma alcoólico, devido aos festejos de final do ano escolar. A afirmação é da ministra da Saúde, Ana Jorge, que falava, ontem, à margem do Fórum Nacional sobre o Álcool, que decorreu em Coimbra. O comentário da ministra tem por base "a sua experiência de 30 anos de pediatra hospitalar", revela ao DN fonte do Ministério. A responsável pela pasta da Saúde fez também questão de recordar que o álcool causa "lesões cerebrais gravíssimas e irreversíveis" e pode estar na origem "do insucesso escolar e de perturbações do desenvolvimento da criança", bem como no feto, nos casos de consumo pelas mulheres grávidas.
Ana Jorge foi chefe do serviço de Pediatria do Hospital Garcia de Orta, em Almada. Contactado pelo DN, o presidente do conselho de administração deste hospital, Álvaro Carvalho, confessa: "tenho algumas dúvidas que sejam assim tantos casos". "Em rigor não tenho nenhuma informação concreta deste tipo de casos", acrescenta o responsável.
Já o pediatra e director da unidade de Pediatria do Hospital Santa Maria, em Lisboa, Gomes Pedro, adianta ao DN que não tem conhecimento de crianças tão novas em coma alcoólico, atendidas no seu serviço. "O que há são miúdos mais velhos de 12,13 ou 14 anos que agora nas férias de Verão ficam até mais tarde com os amigos na praia e acabam por ficar alcoolizados", explica. Acrescenta que "por vezes até têm que ficar dois dias internados, em observação". As crianças acabam por recorrer ao álcool porque este "é um desinibidor", justifica Gomes Pedro. Por isso, "quando, muitos deles, saem à noite, tentam antes alguma desinibição, que encontram nas bebidas alcoólicas", esclarece.
Embora não tenha memória de crianças em coma alcoólico aos sete anos, Gomes Pedro alerta para a "antecipação progressiva do primeiro contacto com o álcool". Algo que se tem vindo a registar em Portugal, por volta dos 12, 13, refere o pediatra.
Beber é ser português
Para a ministra da Saúde, citada pela Lusa, o consumo frequente e excessivo de bebidas alcoólicas traduz "uma realidade que está ligada ao ser português". Um problema que não atinge só homens adultos, mas também mulheres e crianças, alertou Ana Jorge, durante o Fórum Nacional sobre o Álcool.
Na sua opinião, "o consumo de álcool é também extensivo às mulheres, mas de uma forma mais surda". No tratamento dos doentes alcoólicos, o médico de família é fundamental na primeira abordagem, considerou a ministra. A ministra recordou também que o consumo excessivo de álcool "está na origem de muitos acidentes rodoviários e casos de violência interpessoal, como a violência doméstica".
DN, 26-6-2008
ANA BELA FERREIRA
Alerta foi lançado ontem pela própria ministra da Saúde
"Primeiro contacto com o álcool é cada vez mais cedo", admite pediatra
"Não é raro" chegarem aos hospitais, nesta altura do ano, crianças com sete, oito ou nove anos em coma alcoólico, devido aos festejos de final do ano escolar. A afirmação é da ministra da Saúde, Ana Jorge, que falava, ontem, à margem do Fórum Nacional sobre o Álcool, que decorreu em Coimbra. O comentário da ministra tem por base "a sua experiência de 30 anos de pediatra hospitalar", revela ao DN fonte do Ministério. A responsável pela pasta da Saúde fez também questão de recordar que o álcool causa "lesões cerebrais gravíssimas e irreversíveis" e pode estar na origem "do insucesso escolar e de perturbações do desenvolvimento da criança", bem como no feto, nos casos de consumo pelas mulheres grávidas.
Ana Jorge foi chefe do serviço de Pediatria do Hospital Garcia de Orta, em Almada. Contactado pelo DN, o presidente do conselho de administração deste hospital, Álvaro Carvalho, confessa: "tenho algumas dúvidas que sejam assim tantos casos". "Em rigor não tenho nenhuma informação concreta deste tipo de casos", acrescenta o responsável.
Já o pediatra e director da unidade de Pediatria do Hospital Santa Maria, em Lisboa, Gomes Pedro, adianta ao DN que não tem conhecimento de crianças tão novas em coma alcoólico, atendidas no seu serviço. "O que há são miúdos mais velhos de 12,13 ou 14 anos que agora nas férias de Verão ficam até mais tarde com os amigos na praia e acabam por ficar alcoolizados", explica. Acrescenta que "por vezes até têm que ficar dois dias internados, em observação". As crianças acabam por recorrer ao álcool porque este "é um desinibidor", justifica Gomes Pedro. Por isso, "quando, muitos deles, saem à noite, tentam antes alguma desinibição, que encontram nas bebidas alcoólicas", esclarece.
Embora não tenha memória de crianças em coma alcoólico aos sete anos, Gomes Pedro alerta para a "antecipação progressiva do primeiro contacto com o álcool". Algo que se tem vindo a registar em Portugal, por volta dos 12, 13, refere o pediatra.
Beber é ser português
Para a ministra da Saúde, citada pela Lusa, o consumo frequente e excessivo de bebidas alcoólicas traduz "uma realidade que está ligada ao ser português". Um problema que não atinge só homens adultos, mas também mulheres e crianças, alertou Ana Jorge, durante o Fórum Nacional sobre o Álcool.
Na sua opinião, "o consumo de álcool é também extensivo às mulheres, mas de uma forma mais surda". No tratamento dos doentes alcoólicos, o médico de família é fundamental na primeira abordagem, considerou a ministra. A ministra recordou também que o consumo excessivo de álcool "está na origem de muitos acidentes rodoviários e casos de violência interpessoal, como a violência doméstica".
DN, 26-6-2008
Estado vai apoiar cura de alcoólicos no privado
CARLA AGUIAR
Toxicodependências. Fazer um tratamento prolongado para o alcoolismo numa comunidade terapêutica privada vai ser mais fácil. Um despacho do Ministério da Saúde prevê convenções entre o Serviço Nacional de Saúde e unidades privadas, financiamento até um máximo de 900 euros mensais
Novas convenções financiam ingresso nos privados
Os alcoólicos que necessitem de tratamentos prolongados passarão a ter o acesso mais facilitado a comunidades terapêuticas privadas, graças à possibilidade agora aberta de o Serviço Nacional de Saúde estabelecer convenções com unidades do sector privado para esse fim. Em causa está um universo de 800 mil alcoólicos crónicos e 1,2 milhões de bebedores excessivos em Portugal.
Um despacho publicado esta semana em Diário da República altera o regime das convenções para tratamento de toxicodependentes e alcoólicos, estabelecendo também novos valores para a comparticipação dos custos dos programas de reabilitação, que podem ir até 80%.
Os preços máximos aceites pelo Estado, que são estabelecidos anualmente com base na taxa de inflação, correspondem agora a 900 euros mensais por utente na comunidade terapêutica, subindo para os mil euros nos programas dedicados a menores, grávidas e toxicodependentes com doença mental grave. Mas a comparticipação só vai até 80% do preço máximo estabelecido nas comunidades terapêuticas e centros de dia, sendo integral nas clínicas de desabituação.
Aquelas comparticipações destinam-se a programas que demoram em regra cerca de um ano e em que, para além da desabituação tóxica, há um acompanhamento psicológico para a reconstituição da auto-estima e a reintegração na sociedade. Neste momento existem apenas três comunidades terapêuticas estatais orientadas para estes casos, disse ao DN o presidente do Instituto da Droga e da Toxicodependência, João Goulão. Os estabelecimentos situam-se no Porto, Coimbra e Lisboa.
Há ainda os estabelecimentos para programas de desabituação, com duração mais curta, entre uma semana a dez dias, em que o o objectivo central é resolver crises tóxicas pontuais.
Nestas situações, o despacho conjunto dos ministérios da Saúde e das Finanças refere que as "desabituações de doentes alcoólicos não podem ser convencionadas com unidades privadas de saúde, com ou sem fins lucrativos". João Goulão justifica aquela restrição com o facto de a estrutura do Serviço Nacional de Saúde ter, pelo menos para já, uma "capacidade de resposta suficiente."
Tal leitura é partilhada pela médica Cecília Escarameia, do centro de Coimbra, que admite a existência de uma taxa de ocupação muito baixa nas unidades de desabituação. "Uma vez que agora a estratégia adoptada por este Governo passa mais pelas terapias de substituição com metadona do que pelos programas livres de drogas, estas unidades estão às moscas", observou aquela clínica.
Desde que no ano passado o Instituto da Droga e da Toxicodependência absorveu os centros regionais de alcoologia, há agora a possibilidade de fazer um aproveitamento mais racional das instalações para alcoólicos e toxicodependentes, juntando recursos que antes estavam separados.
Mas Cecília Escarameia alerta para a necessidade de saber distinguir o que não é igual. "É uma mistificação pensar-se que agora há mais espaços disponíveis, porque os alcoólicos são, em regra, uma população que não gosta de se misturar com os toxicodependentes viciados em heroína". Por isso, acrescenta, as pessoas com problemas de alcoolismo continuam a deslocar-se aos sítios onde já ima antes, ou seja, aos antigos centros regionais de alcoologia, que agora fazem parte da estrutura do Instituto da Droga e da Toxicodependência.
DN, 16-7-2008
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CARLA AGUIAR
Toxicodependências. Fazer um tratamento prolongado para o alcoolismo numa comunidade terapêutica privada vai ser mais fácil. Um despacho do Ministério da Saúde prevê convenções entre o Serviço Nacional de Saúde e unidades privadas, financiamento até um máximo de 900 euros mensais
Novas convenções financiam ingresso nos privados
Os alcoólicos que necessitem de tratamentos prolongados passarão a ter o acesso mais facilitado a comunidades terapêuticas privadas, graças à possibilidade agora aberta de o Serviço Nacional de Saúde estabelecer convenções com unidades do sector privado para esse fim. Em causa está um universo de 800 mil alcoólicos crónicos e 1,2 milhões de bebedores excessivos em Portugal.
Um despacho publicado esta semana em Diário da República altera o regime das convenções para tratamento de toxicodependentes e alcoólicos, estabelecendo também novos valores para a comparticipação dos custos dos programas de reabilitação, que podem ir até 80%.
Os preços máximos aceites pelo Estado, que são estabelecidos anualmente com base na taxa de inflação, correspondem agora a 900 euros mensais por utente na comunidade terapêutica, subindo para os mil euros nos programas dedicados a menores, grávidas e toxicodependentes com doença mental grave. Mas a comparticipação só vai até 80% do preço máximo estabelecido nas comunidades terapêuticas e centros de dia, sendo integral nas clínicas de desabituação.
Aquelas comparticipações destinam-se a programas que demoram em regra cerca de um ano e em que, para além da desabituação tóxica, há um acompanhamento psicológico para a reconstituição da auto-estima e a reintegração na sociedade. Neste momento existem apenas três comunidades terapêuticas estatais orientadas para estes casos, disse ao DN o presidente do Instituto da Droga e da Toxicodependência, João Goulão. Os estabelecimentos situam-se no Porto, Coimbra e Lisboa.
Há ainda os estabelecimentos para programas de desabituação, com duração mais curta, entre uma semana a dez dias, em que o o objectivo central é resolver crises tóxicas pontuais.
Nestas situações, o despacho conjunto dos ministérios da Saúde e das Finanças refere que as "desabituações de doentes alcoólicos não podem ser convencionadas com unidades privadas de saúde, com ou sem fins lucrativos". João Goulão justifica aquela restrição com o facto de a estrutura do Serviço Nacional de Saúde ter, pelo menos para já, uma "capacidade de resposta suficiente."
Tal leitura é partilhada pela médica Cecília Escarameia, do centro de Coimbra, que admite a existência de uma taxa de ocupação muito baixa nas unidades de desabituação. "Uma vez que agora a estratégia adoptada por este Governo passa mais pelas terapias de substituição com metadona do que pelos programas livres de drogas, estas unidades estão às moscas", observou aquela clínica.
Desde que no ano passado o Instituto da Droga e da Toxicodependência absorveu os centros regionais de alcoologia, há agora a possibilidade de fazer um aproveitamento mais racional das instalações para alcoólicos e toxicodependentes, juntando recursos que antes estavam separados.
Mas Cecília Escarameia alerta para a necessidade de saber distinguir o que não é igual. "É uma mistificação pensar-se que agora há mais espaços disponíveis, porque os alcoólicos são, em regra, uma população que não gosta de se misturar com os toxicodependentes viciados em heroína". Por isso, acrescenta, as pessoas com problemas de alcoolismo continuam a deslocar-se aos sítios onde já ima antes, ou seja, aos antigos centros regionais de alcoologia, que agora fazem parte da estrutura do Instituto da Droga e da Toxicodependência.
DN, 16-7-2008
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